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Mariani insistiu como uma louca para que eu contasse a ela em detalhes o ocorrido, o que ele falou exatamente, mas não estava interessada em me abrir com ninguém, não queria falar sobre o assunto, senti falta da minha mãe, um motivo para me fazer chorar ainda mais.

Não conseguia parar de chorar, como se tivesse aberto uma torneira desgovernada dentro de mim, lembrei-me dos momentos em que passei com Victor, não estava acreditando que ele me deixou, levou um pedaço de mim, sem ele minha vida não teria sentido, viver sem ele não era viver, era apenas existir.

Mariani não saiu de perto de mim nem por uma fração de segundos.

- Não vou deixar que faça nada estúpido, você precisa entender que não é o fim do mundo, você é jovem, linda e tenho certeza de que irá encontrar outros garotos tão especiais quanto ele. –ela falou isso tentando me confortar, o que só fez com que eu ficasse mais chateada.

- Se você pensa assim porque nunca tomou uma atitude referente Leonardo? Ao invés disso tem de ficar olhando ele dar em cima de outras garotas sem poder fazer nada. Onde ficou a parte do “existe pessoas tão especiais quanto ele”? Eu não preciso de você me dizendo o que devo ou não fazer, você não é a minha mãe então não fique me dando ordens ou conselhos onde na verdade você não entende absolutamente nada do que está falando. Eu quero morrer, é tão difícil assim de entender? –usei o tom de voz mais dramático possível.

- Eu poderia muito bem gritar com você agora, mas não estou a fim porque eu sei que se você estivesse no seu estado normal jamais diria isso pra mim, esse garoto te transformou e não foi para melhor, porque a Kelly que eu conhecia jamais ficaria deitada em uma cama desejando morrer, disso eu tenho certeza. –ela pegou em minha mão e disse que estava disposta a me ajudar, mesmo se eu não quisesse.

Ela não foi ao passeio porque disse que eu precisava mais dela do que as outras pessoas, ela me trouxe algumas frutas e uma batatinha frita, ficamos deitadas na cama vendo filmes. Teve uma parte que me fez chorar, quando o mocinho jurou estar com a mocinha pelo resto da vida, então pensei: porque os homens insistem em fazer

promessas que jamais cumprirão? Não queria saber jamais de homem algum, se escolhi viver, então viverei da pior forma possível, levarei uma vida medíocre. Não queria admitir, mas estava gostando da presença de Mariani, ela de certa forma me deixou mais calma, me contive um pouco, tudo aquilo me deixou histérica, nunca pensei que Victor fosse fazer aquilo comigo, esperaria de qualquer pessoa, menos dele, não da pessoa que eu julgava ser o meu amor, a minha metade.

- Mariani, eu queria te pedir desculpas, não deveria ter falado aquelas coisas para você, estou chateada é verdade, mas não é brigando com você que eu irei resolver. - Te entendo Kelly, e não se preocupa, nem lembro mais do que você falou. –ela estava mentindo, as minhas palavras sobre Leonardo a atingiram bem mais do que uma flecha lançada a curta distância. Senti-me a pior pessoa do mundo por ter dito aquelas

bobagens a minha melhor amiga, porque como estava longe de minha mãe, a única pessoa a me ajudar era ela, a amiga que sabe tudo sobre mim, bem mais do que minha mãe disso eu tenho certeza.

Tentei fingir que estava curtindo o filme, pois era um dos favoritos de Mariani, me levantei e peguei uma caixa que mamãe me dera onde continha um livro chamado Soul

Love, ela me disse certa vez que era o seu livro predileto, porque ele tem um poder em cada palavra que nos faz viajar ate a ocasião onde tudo aconteceu.

Olhei para Mariani e vi que ela havia adormecido, então abri o livro e comecei a ler, pra falar a verdade foi apenas uma forma que achei para manter a minha mente distraída, pensar em Victor era a ultima coisa que eu queria.

Fui surpreendida quando Elizabeth chegou, não estava esperando a volta dela tão cedo, pensei que fossem visitar o observatório, e que só chegaria à noite, talvez tenha me enganado. Não fui a única a tomar um baita susto, mas Mariani também.

- Porque voltaram tão cedo? –perguntou Mariani.

- Porque a diretora Lucy estava preocupada com a princesinha aqui e achou melhor que voltássemos mais cedo caso ela precisasse de ajuda. –o veneno que ela punha na “princesinha” era surpreendente. Senti-me como se fosse uma pessoa desprezível. - Nossa Elizabeth, não precisa ser tão dura assim, Kelly é a nossa amiga e precisa de nossa ajuda, principalmente agora. –Mariani estava disposta a me defender. Parecia que estávamos em uma disputa num tribunal.

- Vou dizer mais uma vez, ela é a sua amiga, não minha, vou deixar claro que ela nunca foi, somos apenas colegas de quarto, durante pouco tempo, não sei se aguentarei mais tanto paparicado, uma vez que ela não tem nada, isso é manha, só porque levou um baita chute do senhor beleza, não é preciso estar perguntando toda hora se ela precisa disso, daquilo, tudo de mais abusa. –quando terminou de falar ela suspirou como se tivesse pondo pra fora todo o veneno que tinha dentro de si.

Não consegui segurar minha tristeza e frustração, então desabei em prantos, sai do quarto e deixei as duas discutindo sobre a questão “Kelly”, estava me sentindo a escória do mundo, o ser mais repugnante do planeta.

Fiquei sentada junto à porta, o que me fez escutar alguns trechos da conversa entre elas.

- Porque você fez isso? Ela não merecia, sempre foi gentil conosco, e você não tinha esse direito. –gritava Mariani.

- Ela sabia que era errado. Ela não é melhor do que ninguém e se a diretora

descobrisse estaríamos todas encrencadas, apenas pensei em todas nós, não fiz nada de mais. –berrou Elizabeth. Era evidente que Elizabeth estava mais que feliz pelo fim do meu namoro, não estava acreditando, justamente Elizabeth à garota que conheci quando tinha dois anos de idade, éramos inseparáveis, mas não sou culpada pelos problemas dela, certo que quando Mariani chegou eu me afastei um pouco dela, mas eu não tive culpa, tem coisas que não tem explicação, como por exemplo o porque

Elizabeth tinha tanta raiva de mim, não estava tão disposta a encontrar a resposta, apenas me levantei e fui até a recepção, estava com a roupa molhada de lagrimas, ao invés de sentar-me na cadeira preferi o chão, ele sim parecia disposto a me acolher, a recepcionista sentou ao meu lado e sussurrou:

- Está na cara que ele te ama se fosse você não desistia de um romance tão lindo. –ela olhou para mim e piscou o olho.

- Como você sabe disso?

- Não é só porque eu trabalho na recepção que eu não esteja ligada com o mundo lá fora, o jardim fica bem em frente o meu balcão.

Dei um sorriso e baixei a cabeça, chorei por muito tempo, ela se levantou e me deixou desabafar, aproveitei que não tinha ninguém transitando e gritei, com todas as minhas forças, queria que o mundo inteiro soubesse o que estava sentindo, queria que Victor escutasse e se sentisse a pior pessoa do mundo por ter-me feito sofrer tanto.

Depois de passar horas chorando, permiti sentir-me um pouco melhor. Então me levantei e fui ate o meu quarto, peguei o meu casaco e sai do hotel, queria acabar com

todo esse sentimento que me sufocava, dar uma volta pela rua me tranqüilizaria um pouco. A reação de Elizabeth estava pirando a minha cabeça, nunca pensei que ela não fosse a minha amiga. Para todos os efeitos éramos um trio, será que ela estava me usando para conseguir popularidade? Desde que cheguei à escola me tornei a garota que as outras garotas queriam conhecer e tornar-se amigas. Mariani, Elizabeth e eu formávamos um time, ela não podia nos deixar na mão, justamente nessa hora em que mais precisei das minhas amigas.

Cheguei a uma rua deserta, não se via nada apenas um monte de mato, parecia um lugar triste, perfeito para o meu estado de espírito. Peguei o celular e liguei para mamãe, queria escutar a sua voz, matar todas as saudades que tomava conta de mim. Pensei em ligar para Felipe, mas lembrei-me que ele estava em uma viajem, não queria atrapalhá-lo contando como me sentia mal.

Liguei para o trabalho de mamãe, mas a secretária atendeu e disse que mamãe estava em uma viajem de férias no Caribe com papai. Então quer dizer que eles seguiram a minha dica, resolvi não deixar nenhum recado, não queria perturbá-la, ela já se preocupou de mais e precisava descansar.

Soprou um vento frio, e pingos de chuva molhavam o casaco, não o fechei deixando assim que ensopasse toda a minha roupa, evitei me preocupar com a gripe que

provavelmente pegaria por estar exposta a toda aquela frieza, quem sabe toda aquela chuva não limparia meus pensamentos e tirava de mim a idéia de suicídio.

O tempo parecia não passar, quando voltei ao hotel estavam todos reunidos para o jantar, inclusive Mariani e Elizabeth, que agiram como se nada tivesse acontecendo, subi correndo para o meu quarto, tomei um longo banho, passei horas e horas lavando o cabelo tentando me distrair, troquei de roupa e fui dormir.

Tive um sonho estranho, não muito diferente de todos os outros que tive desde que cheguei até aqui. Sonhei que estava em uma casa abandonada por fora, mas que por dentro parecia ser habitada, os móveis estavam impecáveis, de repente um homem veio em minha direção, me entregou uma rosa de papel, e disse:

- Você precisa cuidar do que está dentro de você, talvez tudo isso que habita seu corpo possa te consumir quando menos você esperar. –ele era alto e muito pálido, vestia-se de terno branco com uma gravata vermelha cor de sangue, seus olhos eram azuis como o céu e se cabelo era tão amarelo que brilhava, ele era muito bonito, e de repente outro homem apareceu, mas antes de o ver, me levantei assustada.

Fiquei pensando no que aquele homem falou, pareceu tão real que me fez chorar, tive medo de que algo de ruim acontecesse, mas lembrei do que Felipe me falou certa vez quando tive pesadelos e fui correndo para o seu quarto em busca de refúgio. Ele disse que sonhos é apenas excesso de preocupações, todas as coisas que pensamos durante o dia nos fazem sonhar a noite, tanto coisas boas quanto ruins, depende do que você pensa.

Levantei e fui tomar um copo de água, liguei a televisão, estava passando uma comedia romântica ótima, que em tempos normais era a minha predileta. Olhei para Mariani que parecia um tanto perturbada, senti-me culpada, afinal fui eu quem provocou a discussão entre elas, mesmo não sendo a minha intenção, não podia fazer nada se tudo estava dando errado, passei um bom tempo pensando no rumo de minha vida, curtir bastante cada momento em que passarei em Nova York. Até que me entreguei ao sono.

No documento Kelly Andrews Por toda a minha vida (páginas 33-36)