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vim te dar um gole d’água e pedir sua benção”

EA NAS EMPRESAS

Entre todos os GTs do V Fórum, apenas um era dedicado exclusivamente à área empresarial. Coordenado por Deborah Munhoz, da Rede Mineira de EA e na época responsável pelo Núcleo de EA da Federação das Indústrias de Minas

Gerais (Fiemg), o GT Empresas & Educação Ambiental estabelecera a meta de iniciar um diagnóstico da EA que empresas ofereciam para o público interno e o externo, visando traçar recomendações para a área.

Num trabalho classificado como envolvente e exaustivo, 27 profissionais de 22 empresas em 12 estados responderam 13 questões, que ajudariam a visualizar qual EA se oferecia nas empresas do Brasil. Seria uma amostra pequena frente ao que existia no país em 2004. Mesmo assim, causou surpresa a variedade de possibilidades reveladas nas respostas.

No quesito motivações, por exemplo, 27 participantes listaram 24 objetivos empresariais para justificar práticas de EA junto ao público interno e/ou externo. Desde criar um canal de comunicação com a comunidade ou atender exigências legais, até o controle de gastos, obtenção de certificações ambientais ou compromisso com a responsabilidade social. Do mesmo modo, ficou clara a diversificação de situações e setores geradores de demandas por EA. Entre outros, ela poderia ser solicitada pelo departamento de comunicação social, ou pelo de marketing, pelo RH, área de higiene e segurança, setor de meio ambiente etc. Também poderia resultar de pedidos externos de ongs, de sistemas de ensino, do “mercado”, decorrer de exigências do Ministério Público, ou da premência ante conflitos ambientais...

É claro que, diante de tanta variação, a execução dos programas também revelaria uma riqueza de matizes. Nas empresas mais adiantadas, a EA partia de um plano embasado num Projeto Político Pedagógico, para gerar mudanças culturais efetivas no ambiente corporativo. Em várias, estudos da percepção ambiental eram a ferramenta para definir as atividades. Mas não faltaram casos em que a EA se limitava a ações pontuais em datas específicas, ou propostas empíricas. Eventualmente, ela era compreendida apenas como estratégia de negócio, ou para resolver temas práticos, como o destino correto dos resíduos.

Observou-se uma forte diferença entre as práticas de EA direcionada ao público externo (comunidade do entorno, consumidores etc.) e ao interno. Para

Por que se engajar na função de educador/a ambiental em companhias? Houve respostas pragmáticas, como sustentação econômica, evolução profissional, compromisso social, e/ou tratar a questão como técnica. Mas, em outras, transpareceu o idealismo: desejo de promover mudança de comportamento frente às questões ambientais, conscientização ambiental, resgatar valores e auto-estima, criar espaços para diálogo.

Formações variadas estavam por trás das pessoas que fazem a EA empresarial: biologia, engenharia, química, geografia, administração, educação física, pedagogia, RH foram alguns dos cursos citados. Ao detalhar o perfil das/os profissionais para a EA nas empresas, o GT intuiu que teriam de ter “um pouco da característica empresarial na forma de pensar”. Além de conhecimentos específicos em educação e meio ambiente, seria preciso saber usar a linguagem administrativa e conceitos básicos de marketing, para negociar com os demais setores. E conhecer como funciona a empresa, quais suas metas e recursos disponíveis.

Trocando em miúdos: no meio corporativo, profissionais da EA teriam de ter capacidade de mediação. Ter conhecimento, por exemplo, de como criar vínculos entre a empresa e órgãos ambientais, tornando-os parceiros. Ou demonstrar para seus pares que a EA é vantajosa como instrumento para a ecoeficiência, que proporciona economia de custos, leva à redução de impactos socioambientais, promove a credibilidade e melhora a imagem junto ao público externo. Descreveu-se um ambiente de trabalho cheio de facções: desde funcionárias/os que crêem na importância da EA até aquelas/es para quem ela representa uma “atividade que qualquer um faz”, despesa inútil para a corporação.

Como trabalhar a EA em ambientes tão heterogêneos? O GT concluiu que um dos desafios seria desenvolvê-la de forma emancipatória no ambiente interno e externo. Técnicas de comunicação lúdicas e cuidados para evitar conflitos que diferenças culturais e religiosas podem gerar seriam detalhes para fazer a diferença para alcançar este objetivo.

CENTROS DE EA

Espaços físicos de referência em EA cuja multiplicação fora estimulada nos anos 1990 pela Coordenação de EA do MEC, os Centros de Educação Ambiental (CEAs) eram numerosos em 2004, não só em empresas, mas também em instituições de ensino, organizações governamentais e não governamentais. Como transitar em meio a esta variedade foi um dos temas do GT CEAs.

Novo programa nacional de EA

Elaborado pela Diretoria de EA do MMA e a Coordenação Geral de EA do MEC, e acordado pelo Órgão Gestor ainda em 2003, o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) ganhou novos contornos num processo de consulta pública, cujo auge aconteceu em novembro de 2004, no V Fórum Brasileiro de EA.

Trata-se de um documento que traça as diretrizes para a ação do governo e da sociedade quanto às políticas públicas de EA. A partir dele, todos os segmentos sociais e esferas de governo tornar-se-iam co-responsáveis por sua execução, monitoramento e avaliação.

Cinco diretrizes e cinco linhas de ação orientaram sua elaboração, que tem como pilar o Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global:

• Diretrizes: 1- transversalidade e interdisciplinaridade; 2- descentralização espacial e institucional; 3- sustentabilidade socioambiental; 4- democracia e participação social; 5- aperfeiçoamento e fortalecimento dos sistemas de ensino, meio ambiente e outros com interface com a EA.

• Linhas de ação: 1- gestão e planejamento da EA no país; 2- formação de educadoras/es ambientais; 3- comunicação para EA; 4- formação ambiental continuada de professores; 5- monitoramento e avaliação de políticas, programas e projetos de EA.

Uma programação foi estabelecida para a consulta pública, de forma a garantir a participação das/os educadoras/es ambientais na formulação deste programa. Logo após o lançamento, iniciou-se um processo de divulgação. Depois, em agosto e setembro de 2004, uma parceria com CIEAs e Redes de EA resultaria em oficinas intituladas Construindo juntos o futuro da educação ambiental brasileira que, na prática, serviriam como audiências públicas.

Da acordo com a proposta, todas as unidades federativas poderiam organizar oficinas, com debates norteados por três regras: 1- as propostas para o ProNEA partiriam do documento-base, elaborado pelo MEC e MMA e distribuído às/aos participantes; 2- haveria apenas três opções de intervenções – alteração, acréscimo ou supressão de informações do texto-base; 3- o envio das demandas se daria por meio do preenchimento de um formulário eletrônico no ambiente do Sistema Brasileiro de Informação sobre Educação Ambiental (SIBEA).

Havia CEAs que aproveitavam espaços ao ar livre – como matas, viveiros e/ou parques – para trabalhar com diferentes públicos. Alguns tinham sede fixa; outros, móvel. Entre as finalidades, eles poderiam gerar e disponibilizar conhecimentos, e/ou sensibilizar e integrar atores sociais, e/ou pesquisar. Quanto às atividades mais típicas, havia oficinas, trilhas, palestras, eventos, estudos do meio, entre outros. E não existia um padrão único para equipamentos e recursos, que variavam, de simples materiais pedagógicos a sofisticados instrumentos de informática e de segurança. Em Minas Gerais, a implantação de CEAs se tornara condicionante para licenciar empreendimentos minerários, siderúrgicos, hidrelétricos, loteamentos e silvicultura.

Mais que deliberar sobre o tema, o objetivo do GT foi discutir concepções deste “cipoal de CEAs”, identificando dificuldades e potencialidades também para a Rede CEAs. Impulsionada pelos resultados de um diagnóstico de CEAs no Brasil feito pelo Laboratório de Educação e Política Ambiental (OCA), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), essa rede nasceu oficialmente em março de 2003, com o lançamento de uma lista de discussão eletrônica para quem era da área107.

Mais que a carência de informações sobre esses centros no Brasil até mesmo entre educadoras/es ambientais, esse diagnóstico identificara três temas considerados gargalos para o crescimento. Em primeiro lugar, o próprio conceito de CEAs, já que havia uma variedade de concepções por trás dos existentes no país. Associado a isso, o segundo gargalo estava na variedade de pressupostos em torno do que seria EA desenvolvida por eles. Um terceiro gargalo era a comunicação entre os centros, num período em que o uso da internet ainda não estava tão disseminado.

e o Compromisso de Goiânia, subscrito em abril de 2004, como veremos adiante com mais detalhes.

O GT também definiu quem seria a instância deliberativa para a edição final do ProNEA: o Órgão Gestor da PNEA, seu Comitê Assessor e a Câmara Técnica de EA do Conama. Foi assim que, em 24 de fevereiro de 2005, foi lançado o novo ProNEA, resultante da consulta pública.

Vale adiantar que, em 2007, uma deliberação do mesmo Comitê Assessor iria prever a formatação de um novo instrumento legal para garantir a internalização do ProNEA, bem como confirmar a prática de revisões periódicas, para mantê-lo atualizado.

Seu primeiro encontro presencial, o I Encontro Paulista de CEAs, aconteceu em Rio Claro (SP), em julho do mesmo ano, durante o II Encontro Paulista de EA. E, em outubro de 2003, houve o 1º Encontro Nacional de CEAs, em Timóteo (MG), que teve, como ponto alto, o debate sobre o que deve ser um Projeto Político Pedagógico (PPP) para os CEAs. Concluiu-se que seria um documento estratégico, se trouxesse diretrizes para a sensibilização individual e coletiva, visando mudar comportamentos em direção à interação sustentável entre ser humano e o ambiente. Mas o PPP teria de permitir a flexibilidade de ação, frente à diversidade de públicos, métodos e atividades possíveis.

O GT que debateu o tema no V Fórum de EA, em 2004, concluiu que a época era favorável à ampliação de espaço físico e abrangência destes centros, devido à ascensão da temática socioambiental no mundo. Apesar disso, comentou-se que muitos CEAs sofriam carência de recursos financeiros.

Questões aparentemente contraditórias foram apontadas como obstáculos para fortalecer a Rede CEAs. De um lado, mantinham-se os problemas de comunicação e o desconhecimento de profissionais do ramo sobre a existência da rede. De outro, convivia-se com um excesso de informações disponíveis, que dificultaria a divulgação. Adaptar-se ao rápido avanço das novas tecnologias de comunicação – da internet ao GPS – era uma premência para este universo de profissionais.