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NOTICIÁRIOS TELEVISIVOS E OS LAYOUTS INFORMATIVOS

2.1. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO – O CASO PORTUGUÊS

O aparecimento da primeira emissão televisiva, apesar de experimental, data de 1929 com a BBC (British Broudcasting Corporation). Contudo, foi em 1936 que foi transmitida a primeira emissão televisiva verificando-se até aos anos 50 melhoramentos no que diz respeito ao aparelho televisivo (Lourenço, Costa, & Teixeira, 2003). Foi então na segunda metade dos anos 50, mais concretamente em 1956, que as primeiras emissões televisivas começaram a ser realizadas em Portugal (Lourenço et al., 2003). A partir desse momento, a televisão teve na sociedade um papel importante, dado que trouxe à população a possibilidade de ver televisão de qualquer distância e em qualquer lugar (Leite, 2009). A partir deste momento, a televisão demarcou-se dos restantes media, uma vez que continha um elemento novo e único, a imagem. Assim, o primeiro noticiário televisivo em Portugal surgiu em 1959, e designou-se por "Telejornal". Até aos dias de hoje a evolução existente neste género televisivo esteve ligada, em grande parte, à constante evolução dos elementos cénicos como também aos aspetos socioculturais existentes desde os anos 50 até à presente década. Assim sendo, de acordo com os autores Saraiva et al. (2011), os noticiários televisivos em Portugal podem ser dividido em 5 Eras: Era da Técnica, Era dos Realizadores, Era dos Jornalistas, Era do Marketing e a Era do Virtual.

A primeira Era, a Era da Técnica (1957-1959), teve como marco histórico o dia 7 de março de 1957, com as emissões regulares da RTP. O tipo de informação noticiosa praticado nesta altura ainda tinham algumas semelhanças com outro meio de comunicação, a rádio, o que fez com que estes programas apresentassem alguns traços da rádio, sobretudo na sua forma comunicacional. Quanto aos elementos cénicos da altura, estas eram simples, apenas dotados de uma simples secretária e cadeira, e um fundo sem qualquer tipo de adereço (ver Figura 4). Tal sucedia-se devido à sala ser utilizada para programas de conteúdos distintos. Além disso, esta Era demarcou-se pela procura de uma identidade própria, através da experiência e influência de outros meios, como a rádio, cinema e teatro (Saraiva et al., 2011).

Figura 4 – Espaço cénico do primeiro telejornal da RTP9

A segunda Era, a Era dos Realizadores (1959-1974), caracterizou-se pelo aperfeiçoamento das questões cenográficas, ou seja, dotar o espaço físico de maior complexidade cénica, mas também de reafirmar uma nova identidade, demarcando-se assim de outros media existentes na altura, como a imprensa escrita e/ou a rádio. Em termos cénicos, começou-se a observar o aparecimento do logótipo da estação televisiva, um mapa-múndi10 como figura de fundo, e também um telefone para a

receção de chamadas (ver Figura 5). Para além disso, foi implementada uma nova técnica, denominada de transparências localizadas, que consistia no aparecimento de imagens e/ou texto, que complementavam as notícias apresentadas pelo pivô (Saraiva et al., 2011).

Figura 5 – Evolução da cenografia no telejornal da RTP até 197411

Após o 25 de Abril de 1974 em Portugal, surgiu a terceira Era de informação televisiva em Portugal, a Era dos Jornalistas (1974-1980). O primeiro acontecimento importante deste período foi o término do regime Salazarista. Graças a isso, começaram a surgir os primeiros debates televisivos e a informação noticiada para a sociedade já não sofria a censura típica do regime ditatorial (Polainas, 1998). Surgiu então um novo protagonista, o jornalista. Após 1974, o jornalista assumia uma posição preponderante na mensagem que era transmitida para a população, sendo os noticiários televisivos centrados no jornalista, como também toda a cenografia desenvolvida. Contudo, foi o aparecimento da cor na televisão que tornou esta época tão decisiva na evolução deste género televisivo até aos dias de hoje. Em Portugal, a primeira emissão a cores ocorreu a 7 de março de 1980 (onde a cor assumiu um papel único), trazendo novos horizontes no que diz respeito às questões cénicas, havendo um maior leque de perspetivas e combinações. Além da cor, as régies12 estavam cada vez mais bem equipadas com novas tecnologias, o que permitia novas soluções e evoluções tanto no controlo da imagem das emissões televisivas como em termos sonoplastas, tornando as emissões mais modernas (Saraiva et al., 2011). Apesar destas evoluções, o pivô continuou a ser o elemento central da emissão (ver Figura 6).

10 Também designado por planisfério. É normalmente utilizado como um elemento cénico de background nos noticiários

televisivos.

11 Imagem retirada de http://ww2.rtp.pt/50anos/50Anos/Livro/Fotos, 30/8/2014.

12 Estúdio utilizado para monitorizar, gravar e editar os conteúdos audiovisuais que podem estar, ou não, a ser

Figura 6 – A RTP e o Telejornal em 199013

A 6 de outubro de 1992 surgiu a primeira estação televisiva privada Portuguesa, a SIC (Sociedade Independente da Comunicação). Deu-se então início à quarta Era na televisão informativa portuguesa, a Era do Marketing (1992-2000). Com a inclusão da SIC no cenário televisivo português, levantaram-se novas questões e objetivos. Assim, a SIC com os seus cenários, onde predominavam cores quentes e vivas, concorria com a RTP pela conquista da audiência televisiva (Saraiva et al., 2011). Devido a esse facto, foi neste período onde a cenografia teve grandes avanços, tanto pela concorrência existente como também pelo avanço exponencial das novas tecnologias. No ano seguinte (1993), apareceu a segunda estação televisiva privada, a TVI (Televisão Independente), aumentando ainda mais a concorrência existente. Deste modo, através da cenografia, a TVI, SIC e RTP, tentavam modificar e modernizar os seus estúdios para, através da imagem, cativar a audiência.

Com o começo de um novo milénio, surgiu também uma quinta Era, a Era do Virtual (Saraiva et al., 2011). As constantes mudanças cenográficas, como já descritas anteriormente, aconteceram ao longo das últimas décadas, mas foi a partir de 2000, onde essas mudanças foram mais notórias, dado que o uso das aplicações multimédia e sistemas informáticos abriram novos caminhos para o desenvolvimento cenográfico (Cardoso, 2002). Assim, existiu a preocupação de aliar os elementos virtuais/digitais aos elementos já presentes no estúdio televisivo (elementos físicos), de modo a que nenhum destes elementos adquirisse um maior protagonismo.

Em contornos gerais pode-se considerar que a cenografia teve, e tem, um papel preponderante na evolução dos noticiários televisivos, sendo um instrumento de “realizações linguísticas e comunicativas” (Cardoso, 2002, p. 12), que não deve assumir apenas um papel meramente decorativo e sim participar em todo o processo comunicativo, com o intuito de promover uma relação eficaz, eficiente e satisfatória com o telespectador.

2.1.1. PRINCIPAIS CATEGORIAS TEMÁTICAS

As temáticas dos noticiários televisivos, bem como a sua diversidade e relação com a receção e memorização prestada pelos telespectadores aos diferentes momentos de um noticiário televisivo, fazem também parte deste estudo. Nesse sentido, esta secção mencionará as principais categorias temáticas exploradas nos noticiários televisivos portugueses. Para tal, serão referenciados alguns trabalhos que têm por base a análise de categorias temáticas de peças jornalísticas que estão presentes num alinhamento de um noticiário televisivo.

Foram vários os autores que se debruçaram sobre o estudo e categorização de temáticas nos noticiários televisivos dos canais generalistas portugueses (Brandão, 2002, 2009; Lopes, 1999; Silveira et al., 2010). As principais categorizações temáticas conhecidas até à data foram desenvolvidas sobretudo por Felisbela Lopes em 1999, e por Nuno Brandão em 2002 e 2009. Segundo Lopes (1999), as temáticas podem ser divididas em dois planos temáticos principais: o “plano nacional” e o “plano internacional”. Esta divisão permite assim delimitar geograficamente as notícias que se focam no território nacional português (plano nacional), e as notícias que abordam ocorrências internacionais (plano internacional). Além desta categorização, esta autora realizou uma classificação mais detalhada dentro do plano nacional e do plano internacional, tendo em conta a observação feita ao alinhamento do “Telejornal” da RTP1 (Lopes, 1999). Relativamente a Brandão (2002), este baseou-se em alguns dos pressupostos referidos por Lopes (1999), tendo também dividido em primeira instância as categorias temáticas em dois planos: o plano nacional e o plano internacional. Contudo, este autor introduziu uma pequena alteração:

”...Consideramos qualquer notícia fisicamente realizada em Portugal ou fora do nosso território nacional, desde que diga respeito a personalidades nacionais, tais como, políticos, desportistas,

artistas plásticos, etc., como inscrita no plano nacional” (Brandão, 2002, p. 113).

Assim, não é só o território onde a notícia se passa que conta para a categorização temática, mas também os intervenientes em causa. Além desta alteração, esta categorização temática não se focou apenas no “Telejornal” da RTP1, alargando o foco de estudo aos noticiários televisivos dos 3 canais generalistas portugueses (RTP, SIC e TVI). Porém, apenas foram tidas em conta as notícias de abertura dos noticiários televisivos e não todo o alinhamento do programa (Brandão, 2002). Estudo semelhante foi conduzido por Lopes, Pinto, Oliveira, e Sousa (2009), onde também foi estudado a categoria temática da notícia de abertura do telejornal entre 1959-2009.

Por último, este autor ressalva também que a categorização das temáticas é feita tendo em conta a questão da predominância, ou seja, se uma peça jornalística apresenta vários temas, é o tema predominante que deve ser categorizado (Brandão, 2002). De seguida, será apresentada a tabela descritiva das categorias temáticas apresentadas por Brandão14, estando divididas em 2 planos (plano internacional e plano nacional), como já foi referido anteriormente (Tabela 3).

Tabela 3 – Tabela descritiva das categorias temáticas (Brandão, 2002)

CATEGORIAS TEMÁTICAS

PLANO NACIONAL PLANO INTERNACIONAL

1 Estado 24 Política Internacional

2 Partidos Políticos