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Procedimentos de delimitação dos enunciados para análise

2.8 Critérios de escolha do corpus

2.8.2 Procedimentos de delimitação dos enunciados para análise

Juntamente com os critérios elencados nas seções anteriores, selecionamos para a segmentação dos discursos alguns trechos que possuem termos centrais que nos permitem enxergar a construção da figura política (FP) de Michel Temer. Após descrevermos todos os elementos enunciativos do discurso, selecionamos somente os trechos que tratam de um tema que atua na manutenção da FP de Temer frente aos interlocutores e às situações enunciativas particulares. Ressaltamos que em cada trecho escolhido para análise, examinaremos, juntamente com os sentidos que o termo central possui: se o termo escolhido para segmentação dos trechos se configura como signo ideológico ou não; como as marcas de pessoa apontam para o enunciador e interlocutores; as palavras que se reportam à situação enunciativa ou à organização do discurso; as construções linguísticas que podem projetar uma relação polêmica no plano enunciativo (enunciador e interlocutores) e discursivo (discursos de oposição no âmbito político e econômico).

De acordo com o caminho metodológico de investigação dos discursos proposto pela epistemologia do Círculo de Bakhtin e pelo método de pesquisa científica da ADD, o corpus da pesquisa é forjado pelo próprio pesquisador. Se, por meio desta pesquisa, chegarmos à constituição de uma FP e um horizonte ideológico de valores que ela veicula nos enunciados, somente o fazemos a partir de um exame objetivo das marcas discursivas manifestadas em momentos discursivos específicos.

Como o objetivo maior desta pesquisa é chegar à formação de um sujeito que fala por meio de uma FP, selecionamos os trechos dos enunciados que nos fornecem pistas para compreendermos os valores centrais para a construção da FP de Temer.

Dadas as premissas iniciais, passemos, em seguida, aos critérios que nortearam a escolha dos trechos que serão analisados.

Inicialmente, utilizamos como critério comum a todos os enunciados a escolha dos parágrafos que figuram seu início e fim, pois expressam generalizações, organizações da linguagem invariáveis nos discursos políticos, as quais permitem compreender como o enunciador se apresenta e finaliza seus discursos no interior dos gêneros discursivos distintos. Através das generalizações presentes nos enunciados podemos depreender, sobretudo, a situação enunciativa e os interlocutores presumidos. Também optamos por não selecionar nenhum trecho ou parágrafo que não contém a primeira pessoa marcada. Decidimos por nomear cada trecho escolhido para análise, que contém um ou mais parágrafos, pela inicial “T”, como abreviação de “trecho”.

Quanto ao primeiro discurso, o discurso de posse como interino de Michel Temer na presidência da república, dada sua longa duração, de aproximadamente 28 minutos, e, no material escrito, de 37 parágrafos, escolhemos 18 parágrafos, segundo a forma pela qual foi transcrito pelo Portal Planalto. Alguns dos parágrafos foram analisados em conjunto, conforme mostraremos aqui e durante as análises.

Escolhemos para análise os trechos dos discursos levando em conta algumas palavras que somente aparecem nesses trechos ou que é determinante para visualizarmos a formação da FP de Temer. Os temas aos quais tais palavras e termos se referem permitem visualizar um percurso ideológico do primeiro enunciado.

Além da escolha do trecho inicial do enunciado (T1), selecionamos o parágrafo posterior, (T2), pois é o único que contém a palavra “convivência’’ e a palavra “entusiasmo”. Esta última está presente em outro parágrafo que não foi selecionado pois trata do mesmo tema que o parágrafo escolhido: a cerimônia de posse dos ministros de Estado. O pertencimento das duas palavras ao mesmo parágrafo é determinante para a análise, pois evidencia como podem apontar para a relação que o enunciador possui com seus interlocutores e orientar o enunciado para a constituição de valores. A palavra “convivência” possibilita enxergar de qual lugar o enunciador fala no enunciado. Já o termo “entusiasmo”, presente nos discursos políticos que tem como um dos públicos-alvo o setor econômico, é importante para a análise, pois evidencia o lugar em que a FP se coloca no primeiro momento.

Posteriormente selecionamos dois trechos que contém o termo “confiança”, um trecho que possui mais vezes a palavra no discurso (T3), aparecendo três vezes, e outro em que aparece uma vez (T9). Além da motivação de que T9 possui o termo “confiança”, também o

escolhemos, pois é o único trecho que contém a palavra “consenso”. Essa palavra foi também selecionada, pois indica como o enunciado pode apontar para um projeto discursivo.

A palavra “confiança”, que foi selecionada nos critérios de escolha de T3 e T9, é importante para traçar a imagem da FP no momento. Julgamos como necessário delimitar esse termo para a seleção dos trechos, pois é um tema recorrente no discurso político de início de mandato, e permite visualizar uma ideia sobre a qual o enunciador se debruça para veicular uma imagem de governo. No contexto pós-impeachment, a temática da confiança, além de se reportar à esfera econômica, como o termo “entusiasmo”, possibilita ver como uma FP se manifesta, situando um dado projeto discursivo.

Selecionamos para análise o único trecho que possui a palavra “salvação” (T4). Tal escolha foi realizada devido ao fato de que o significado desse termo entra em consonância com o propósito do enunciado de se mostrar como necessário para retirar o país de uma situação caótica. Esse termo, juntamente com os demais selecionados, possibilita visualizar um direcionamento do enunciado para a construção de uma FP.

Também selecionamos o único trecho em que o termo “mercado” é colocado como interlocutor, T6. Como pretendemos provar a demonstração de uma FP construída a partir dos valores neoliberais, essa palavra atende ao propósito de mostrar como o enunciado mostra esse setor da atividade produtiva para auxiliar na formação dessa figura. Optamos por não selecionar outro trecho em que essa palavra também aparece, pois nesse caso tal palavra não demarca um interlocutor explicitamente marcado como aquele para o qual o enunciador dirige a palavra.

Outro termo que julgamos necessário para a delimitação dos trechos do discurso é a palavra “Constituição”. Além dos trechos que contém esse termo que figuram a parte da análise correspondente à seção desta pesquisa: “Dois trechos que atuam na produção do enunciado: o discurso não é novo?”, (T5, T7), na qual comparamos os parágrafos do discurso à dois textos escritos por Michel Temer, selecionamos dois parágrafos que contém esse termo para a análise. Um deles (T8) possui o termo duas vezes e faz menção a ele uma vez como “texto constitucional”. O outro trecho (T9) também possui o termo duas vezes, retoma o trecho anterior (T8) e possui a construção “país pacífico”, indicando a demonstração de um ponto de vista do enunciador sobre o Brasil. T9 é composto de dois parágrafos, o segundo, que contém as palavras acima foi escolhido justamente pela relação coesiva que possui com o primeiro, que trata do documento constitucional.

A delimitação dos trechos que tratam do documento constitucional foi realizada, pois constitui um tema jurídico relacionado à imagem de Temer enquanto político dotado da imagem

pública de constitucionalista. Para depreendermos a FP que é construída nos discursos, julgamos como essencial nos debruçarmos sobre o termo “Constituição”, que tem maior relação com a imagem do parlamentar.

O trecho em que o nome de Dilma Rousseff é citado (T10), também foi escolhido devido ao fato de que permitir visualizar justamente o outro no enunciado. Como, na época, havia uma oposição entre a figura de Temer e de Dilma, pois o primeiro não havia se manifestado favoravelmente à ex-presidente, no decorrer do processo de impeachment, julgamos como necessário escolher o trecho em que a ex-presidente é citada. Observaremos na análise se essa inserção do outro no discurso auxilia no desenvolvimento do enunciado e no projeto discursivo empregado pelo enunciador.

Também selecionamos o único trecho (T11) que contém o verbo “trabalhar” no imperativo, “trabalhe”. A ideia de trabalho posta nesse enunciado é fundamental para compreendermos como o enunciador pode projetar uma figura política que valoriza essa ideia, e por direcionar ao interlocutor uma ordem.

O trecho 12 possui quatro parágrafos, e foi escolhido porque caracteriza a demonstração de uma percepção do enunciador sobre o Brasil e o fechamento do enunciado. O parágrafo que cita o lema da bandeira do Brasil “Ordem e progresso” foi escolhido para análise, pois dá acabamento ideológico ao enunciado e possibilita encontrar um horizonte de valores políticos econômicos, que durante a análise, observaremos se incidem sobre o enunciado.

Os três últimos parágrafos do “discurso de posse como interino” configuram o fechamento do enunciado, e foram escolhidos porque dão acabamento ao enunciado, possibilitando-nos olhar para temas que o enunciador busca priorizar, e apontando para a construção da figura política no primeiro momento de elocução no lugar social de presidente.

Quanto à escolha dos trechos/parágrafos do segundo enunciado, a declaração à imprensa, excluímos da análise somente um parágrafo, dos sete (7) que compõem o enunciado. Além do trecho inicial e final do enunciado, escolhemos todos os parágrafos que contêm uma oposição de lugares enunciativos, marcados na linguagem política. Ao longo de quase todo o discurso, há um contraste entre “nós” e “eles”: de um lado, o que é atribuído ao ponto de vista do enunciador, e de outro, aquilo que que denota a voz do outro. Tal oposição nos permite examinar como o enunciado pode instaurar ou não uma polêmica e auxiliar na construção da FP de Temer em um momento de tensão. Ressaltamos que, para além desse critério de escolha, a presença da temática da disputa entre lugares enunciativos, como fizemos para o primeiro

discurso, selecionamos cada trecho com base nas palavras que apresentam a ideia central em cada um deles.

Após a escolha do parágrafo inicial (T13), escolhemos analisar o subsequente (T14), pois contém o termo “clandestinamente”, que se refere às gravações utilizadas na investigação contra Temer. O uso dessa palavra é importante para visualizar a FP no momento que se coloca em um ambiente de embate entre setores políticos. Observaremos na análise se esse termo permite compreender uma relação polêmica entre discursos, enunciador/interlocutores, na medida em que contribui para a manutenção de uma FP.

Dada a pertinência do significado da palavra “clandestinamente” para delimitar o trecho que analisamos, também a presença da palavra “clandestinas”, que atua como complemento de “gravações”, foi determinante para escolhermos T17. Este que contém a construção “não renunciarei”, que nos possibilita analisar um direcionamento da FP no momento histórico do enunciado, fazendo referência ao significado da “renúncia”, citado somente neste trecho e repetido no mesmo.

A escolha de T15 se dá por conter, no enunciado, a palavra “esforço”, que também aparece em T18. Essa palavra atua na construção de uma imagem de governo e do enunciador, bem como para validar o enunciado. Esse trecho também foi selecionado pois contém o fato gerador da turbulência nas relações políticas que marcavam o governo Temer na época. A presença da palavra “relato”, somente nesse momento do enunciado, entra como critério de escolha do trecho T15, pois remete ao ato realizado por Joesley Batista, que acusou, na época, Temer de ter atuado de forma corrupta e ter pagado propina a Eduardo Cunha, presidente da CD naquele momento.

Já em T16, o que nos chama a atenção é a presença da palavra “delação”, que não ocorre em outros momentos. Esta palavra evidencia o próprio fato do depoimento de colaboração premiada de Joesley Batista que incluía o nome de Temer. Também é o único trecho do enunciado que possui uma sequência de negativas do enunciador frente ao tema da investigação e às necessidades do cargo ou da manutenção de uma reputação. Ao longo da análise, exploraremos qual o papel da constante negação de fatos para instaurar ou não uma polêmica e demarcar uma FP.

O quinto parágrafo do discurso foi excluído pois repete o que é dito nos dois parágrafos anteriores da “declaração à imprensa”: o não pertencimento de Temer nos crimes de que estava sendo acusado na época. A exclusão do trecho também atende ao propósito de não selecionarmos nenhum enunciado na íntegra. Nesse trecho, o quinto parágrafo do discurso, não

notamos nenhuma característica única no discurso e que, ao mesmo tempo, nos forneça pistas para depreendermos a FP de Temer. Como o parágrafo aponta para argumentos que se repetem ao longo do enunciado, optamos por excluí-lo da análise.

T17 foi selecionado, sobretudo, por conter a construção “não renunciarei” que não aparece em outros trechos do discurso. Além disso, também possui a palavra “dúvida”, que não há em outros momentos. A demonstração da temática da renúncia no enunciado político nos permite localizar uma deliberação do enunciador frente a uma atitude política. A utilização do tema da renúncia também instaura um conflito político no enunciado, fato que consideramos importante para compreendermos a formação da FP no momento. Veremos durante a análise como cada uma dessas palavras pode ou não adquirir o estatuto de signo e projetar uma polêmica entre o enunciador e outros setores políticos.

Por fim, T18, composto de dois parágrafos que configuram o fechamento do discurso, dotados de generalizações e formatos discursivos típicos dos discursos orais, foi escolhido de acordo com o critério de escolha dos trechos de início e fim dos enunciados. Escolhemos T18 também por este evidenciar o direcionamento do enunciado aos interlocutores.

Quanto à escolha dos trechos que serão analisados do 3º enunciado, o pronunciamento de homenagem ao dia de Tiradentes, selecionamos treze parágrafos, dos vinte que compõem o enunciado. A escolha do primeiro, segundo e terceiros parágrafos do enunciado compõe T19. Este foi selecionado respeitando o critério comum a todos os enunciados, de escolha dos trechos de início e fim dos discursos, que contêm generalizações e saudações aos interlocutores.

O próximo trecho selecionado, T20, que diz respeito ao quinto parágrafo do discurso, foi escolhido, pois contém o termo “Constituição”, que, conforme já apontamos na escolha dos trechos do primeiro discurso, auxilia na construção da imagem de Temer. O fato de o enunciador utilizar os princípios constitucionais para validar a enunciação do pronunciamento nos possibilita encontrar pistas para a construção de uma FP, no terceiro ano da gestão do governo brasileiro.

Selecionamos para análise os trechos que contém, além de uma palavra que os caracterizem e nos forneça uma orientação ideológica da figura política, os que contêm a oposição entre grupos, a demonstração de dois lados acerca de uma percepção sobre um dado assunto. Esse fator é determinante para entendermos como a FP pode ser construída com base no contraste entre posições socioavaliativas, as quais buscaremos demonstrar se permitem entrever relações polêmicas que validam ou não a posição do enunciador e auxiliam na formação de um sujeito discursivo.

Desse modo, o trecho 21, que sucede T20 no enunciado, foi escolhido devido à presença da temática do conflito entre duas instâncias enunciativas colocadas em oposição. A existência do contraste entre enunciador e interlocutores também foi utilizada para delimitar a escolha dos trechos 21-25. T21 também foi selecionado pois contém a palavra “otimista”, que nos permite visualizar um aspecto valorizado pelo enunciador, também utilizado em T25, pela palavra “otimismo”. Essas duas palavras nos permitem depreender, além do jogo entre disputas no campo discursivo, como a FP se constrói a partir do uso de palavras de sentido positivo.

O uso de uma palavra de sentido negativo, na medida em que permite visualizar uma FP também foi critério para a escolha de T22, que contém a palavra “fracasso”, aparecendo uma vez nesse enunciado. Além disso, em T22, é o único momento do enunciado em que há a menção ao nome “Michel Temer”. A presença da forma nominal daquele que ocupa o cargo de presidente, a autorreferência, é importante para traçarmos caminhos de entendimento de uma FP e de um sujeito discursivo.

Durante as análises, verificaremos se as palavras selecionadas no discurso para os critérios de escolha dos trechos funcionam como signos e se apresentam ou reforçam uma relação polêmica entre enunciador/interlocutores.

A escolha de T23 para análise se dá devido ao fato de que este também contém uma disputa entre grupos, mostrados como “muitos”, aos quais o enunciador se apresenta de modo contrário. Tal trecho também foi selecionado pois é o único do enunciado que contém a palavra “mudança”, que nos permite visualizar outro aspecto no qual o enunciador se ancora e pode atuar na construção da FP que se pretende elencar no enunciado.

T24 é uma junção de dois parágrafos. Realizamos tal união de sentenças pois possuem formas paralelas de início, com termo “falo” referente ao verbo “falar” em primeira pessoa. Selecionamos dois parágrafos de cinco que se iniciam por esse termo, por situar um interlocutor indefinido, em “ninguém divulga”, e a referência a outros governos, em “governo algum”. Aqui, apesar de não escolhermos T24 com base em uma palavra, como o fizemos nos demais trechos, julgamos pertinente analisar T24 pela presença de construções que permitem depreender instâncias às quais o enunciador se opõe no plano enunciativo.

Para a escolha de T25, além da motivação da demonstração da palavra “otimismo” que caracteriza um significado positivo à gestão que nos chama a atenção, para podermos enxergar valores que podem ser expressos no enunciado, esse trecho também foi escolhido por demonstrar a temática de disputa entre grupos e a própria palavra “disputa” que somente

aparece nesse momento. Essa palavra nos auxilia a depreender como o enunciado mostra a ideia de contraste, explicitamente, no plano linguístico e enunciativo.

O penúltimo trecho escolhido para análise, T26, foi selecionado pois caracteriza o único momento do enunciado em que o espaço-tempo é situado, o ano das eleições, a demonstração da palavra “eleições”, que é importante justamente para depreendermos o diálogo do enunciador com os interlocutores de dentro e fora da classe política. Também esse trecho foi delimitado pois é o único instante do enunciado em que o enunciador mostra seu papel social pela construção: “Presidente da República Federativa do Brasil”. Como nosso objetivo é chegar em uma FP discursivamente construída, recorremos ao momento em que o enunciador atribui um lugar social à primeira pessoa do discurso, que toma a palavra.

Por fim, T27, que é a junção de três parágrafos transcritos pelo Portal Planalto, foi escolhido pois contém a palavra “luta” e o termo “trabalhamos”. A presença desses termos nos permite visualizar os temas em que o enunciador se apoia para formular o enunciado de homenagem a Tiradentes. T27 também foi delimitado para a análise, pois contém uma frase de efeito que finaliza o enunciado e a fórmula típica dos enunciados orais. Todos estes recursos compõem o fechamento do discurso, que foi selecionado de acordo com o critério homogêneo a todos os enunciados, de delimitação dos trechos de início e final dos discursos, pela ocorrência de generalizações e orientações do enunciado aos interlocutores imediatos.

Dados os critérios metodológicos para a construção do corpus, passemos a ver como os discursos entrelaçam vozes históricas e instauram interlocutores e valores sociais.

CAPÍTULO 3

ANÁLISE LINGUÍSTICO-ENUNCIATIVO-DISCURSIVA DE TRÊS DISCURSOS DE MICHEL TEMER: COMO OS SIGNOS E A POLÊMICA SÃO MARCADOS PELA VOZ DO

ENUNCIADOR

O objetivo deste capítulo é demonstrar como, a partir da análise das marcas linguísticas de três enunciados de Michel Temer, conseguimos visualizar uma figura política (FP). Pela atividade da análise dos enunciados, buscamos responder as perguntas de pesquisa, mostrando: como os enunciados podem se materializar em gêneros discursivos específicos da esfera política; como os signos ideológicos, palavras que indicam o assunto central dos discursos e marcas de pessoa indicam polêmicas discursivas entre enunciador/interlocutores; a incidência das relações dialógicas dos enunciados com outros discursos e grupos opositores nos campos político e econômico e a mobilização de um quadro ideológico específico.

Analisar o enunciado político concreto de um presidente da república não é somente situar o direcionamento do enunciado para os parlamentares ou para o povo, de maneira generalista, mas olhar, na língua, para uma orientação ativa para grupos específicos, setores da economia, do mercado, da gestão política, dos partidos, projetos políticos brasileiros e demais grupos de influência da esfera política.

Mostraremos como os discursos situam o enunciador, Michel Temer, no exercício da