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A interven¸c˜ao junto das comunidades ciganas constitui um desafio imenso para todos os intervenientes, sejam eles os pr´oprios ciganos, a comunidade n˜ao cigana, os t´ecnicos, as institui¸c˜oes locais e nacionais, intervenientes p´ublicos ou privados. Um dos desafios mais marcantes quando se quer estudar ou saber mais sobre as comunidades ciganas na Europa ´e o facto de a informa¸c˜ao dispon´ıvel sobre estas comunidades ser limitada, imprecisa, estar dispersa em v´arios registos e as metodologias de recolha de dados ser t˜ao diversa que dificilmente se podem fazer compara¸c˜oes ou an´alises sistem´aticas, principalmente em dom´ınios essen- ciais de caracteriza¸c˜ao, que nos dˆeem indicadores sociodemogr´aficos, pol´ıticos e econ´omicos. Esta situa¸c˜ao deve-se, em grande medida, ao facto de em mui- tos pa´ıses o registo ´etnico ser proibido e em outros as estat´ısticas oficiais n˜ao conterem informa¸c˜ao sobre etnicidade ou autoidentifica¸c˜ao;3 e `a ideia genera-

lizada, entre os ciganos e outra minorias ´etnicas, que as estat´ısticas de base ´etnica possam ser mal usadas ou interpretadas e contribuir para um acentuar de estere´otipos e atitudes discriminat´orias. Em Portugal, acresce que para al´em da ausˆencia de estudos, tamb´em existe muito pouca informa¸c˜ao estat´ıstica e documental atualizada.

Portanto, uma das recomenda¸c˜oes mais relevantes do projeto ´e a necessi- dade de se fazer um levantamento exaustivo e sistem´atico sobre as comunidades ciganas a viver nos v´arios pa´ıses europeus, nomeadamente em Portugal. Este estudo iria reunir informa¸c˜ao que permitiria simultaneamente:

1. Adquirir um conhecimento mais aprofundado acerca destes cidad˜aos, de forma a promover o di´alogo intercultural, combater estere´otipos e precon- ceitos, e evitar situa¸c˜oes de vulnerabilidade e discrimina¸c˜ao.

2. Habilitar os decisores pol´ıticos com elementos necess´arios `a formula¸c˜ao de eventuais iniciativas legislativas e pol´ıticas, promotoras de uma maior in- clus˜ao destas comunidades na vida econ´omica, social e pol´ıtica dos pa´ıses. Todos reconhecemos que ´e necess´ario um enquadramento institucional com uma vis˜ao de conjunto, perspetivada num quadro legislativo e pol´ıtico que in- clua medidas concretas de cumprimento de direitos e deveres, com respeito pelas liberdades individuais e de grupo, da dignidade humana, da universalidade e da igualdade perante a lei. Este enquadramento deve ser alicer¸cado num conjunto de a¸c˜oes articuladas que conjuguem estudo/investiga¸c˜ao, com interven¸c˜ao es- trat´egica, sustentada num trabalho em rede e em parceria, independente de boas vontades e temporalidades pol´ıticas.

Sabemos que as mudan¸cas s˜ao de longo prazo e portanto a interven¸c˜ao tamb´em o tem que ser. Assim, as a¸c˜oes devem ser suficientemente duradou- ras de forma a permitirem a estabiliza¸c˜ao das solu¸c˜oes e dos comportamentos; os modelos devem ser contextualizados, experimentados, acompanhados e ava- liados.

Tamb´em sabemos que o trabalho a desenvolver com estas comunidades deve assentar sempre numa base de confian¸ca m´utua e contar com o obrigat´orio envol- vimento dos destinat´arios, no seu conjunto. Seja qual for a f´ormula pol´ıtica/ad- ministrativa que venha a ser adotada, deve consagrar formas de audi¸c˜ao e par- ticipa¸c˜ao das comunidades ciganas, no que lhes diz respeito. Neste contexto ´e extremamente relevante que as comunidades escolham os seus interlocutores, sem paternalismos nem condescendˆencias, e para isso deve apostar-se na capa- cita¸c˜ao das comunidades para que estas possam desenvolver lideran¸cas e formas de participa¸c˜ao ou interven¸c˜ao ativa, seja pelo desenvolvimento do associati- vismo, seja atrav´es de mediadores s´ocioculturais ou de outras formas.

No que diz respeito `as artes e cultura, a recomenda¸c˜ao vai no sentido de criar e dinamizar um centro de promo¸c˜ao cultural e art´ıstica das comunidades ciganas, recorrendo a parcerias internacionais. Este centro dever´a ser capaz de criar autoestima, solu¸c˜oes profissionais e preservar a cultura de um povo milenar que muitas historias ter´a para contar.

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Dossiê 2

Práticas de mediação sóciocultural e