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Em termos demogr´aficos, podemos considerar que estamos perante uma po- pula¸c˜ao caraterizada por alguma sobre representa¸c˜ao da popula¸c˜ao feminina, 885 mulheres (52,9%) e por uma sub-representa¸c˜ao de homens – 791 (47,1%),

3 ao existe um estudo sociol´ogico ou qualquer tipo de aproxima¸c˜ao cient´ıfica a uma

carateriza¸c˜ao destas Comunidades em Portugal. Se ´e verdade que muitos estudos foram pro- duzidos sobre as Comunidades Ciganas em Portugal, n˜ao ´e menos verdade que a sua totalidade ´

e parcial e baseada em diferentes metodologias, n˜ao permitindo uma vis˜ao de conjunto fi´avel.

no total de 1673 membros de etnia cigana. Esta varia¸c˜ao ´e compreens´ıvel dado o relativo peso dos efetivos femininos no conjunto da estrutura demogr´afica portuguesa. Constata-se, igualmente, que a popula¸c˜ao cigana ´e essencialmente jovem. Cerca de 60% da popula¸c˜ao s˜ao indiv´ıduos entre os 0-24 anos de idade, englobando 39,7% de crian¸cas com menos de 15 anos de idade. ´E ainda de re- ferir que cerca de 40% da popula¸c˜ao insere-se nos escal˜oes et´arios com mais de 25 anos de idade. Esta distribui¸c˜ao indica uma forte sobrejuvenilidade relativa- mente `a restante popula¸c˜ao portuguesa, que apresenta uma pirˆamide invertida com maior popula¸c˜ao nos escal˜oes et´arios com mais idade.

O mesmo n˜ao se verifica relativamente `a popula¸c˜ao cigana apresentando uma pirˆamide normal, com maior incidˆencia nos escal˜oes et´arios mais jovens. Este fato poder´a ser justificado devido `a elevada taxa de natalidade e `a fraca pre- sen¸ca de idosos. Esta fraca ausˆencia de idosos poder´a estar relacionada com uma menor longevidade – esperan¸ca m´edia de vida - que caracteriza esta po- pula¸c˜ao. ´E ainda importante salientar que esta situa¸c˜ao poder´a estar associada `

as fracas condi¸c˜oes de habitabilidade que estas comunidades vivenciam e que tˆem, consequentemente, repercuss˜oes ao n´ıvel da sa´ude. As comunidades ciga- nas continuam a viver sem as condi¸c˜oes m´ınimas de habitabilidade, salubridade e higiene, o que acentua ainda mais a sua situa¸c˜ao de exclus˜ao social. Assim, grande parte das fam´ılias ciganas inquiridas vive em condi¸c˜oes de habitabilidade prec´arias (52,50% num total de 367).

Ao n´ıvel educacional as comunidades ciganas apresentam baixos n´ıveis de es- colaridade. Constata-se que 52.3% (48.2% dos adultos e 4,1% das crian¸cas) da popula¸c˜ao inquirida n˜ao possui nenhum n´ıvel de escolaridade, sendo de destacar que desses 52,3%, 36,9% (33,9% adultos e 3,0% crian¸cas) s˜ao iletrados. ´E ainda de assinalar que 38,3% da popula¸c˜ao adulta tem o ensino prim´ario completo e apenas 0,4% possui o ensino secund´ario completo. Neste sentido, verifica-se a incidˆencia de baixos n´ıveis de habilita¸c˜oes escolares, situa¸c˜ao que refor¸ca o contexto de forte vulnerabilidade `a exclus˜ao social que estas comunidades apre- sentam.

Em rela¸c˜ao `a sua situa¸c˜ao perante o trabalho apresenta-se maioritariamente como popula¸c˜ao inativa. Assim, 91,6% dos indiv´ıduos s˜ao inativos, destacando- se, de seguida, os desempregados/com trabalho informal com 44,3%, seguido dos indiv´ıduos com reformas e outros benef´ıcios sociais – 27,4%. ´E ainda de salientar que 8% possuem neg´ocios familiares, neg´ocios que poder˜ao estar asso- ciados a atividades espor´adicas, como por exemplo a venda ambulante e a venda em feiras. Os restantes 8,5% dos indiv´ıduos constituem popula¸c˜ao ativa, sendo 4% trabalhadores por conta pr´opria e apenas 2,4% trabalhadores por conta de outrem. Desta forma, encontramos comunidades que vivem de atividades ditas

tradicionais, e uma minoria que envereda no mercado formal de emprego.

Uma grande maioria vive ainda da venda em feiras (designada venda ambu- lante), uns porque gostam de fato do que fazem, sobretudo pelos aspetos que caraterizam esta actividade, outros porque esta ´e a ´unica a atividade a que tˆem acesso, devido ao fato de terem baixa escolariza¸c˜ao e, historicamente, ser uma atividade que correspondia a uma certa forma de nomadismo normalmente asso- ciada a esta etnia. Um dos elementos de produ¸c˜ao e reprodu¸c˜ao de pobreza e de exclus˜ao social ´e a ausˆencia da entrada das comunidades ciganas no mercado de

trabalho formal, que os dados acima retratam. Assim, estamos perante uma po- pula¸c˜ao que se carateriza por um certo analfabetismo e n˜ao inser¸c˜ao no mercado de trabalho. Esta situa¸c˜ao reduz muitos elementos das comunidades ciganas ao desenvolvimento de atividades prec´arias, ao trabalho informal e `a posi¸c˜ao de be- nefici´arios de Rendimentos Social de Inser¸c˜ao. No entanto, ´e importante referir que este cen´ario tende a modificar-se, visto que 66% das crian¸cas encontram-se a frequentar o sistema de ensino adquirindo recursos escolares para uma maior facilita¸c˜ao de integra¸c˜ao no mercado de trabalho.

Em termos de sa´ude, verifica-se que a maior parte dos inquiridos est˜ao inseri- dos no sistema nacional de sa´ude. Apesar deste ponto ser analisado no cap´ıtulo seguinte de forma detalhada, pode considerar –se que este ser´a porventura um dos principais problemas que enfrentam as comunidades ciganas. Os estudos que foram realizados (e o presente diagnostico) demonstram que o baixo n´ıvel socioecon´omico de vida das Comunidades Ciganas tem consequˆencias ao n´ıvel dos problemas de sa´ude, incluindo uma menor esperan¸ca de vida comparativa- mente com a restante popula¸c˜ao, assim como mais altos n´ıveis de m´a nutri¸c˜ao e doen¸cas. Os padr˜oes de sa´ude entre as comunidades ciganas s˜ao negativamente influenciados pelos baixos n´ıveis de instru¸c˜ao e limitado acesso aos servi¸cos e cuidados de sa´ude. Atitudes discriminat´orias e preconceituosas s˜ao um dos fatores-chave na marginaliza¸c˜ao e na exclus˜ao de alguns ciganos das campanhas e programas p´ublicos de sa´ude. As diferen¸cas culturais podem gerar, igual- mente, barreiras entre as comunidades ciganas e as institui¸c˜oes de sa´ude.