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“Comigo trago A gotinha de água Que a chuva pôs em mim”

A EDUCOMUNICAÇÃO ENTRA EM CENA

Não é à toa que a educomunicação inspirou a formação de uma rede no final de 2004, e que essa rede promoveu sua primeira reunião nacional já em julho de 2005. Trata-se de uma expressão relativamente nova que reúne dois temas intrinsecamente ligados e atende uma antiga demanda.

Há muito tempo sabe-se que quem trabalha com comunicação – mesmo que não se aperceba disso – ao informar, contribui para a formação de seu público. É o que ganhou o nome de educação informal algumas décadas atrás. Já quem lida com educação percebe a importância das ferramentas da comunicação para formar pessoas com mais eficiência e eficácia.

Outra faceta da mesma questão é a necessidade de incutir uma visão crítica com relação às informações transmitidas pelos diferentes meios de comunicação. Por exemplo, quando comparamos como uma notícia é dada em diferentes veículos de comunicação, percebemos que ela reflete o modo de ver o mundo de quem está informando. Indo mais fundo, podemos deduzir o porquê da escolha desse assunto em vez daquele, e até discernir as intenções que estão por trás de cada versão.

Durante a consulta pública para a revisão do ProNEA, em 2004, houve uma forte demanda por materiais de comunicação voltados à EA. Por exemplo,

campanhas, produtos impressos, radiofônicos e televisivos com conteúdos variados e direcionados a diferentes públicos. Adicionalmente, propostas concretas aconteceram na I Oficina de Comunicação e Educação Ambiental, que reuniu cerca de 30 participantes, inclusive pesquisadoras/es, representantes de órgãos públicos federais, estaduais e ongs, em outubro daquele ano na capital federal.

Antes disso, em 2003, uma moção da 1ª Conferência Nacional do Meio Ambiente já reivindicara a construção participativa de uma política nacional de comunicação ambiental. A soma desses fatores inspirou a primeira versão do Programa de Educomunicação Socioambiental, lançado em junho de 2005 na forma de subprograma do ProNEA, aberto à consulta pública.

Ainda em 2005, sairia um documento técnico com a proposta e o portal do MMA ganharia a seção Educomunicação, na área da DEA/MMA, com os principais pontos120. Ao checar os objetivos e ações, tem-se uma boa idéia das intenções. Visando revelar o estado da arte – pois é preciso conhecer, para avançar – o primeiro item promete o mapeamento das estruturas e sistemas já existentes, bem como das pessoas que lidam com comunicação ambiental. Para estimular a adesão, previu-se de contribuir com a pesquisa de metodologias de diagnóstico e o planejamento da comunicação em projetos e programas socioambientais. Complementando, consta a intenção de promover a formação de educomunicadoras/es, e o apoio às redes de educação e comunicação ambiental.

Outros objetivos buscavam promover a prática da educomunicação: apoiar a produção interativa de programas e campanhas educativas socioambientais; auxiliar os coletivos envolvidos com EA para o acesso aos meios de produção da comunicação (sobretudo equipamentos de radiodifusão educativa); implementar um sistema interativo de intercâmbio e veiculação de produções no campo da EA para mídia massiva, facilitando a circulação de conteúdos,

• Portal EA.net. idealizado pela secretaria executiva da Rebea para gerar pautas para a mídia sobre temas relacionados à EA e suprir a dificuldade de participar em eventos presenciais, foi viabilizado a partir de uma parceria da DEA/MMA com as ongs Ecomarapendi e Calaboca já Morreu. Estruturado como portal na internet, garantiu mais de 50 horas de transmissões ao vivo do V Congresso Iberoamericano de EA e da Conferência Infanto Juvenil de Meio Ambiente, realizados respectivamente em Joinville (SC) e em Goiás no primeiro semestre de 2006, e do Encontro de Especialistas em EA da Bacia do Prata, em agosto do mesmo ano, em Foz do Iguaçu (PR).

Uma nova Panacea

Poucos meses mais tarde, em fevereiro de 2006, aconteceria em Iquitos, coração da Amazônia peruana, o II Encontro do Plano Andino-Amazônico de Comunicação e EA (Panacea), para debater atividades e estratégias. Além de representantes dos sete países, lá estavam membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), do GTZ-Peru e da Rede de Formação Ambiental do Pnuma. Foi lá que nasceram as três linhas de ação, cujo detalhamento seria finalizado em outubro do mesmo ano, numa nova reunião, dessa vez em Lima, capital do Peru. Vale conferir:

• Políticas públicas e estratégias nacionais e regionais de EA: entre os desafios dessa primeira linha, estaria a tarefa de inventariar e sistematizar experiências significativas da área, bem como mecanismos de cooperação e estudos úteis para definir um marco conceitual comum, sempre com foco nos países andinos- amazônicos, e nos temas comunicação e EA que inspiraram o plano.

• Comunicação para a educação e a gestão ambiental: a missão, aqui, seria identificar, caracterizar e articular as redes de comunicação e EA nos países andino- amazônicos, mas também ir mais longe, trabalhando pela inclusão da comunicação como estratégia transversal da EA. Um pouco mais adiante, chegou-se à proposta de montar uma campanha conjunta de educação e comunicação. Biodiversidade seria o tema, e cada país contribuiria com materiais.

• Formação, capacitação e investigação em comunicação e EA: nessa terceira linha, uma tarefa seria identificar, sistematizar socializar conhecimentos sobre programas de formação, capacitação e investigação sobre EA, tanto no nível formal, como no não-formal, e sempre com foco nos países andino-amazônicos. Prato cheio para promover o intercâmbio entre educadoras/es ambientais e outras/ os protagonistas de iniciativas significativas, como se propôs um pouco mais adiante.

Assim como a Venezuela se consolidou como país promotor do Placea, Peru foi reconhecido para promover o Panacea, que teria espaço também no V Congresso Ibero-americano de EA, abril do mesmo ano, no Brasil.

• Educação Ambiental no Ar. Produto de uma parceria entre DEA/ MMA, Ibama, canais públicos e comunitários, entre outros, resultou na veiculação e distribuição de produções audiovisuais independentes, além de incitar a realização de novas produções. Aí entram, por exemplo, a co-produção do programa radiofônico Natureza Viva – produzido pela ong WWF-Brasil e transmitido pela Rádio Nacional da Amazônia do Amazonas e Acre – e a viabilização da produção e veiculação da série educativa Revista Ambiental, realizada pela ong União Planetária em cooperação com Radiobrás, para exibição em 2007.

• Rádio-Escolas Verdes. Em outubro de 2005, o Ministério das Comunicações regulamentou a criação de rádio-escolas, por meio da Resolução 63/05, como estruturas educadoras transdisciplinares, para auxiliar a formação continuada de educadoras/es, educandas/os e comunidades. O objetivo foi facilitar a experimentação técnica e de conteúdo, permitindo-se a transmissão via antenas de até 25 watts, caixas de som bem como a interface com a difusão via internet. Nesse contexto entram as Rádio-Escolas Verdes, previstas pela DEA/MMA e orientadas para moradoras/es de áreas protegidas, comunidades tradicionais e indígenas. O programa previu oficinas de rádio em comunidades com ou sem mini-transmissor, e a formação em educomunicação, inicialmente em regiões vulneráveis, como bacia do rio São Francisco, estados do Amazonas, Acre, Pará, Mato Grosso, aproveitando a sinergia com estruturas educadoras, como salas verdes e centros de EA.

• Publicações. Projeto para lançar publicações sobre educomunicação socioambiental, a começar pela versão para consulta do Programa lançado em junho de 2005.

Completa esse cardápio o apoio a algumas produções de vídeo direcionadas à TV e a uma mostra de vídeos de temática socioambiental, durante o I Fórum Espiritual Mundial. Movimento suficiente, segundo a DEA/MMA, para justificar a criação de núcleo técnico no MMA para interagir com produções externas, gerar conteúdos, editar e copiar séries para rádio e TV. Também ficou clara a

Notas

115 http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/index.html.

116 O documento técnico nº4 do OG-PNEA, “Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável: relatório da pesquisa aplicada junto ao público do V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental”, publicado em 2005, discute esse processo e traz o Manifesto. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/dt_04.pdf. 117 Informações do caderno 3 – “Processos formadores em Educação Ambiental” (p. 22)

– do “Relatório de Gestão 2003-2006”, preparado pela DEA/MMA e lançado em 2007 na forma de 10 cadernos e um CD. Disponível em: http://www.mma.gov.br/index. php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=20&idConteudo=5899.

118 ’Idem. p. 25-29. Vale citar a evolução.De 2000 a 2003, foram listadas 99 Salas Verdes. Desde então, 45 são atendidas no processo seletivo em 2003; 63 em 2004; 79 em 2005, 225 em 2006. Em 2007, 390 mantinham-se em atividade.

119 Informações, boletim e documentos disponíveis em: http://www.mma.gov.br/port/sdi/ ea/deds/index.html. Para o blog, o endereço é http://salasverdes.blogspot.com/. 120 Transformado no Documento Técnico nº2 do OG-PNEA,“Programa de Educomunicação

Socioambiental”, em junho de 2005, está Disponível em: http://www.mma.gov.br/ estruturas/educamb/_arquivos/dt_02.pdf.

Antes disso, mais uma vez por proposição da DEA/MMA, o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), do mesmo ministério, criou a linha de apoio intitulada Produção de Material Pedagógico. Aberta a projetos de demanda espontânea com valor máximo de R$ 150 mil e duração de até um ano, ela foi lançada no início de 2006, e entrou em operação efetiva em 2007.

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“Não ganhamos nada por esperar.”