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EYE TRACKING E OS ESTUDOS SOBRE NOTICIÁRIOS

4.2. EYE TRACKING COMO TÉCNICA DE AVALIAÇÃO

4.2.2. LIMITAÇÕES E POTENCIALIDADES DO EYE TRACKING

A inclusão do eye tracking em diversas e distintas áreas científicas potenciou novas formas de avaliar o comportamento e interação do utilizador com um dado serviço e/ou produto. No entanto, é importante perceber as limitações e potencialidades do eye tracking, para com isso poder aproveitar- se as suas mais valias, mas também entender as suas fragilidades, colmatando-as com outros instrumentos e técnicas de recolha de dados.

Nesta secção irá ser feita uma análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), utilizada normalmente em cenários de diagnóstico e planeamento estratégico. Deste modo, com a utilização da análise SWOT, pretende-se perceber o verdadeiro valor da utilização do eye tracking, apresentando os seus pontos fortes, mas também evidenciando as suas principais fraquezas.

S

TRENGTHS

(F

ORÇAS

)

a) Uma das forças na utilização do eye tracking é a capacidade que este tem em mostrar em tempo real os movimentos e experiência visual do utilizador (Fortunato-Tavares, 2008), facilitando a análise visual de um determinado produto e/ou serviço. Associado a esta característica, existem alguns softwares que potenciam essa virtude através da utilização de algumas técnicas de visualização de dados, permitindo assim observar visualmente os dados recolhidos. Graças a esse fator, cada vez mais estão disponíveis ferramentas de análise, com o objetivo de examinar de forma mais detalhada os dados recolhidos pelo eye tracking. Essas ferramentas são desenvolvidas quer por laboratórios de investigação, quer por empresas dedicadas ao desenvolvimento de softwares para eye tracking (Karn, 2006); b) Dado que o eye tracking tem a capacidade de identificar o percurso visual do utilizador

(através da relação entre os saccades e as fixações), como também os respetivos pontos de fixação e tempo despendido, este pode ser muito útil na análise de um determinado produto e/ou serviço. Muitos dos softwares desenvolvidos para o eye tracking estão orientados para a análise web, e por isso pode ser vantajoso utilizar as diversas técnicas de visualização e representação de dados disponibilizadas por alguns destes softwares, e referidas no Capítulo IV, secção 4.2.1. Representação e Visualização de Dados;

c) Relacionado com o que foi referido na alínea b), outra das grandes vantagens na utilização do eye tracking diz respeito à sua componente de inovação. Ou seja, a capacidade que o eye tracking tem em avaliar e quantificar o comportamento visual humano permite- lhe fazer uma avaliação da eficiência e eficácia no cumprimento de tarefas, bem como medir os focos de visualização de uma determinada ação. Por estas razões, o eye tracking torna-se uma excelente alternativa/complemento a outros métodos e técnicas de análise, como são os casos do inquérito ou observação;

d) Por fim, o autor Karn (2006) refere também como força do eye tracking a capacidade que este tem em despoletar o interesse nas pessoas, sobretudo na apresentação dos resultados. Esse interesse resulta principalmente na capacidade que esta técnica de avaliação tem em representar visualmente os movimentos oculares dos utilizadores, movimentos estes que no senso comum são entendidos como processos inconscientes (Karn, 2006).

W

EAKNESSES

(F

RAQUEZAS

)

a) Uma das funções do eye tracking é o registo das fixações, ou seja, o registo da coordenada exata de uma fixação (x,y). Todavia, o eye tracking não consegue registar a visão periférica de um sujeito, sendo que esta representa cerca de 98% do nosso campo visual49, o que demonstra que o eye tracking apenas regista cerca de 2% de todo o campo visual. Assim, só é possível analisar o que é efetivamente focado e não as áreas envolventes;

b) Os principais dados que podem ser extraídos estão associados à orientação visual do indivíduo, sendo que uma das fraquezas do eye tracking está relacionada com a extração desses dados. Nesse sentido, dependendo do número e duração das amostras, como também do número de participantes, a quantidade e diversidade de dados a recolher pode ser muito extensa. Apesar de já existirem softwares capazes de fazer essa extração de forma mais simples, existem conteúdos em que essa recolha de dados tem de ser efetuada manualmente (ex. conteúdos audiovisuais), tornando essa tarefa bastante complexa e pouco user friendly. Devido a esta fraqueza têm surgido algumas técnicas que tendem a suprimir algumas destas limitações, bem como atualizações que permitem colmatar muitas dessas limitações;

c) O preço médio de um equipamento de eye tracker e respetivo software continua a ser elevado, podendo não compensar o custo/benefício para a pessoa/instituição que o pretende adquirir. Porém, existem soluções gratuitas mas que não oferecem as mesmas condições que uma solução paga, e por isso é uma alternativa bastante limitada para um trabalho rigoroso;

d) Para se utilizar o eye tracking de forma profissional e/ou científica esta exige uma curva de aprendizagem demorada, quer na instalação do equipamento e condução dos testes, como também na extração e análise dos dados. Esta curva de aprendizagem pode tornar- se maior caso o investigador pretenda fazer uma extração e análise dos dados de forma manual, o que por vezes se torna necessário, mais concretamente quando se está perante a análise de conteúdos dinâmicos;

e) Qualquer equipamento está sujeito a problemas de cariz técnico.

O

PPORTUNITIES

(O

PORTUNIDADES

)

a) Uma das principais oportunidades na utilização do eye tracking é a possibilidade de este poder quantificar visualmente o comportamento do olhar humano, sendo por isso uma mais valia relativamente a outras técnicas e instrumentos de recolha de dados;

b) Os avanços existentes no eye tracking, quer no tamanho cada vez mais reduzido apresentado pelos equipamentos, quer na sua diversidade e mobilidade (ver Capítulo IV, secção 4.1. Contextualização Histórica), permitem ao eye tracking explorar outras áreas e campos científicos que outrora não era possível;

T

HREATS

(A

MEAÇAS

)

a) Deve-se ter em atenção que os testes com eye tracking podem ter uma duração média muito extensa, dado que envolve toda a fase de planeamento, instalação e extração/análise de dados. É importante perceber que ao escolher o eye tracking como técnica de avaliação, esta requererá muito tempo por parte do investigador, e nesse sentido deve ser escolhida para trabalhos de médio/longo prazo.

b) Outra das ameaças está relacionada com as possíveis dificuldades na interpretação de dados. É importante ter a capacidade de definir antecipadamente o que se pretende avaliar e que métricas se querem aplicar. No que diz respeito ainda à interpretação de dados é importante perceber que o eye tracking apenas quantifica e mostra a informação relativa aos movimentos sacádicos e às fixações, o que não implica que este tipo de dados informe o grau de atenção e compreensão de um dado elemento, uma vez que o individuo pode não estar atento ao que efetivamente está a ser focado. Por outras palavras, o eye tracking apenas indica os pontos e tempo de fixação numa determinada área ou elemento, não informa as razões pelas quais o indivíduo se focou nesse ponto. Por isso mesmo, é importante acompanhar os testes de eye tracking com outro tipo de técnicas e instrumentos de recolha de dados.

Por fim, na figura seguinte (Figura 19) encontra-se um quadro síntese das principais potencialidades e fragilidades do eye tracking, tendo em conta a análise SWOT realizada.