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APÊNDICES 209 Apêndice A – Relação de organismos certificadores acreditados pelo INMETRO

1.1 Tema e Justificativa

As evidências de que as práticas de gestão da qualidade contribuem positivamente para o desempenho de uma empresa não produziram um consenso a respeito. Segundo Heras et al. (2002 a, b), sua pesquisa com 400 empresas certificadas e outras 400 não certificadas mostrou evidências de que as primeiras produzem desempenho financeiro melhor sobre as últimas, mas que isso se deve ao fato de que empresas com desempenho financeiro superior teriam mais condições de perseguir a certificação. No entanto, os próprios autores (2002 b) encontraram resultados distintos em outra pesquisa, que apontava os retornos sobre ativos (ROA) consistentemente melhores nas empresas certificadas.

Apesar de haver, portanto, uma série de trabalhos que apontam para uma correlação positiva entre a certificação ISO 9000 e o desempenho financeiro superior, parece crescer o número de pesquisadores que apontam a norma como um processo direcionado ao papel e de valor limitado, não impactando de fato diretamente no desempenho empresarial. A ISO 9000 seria apenas uma jogada de marketing, como inclusive, Lima et al. (2000) sugerem.

A qualidade tem sido um dos temas sobre os quais mais se têm escrito mundo afora. Livros, a principal produção. Palestrantes sobre o tema existem vários; consultores, idem. Artigos para revistas e jornais são abundantes. Os temas abordados sob o “guarda-chuva” da Qualidade são inúmeros: Qualidade Total, Kanban, Just in Time, Custos da Qualidade, Gerenciamento pelas Diretrizes, Certificação, Acreditação, Foco no Cliente, Liderança, Motivação, Gestão de Pessoas, Balanced Scorecard, Benchmarking, Seis Sigma entre outros. A Qualidade e suas principais práticas de gestão – a ISO 9000 e a Qualidade Total – têm sido mais estudadas do ponto de vista qualitativo, muito freqüentemente por meio de estudos de caso. No Brasil, das muitas dissertações recentes pesquisadas, o foco é quase sempre em estudos de caso de uma empresa específica ou de um setor da indústria. Withers et al. (1997) e Withers e Ebrahimpour (2000, 2001) reforçam essa questão: há uma grande quantidade de trabalhos sobre a ISO 9000, mas a maioria deles são simplesmente meros estudos de caso ou são descritivos ou prescritivos. Além do mais, somente um pequeno número deles analisa a relação entre a ISO 9000 e os resultados de uma empresa (MARTINEZ-LORENTE; MARTINEZ-COSTA, 2004).

Os estudos de caso são um modo correto de expor casos de sucesso específicos com suas respectivas formas de implementação da norma, mas são restritos por conta disso. Por não poderem provar qualquer tipo de correlação entre a certificação ISO 9000 e a criação de valor para as empresas, tornam-se métodos restritos.

Em 2006, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) e o Comitê Brasileiro da Qualidade (CB25) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) realizaram a segunda pesquisa quantitativa – em nível nacional – para avaliação dos aspectos que influenciam a implantação de sistemas de gestão da qualidade pela ISO 9000 e sua decorrente certificação. Foram entrevistados gerentes de 300 empresas, sendo 150 gerentes da área comercial e 150 gerentes da área da qualidade de empresas com mais de três anos de certificação, dentro de um universo de 2.926 organizações (INMETRO, 2006). Participaram da amostra empresas dos setores primário, secundário e terciário e de diversos portes, de microempresas a grandes corporações.

Para 80% dos gerentes entrevistados, foi o aumento da produtividade o maior ganho com a certificação: para 35,3% deles isso se refletiu no aumento da qualidade dos produtos. Para 95,3% dos gerentes da área comercial, isso se refletiu no aumento da credibilidade e da aceitação da organização (INMETRO, 2006).

Por conseguinte, em função dos motivos expostos e pela quase que total ausência de estudos exploratórios quantitativos a respeito do tema, é oportuno e apropriado avaliar esse fenômeno mundial – e certamente, também no Brasil – da certificação da qualidade pela ISO 9001:2000 e sua relação com o desempenho financeiro superior das empresas.

Esta pesquisa, que ora se pretende desenvolver, é totalmente factível, pois há regularidade no ambiente em que ela se insere: a norma ISO 9000, introduzida em 1987, caminha para uma nova versão para o ano de 2009, muitas empresas continuam se certificando anualmente e a taxa de descontinuidade de certificação é baixa.

É importante se tirar a “impressão” de que a ISO 9000 é tão popular que não mereça uma produção acadêmica mais intensa e efetiva: são muitos os efeitos provocados pela introdução da norma no tecido organizacional das empresas brasileiras e que ainda não foram estudados.

Diversas são as experiências em que se pode verificar os benefícios e os ganhos advindos com a certificação; no entanto, apesar de tangíveis ou perceptíveis, não conseguiram ser traduzidos em uma métrica financeira objetiva.

O fato é que, indiscutivelmente, é preciso se acenar com uma resposta direta à pergunta: a certificação ISO 9000 traz benefícios financeiros a uma empresa? A partir dos resultados desta pesquisa, espera-se obter uma resposta mais afirmativa e precisa.

Há um conjunto de partes interessadas que poderá se valer das conclusões que se espera obter com este estudo, preenchendo uma lacuna existente há muitos anos: a própria academia, as empresas certificadas, as que não o são mas ainda se interessam por isso, os clientes e consumidores, os fornecedores das empresas, os seus funcionários – peça motriz nas certificações –, os analistas de mercado, os acionistas, os investidores e o mercado como um todo, além dos órgãos certificadores e das entidades acreditadoras de todos os países- membros da ISO. Além desses, as empresas que não conseguem compreender o significado e os benefícios de uma certificação, as que não acreditam neste modelo como adequado à sua cultura organizacional e, ainda, as que não conseguem prever o retorno sobre este investimento.

Interesse maior deste estudo é contribuir para a melhoria da competitividade das empresas brasileiras, o que poderá confirmar ser o modelo proposto pela ISO 9000 uma avançada tecnologia de gestão. Esta dissertação almeja elucidar a questão da influência da certificação ISO 9000 no desempenho financeiro das companhias abertas brasileiras.

O desafio é grande, mas espera-se estar contribuindo para a evolução desta discussão, dentro de uma área do conhecimento ainda pouco explorada, especialmente no Brasil.