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4 METODOLOGIA DE PESQUISA

4.2 Caracterização da Amostra

As companhias podem ter múltiplas certificações, mesmo dentro de uma mesma planta física, ao passo que o desempenho financeiro é medido e acompanhado no nível corporativo. Seguindo o que foi proposto por Corbett, Montes-Sancho e Kirsch (2005), adotou-se que não há modo de mensurar o desempenho financeiro de uma determinada parte da companhia que seja apenas ela certificada.

Portanto, focou-se na primeira certificação de uma filial ou planta pertencente a uma companhia aberta, de modo que os efeitos de uma certificação começariam a aparecer nas demais unidades ao longo do tempo (DOCKING; DOWEN, 1999; SIMMONS; WHITE, 1999). Para companhias menores com apenas uma planta, não há desconexão entre o que seria o nível-planta do que seria o nível de desempenho financeiro corporativo, o que não se torna uma preocupação.

Para companhias maiores, com muitas plantas, esta desconexão torna os testes aplicados ainda mais conservadores: como a amostra final poderia conter muitas companhias abertas com múltiplas plantas, mas apenas uma planta certificada, quaisquer efeitos de uma certificação seriam mais fortes a ponto de poderem ser detectados (CORBETT; MONTES- SANCHO; KIRSCH, 2005).

A primeira certificação de uma empresa pela ISO 9000 no Brasil ocorreu em 1990. No período de 1990 a 1993, um total de 225 empresas brasileiras se certificou, sendo que 21 companhias abertas estão presentes na amostra final.

Fundir as três bases e consolidar seus dados foi um desafio ainda maior, já que até as denominações das companhias são distintas. Alguns procedimentos foram utilizados para se padronizar a maioria dos dados, verificando-os manualmente um a um, por meio de acessos ao Google, ao site da BOVESPA, aos sites das próprias companhias, aos sites das certificadoras e aos sites das associações a que determinada companhia aberta poderia pertencer.

Companhias com certificação ISO 9000 para as quais não foi possível confirmar suas datas de certificação foram descartadas. O percentual das companhias abertas que responderam às mensagens eletrônicas solicitando as duas informações sobre datas das certificações foi alta, 93%. As 116 companhias abertas certificadas da amostra representam 1,4% de toda a população de empresas certificadas no Brasil.

Corbett, Montes-Sancho e Kirsch (2005) reportam como tendo sido de dois anos o tempo para a fusão dos dados em sua pesquisa. Neste presente estudo, todo o processo de fusão dos dados oriundos desses três bancos levou cerca de 3 meses. Dado o escopo e a natureza manual do trabalho, pode-se supor que haja possibilidade de haver dois tipos de erros teoricamente possíveis, tal como também descrito por Corbett, Montes-Sancho e Kirsch (2005) em seu trabalho: companhias abertas realmente certificadas no período 1990-2006 poderiam não aparecer como tal no conjunto final de dados e companhias não certificadas estarem listas como certificadas.

Entretanto, na amostra final, não foi encontrada qualquer companhia certificada de fato que estivesse classificada como não certificada. Também para o segundo caso, não houve qualquer companhia aberta não certificada que houvesse sido listada como certificada: essa possibilidade seria ainda mais remota, já que somente companhias certificadas constantes da base do CB25/ABNT foram listadas como tal.

Se eventualmente alguma companhia realmente certificada não tivesse sido relacionada como tal na amostra final, isso tornaria os testes ainda mais conservadores, uma vez que a confiabilidade da fusão dos dados não está correlacionada com a interação entre a certificação ISO 9000 e o desempenho financeiro, como atestam Corbett, Montes-Sancho e Kirsch (2005). Isso significa que, se for tratada alguma companhia certificada como não o sendo, mas ainda assim encontrando um efeito significativo, provavelmente estar-se-ia subestimando sua significância.

Outra fonte possível de erros é a base de dados do CB25/ABNT, apesar de haver razões para se supor que a base seja correta em determinados aspectos. A base de dados do CB25/ABNT é alimentada com as informações das novas certificações diretamente pelos diversos órgãos certificadores registrados e autorizados a atuar no Brasil.

Os órgãos certificadores certamente evitam informar que determinada companhia tenha sido certificada se não o foi realmente.

Além disso, por meio desse fluxo de informações de um órgão certificador para o CB25/ABNT, consegue-se estabelecer o seu marketshare, o que só aumentaria o grau de confiança nas informações, já que um órgão certificador não gostaria de subestimar sua fatia de mercado, o que o faz informar cada nova certificação.

Apesar de as companhias individualmente quererem que suas certificações sejam corretamente mencionadas, foi comum e presente encontrar nomes incorretos dos representantes das companhias ou mesmo ausência do nome do representante da qualidade, telefones incorretos ou antigos, além de endereços trocados.

Ao se consultar os representantes das companhias, percebeu-se também que muitos deles desconhecem que o CB25/ABNT compila seus dados. Alguns outros se surpreenderam com o fato de ter sido possível localizar seus dados profissionais para um contato.

Da amostra inicial, foram eliminadas as companhias por falta de suficiente informação financeira. Em 09 de setembro de 2007, havia 732 companhias abertas registradas na CVM. Dentre essas, algumas companhias abertas tiveram seu registro cancelado entre os anos de 2002 e 2006, (1) por terem fechado seu capital, (2) por terem sido adquiridas por outro grupo empresarial ou (3) por terem sido incorporadas pelas empresas-mãe.

Fazem parte da amostra definitiva as empresas que possuem capital aberto ou que o tinham durante o período de análise e que possuem ou possuíam os seus registros válidos na Comissão de Valores Mobiliários, o que definiu o tamanho máximo da amostra.

Isso torna a pesquisa ainda mais conservadora, já que, ao se manter na amostra companhias que fecharam seu capital, pode-se estar mantendo unidades de análise pouco lucrativas ou de questionável gestão.

Desta forma, a seleção da amostra foi não aleatória, isto é, foi realizado um processo de seleção amostral que não pode ser caracterizado pela extração aleatória da população de interesse (WOOLDRIDGE, 2006, p. 661).

Portanto, a amostra foi selecionada com base em um critério substantivo: ser uma companhia aberta. A seguir, que tivesse os seus dados econômico-financeiros disponíveis na plataforma Economática. Ter ou não a certificação ISO 9000 não foi um critério definidor da amostragem.

Essa amostra não-probabilística, portanto, foi definida intencionalmente a partir das fontes de informações disponíveis relacionadas com companhias abertas brasileiras.

Das 207 companhias abertas que participam da amostra, a partir de dados colhidos da edição 2007 da Revista Exame 500 Melhores e Maiores (EXAME, 2007) e do site do CB25/ABNT (2007), foi possível obter a seguinte estratificação:

a) 3,4% pertencem ao setor primário, 62,5% ao setor secundário e 34,1% ao terciário; b) 18,3% das companhias possuem controle acionário estrangeiro, 2,4% possuem

controle estatal brasileiro e 79,3 % possuem controle nacional privado;

c) 116 companhias abertas (56,0%) possuem a certificação ISO 9001:2000 e 91 companhias abertas (43,9%) não a possuem;

d) Das 116 companhias certificadas, 92 delas (79,3%) se certificaram pela primeira vez pela versão 1987 ou 1994 da ISO 9000 e 24 (20,7%) se certificaram inicialmente já na versão ISO 9001:2000;

e) 32 delas (27,6%) já estavam certificadas antes do primeiro ano do período sob análise, ou seja, antes de 1995;

f) O setor secundário é o que mais certifica (86 entre 116 companhias), enquanto que o setor primário é o que menos certifica (apenas 5 entre 116 companhias), ficando o setor de serviços com 25 certificadas dentre 116 companhias;

g) 17 das companhias abertas que compõem a amostra não possuíam o seu registro na CVM válido na data de 09 de setembro de 2007 (data em que a amostra foi definitivamente finalizada), pois durante o período analisado fecharam o seu capital ou foram adquiridas ou incorporadas por outra companhia aberta;

h) 125 delas (o equivalente a 60,1%) estão presentes entre as 500 melhores e maiores empresas da Revista Exame, edição 2007, sendo que, dentre as 100 maiores empresas brasileiras pela Revista Exame (EXAME, 2007), 71 são certificadas de acordo com a ISO 9001:2000 e

i) Em 2006, 20,7% das companhias abertas tiveram receita até R$200 milhões; 10,1% de R$200 a R$ 400 milhões; 8,6% entre R$400 e R$600 milhões; 4,3% entre R$600 e

R$800 milhões; 5,8% entre R$800 milhões e R$1 bilhão e 50,5% com mais de R$1 bilhão de receitas, conforme pode ser visualizado no gráfico 9 a seguir.

Gráfico 9: Distribuição das companhias abertas pela sua classe de receita.

Fonte: Exame (ago. 2007). Adaptado pelo autor.

43 21 18 9 12 105 0 20 40 60 80 100 120 Até 200 milhões De 200 - 400 milhões De 400 - 600 milhões De 600 - 800 milhões De 800 milhões a 1 bilhão Acima de 1 bilhão Q ua nt id ad e de co m pa nh ia s ab er ta s

Foram excluídas da amostra final todas as instituições financeiras, distribuidoras de valores, as de previdência privada e assemelhadas, que pertencem ao setor econômico “Financeiro e outros” da BOVESPA (BOVESPA, 2007).

Empresas que tiveram abertura de seu capital nos anos de 2005 e 2006 ou que se certificaram pela primeira vez a partir do ano de 2005 também foram excluídas, pois não permitiriam uma série temporal mínima para análise com dados em painel. Isso também tornou a pesquisa ainda mais conservadora.

Companhias abertas listadas em bolsa e que atuam como empresas de participação também foram desconsideradas, pois as companhias abertas nas quais investem já são objeto deste estudo; sua inclusão poderia criar redundância ou enviesamento nas regressões.

A amostra final, composta por 207 companhias abertas, foi estratificada de acordo com os critérios utilizados para classificação setorial das empresas negociadas na BOVESPA.

Conforme Baltagi (1999 apud MARTIN et al., 2005), a heterogeneidade da amostra – companhias de diferentes setores da economia –, poderá proporcionar uma estimação mais eficiente dos parâmetros, com pressupostos menos restritivos.

Assim, a amostra resultante tem o perfil apresentado no Quadro 2 a seguir.

Quadro 2: Perfil da Amostra

Setor da Economia Total Participação

(%)

Energia Elétrica 19 9,2

Siderurgia e Metalurgia 19 9,2

Tecidos, Vestuário e Calçados 19 9,2

Alimentos 17 8,2

Químicos e Petroquímicos 14 6,8

Construção e Engenharia 13 6,3

Transporte 13 6,3

Material de Transporte 12 5,8

Madeira, Papel e Celulose 10 4,8

Máquinas e Equipamentos 10 4,8 Telefonia Móvel 8 3,9 Comércio Cíclico 7 3,4 Telefonia Fixa 6 2,9 Petróleo. Gás e Combustíveis 5 2,4 Utilidades Domésticas 5 2,4 Lazer 4 1,9 Mídia 3 1,4 Mineração 3 1,4 Programas e Serviços 3 1,4

Comércio Não Cíclico 2 1,0

Embalagens 2 1,0

Hotelaria 2 1,0

Materiais Básicos Diversos 2 1,0

Produtos de Uso Pessoal e de Limpeza 2 1,0

Saúde 2 1,0

Bebidas 1 0,5

Computadores e Equipamentos 1 0,5

Consumo Cíclico Diversos 1 0,5

Fumo 1 0,5

Serviços 1 0,5

Total 207 100,00

Todas – absolutamente todas – as companhias abertas certificadas presentes na amostra final informam as certificações que possuem em seus sites corporativos.

Isso comprova que elas consideram a ISO 9001:2000 como um fato relevante a ser comunicado ao mercado, aos investidores e ao público em geral. Entendem que deve haver sinalização desse ativo não financeiro, tornando essa informação mais simétrica ao público.