• Nenhum resultado encontrado

ESTRATÉGIAS E PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

5.2. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Como referido anteriormente, o objeto de estudo construído e utilizado para este trabalho teve a colaboração da equipa técnica e profissional dos estúdios da RTP do Porto. Este objeto de estudo foi realizado em contexto profissional, apresentando todo o conteúdo proveniente da RTP, desde os grafismos utilizados até às peças jornalísticas apresentadas. Este objeto de estudo foi idealizado e desenvolvido especificamente para este trabalho, e por conseguinte todos os seus elementos constituintes foram escolhidos e manipulados consoante os objetivos traçados inicialmente.

Concretamente, este objeto de estudo caracteriza-se por um pequeno excerto do noticiário televisivo “Jornal da Tarde” da RTP1. As peças jornalísticas apresentadas neste excerto foram de temática diversa. Uma vez que para este estudo se perde uma das características que a notícia transporta consigo – o momento do seu consumo (Sousa, 2002b), foram escolhidas notícias que não fossem de conhecimento público imediato. Nesse sentido, escolheram-se peças jornalísticas exibidas numa data distante relativamente ao momento da realização dos testes62. Técnicas semelhantes foram seguidas noutros estudos abordados no enquadramento teórico deste trabalho (Drew & Grimes, 1987; Fox, 2004; Grimes, 1991; Josephson & Holmes, 2006). Relativamente às temáticas escolhidas para este objeto de estudo, teve-se também em conta as principais escolhas temáticas nos alinhamentos dos noticiários televisivos dos canais generalistas portugueses (RTP, SIC e TVI). Para isso, a escolha destas categorias temáticas teve como base a tabela apresentada no Capítulo II, secção 2.1.1. Principais Categorias Temáticas do Enquadramento Teórico (Tabela 4). As categorias temáticas escolhidas neste objeto de estudo serão enunciadas e explicadas na secção seguinte “Construção e Composição do Objeto de Estudo”.

Quanto ao objeto de estudo em si, este está dividido em seis versões. Todas estas versões apresentam as mesmas peças jornalísticas, diferindo ao nível do layout informativo, como também nos conteúdos informativos contidos em cada um dos grafismos presentes no layout informativo. Por fim, na construção do objeto de estudo teve-se também em consideração o tempo total do excerto do noticiário televisivo a apresentar aos participantes. Nesse sentido, optou-se por editar e gravar peças jornalísticas de curta duração, com a finalidade do excerto do noticiário televisivo apresentar também um tempo total curto. Assim, cada uma das seis versões do objeto de estudo tem uma duração total de aproximadamente seis minutos e quarenta segundos (6:40s), registando apenas pequenas diferenças de segundos de versão para versão63.

Na secção seguinte serão explicadas as opções tomadas na construção e composição do objeto de estudo, desde as especificidades de cada uma das seis versões do objeto de estudo, até às escolhas temáticas das peças jornalísticas.

62 O objeto de estudo foi gravado e editado nos estúdios da RTP do Porto entre o dia 7 e 11 de Maio de 2012, tendo os

pré-testes e testes com participantes começado a partir de 14 de Outubro de 2012 e terminado a 15 de Março de 2013. As peças jornalísticas utilizadas no objeto de estudo foram emitidas num período anterior à da sua gravação.

63 Existem diferenças pontuais em termos de tempo total nas seis versões do objeto de estudo, dado que na altura da

gravação cada versão representou um momento único de gravação no estúdio. Estes vídeos podem ser consultados no Apêndice IV.

5.2.1. CONSTRUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Tendo em conta a parceria com os estúdios da RTP, foi necessário perceber as dinâmicas de trabalho e todo o processo de planificação de um noticiário televisivo, tentando por isso perceber todo o processo de produção informativa (newsmaking). Para isso, foi importante acompanhar o trabalho da equipa de coordenação, de forma a retratar o mais fielmente possível a produção de um noticiário televisivo, quer em termos de conteúdos, como de alinhamento e grafismos utilizados64. Após se compreender toda essa dinâmica de trabalho, quer através das escolhas tomadas pela equipa de coordenação do noticiário, quer pela linha editorial da RTP que tem de ser seguida, foi possível avançar para a construção e composição do objeto de estudo.

Nesse aspeto, foi preciso conciliar as finalidades e objetivos desta investigação, com o trabalho de campo existente na produção de um noticiário num estúdio televisivo. Assim, a primeira etapa passou por perceber qual o layout informativo padrão do “Jornal da Tarde”65, e quais os grafismos utilizados normalmente pela estação televisiva e que estão identificados na Figura 21.

Figura 21 – Layout informativo utilizado no “Jornal da Tarde” da RTP e respetivos grafismos

Após serem identificados os principais grafismos e as suas funções, o passo seguinte passou por planear e elaborar um conjunto de versões a serem gravados nos estúdios da RTP. Dado o grande volume de trabalho diário nos estúdios da RTP, bem como de toda a sua equipa de trabalho, apenas foi possível utilizar os recursos da RTP durante uma hora, e por isso todo o planeamento e elaboração do objeto de estudo teve de ter em conta essas condições.

64 O acompanhamento da equipa de coordenação na idealização e construção de um noticiário televisivo foi feita três

vezes e sempre em relação ao “Jornal da Tarde” da RTP1.

Uma das fases desse planeamento passou pela escolha das peças jornalísticas, tendo em conta as temáticas alvo de estudo bem como o critério visual, ou seja a capacidade que uma notícia tem em apresentar um bom material visual (Wolf, 1999). Ficou também definido que as peças jornalísticas iriam ser as mesmas em todas as versões, havendo apenas mudanças nos grafismos apresentados. Escolheu-se essa solução uma vez que o principal propósito deste trabalho é o estudo do layout informativo e por isso é indispensável que qualquer participante do estudo seja exposto ao mesmo tipo de informação, existindo apenas diferenças ao nível da disposição e escolha dos grafismos. Além das escolhas das peças jornalísticas, ficaram também definidos os grafismos a serem utilizados em cada uma das versões. No planeamento das versões foi preciso ter em conta que alguns dos grafismos já estavam incluídos na peça, principalmente no package. Relativamente às restantes (lead in), quase todos os grafismos foram colocados no momento da peça ir para o ar (pictograma, videowall, lower thirds, rodapé). Para além disso, houve também a possibilidade de alguns grafismos serem colocados e editados posteriormente, como foi o caso do rodapé. Na Tabela 6 é possível ver a composição e especificidades de cada uma das seis versões gravadas, e que podem também ser complementadas com a Figura 22 e Figura 23 presentes na página seguinte.

Tabela 6 – Especificidades das versões do objeto de estudo

VERSÃO DO OBJETO DE ESTUDO ESPECIFICIDADE

Versão 1

(Clean feed - Sem elementos gráficos)

- Não existe qualquer tipo de grafismos em nenhuma das peças. - A apresentação das notícias (lead in) é dada com o pivô sentado. Versão 2

(Com complementaridade)

- Em todas as peças não existe complementaridade entre o ticker e os restantes elementos gráficos, sendo que a informação no ticker apresenta aleatoriedade temática;

- A apresentação das notícias (lead in) é dada com o pivô sentado. Versão 3

(Sem complementaridade)

- Em todas as peças existe complementaridade total;

- A apresentação das notícias (lead in) é dada com o pivô sentado.

Versão 4 (Experimental)

- Na apresentação da notícia (lead in), quatro das peças

apresentam videowall e as outras duas apresentam pictograma; - O ticker não aparece na apresentação da notícia (lead in),

somente no package e sem complementaridade de informação entre o ticker e a notícia;

- A apresentação das notícias (lead in) é dada com o pivô sentado. Versão 5

(Experimental)

- Na apresentação da notícia (lead in) todas as notícias têm lower

thirds não havendo nem pictograma nem videowall;

- O ticker apenas aparece no package, mas com

complementaridade de informação entre o ticker e a notícia; - A apresentação das notícias (lead in) é dada com o pivô sentado. Versão 6

(Experimental)

- No lead in esta não inclui lower thirds nem ticker.

- Na apresentação da notícia (lead in), duas das peças apresentam

videowall e as outras duas apresentam pictograma;

- O ticker não aparece em qualquer notícia;

- No lead in, três das peças são apresentadas com o pivô em pé, e as restantes quatro com o pivô sentado.

Figura 22 – Diferenças no layout informativo no lead in

Com a construção destas seis versões do objeto de estudo pretendeu-se explorar diferentes disposições do layout informativo, com a finalidade de propor um novo layout informativo, tanto do lead in como do package. Pretende-se assim criar um elo mais eficaz entre os noticiários televisivos e o telespectador, não descurando contudo a identidade gráfica e corporativa do noticiário (Hansen, 2004). Assim, como pode ser observado tanto na Tabela 6 como na Figura 22 e Figura 23, cada uma das versões do objeto de estudo apresentam especificidades que as distinguem.

Globalmente, das seis versões gravadas, e que fazem parte do objeto de estudo, uma versão não apresenta qualquer grafismo (versão 1); duas versões apresentam o mesmo número e disposição dos grafismos, variando apenas na complementaridade de informação no ticker (versão 2 e 3); e as restantes três versões apresentam variações tanto na complementaridade de informação como nos grafismos (versão 4,5 e 6).

Quanto à versão 1, tanto no lead in como nas news piece, não existe qualquer grafismo, apenas a presença do pivô no lead in. A criação desta versão tem como propósito recolher informações de um cenário onde o principal foco do telespectador é o canal auditivo. Serve assim esta versão para estudar o canal áudio com as restantes cinco versões, onde o canal visual é mais complexo com a adição de outros grafismos que compõem o layout informativo.

Relativamente à versão 2, esta apresenta-se como uma versão de referência, uma vez que a composição e a disposição dos grafismos é idêntica ao que ocorre na exibição diária do “Jornal da Tarde”, bem como noutros noticiários televisivos portugueses. Nesta versão pretende-se recolher informações sobre a receção de conteúdos informativos num layout informativo standard.

No que diz respeito à versão 3, esta apenas difere da versão 2 no que diz respeito à complementaridade de informação. Assim, na versão 3 existe complementaridade de informação no rodapé em relação aos restantes grafismos, o que não acontece na versão 2, onde o conteúdo do rodapé é completamente distinto da temática apresentada na peça jornalística que está a ser exibida. Assim, tanto na versão 2 como na versão 3 pretende-se recolher informações sobre a receção de conteúdos informativos num layout informativo standard, onde existe apenas diferenças ao nível da complementaridade de informação, tanto no lead in como no package.

As restantes três versões (versão 4, 5 e 6), assumem um carácter mais experimental, de modo a testar diferentes cenários na apresentação e visualização de informação num noticiário televisivo, tanto no lead in como no package. Com estas três versões pretende-se perceber como diferentes disposições do layout informativo podem influenciar a receção de conteúdos informativos. Assim, é objetivo destas três versões recolher informações sobre o comportamento visual dos telespectadores, bem como os respetivos índices de memorização, em layouts informativos alternativos, cruzando esses resultados com os obtidos com as primeiras três versões (versão 1, 2 e 3).

Nesse sentido, a comparação e o cruzamento dos resultados obtidos nestas seis versões do objeto de estudo, permitirá criar fundamentos para uma proposta de um layout informativo optimizado, tanto para o lead in, como para o package.

Quanto às categorias temáticas que foram incluídas no objeto de estudo, foi necessário filtrar as categorias a incluir. Optou-se por colocar principalmente as temáticas mais recorrentes num noticiário televisivo português, quer no plano nacional como no plano internacional, e para tal foram considerados os estudos levados a cabo por Lopes (1999), Brandão (2009) e Silveira et al. (2010). Foi também importante escolher peças de curta duração em todas as temáticas, de forma a que não houvesse nenhuma predominância temática, tendo sidas escolhidas peças em que a linguagem utilizada fosse de fácil compreensão (Housel, 1984). Na Tabela 7 é possível ver as categorias temáticas incluídas no objeto de estudo com o respetivo assunto e duração.

Tabela 7 – Categorias temáticas das peças jornalísticas

NºPEÇA TEMÁTICA ASSUNTO DURAÇÃO MÉDIA

(lead in + package) 1 Plano Nacional Política/Estado Notícia de plano nacional sobre declarações políticas de um ministro. 49s (13s + 36s)