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“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.“

JÁ NA ESFERA DAS ONGS

Exemplo da direção que começou a tomar a EA no segmento não governamental é o projeto “Muda o Mundo Raimundo – Educação Ambiental no Ensino Básico do Brasil”. Ele começara em 1995, sob as asas do WWF-Brasil,

visando capacitar professoras/es para o desenvolvimento da EA no espaço escolar. Justamente no final do “ano da EA no Brasil”, graças ao apoio do MMA, MEC, Ibama, Unesco e Fundação Roberto Marinho, estruturou-se o Instituto Brasil de Educação Ambiental, ong que atuaria exclusivamente com EA.27

Deste modo, ganharia vôo próprio o projeto criado pelo WWF com apoio governamental. O novo instituto prosseguiu com a mesma metodologia. Agindo a partir das escolas, inspirava “Raimundos” e “Marietas” a resgatarem a história das comunidades do entorno, compreenderem o contexto, para então criarem ações educacionais que melhorariam seus mundos. Em abril de 2002, quando a ong encerrou suas atividades, os dirigentes do Instituto contabilizaram a realização de 130 oficinas locais, 56 cursos e 500 projetos gerados por participantes. O livro “Muda o Mundo Raimundo!”, de apoio às atividades, foi três vezes reeditado.

Outro bom indicador da evolução da EA está nos projetos apoiados pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). De 1989 a 2002, revela um informe desse órgão de fomento, 270 projetos de EA receberam aporte financeiro. Isso corresponderia, segundo o próprio FNMA, a quase 30% do total de propostas financiadas no período, apresentadas tanto por organizações da sociedade civil, como por instituições públicas.

A estatística inspirou outros levantamentos. O livro “Quem faz o que pela Mata Atlântica” , organizado por Marussia Whately e publicado em 2004 pelo

Instituto Socioambiental, traz um mapeamento de projetos em prol da Mata Atlântica, executados por uma variedade de atores sociais: ongs, órgãos públicos, empresas privadas, instituições de ensino etc.28

Dos 747 projetos avaliados, mais de um quinto (162) teve a EA como principal componente. Em número, ainda considerando os 747, o estudo destacou o FNMA como principal apoiador (180), seguido de duas organizações ligadas a empresas: Unibanco Ecologia (166) e Fundação O Boticário de Proteção à Natureza (91). Mais uma confirmação de que o suporte a projetos de EA, que antes tinham em organizações internacionais as principais fontes financeiras, migrara para apoiadores nativos.

A tendência já estava presente no diagnóstico da EA no Brasil feito em 1997 para a I Conferência Nacional de EA. Com base em 470 questionários respondidos, viu-se que a maioria dos projetos de EA tinha financiadores nacionais (48% com recursos governamentais e 19,7% de ongs). O resto, menos de um quinto do total, dividia-se em suporte de governos de outros países (9,5%), não-governamental internacional (8,7%) e outros (13,8%).

Mais dados da mesma pesquisa que ajudam a entender o momento: pouco mais da metade dos projetos avaliados (53,2%) era de órgãos governamentais. Com relação à atividade principal, a maior parcela era de materiais que visavam a sensibilização das comunidades (educação informal, 38,8%). Ações de EA no âmbito do ensino não formal viriam em seguida (32,8%), ficando a educação formal, nas escolas, com a menor fatia (27%).

Apesar dos avanços institucionais, esse quadro pouco havia mudado até 2000, segundo relato de técnicos do MMA feito três anos mais tarde no III Congresso Ibero-americano de EA, em Caracas (Venezuela). A pesquisa também localizou uma forte demanda pela capacitação em EA, o que teria motivado ações, também desse ministério, para preparar diferentes atores

delegacias regionais do MEC, bem como a docentes em escolas técnicas federais e de cursos de pedagogia de algumas universidades. Com 100 horas, divididas em dois momentos, o curso seguia uma metodologia denominada Proposta de Participação-Ação para a Construção do Conhecimento (Propacc). Usavam-se matrizes

seqüenciais para enfocar desde a identificação dos problemas socioambientais, até o planejamento para a EA. Ao final, os participantes teriam condições de atuar como agentes multiplicadores para introduzir a EA no currículo.23

AVALIAÇÃO OFICIAL

Ao avaliar o período 1991-98, a publicação “Políticas de Melhoria da Qualidade da Educação”24, lançada pelo MEC em 2002, interpretou que a presença da EA no ministério nesse período priorizou o apoio a ações desenvolvidas no sistema do meio ambiente. Menciona, entre os exemplos, a criação dos mencionados Centros de EA, cursos de capacitação para multiplicadores, além da divulgação dos objetivos, princípios e projetos de EA nas escolas por meio de teleconferências e vídeos. Atos que teriam garantido a sensibilização dos atores da área educacional, mas não a construção de uma identidade da EA nos sistemas de ensino, que penetrasse no universo das políticas e ações educacionais das instituições.

A mesma análise confirma que a proposta dos temas transversais no currículo (PCNs), em 1997-98, revelou-se uma prática de difícil implementação imediata, seja como política educacional ou prática pedagógica. Mas havia uma forte demanda das Secretarias de Educação, estaduais e municipais, para adotar os PCNs, como apontou um relato histórico feito para o III Congresso Ibero- americano de EA (III Ibero), na Venezuela, em 2000.25

Foram motivos para idealizar os Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola (PAMA), que tentaria preencher duas lacunas com um único programa,

como veremos adiante: 1- proporcionar ferramentas para professoras/es das diferentes regiões do país trabalharem conteúdos do PCN de forma reflexiva e 2- criar a prática de formação continuada nas Secretarias de Educação e unidades escolares.

Antes disso, ainda em 1998, a COEA, depois de cinco anos ligada Secretaria Executiva do Gabinete do Ministro, foi transferida para a Diretoria de Políticas de Educação Fundamental da Secretaria da Educação Fundamental

(SEF). Com isso, ganharia o status de coordenação geral no organograma do órgão federal. Por ser a SEF uma das três secretarias do MEC, encarregada de instrumentalizar a ação prática de professoras/es, elaborar políticas de formação continuada e subsidiar as políticas públicas de educação nos estados e municípios, a nova coordenação de EA apostou que a mudança ajudaria a impulsionar a institucionalização da EA como tema transversal, a começar pelo Ensino Fundamental.26