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Limitações do estudo e recomendações para futuras pesquisas

H 3 : Não existem melhorias significativas nas vendas (TOT_VEND) das companhias abertas

5.7 Limitações do estudo e recomendações para futuras pesquisas

O Brasil possuía, em agosto de 2007, 732 companhias abertas registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2007). Já houve 1.152 registradas em 1983 (SANVICENTE, 1996); no primeiro ano do período de análise desta dissertação, 1995, eram 870 as companhias abertas que se encontravam registradas na CVM (ANDRADE; ROSSETTI, 2007, p. 414).

Foi possível coletar os dados econômico-financeiros e de mercado de 261 delas, por meio do banco de dados da Economática; dessas, restaram 207 companhias na amostra final, já que instituições financeiras e correlatas, além de empresas de participação, foram excluídas. Esse conjunto de companhias abertas produziu, portanto, um total de 2.484 observações ao longo de 12 anos.

Trabalhos semelhantes a esta dissertação, nos últimos anos, têm considerado algumas centenas de empresas, mas a grande maioria, não opta por modelos de regressão com dados em painel. O uso desse modelo econométrico é raro na academia, de onde surge uma primeira recomendação: o uso mais presente deste modelo, que consegue aumentar em muito o tamanho da amostra.

Em particular, vale a pena mencionar o trabalho de Terlaak e King (2006), no qual foi utilizado um banco de dados de 3.317 empresas privadas americanas certificadas pelo padrão ISO 9000 ao longo de 11 anos, entre 1988 e 1998. Portanto, estudou-se as versões 1987 e 1994 da norma ISO 9000.

Esta dissertação surge como o primeiro trabalho a estudar a relação entre a certificação ISO 9000 em sua versão 2000 e o desempenho financeiro das empresas.

No entanto, a primeira limitação do estudo pode ser creditada à amostra: seu tamanho, apesar de grande estatisticamente, pode ser melhorado em pesquisas futuras. No futuro, a possibilidade de se trabalhar com amostras maiores e períodos mais longos de tempo deve ser considerada.

A segunda limitação é o desbalanceamento da amostra; setores da economia representados por apenas uma ou duas companhias abertas pode ser um elemento a se melhorar. Estudos da relação da ISO 9000 e o desempenho financeiro de empresas podem ser realizados dentro de setores específicos, acompanhando empresas similares.

Uma limitação que merece ser mencionada é o ainda incompleto conhecimento sobre o uso de modelos de regressão em painéis dinâmicos. A literatura parece estar em uma fronteira que pode abrir caminhos para pesquisas mais profundas sobre a dinâmica da mudança. Os resultados aqui reportados dos modelos de regressão em painel dinâmico podem ser um ponto de partida para outros pesquisadores avançarem.

Os resultados principais deste trabalho acenam para uma relação positiva entre a certificação ISO 9000 e o desempenho financeiro das companhias abertas brasileiras. No entanto, esses resultados não estão isentos de crítica; ao contrário, espera-se que esta dissertação possa contribuir para que outros pesquisadores evoluam nessa linha de pesquisa. Os estudos sobre os efeitos da ISO 9000 no tecido empresarial brasileiro ainda estão longe de ter as devidas respostas. Para um universo de quase 9.000 empresas brasileiras certificadas, a produção científica ainda é escassa. Muito se evoluiria se a academia pudesse produzir mais a respeito deste tema.

Nesse sentido, a possibilidade de pesquisar também com companhias fechadas, de grande a pequeno porte, poderá trazer à tona questões importantes; afinal, foram acompanhadas 116 companhias abertas certificadas ISO 9000 dentro de um total de 9.000 empresas certificadas em todo o Brasil.

Três linhas de pesquisa que podem ser objeto de pesquisas futuras estão relacionadas a três importantes temas nas finanças corporativas: estrutura de capital, teoria da agência e ativos intangíveis.

Em primeiro lugar, seria muito interessante se pudesse ser avaliado se a certificação ISO 9000 promove a busca permanente de melhores estruturas de capital nas empresas brasileiras e se ao fazerem-no, os gestores decidem de acordo com critérios de utilização de capital próprio ou se endividando.

Ter certificação ISO 9000 pode ser um sinalizador para obtenção de crédito junto a fontes de financiamento; esse sinal apontaria para um menor risco operacional da companhia e para um menor risco financeiro para o emprestador dos recursos.

É digno de menção especial o fato da variável CERT_ISO ter tido coeficiente positivo e significativo a 1% para a variável ROE; se ela é a variável que melhor captura o retorno financeiro dos projetos pela visão dos acionistas e do mercado, é preciso investigar mais e melhor essa relação.

Em segundo lugar, a teoria da agência poderia ser testada no ambiente da certificação: será que, de fato, um gestor que decida pela implantação e posterior certificação ISO 9000, está, ex-ante, premeditadamente decidido a agir em proveito próprio e contra a vontade dos acionistas?

Em terceiro lugar, acredita-se que a ISO 9000 – implantada e certificada – promova aumento dos ativos de conhecimento e organizacionais. Ao se considerar isso como verdade, deve haver uma transferência desse tipo de ativo ao valor da empresa. Portanto, pesquisar sobre a distância do valor de mercado para o valor contábil das empresas certificadas poderia ser um bom projeto de pesquisa.

Por último, uma recomendação para que essas futuras pesquisas sobre a relação da ISO 9000 com o desempenho financeiro das empresas possam ser realizadas de maneira quantitativa. É preciso responder, de forma mais precisa e com maior margem de segurança nas inferências, às dúvidas que empresários e outras partes interessadas têm: afinal, a certificação ISO 9000 promove melhor desempenho financeiro para as empresas certificadas? A ISO 9000 é um fenômeno mundial que ainda precisa ser mais bem compreendido, deixando de lado algumas impressões que se perpetuam sem conhecimento científico.

6 CONCLUSÕES

Este estudo foi pensado e estruturado a partir da seguinte pergunta: a certificação ISO 9000 permite às companhias abertas obterem melhor desempenho financeiro?

Mas, antes de responder a ela e, principalmente para poder respondê-la, foi necessário, em primeiro lugar, buscar uma resposta a outra questão: por que as empresas se certificam pela ISO 9000?

Pois foi a partir dessa segunda questão que foi possível responder à primeira delas. Optou-se por pesquisar no campo da microeconomia e de seus principais pensadores – Akerlof, Spence, Kreps, Milgrom e Roberts, Pindyck e Rubinfeld – uma linha de raciocínio que sustentasse o estudo da relação entre certificação e desempenho.

O primeiro passo da pesquisa começou com a análise dos preceitos formulados por Akerlof em 1970, com seu artigo seminal “Market for Lemons”. Nele, o ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001 apresenta a informação assimétrica como peça-chave na economia da informação. Quando existe informação adversa, o consumidor seleciona os produtos de forma adversa no momento da compra.

A relação adversa, originalmente, era um termo utilizado na indústria de seguros que se referia à tendência daqueles que procuravam adquirir o produto serem parte de uma amostra não aleatória da população, isto é, aqueles que teriam as maiores exigências de consumo (MILGROM, ROBERTS, 1992, p. 595). Atualmente a seleção adversa se refere a um tipo de oportunismo pré-contratual, que ocorre quando uma das partes de uma transação detém informação privada que o outro não possui, implicando em perda da outra parte, especialmente quando essa outra parte concorda com o contrato (MILGROM, ROBERTS, 1992, p. 595).

Spence, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001 – juntamente com Akerlof e Stiglitz – formulou modelos que explicam o modo com que a seleção adversa se processa e propõe uma saída para a quebra desse círculo vicioso: a sinalização.

O segundo passo deste estudo foi atrelar esse trinômio “informação assimétrica – seleção adversa – sinalização” ao tema da pesquisa. Kreps, Milgrom e Roberts, Pindyck e Rubinfeld estudaram a forma como a assimetria da informação poderia ser mitigada. A sinalização é um ambiente em que as partes revelam as suas informações (MILGROM, ROBERTS, 1992, p. 154-155).

A microeconomia avançou em seu campo de estudo e consolidou a visão de uma relação positiva entre sinalização – reputação.

A sinalização pode ser feita por meio de certificados (PINDYCK, RUBINFELD, 1999, p. 680). Ao se conquistar reputação, aumenta-se a participação de mercado e a rentabilidade. O segundo passo da formulação teórica estava vencido.

A certificação ISO 9000 atua como um sinal para o mercado possibilitando vantagem competitiva para as empresas em que os compradores adquirem informação a respeito de atributos escondidos (TERLAAK; KING, 2006) e distinguindo empresas certificadas das não certificadas (ANDERSON; DALY; JOHNSON, 1999), propiciando um prêmio no preço e um aumento no volume de vendas.

O terceiro passo foi desenvolver a questão envolvendo “qualidade – gestão – certificação” como um trinômio de sustentação teórica para a certificação ISO 9000 como uma poderosa ferramenta de gestão. Os conceitos clássicos foram considerados.

Juran, Deming, Feigenbaum, Crosby, Garvin, Fey e Gogue e seus importantes trabalhos na academia deram suporte para a busca de uma relação entre implantação de sistemas de gestão da qualidade e melhor desempenho financeiro.

A gestão estratégica da qualidade é, nos dias de hoje, ligada à lucratividade e aos objetivos básicos das companhias (GARVIN, 1992, p. 33).

A qualidade bem gerenciada promove maior produtividade e, conseqüentemente maior lucratividade. Sinalizar corretamente ao mercado proporciona melhores vendas, desde que os produtos tenham qualidade não duvidosa. Assim, cria-se reputação e mais vendas.

O resultado disso é maior retorno sobre os ativos e o patrimônio líqüido, criando riqueza para os acionistas e satisfação para os consumidores.

O que poderia explicar o porquê da sinalização propiciar um grande benefício às empresas? A resposta parece residir na seguinte lógica:

(1) empresas sinalizam mais e melhor as características “invisíveis” aos seus clientes, (2) reduzindo, assim, a informação assimétrica que

(3) detém ou mitiga a seleção adversa que (4) promove melhoria da imagem da empresa,

(5) aumentando a sua reputação e, conseqüentemente, (6) aumentando as suas vendas e seus retornos.

Desta forma, pode-se ainda pensar que um sinal poderá ser mais bem interpretado se os receptores tiverem melhores condições de compreendê-lo (TERLAAK, 2002, p. 134). A Economia da Informação, como ramo da Microeconomia, suportou as abordagens expostas para os motivos da certificação ISO 9000.

Os modelos econométricos de regressão com dados em painel foram utilizados para testar as idéias apresentadas no referencial teórico.

Aliás, mais do que idéias, esta dissertação contém muito da experiência de campo que este pesquisador amealhou e com a qual foi contemplado por ter trabalhado nesse ambiente de preparação e acompanhamento de empresas brasileiras na busca da certificação ISO 9000.

Sempre estiveram presentes as seguintes indagações: “A certificação ISO 9000 provoca quais tipos de benefícios financeiros?” ou ainda “Será que promove algum?”

Sempre foi uma certeza deste pesquisador que uma norma tão abrangente e genérica, longeva e difundida mundialmente não poderia servir apenas para aspectos documentais e burocráticos. Ou que fosse um mero modismo. Ou que seus resultados seriam intangíveis.

Haveria de existir benefícios tangíveis mais robustos. Os resultados deste trabalho não deixam dúvida quanto a isso.

Mas continua a persistir uma questão: a certificação ISO 9000 não está refletida diretamente nos balanços das empresas. Há que se encontrar mecanismos e técnicas para tangibilizar mais o valor de uma certificação.

Datam de 1999 os trabalhos pioneiros sobre os efeitos da certificação sobre o desempenho financeiro das empresas. Faz muito pouco tempo, portanto, que a ISO 9000 começou, de fato, a ser estudada quanto às suas conseqüências de implantação.

Os seus benefícios e vantagens precisam ser acompanhados por períodos longos de tempo, pois é um projeto de investimento em um ativo não físico e que deve gerar resultados líqüidos positivos com conseqüente criação de vantagem competitiva duradoura.

Pode-se afirmar que ter a certificação ISO 9000 é um recurso raro e escasso. É imitável, mas custoso para ser imitado.

Fixou-se um objetivo principal para esta dissertação: demonstrar que a certificação ISO 9000 permite às companhias abertas brasileiras obterem um desempenho financeiro superior.

Foi construída uma amostra de 207 companhias, com dados coletados relativos ao período 1995 a 2006. Foram elaborados dois painéis: um, não balanceado, com 207 companhias e 2.484 observações; outro, balanceado, com 60 companhias e 720 observações.