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Características do discurso de posse como interino que o configuram como gênero do

3.1 A inserção de uma figura política no pós-impeachment: o discurso de posse de Temer

3.1.2 Características do discurso de posse como interino que o configuram como gênero do

respectivos projetos discursivos. Pelo exame dos signos presentes nesses dois enunciados, enxergamos a construção a FP de Temer em momentos distintos (2013/2016).

Há relações dialógicas entre textos relacionados à mesma FP. No artigo, quando a FP de Temer se apresenta, enquanto Vice-presidente, criticando o momento histórico de 2013, há um sujeito discursivo que se coloca como observador crítico do contexto. No discurso de posse como interino, o mesmo sujeito, assumindo o papel de presidente, mostra os pilares que regem sua percepção de governo e de país, com o propósito de mostrar que iria prezar pela “eficiência” dos serviços públicos.

3.1.2 Características do discurso de posse como interino que o configuram como gênero do discurso

Após percebermos alguns fragmentos que podem ter contribuído na produção do discurso de posse como interino e as marcas enunciativas da figura política de Temer, situamos

abaixo as marcas que inserem o “discurso de posse como interino” como gênero do discurso dotado de características próprias. Esse enunciado é um gênero da esfera política pela presença das seguintes características:

- Conteúdo temático posto sobre a ideia de uma inserção de uma gestão de governo positiva, assentada na concepção de que há um posicionamento norteador do discurso, expresso por uma FP que se apresenta como inovadora e possuidora da capacidade de modificar a realidade de crise política e parlamentar que o país vive, no tempo em que o discurso é enunciado. Há uma marcação de um ponto de vista, na ideia de governo que atende às expectativas dos interlocutores, no que se refere às necessidades políticas, econômicas e administrativas dos conflitos existentes dentro e fora do parlamento brasileiro.

- Forma de composição formada pelos seguintes aspectos: a recorrência à situação política do país; apresentação de pontos de vista antagônicos (governo que se insere/governo anterior); palavras que mostram um recorte da imagem do parlamentar, mostrando características positivas de Temer como político e como personalidade jurídica; construções que mostram pontos de vista convergentes (união entre governo e apoiadores) e divergentes (polêmica entre vozes ideológicas). O discurso se divide em três momentos, que não estão completamente separados no discurso integral. De início há uma referência aos contextos que o cercam: o imediato concreto (cerimônia), em saudações, cumprimentos e indicação de uma apresentação de uma imagem parlamentar, e o amplo, que diz respeito à realidade brasileira, em uma caracterização acerca da crise política que o Brasil enfrentava na época. Posteriormente, há a apresentação de um diagnóstico das necessidades existentes, apresentando possíveis mudanças nos campos políticos e econômicos, tendo em vista a ênfase do enunciado nos problemas institucionais do país. E, por último, há a apresentação de medidas que a nova gestão pretende realizar, como as reformas econômicas e administrativas, prometendo a perpetuação de uma gestão positiva e um efeito solucionador para os problemas apresentados. Tais partes estruturantes do discurso atuam para contrapor valores propostos pelo governo anterior e para a apresentação de um novo quadro político-institucional.

- Estilo dotado de uma organização lexical composta por formas não comuns na linguagem coloquial, priorizando a norma padrão da língua portuguesa. Há o uso de períodos e frases longas que atuam na expressão de juízos de valor; justificativas dos argumentos apresentados; recorrência a discursos exteriores (referência ao ex-presidente Dutra), a acontecimentos pessoais da vida do enunciador e a fatos da realidade brasileira (o pós-impeachment). Nesse enunciado, também ocorre sentenças assertivas, não deixando espaço para o argumento contrário. Há uma incidência de construções fraseológicas típicas do discurso jurídico (recorrente devido ao fato de Temer se valer de tais formas para validar sua FP já construída, o que recupera o estilo do enunciador), formadas pelo encadeamento lógico de sentenças que, de início, mostram uma condição de uma realidade ou fato para, posteriormente, elencar proposições que atuam como elemento solucionador de um problema posto. É frequente o uso de primeira e terceira pessoas que visam centrar um único ponto de vista, mostradas, predominantemente, no início dos parágrafos.

O estilo do enunciador, o que também se estende em outros discursos, como veremos a seguir, se configura pelo uso de construções formais, enumerações e proposições lógicas pautadas na referência aos valores constitucionais como eixos que validam os dizeres. No caso deste discurso, o signo da confiança é elemento norteador para o entrelaçamento das ideias e dos demais signos enunciados.

- Esfera político-parlamentar, em imbricação com a midiática, englobando o discurso que faz parte de uma cerimônia, outro gênero de discurso. Devido às condições de produção, circulação e recepção de quase todo e qualquer discurso político, na atualidade, o enunciado se materializa em diferentes esferas, que fazem recortes ou reproduções do enunciado a seu modo, de acordo com propósitos diversos.

- Suporte online (canais de vídeos da internet), televisivo (predominância dos canais em geral de não reproduzir o discurso na íntegra, mas somente replicar seus trechos). Os discursos políticos em geral, sobretudo, os discursos de alta importância na esfera política, como o discurso de posse do presidente interino, são formulados na modalidade escrita antes de serem levados ao campo da fala. Coletamos esse enunciado, em sua forma escrita, através do suporte online, o Portal Planalto.

- Destinatário constituído pelos parlamentares e indivíduos que interagem com o enunciado ou partes dele pela situação concreta: a cerimônia de posse de ministros de Estado,bem como o público do próprio site do Planalto ou outros canais e órgãos da imprensa, que veicularam o discurso ou partes dele.

- Autoria colocada sobre um sujeito marcado gramaticalmente pela primeira pessoa do singular (eu), referindo-se à voz enunciativa e diretamente à FP de Temer, seu papel social e o cargo que assume. Há a manifestação de um lugar coletivo mostrado no uso da primeira pessoa do plural (nós), que pode representar o parlamento, os setores apoiadores da gestão, o partido ou projeto político em que discurso se insere. Ambos os usos de primeira pessoa, “eu” e “nós”, tendem a afirmar uma imagem de governo solucionador de problemas econômicos e políticos do país.

Ressaltamos que o gênero discurso de posse, no que se refere à relação com as coerções sociais que o regem, é mais “exigido” do que outros que são entoados por presidentes da república, como é o caso dos outros dois que analisamos na presente dissertação (declaração e pronunciamento). Assim que um líder e uma nova equipe de governo tomam posse, no caso da república federalista brasileira, interinamente ou definitivamente, a confecção e reprodução oral de um discurso que acompanha o ato de posse de um cargo do Executivo é prevista pela própria cerimônia que envolve tais acontecimentos.

O presidente, ou quem assume um determinado cargo de alta envergadura no parlamento, ainda que não seja obrigado a realizar um discurso, fato que somente diz respeito à posse pela eleição por voto direto, após a nomeação dos ministros, pode construir uma fala específica situada no interior do acontecimento. Cabe ao autor de tal discurso decidir quais suas construções verbais e o tempo de duração do enunciado, respeitando as normas dos eventos oficiais realizados no CN e no Palácio do Planalto.

Dados alguns apontamentos acerca de como o discurso de posse como interino de Temer nos possibilitou entendê-lo como um feixe de relações polêmicas, de traços ideológicos e como gênero que demarca uma figura política circunscrita em um material verbal específico, passemos a notar quais marcas visualizamos nos outros gêneros, que partem da mesma voz enunciativa, no exercício do poder.

3.2 Declaração à imprensa: a figura política na polêmica com o setor jurídico e a