• Nenhum resultado encontrado

Numa pesquisa pelo termo capital social, a primeira utilização é atribuída a Lyda J. Hanifan (Putnam, 2000). Em 1916, este Supervisor Estatal das escolas rurais da Virgínia aplicou a expressão no contexto de uma reflexão sobre a importância do envolvimento da comunidade na criação de escolas de sucesso. Para dialogar num terreno comum ao dos homens de negócios com quem lidava, Hanifan optou por um discurso com jargão económico (Halpern, 2005), o que explica a aplicação da expressão “capital social” aos aspetos imateriais das relações sociais de um grupo ou de uma comunidade.

No entender de Hanifan (1916), um indivíduo sozinho é também socialmente indefeso. A boa vontade, o companheirismo, a empatia, enquanto características

desejáveis das relações sociais, trazem vantagens a toda a comunidade, pelo que devem ser preservadas: “(…) community as a whole will find in his associations the advantages of the help, the sympathy and the fellowship of his neighbors” (p.130).

O conceito de capital social tem sido objeto de entendimentos variados. Não raras vezes, a maioria dos investigadores que o empregam analisam as suas origens intelectuais, sem ignorar a diversidade de aplicações, e optam por uma escola de pensamento, acrescentando o seu próprio contributo, o que tem tido como consequência um manancial considerável de definições (Adam & Roncevic, 2003).

O conceito foi inventado pelo menos seis vezes ao longo do século XX, informa Putnam (2000), e cada versão destacou a forma como a vida das pessoas se torna mais produtiva através dos laços sociais. Este autor estabeleceu a distinção entre capital social inclusivo, ou “bridging” (Putnam, 2000, pp. 22-23), e capital social exclusivo ou “bonding” (Putnam, 2000, pp. 22-23). O capital social inclusivo tende a agregar pessoas oriundas de segmentos diferentes da sociedade, o que o politólogo ilustra com o movimento dos direitos civis americano, movimentos associativos de jovens, e organizações religiosas ecuménicas. O capital social inclusivo é útil quando se trata de integrar ou estabelecer ligações exteriores para o acesso a recursos ou à informação (Putnam, 2000).

O capital social exclusivo reforça a reciprocidade específica e mobiliza a solidariedade. É uma espécie de “supercola sociológica” (Putnam, 2000), uma vez que consolida a lealdade e a identidade de um grupo com interesses comuns - como é o caso de associações étnicas, grupos de mulheres ligadas à igreja, ou clubes de campo - pelo que se trata de um tipo de capital que mantém a homogeneidade e fortalece identidades exclusivas.

Claridge (2004) fez uma recolha dos principais entendimentos de capital social organizando-os de acordo com esta perspetiva: capital inclusivo vs. exclusivo (External

versus Internal), capital exclusivo (Internal/ Bonding), e ambos (Both Types).

External

vs. Internal Authors Definitions of Social Capital

Bourdieu

'the aggregate of the actual or potential resources which are linked to possession of a durable network of more or less institutionalized relationships of mutual acquaintance or recognition' (Bourdieu 1986, p. 248).

Bourdieu &

Wacquant

'the sum of the resources, actual or virtual, that accrue to an individual or a group by virtue of possessing a durable network of more or less institutionalized relationships of mutual acquaintance and recognition' (Bourdieu & Wacquant, 1992, p. 119).

Burt

'friends, colleagues, and more general contacts through whom you receive opportunities to use your financial and human capital' (Burt, 1992, p. 9).

Portes

'the ability of actors to secure benefits by virtue of membership in social networks or other social structures' (Portes, 1998, p. 6).

Coleman

'Social capital is defined by its function. It is not a single entity, but a variety of different entities having two characteristics in common: They all consist of some aspect of social structure, and they facilitate certain actions of individuals who are within the structure' (Coleman 1990, p. 302).

Fukuyama

'Social capital can be defined simply as the existence of a certain set of informal values or norms shared among members of a group that permit cooperation among them' (Fukuyama, 1997).

Putnam

'features of social organization such as networks, norms, and social trust that facilitate coordination and cooperation for mutual benefit' (Putnam 1995, p. 67).

Both types Loury

'naturally occurring social relationships among persons which promote or assist the acquisition of skills and traits valued in the marketplace. . . an asset which may be as significant as financial bequests in accounting for the maintenance of inequality in our society' (Loury, 1992, p. 100).

Nahapiet & Ghoshal

'the sum of the actual and potential resources embedded within, available through, and derived from the network of relationships possessed by an individual or social unit. Social capital thus comprises both the network and the assets that may be mobilized through that network'(Nahapiet & Ghoshal, 1998, p. 243).

Woolcock 'the information, trust, and norms of reciprocity inhering in one's social networks' (Woolcock, 1998, p. 153).

Quadro 1. Conceitos de capital social

Estas definições têm em comum a aplicação de palavras-chave dos foros semânticos da economia, das finanças e das relações sociais, ou seja, componentes da noção de capital social: o acesso a recursos ou bens acumulados – como referem Bourdieu (1992), Bourdieu &Wacqant (1986), Loury (1992) e Nahapiet & Ghoshal (1998) - as redes de relações ou os grupos em que esses recursos se situam – como sublinham Bourdieu (1992), Bourdieu &Wacqant (1986), Burt (1992), Coleman (1988), Fukuyama (1997), Portes (1998), Putnam (1995), Loury (1992) e Nahapiet & Ghoshal (1998) - os benefícios decorrentes quer da pertença ao grupo ou rede, quer do acesso aos recursos – como mencionam Coleman (1998), Portes (1998), Putnam (1995) - a partilha de valores como a confiança, o reconhecimento mútuo, a reciprocidade e a cooperação, e que são encarados como bens/recursos – como salientam Bourdieu & Wacqant (1992), Fukuyama (1997), Putnam (1995) e Woolcock (1998).

Observa-se alguma transversalidade nestas aceções fundada na ideia de que o ‘capital social’ resulta de relações sociais que geram benefícios produtivos para os sujeitos envolvidos (Claridge, 2004). Neste ponto é imperativo prosseguir a reflexão sobre o conceito continuando a circunscrever a sua origem e a sua evolução.