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A COMUNICAÇÃO E OS NOTICIÁRIOS TELEVISIVOS

1.1. MODELOS COMUNICATIVOS E OS MEDIA

Ao longo dos anos o termo comunicação tem sido definido por diversos autores, colocando em prática diversas teorias que pretendem definir este conceito. Estes autores debruçaram-se sobre o processo de comunicação, desenvolvendo alguns modelos comunicativos. No entanto, estes modelos não podem ser encarados como descritivos da realidade.

“... todos os modelos do processo comunicativo são, necessariamente, incompletos e imperfeitos (...) são uma reconstrução intelectual e imaginativa da realidade” (Sousa, 2006, pp. 76-77).

Do ponto de vista empírico, todos os comportamentos humanos, intencionais ou não, podem ser entendidos como comunicação, devido à impossibilidade do Homem não comunicar (Watzlawick, Bavelas, & Jackson, 2011)3. O mundo em que este se insere encontra-se repleto de significados que são atribuídos às coisas, consoante a cultura inerente à sociedade em que se insere o Homem, e que são interpretados pelo mesmo.

Do ponto de vista etimológico da palavra comunicação, esta provém da palavra latina communicatione, que significa participar, ou ação comum e que, por sua vez, deriva da palavra

commune, que significa comum4. Desta forma, depreende-se que a palavra comunicação

proporciona a partilha e troca de experiências entre indivíduos, sendo que essa partilha é concretizada em algo que ambos ficam a possuir em comum.

Tendo como ponto de partida esta noção de comunicação, serão apresentados alguns modelos de comunicação sugeridos por autores de diversos campos científicos. Para tal, ter-se-á como ponto de referência o trabalho de Jorge Sousa (2006), uma vez que este documento enuncia de uma forma elucidativa alguns dos modelos de comunicação que aqui serão descritos.

OM

ODELO

R

ETÓRICO DE

A

RISTÓTELES

O filósofo Aristóteles foi o primeiro a propor um modelo de comunicação, designado “O Modelo Retórico de Aristóteles”, e que consiste, na sua essência, a qualquer modelo posterior de comunicação. Este modelo está dividido em apenas 3 premissas fundamentais:

Emissor (A pessoa que fala) Mensagem (O discurso que é feito)

Recetor (A pessoa que ouve)

3 É um dos cinco axiomas da teoria de comunicação humana defendida por Paul Watzlawick. 4 Retirado de Dicionário das Ciências da Comunicação, Porto Editora, ed. portuguesa, 2000.

M

ODELO DE

L

ASSWELL

(1948)

Em 1948, Lasswell, defendeu que a forma como se descreve um ato comunicacional deve ser feita através da resposta a cinco questões fundamentais:

Quem? (Estudos sobre o emissor e a emissão das mensagens); Diz o quê? (Análise do Discurso);

Em que canal? (Análise do meio);

A quem? (Análise da audiência/recetor e receção das mensagens); Com que efeitos? (Análise dos efeitos das mensagens e da comunicação).

Este modelo foi originalmente pensado para descrever o processo de comunicação mediada através dos mass media, limitando o início da comunicação ao emissor da mensagem e definindo os efeitos apenas no recetor da mesma. Segundo Lasswell, um ato comunicacional não tem um início definido, e os efeitos são dados no recetor e no emissor, que se influenciam mutuamente.

Este é um modelo claramente funcionalista sendo que articula as várias componentes do processo de comunicação. No entanto, o facto de se compartimentar o processo de comunicação em segmentos, torna discutível o papel que o todo determina no processo de comunicação.

M

ODELO DE

S

HANNON E

W

EAVER

(1949)

Shannon e Weaver, propuseram, em 1949, um modelo de estudo da comunicação eletrónica que posteriormente foi também aplicado ao estudo da comunicação humana, e que é descrito pelo seguinte esquema:

De acordo com o seu modelo (Figura 1), os autores identificaram três ordens de problemas no estudo da comunicação:

1) Problemas técnicos: relacionados com a exatidão da transmissão dos sinais;

2) Problemas semânticos: relativos à precisão do significado incutido numa determinada mensagem;

3) Problemas de eficácia: respeitante ao modo como o comportamento do destinatário é influenciado pela forma como é entendido o significado da mensagem.

Shannon e Weaver debruçaram-se assim na problemática da significação das mensagens e das interferências que podem ocorrer no processo da sua significação, sem contudo descurar a questão dos efeitos de comunicação. Esta teoria foi um dos pontos de partida para estudos futuros sobre modelos de comunicação humana.

M

ODELO DE

N

EWCOMB

(1953)

Contudo, foi através do modelo de Newcomb, em 1953, que se deram os primeiros passos no sentido de se especificar os fenómenos de interação social. Assim, as interações sociais são na verdade processos comunicativos, sendo que este apresenta um modelo triangular de comunicação em que o emissor (A) e o recetor (B) se relacionam com entidades externas (X), sendo que A e B comunicam de acordo com a importância que X exerce sobre eles, de forma a estabelecerem um consenso a respeito dos mesmos. Neste prisma, a comunicação é vista como um processo capaz de fornecer equilíbrio ao sistema social (Figura 2).

Figura 2 – Modelo Comunicativo proposto por Newcomb (1953)

De forma sucinta, o modelo de Newcomb pretende explicar as dinâmicas comunicacionais da interação pessoal, mostrando que as perceções (que A faz de B, B faz de A e ambos fazem de X) influenciam a comunicação, no sentido em que a comunicação interpessoal fomenta a probabilidade de se estabelecerem equilíbrios face à comunicação que estabelecem entre si.

M

ODELO DE

J

AKOBSON

(1960)

Outro ponto de vista adotado no estudo do processo comunicativo está relacionado com o estudo da linguística, que faz a ponte entre as teorias provenientes das escolas processuais e as escolas semióticas. O modelo proposto por Jakobson, em 1960, pode traduzir-se graficamente como:

Contexto

Destinador – Mensagem - Destinatário Contacto

Código

Este modelo linear apresenta como fatores inovadores, o contexto em que se insere a mensagem; o contacto com o canal físico em que a mensagem se insere; e o código que tem de ser partilhado entre o emissor e o recetor, para que a mensagem possa ser descodificada e entendida. A cada um dos componentes do modelo apresentado, Jakobson fez corresponder uma função da linguagem:

Função Referencial (1)

Função Emotiva (2) – Função Poética (3) – Função Conotativa (4) Função Fática (5)

Função Metalinguística (6)

A função referencial (1) é dominante no discurso jornalístico, porque diz respeito à orientação da mensagem para a realidade; a função emotiva (2) refere-se à relação da mensagem com o destinatário; a função poética (3) é respeitante à relação da mensagem consigo mesma; a função conotativa (4) diz respeito ao efeito da mensagem no destinatário; a função fática (5) prende-se com o estabelecimento de contacto entre o emissor e o recetor da mensagem; a função metalinguística (6) refere-se ao código utilizado, e realiza-se quando se usa a linguagem para falar de linguagem. Compreende-se, desta forma, que a comunicação é um processo social, e é indispensável para a formação/coesão das sociedades. Nesse sentido, pode definir-se comunicação segundo duas perspetivas:

1) a comunicação consiste no processo de transmissão de mensagens codificadas através de um canal, num dado contexto e gerando determinados efeitos;

2) o conceito de atividade social, em que os indivíduos inseridos numa dada cultura, criam e trocam significados, em resposta à realidade que experienciam diariamente.

Após serem explicitados alguns dos modelos comunicacionais, é fundamental abordar-se o conceito de media. Na sua grande maioria, as teorias dos efeitos da comunicação social mostram que os media têm maior impacto ao nível das perceções da realidade do que na alteração de comportamentos e atitudes e, ainda, que os efeitos dos media variam consoante o recetor e o contexto de receção da mensagem.

McLuhan (1964) aborda o conceito de media como sendo uma extensão de nós próprios, referindo que a própria mensagem é o meio em si.

"In a culture like ours, long accustomed to splitting and dividing all things as a means of control, it is sometimes a bit of a shock to be reminded that, in operational and practical fact, the medium is the message. This is merely to say that the personal and social consequences of any medium - that is, of any extension of ourselves - result from the new scale that is introduced into our affairs by

each extension of ourselves, or by any new technology" (McLuhan, 1964, p. 7).

Partindo da permissa que os media são uma extensão de nós próprios, em teoria eles deveriam afirmar as diferenças individuais de cada indivíduo, permitindo a discussão e argumentação em torno dessas diferenças. Mas na prática estes são responsáveis pela erradicação das diferenças e pela homogeneização do pensamento individual em prol de um pensamento comum. Ou seja, por um lado servem para a formação de um público crítico, mas por outro difundem uma forma de pensar padronizada que dá origem a uma multidão estilizada.

Desta forma, Harold Innis (1991), defende os media como artefactos técnicos, e não apenas enquanto difusores de mensagens. Estes artefactos têm um papel importante na história das sociedades e culturas, uma vez que são importantes instrumentos de globalização (Innis, 1991). Já Gregory Bateson refere que os media são determinantes enquanto agentes de socialização, dado que se comportam como agentes mediadores na atribuição de sentido ao mundo e às mensagens que são constantemente recebidas/envidas (Bateson, 1986).

Numa outra perspetiva, John Thompson (1998) defende que os media implicam o aparecimento de novas formas de interação no mundo social, novos tipos de relações sociais e novas formas de relacionamento do indivíduo com os outros e com o próprio. Para o autor, o facto de se usarem os media na transmissão de mensagens, transforma a organização espacial e temporal da vida social, criando novas formas de agir e exercer o poder, desligadas da noção de partilha do espaço comum. Este estabelece, ainda, que o desenvolvimento dos media implica o repensar do caráter simbólico da vida social, uma vez que este desenvolvimento teve implicações nos processos de produção, armazenamento, circulação e intercâmbio de informações e conteúdos simbólicos (Thompson, 1998).

“o uso dos meios de comunicação transforma a organização espacial e temporal da vida social, criando novas formas de ação e interação, e novas maneiras de exercer o poder, que não está mais

ligado ao compartilhamento local do comum” (Thompson, 1998, p. 13).

Tendo em conta estas reflexões sobre o conceito de media (Bateson, 1986; Innis, 1991; Thompson, 1998), pode-se definir media como um conjunto de dispositivos que suportam mensagens e permitem a sua difusão, disponibilizando a informação e promovendo o conhecimento.