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SISTEMA VISUAL E AUDITIVO E OS PROCESSOS COGNITIVOS

3.1. SISTEMA VISUAL HUMANO O OLHO

No meio ambiente existem dois tipos de fontes luminosas: os elementos que têm a capacidade de emitir luz, como é o caso do sol; e os elementos que são iluminados, isto é, aqueles que “refletem parte da luz projetada sobre eles, e absorvem a remanescente” (Gleitman et al., 2003, p. 258). Estas fontes luminosas apresentam duas dimensões físicas: a intensidade e o comprimento de onda. O primeiro caracteriza-se pela “quantidade de energia radiante por unidade de tempo” (Gleitman et al., 2003, p. 258), sendo responsável pelo brilho que os nossos olhos percepcionam; já o comprimento de onda está relacionado com a “distância entre as cristas de duas ondas sucessivas” (Gleitman et al., 2003, p. 258), sendo os diferentes comprimentos de onda responsáveis pela perceção da cor. Contudo, apenas uma parte destes comprimentos de onda são visíveis ao olho humano, designando a esse pequeno espectro “luz visível”. Este espectro está compreendido entre os 400 nanómetros (cor violeta) e os 700 nanómetros (cor vermelha), aproximadamente (Foley & Matlin, 2009). Para além da luz visível, o espectro eletromagnético é constituído por outras radiações, como é visível na Figura 10.

Figura 10 – Espectro eletromagnético30

Quanto ao sistema visual humano, este é constituído por dois olhos de forma esférica, podendo apresentar um diâmetro médio de 24,5 mm. O primeiro mecanismo que ocorre aquando do contacto da luz com os nossos globos oculares é a refração dos raios luminosos31, realizada tanto pela córnea32 como pelo cristalino, havendo posteriormente uma projeção da imagem recolhida numa superfície fotossensível. De seguida a íris, uma membrana circular que se encontra entre a córnea e o cristalino, tem a função de controlar a entrada da luz no olho. Para tal, através dos seus músculos, a íris tem a capacidade de diminuir o seu diâmetro quando o olho está exposto a uma grande luminosidade, aumentando o seu diâmetro quando o olho está exposto a pouca luminosidade (Ramos, 2006). Como curiosidade, pode ser realizado um paralelismo entre o olho e uma câmara fotográfica, dado que estas têm algumas semelhanças, desde a refração dos raios de luz, passando pelo controlo da luminosidade e a focagem dos objetos (ver Figura 11).

30 Imagem retirada de http://tinyurl.com/rdggez, 20/7/2014.

31 O mecanismo da refração consiste na passagem da luz por diferentes meios físicos, podendo assim alterar a direção e a

velocidade da luz.

32 A córnea é uma zona transparente pertencente ao olho humano e que tem a função de focar a luz proveniente do

Figura 11 – Constituição do olho humano33

Após a passagem através da córnea, cristalino e íris, a luz incide na retina do olho, sendo aqui que ocorre a transformação do estímulo físico num impulso nervoso. É na retina que também se encontram as células designadas de fotorrecetoras. São estas células que fazem a deteção da luz proveniente do mundo exterior, estando divididas em cones e bastonetes. Estas células recetoras são abundantes na retina, estando dispersas de forma variável. Enquanto os bastonetes se encontram mais na periferia da retina, os cones encontram-se em maior número num local designado de fóvea34. O número destas células também é bastante desproporcionado; enquanto existem 120 milhões de bastonetes existem apenas 6 milhões de cones (Gleitman et al., 2003). Os bastonetes e os cones para além de variarem na localização, número e forma, variam também na sua função. Assim, os bastonetes são os recetores com função da visão noturna, uma vez que reagem a baixas intensidades de luz, originando visões a preto e branco. Já os cones reagem a altas intensidades de luz, sendo responsáveis pela visão diurna e pelo reconhecimento cromático. Ainda neste contexto, os bastonetes são mais sensíveis à luz que os cones, e por isso não são tão capazes de reconhecer os detalhes, função essa desempenhada pelos cones.

De um modo sucinto, a retina é um dos elementos mais importantes do sistema visual humano, permitindo ao ser humano visualizar os objetos do mundo exterior com maior nitidez e resolução. Para a informação recolhida pelas células recetoras da retina (cones e bastonetes) serem interpretadas pelo cérebro, esta informação passa ainda por outras camadas de células da retina. Assim, estes recetores “estimulam as células bipolares, que por sua vez, excitam as células ganglionares” (Gleitman et al., 2003, p. 260), passando depois essa informação para o nervo ótico que vai efetuar a ligação ao córtex cerebral.

33 Imagem retirada de: http://tinyurl.com/7g8xoqy, 20/7/2014.

34 Encontra-se no centro da retina, sendo nesse local onde ocorre o encontro focal dos raios luminosos que penetram no

3.1.1. VISÃO CROMÁTICA

Uma das principais características da visão humana é a capacidade que o sistema visual tem em discernir os diferentes comprimentos de onda da “luz visível”, permitindo assim reconhecer um vasto conjunto de cores. No entanto, existem fatores que fazem com que esse reconhecimento seja subjetivo, uma vez que o processamento visual varia de indivíduo para indivíduo, e por conseguinte a perceção da cor resulta sobretudo da interpretação dada pelo indivíduo a um determinado objeto do meio ambiente. Assim, apesar de existirem diferentes comprimentos de onda no espectro de “luz visível” a perceção da cor é um fenómeno sobretudo psicológico (Palmer, 1999).

Nesse sentido, pode-se então identificar três propriedades que fazem com que a perceção da cor seja um fenómeno psicológico:

Cor – Diz respeito ao reconhecimento de uma determinada cor, ou seja, é a propriedade da cor que permite distinguir uma cor de outra;

Saturação – Corresponde ao grau de pureza de uma cor, isto é, a “quantidade” da cor.

Uma cor é menos saturada quanto mais cinza estiver presente na sua composição.

Intensidade (Luminosidade) – É a propriedade da cor que refere a intensidade luminosa. Quanto maior for a intensidade (brilho), mais “clara” a cor fica, independentemente da sua saturação.

Estas três propriedades da cor fazem com que o indivíduo faça uma representação mental dos diferentes comprimentos de onda que o espectro da “luz visível” pode apresentar. Estes três componentes podem definir-se através de três coordenadas espaciais que correspondem às três dimensões referidas (Cor, Saturação e Intensidade), como pode ser observado na Figura 12.

Figura 12 – Representação espacial da cor, saturação e luminosidade (Modelo HSB)35

Em termos psicológicos são estas as 3 dimensões que permitem ao sujeito percepcionar a sensação da cor. Todavia, em termos físicos o espectro da “luz visível” apresenta um número infinito de valores para descrever uma determinada luz (comprimentos de onda). Para o ser humano, a sensação de uma cor pode corresponder a vários valores do espectro da “luz visível” (Palmer, 1999). Essa situação está evidenciada na Figura 10, que ilustra o espectro eletromagnético. Nesse sentido, existem duas teorias que tentam explicar o fenómeno da visão cromática, isto é, a capacidade que o sistema visual humano tem em percepcionar o fenómeno da cor. Essas duas teorias são a “Teoria Tricromática” e a “Teoria dos Processos Opostos”. Hoje em dia ambas as teorias são validas, funcionando como complemento uma da outra (B. Goldstein, 2009).

T

EORIA

T

RICROMÁTICA

Esta teoria foi proposta inicialmente por Young em 1802, sendo aprofundada e melhorada anos mais tarde por Helmholtz, e por isso esta teoria também ser conhecida por Young-Helmholtz (B. Goldstein, 2009). A teoria tricromática assenta no pressuposto que existem três tipos de cones (células fotorecetoras presentes na retina do olho humano) que detetam sensibilidades espectrais diferentes. Esta teoria defende que os três tipos de fotorecetores são estimulados em níveis diferentes por um determinado comprimento de onda, resultando assim na perceção de uma cor. Neste contexto, por volta dos anos 60 do século XX, foram descobertos os comprimentos de onda que permitiam a absorção das sensibilidades espectrais descritas tanto por Young como por Helmholtz. Assim, os três comprimentos de onda detetados por estas células fotorecetoras são os 419nm (curto), os 531nm (médio) e os 558nm (longo), e que correspondem respetivamente ao azul, amarelo e vermelho (B. Goldstein, 2009). Segundo estes autores, só são necessárias estas três cores para ser possível percepcionar as restantes cores (B. Goldstein, 2009).

T

EORIA DOS PROCESSOS OPOSTOS

Devido a alguns fenómenos que a teoria tricromática não conseguia explicar, como o caso da experiência subjetiva do indivíduo, em 1878, Ewald Hering desenvolveu uma teoria que sugere a existência de quatro cores primárias e que são percecionadas através de respostas opostas geradas por 2 pares de cores: azul-amarelo e vermelho-verde (B. Goldstein, 2009). Os três tipos de fotorecetores responsáveis pela visão cromática são os mesmos referidos na teoria tricromática. De forma geral, a capacidade que o ser humano tem em distinguir as cores (visão cromática), como também a sua experiência pessoal, torna o indivíduo capaz de discernir e classificar os diversos objetos, podendo-os diferenciar e estabelecer relações entre eles. No domínio dos conteúdos audiovisuais, especificamente no meio televisivo, essa característica torna-se igualmente importante dado que existe cada vez mais preocupações cromáticas na construção dos conteúdos, e por conseguinte na perceção dessas cores por parte dos telespectadores.

3.1.2. OS MOVIMENTOS OCULARES

Para além das características físicas do olho e da retina, é importante perceber os mecanismos dos movimentos oculares e a forma como estes movimentos se orientam num determinado campo visual.

Figura 13 – Músculos responsáveis pelos movimentos oculares36

Como se pode observar na figura acima (Figura 13), os movimentos oculares são controlados por seis músculos oculares (ou extraoculares). Estes pequenos músculos têm origem no fundo da órbita ocular ligando-se à superfície externa do globo. Estes músculos desempenham diferentes funções, no entanto podem-se dividir em grupos de 2, tendo em conta as suas funções similares:

Reto Lateral e Reto Medial – Estes dois músculos são responsáveis pelos movimentos laterais (exterior e interior) do globo ocular;

Reto Superior e Reto Inferior – Estes dois músculos são responsáveis pelos movimentos verticais (cima e baixo) do globo ocular, e na direção do nariz;

Oblíquo Superior e Oblíquo Inferior – Estes dois músculos são responsáveis pelos movimentos verticais (cima e baixo) do globo ocular, e na direção oposta ao nariz.

É através da contração e descontração destes 6 músculos que um ser humano pode acompanhar os diversos elementos de um campo visual. Estes 6 músculos são responsáveis pelos diferentes movimentos realizados pelos olhos.

Os mecanismos realizados pelos movimentos oculares podem ser separados em três grupos principais (Krauzlis, 2008):

1) Gaze Shifting Mechanisms (Mecanismos de Mudança);