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EYE TRACKING E OS ESTUDOS SOBRE NOTICIÁRIOS

4.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Os estudos relacionados com os movimentos oculares tiveram uma ligação bastante próxima com o desenvolvimento do eye tracking. Estes estudos começaram a ser desenvolvidos há mais de um século, mais concretamente em 1878 por Louis Javal, quando observou que a leitura não era feita de forma linear, mas através de uma série de pausas curtas e de movimentos sacádicos41 (Jacob & Karn, 2003). Através destes conceitos, Dodge & Cline, em 1901, desenvolveram as primeiras técnicas não invasivas e precisas, utilizando para tal as luzes que eram refletidas pela córnea do olho humano (Jacob & Karn, 2003). No entanto, este equipamento tinha duas grandes limitações: apenas conseguia gravar as posições horizontais do olho e a cabeça do indivíduo tinha de estar numa posição fixa (Jacob & Karn, 2003). Uns anos mais tarde, em 1905, McAllister e Steel aprimoraram esta técnica, desenvolvendo outro sistema, com o objetivo de registar os movimentos oculares em duas dimensões (Jacob & Karn, 2003). Com os avanços tecnológicos da altura, foi também possível realizar os primeiros estudos que permitiram relacionar os movimentos oculares e as imagens mentais criadas (Richardson & Spivey, 2004). Segundo Rayner (1998), esta fase caracterizou-se pela descoberta das funções básicas dos movimentos oculares. Estes primeiros estudos despoletaram o desenvolvimento dos equipamentos de eye tracker, sobretudo no início dos anos 50, havendo diversas evoluções até aos dias de hoje, como pode ser observado na Figura 16.

Figura 16 – Tipologia de equipamentos eye tracker42

41 Para mais informações sobre os movimentos oculares rever a secção 3.1.2. Os Movimentos Oculares. 42 Imagens retiradas de:

A – Imagem retirada de http://tinyurl.com/khjufy4, 14/7/2014;

B – Imagem retirada de Duchowski, A. (2007). Eye Tracking: Theory and Practice (Second ed.), p.289; C – Imagem retirada de http://tinyurl.com/nllgncm, 14/7/2014.

Hartridge e Thompson inventaram nos finais dos anos 40 (1948) o primeiro head-mounted eye tracker (Jacob & Karn, 2003). Estes primeiros desenvolvimentos serviram como ponto de partida para a construção de head-mounted eye trackers (Figura 16, legenda A) mais sofisticados (Shackel, 1960; Mackworth & Thomas, 1962), principalmente no que diz respeito à redução das limitações que este tipo de equipamento tinha nos movimentos da cabeça dos sujeitos (Jacob & Karn, 2003). Apesar destas evoluções, os equipamentos continuavam a ser desconfortáveis, pouco práticos e invasivos. Nesse sentido, no início dos anos 70 começaram a existir avanços significativos nas tecnologias digitais e no processamento de imagem (Richardson & Spivey, 2004), o que permitiu o avanço dos equipamentos de eye tracker, bem como na sua relação com os processos cognitivos. Os psicólogos (especialmente os psicólogos cognitivos) começaram então a relacionar os dados obtidos por esta técnica com as atividades cognitivas, elaborando assim alguns modelos teóricos (Jacob & Karn, 2003). Além disso, as novas descobertas no que diz respeito ao funcionamento dos movimentos oculares permitiram que os equipamentos de eye tracker fossem mais precisos, possibilitando ao mesmo tempo maior liberdade de movimentos por parte do sujeito. Deve-se ainda salientar que os avanços existentes nesta época (quer em termos técnicos como teóricos) têm ainda aplicabilidade nos equipamentos de eye tracker de hoje em dia.

A partir da década de 80 o eye tracking começou a ser utilizado como um método noutros campos científicos, mais concretamente na área de HCI (Human-computer Interaction), começando também a ser entendido não só como um equipamento para medição e avaliação, mas também como um dispositivo de input. Além destas inovações, o surgimento da WWW (World Wide Web), bem como do e-mail e videoconferência permitiram que o eye tracking se desdobrasse noutros campos de pesquisa, como foram os casos dos estudos de usabilidade em interfaces web (Jacob & Karn, 2003).

Com estes avanços, começaram a surgir novos equipamentos de eye tracker, os Computer-Monitor Eye Tracker (Figura 16, legenda B). Estes equipamentos têm como principal característica o registo de dados de um utilizador, em que o eye tracker se encontra ligado a um monitor de computador, apresentando como vantagem a visualização do teste em tempo real. Para esta evolução, além dos avanços descritos no parágrafo anterior, contribuíram também os avanços do equipamento informático e de software, como a redução do tamanho dos computadores e as interações que poderiam ser efetuadas por estes equipamentos (Drewes, 2010).

Recentemente, continuaram a haver avanços no que concerne ao eye tracking. Surgiram assim os equipamentos denominados de table mounted (Figura 16, legenda C). Estes equipamentos caracterizam-se por ter um aspeto semelhante a um monitor LCD, e diferenciam-se dos restantes equipamentos por serem muito mais precisos, e onde o utilizador se sente mais confortável, não sendo por isso um sistema intrusivo. Além disso, os table mounted permitem a realização de testes de uma forma mais autónoma, dado que não existe nenhum elemento anexado ao sujeito, e assim permite a elaboração de testes de maior duração, sem com isso causar um cansaço excessivo ao participante (Fortunato-Tavares, 2008).

Figura 17 – Sistemas fixos e móveis de eye tracking43

Como pode ser visto na figura acima (Figura 17), uma das evoluções denotadas foi o desenvolvimento de sistemas mobile. O desenvolvimento deste tipo de sistemas permitiu que o eye tracking quebrasse uma das suas principais limitações: as barreiras físicas. Nesse sentido, são exequíveis outros tipos de estudos que até aos dias de hoje não eram possíveis realizar devido aos equipamentos não serem portáteis. Assim, cada vez mais existem estudos em contexto empresarial, como são os casos de estudos de mobile devices, condução rodoviária e package testing44.

Além desta inovação tecnológica, em 2011 as empresas Tobii e Lenovo começaram a desenvolver protótipos de portáteis com a integração de eye tracking. Estes novos equipamentos designam-se de

“Eye Controlled Laptops” 45. Uma das novidades trazidas por este tipo de equipamento é de não

necessitarem de ter associados a si um computador de suporte, podendo funcionar per si, permitindo que todo o software e hardware esteja concentrado num só elemento físico. Uma outra novidade, e talvez a maior inovação dos Eye Controlled Laptops, está relacionada com a interação que estes equipamentos possibilitam com o utilizador. Nesse sentido, com a utilização dos Eye Controlled Laptops existe uma mudança de paradigma de interação, uma vez que a interação é realizada através dos movimentos oculares e não através do toque, rato ou teclado.

“Most computer manufacturers today endeavor to enhance their products by adding more and more natural interfaces. Using our eyes to point, select and scroll is completely intuitive and complements

traditional control interfaces…” (Tobii, 2011)

43 Imagens retiradas de:

A – http://tinyurl.com/op5r6jw, 14/7/2014 B – http://tinyurl.com/kum9owy, 14/7/2014

44 Para mais informações ver: http://eyetracking-glasses.com/, 14/7/2014 45 http://www.tobii.com/PCEye2011, 14/7/2014.