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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

5.8. Métodos de tratamento e análise de dados

5.8.2. Tratamento dos dados da entrevista

O tratamento dos dados da entrevista foi feito com base na análise de conteúdo (Bardin, 2009) e envolveu um conjunto de tarefas respeitantes à concretização do processo analítico. Importa agora explicitar os termos em que foi feita esta análise de conteúdo. Comecemos pela definição do conceito de acordo com Bardin (2009):

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não), que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (p.42).

Seguindo as sugestões de Bardin (2009), é fundamental ter em conta o que designa por “intenção da análise de conteúdo” e que se relaciona com o caráter inferencial decorrente da aplicação deste método. Por outras palavras, não se trata apenas de descrever conteúdos, mas sim do “(…) que estes nos poderão ensinar após serem tratados (por classificação, por exemplo), relativamente a “outras coisas” (p.38).

O guião elaborado para as entrevistas foi um dos apoios à identificação dos temas tratados, em complemento das “leituras flutuantes” que recomenda Bardin (2009). Foi feita uma análise categorial que pretende “(…) tomar em consideração a totalidade de um “texto”, passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento,

segundo a frequência de presença (ou de ausência) de itens de sentido” (Bardin, 2009, p.37). Este momento foi seguido da codificação, com base na definição de categorias e de subcategorias, de unidades de registo (assuntos abordados pelo entrevistado).

A identificação de temas e categorias (Bogdan e Biklen, 1994), através de uma análise temática, sublinhando segmentos de texto, permitiu a seleção de unidades de significado em função dos subtemas tratados na entrevista. Para uma melhor organização das categorias identificadas, foi elaborada uma grelha com os temas e categorias - do tipo semântico - para a análise do corpus das entrevistas, com base nos princípios da exclusão mútua, homogeneidade, exaustividade, pertinência, produtividade e objetividade (Bardin, 2009).

Sendo o principal objetivo das entrevistas recolher informações sobre a experiência e o ponto de vista pessoal dos Diretores dos Agrupamentos de escolas participantes no estudo, e antecipando-se a necessidade de entrever outros significados, perspetivas e sentimentos, para além daqueles verbalizados nas respostas dadas às perguntas, a análise de conteúdo afigurou-se como o método mais adequado para a análise destes dados. Foi especialmente o caráter inferencial da análise de conteúdo que mais interessou na escolha de um método apropriado à análise das entrevistas aos diretores.

A este propósito Bardin (2009) refere que na utilização da análise de conteúdo “(…) o interesse não reside na descrição dos conteúdos, mas sim no que estes nos poderão ensinar após serem tratados” (2009, p. 38). É esta a parte mais desafiante da aplicação deste método, e é também aqui, claro está, que reside a sua maior utilidade e pertinência, para a fase final que é a interpretação dos dados. A tarefa do analista é assim dupla (Bardin, 2009): “(…) compreender o sentido da comunicação, mas também e principalmente desviar o olhar para uma outra significação (…) o realçar de um sentido que se encontra em segundo plano” (p.41).

A análise de conteúdo tem também duas funções: a heurística – relacionada com a análise exploratória do texto – e a função de “administração de prova” (p.30), que implica a formulação de hipóteses, que serão confirmadas ou infirmadas em resultado do processo da análise.

Para além destes dois instrumentos de investigação, a entrevista e o questionário, foi escolhida a análise documental como forma de completar o estudo proposto. Os documentos oficiais dos agrupamentos de escolas, atrás mencionados foram objeto de análise documental, o método escolhido como complemento à investigação e como

forma de triangular os dados. A análise documental teve por base os documentos que, nos termos do que é definido pelo Decreto-Lei nº 75/2008, de 22 de abril, são “instrumentos de autonomia” dos agrupamentos de escolas: o plano anual de atividades, o regulamento interno e o projeto educativo, assim como relatórios com os resultados da avaliação externa (nos casos dos agrupamentos em que esse processo ocorreu) pela Inspeção-Geral da Educação, que apresentam dados relevantes para a caracterização dos agrupamentos em estudo.

CAPÍTULO 6

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Dedicado à apresentação e discussão dos resultados da investigação empírica, o presente capítulo foi organizado da seguinte forma: procede-se, em primeiro lugar à apresentação do questionário, em concreto, aos testes de consistência interna que foram aplicados às diferentes secções com vista à verificação da sua fiabilidade. Procede-se, em seguida à caracterização dos agrupamentos envolvidos no estudo, através de elementos recolhidos junto dos próprios estabelecimentos de ensino e nos respetivos sítios de Internet, bem como em relatórios da Inspeção-Geral da Educação respeitantes à avaliação externa destes mesmos agrupamentos de escolas.

Feita a apresentação dos agrupamentos, passa-se à análise dos dados obtidos para efeitos de estudo do objeto desta investigação, começando pela definição do perfil dos entrevistados e dos docentes inquiridos. Neste ponto são referidas informações quanto ao percurso profissional dos sujeitos participantes neste estudo. Segue-se uma reflexão sobre as memórias dos sujeitos participantes do processo de agregação de escolas. São indicadas as principais expetativas e receios sentidos aquando da transição para uma realidade organizacional diferente, com base nos testemunhos dados pelos Diretores, e nos dados recolhidos através do questionário.

Concluída esta parte inicial da apresentação de dados, prossegue-se para a análise das variáveis estipuladas para o presente estudo: a agregação de agrupamentos e as relações humanas e profissionais entre o diretor e o corpo docente; a agregação de escolas e as relações humanas e profissionais interpares; a constituição de mega- agrupamentos e o grau de envolvimento e de participação dos docentes na vida da escola.

Por fim, são ainda elencados os prejuízos e benefícios da agregação dos agrupamentos de escolas na perceção dos Diretores e dos docentes, assim como a sua perspetiva acerca do futuro da educação em Portugal.