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Relativamente ao consumo de tabaco, detecta-se que 30,1% dos inquiridos s˜ao fumadores, contemplando 3,3% de indiv´ıduos que s˜ao fumadores ocasionais. O consumo de tabaco ´e mais elevado junto da popula¸c˜ao masculina e nos escal˜oes et´arios mais jovens. Verifica-se, igualmente, uma diminui¸c˜ao deste consumo `a medida que se avan¸ca nos escal˜oes et´arios. Esta situa¸c˜ao ´e contr´aria `a res- tante popula¸c˜ao portuguesa, em que a propor¸c˜ao mais elevada de fumadores concentra-se entre os 35 e os 44 anos de idade.

No que diz respeito ao consumo de ´alcool, observa-se que apenas 37% dos inquiridos respondeu afirmativamente. Neste sentido, constata-se que a idade de in´ıcio de consumo ´e muito precoce – 12 anos. No entanto, nos homens a m´edia de idade de consumo ´e mais prematuro (cerca dos 13 anos) comparati- vamente `as mulheres que s´o ocorre por volta dos 16 anos. Contudo, em termos gerais, verifica-se que os indiv´ıduos com idades compreendidas entre os 30 e 44 anos iniciaram o seu consumo mais tarde, relativamente aos indiv´ıduos que se situam nos escal˜oes et´arios dos 16-29 anos e aos indiv´ıduos com mais de 45 anos. Em termos de exerc´ıcio f´ısico, a maior parte da popula¸c˜ao cigana (78,4%) realiza pouca ou nenhuma atividade f´ısica nos seus tempos livres. Destaca-se assim, que 33% da popula¸c˜ao inquirida n˜ao faz qualquer tipo de exerc´ıcio f´ısico e 45,4% apenas faz ocasionalmente. Salienta-se ainda que as crian¸cas apresentam n´ıveis de atividade f´ısica maiores do que a popula¸c˜ao com mais de 16 anos.

Relativamente `a alimenta¸c˜ao, o pequeno–almo¸co t´ıpico das comunidades ci- ganas inclui uma combina¸c˜ao de alimentos: p˜ao/cerais (95,6%); caf´e com leite (73,4%) ou ch´a e leite (71,6%). Os alimentos mais consumidos pelas comuni- dades ciganas s˜ao o p˜ao/cerais, a massa e o arroz. No entanto, denota-se um fraco consumo nos alimentos relacionados com os vegetais (18,3%), os legumes (12,9%) e o peixe (3,4%), sendo de destacar o maior consumo de carne (9,3%) em rela¸c˜ao ao peixe. A ausˆencia de um maior consumo de vegetais, legumes e peixe poder´a explicar a existˆencia de doen¸cas como o colesterol e a tens˜ao arterial elevada junto desta popula¸c˜ao.

Em termos de ´Indice de Massa Corporal , constata-se que 41,4% da po- pula¸c˜ao entrevistada possui peso acima do normal, 39,7% possui peso normal e, por fim, 13,7% encontra-se em situa¸c˜ao de obesidade.

Existe uma tendˆencia paulatina para o aumento do peso acima do normal a partir dos 16 anos de idade, sendo os indiv´ıduos com mais de 45 anos que apresentam a percentagem mais elevada (57,7%). Esta situa¸c˜ao, por sua vez, conduz a situa¸c˜oes de obesidade que se deve muitas vezes ao tipo de alimenta¸c˜ao que esta popula¸c˜ao tem e `a ausˆencia de exerc´ıcio f´ısico di´ario.

Atrav´es da sistematiza¸c˜ao dos principais resultados, e tendo presente os indicadores5 definidos cientificamente para aferir as desigualdades de sa´ude,

considera-se que a situa¸c˜ao de sa´ude das comunidades ciganas ´e deficiente com- parativamente `a restante popula¸c˜ao portuguesa. Aponta-se, assim como s´ıntese, 5 elementos que ressaltam deste diagn´ostico:

• As comunidades ciganas apresentam situa¸c˜oes de pobreza e de exclus˜ao social que afectam o seu estado de sa´ude. Refere-se que as doen¸cas respi- rat´orias assumem um valor importante junto destas comunidades, doen¸cas que est˜ao relacionadas com as m´as condi¸c˜oes de habitabilidade. Neste sentido, ´e necess´ario apostar numa interven¸c˜ao ao n´ıvel das condi¸c˜oes pr´evias,6 condi¸c˜oes sem as quais as interven¸c˜oes n˜ao ter˜ao o sucesso de-

sej´avel em termos de sa´ude;

• Inexistˆencia de pr´aticas de preven¸c˜ao (fundamentalmente em quest˜oes como o planeamento familiar, doen¸cas ginecol´ogicas, sa´ude oral, entre ou- tras), visto que as comunidades ciganas consideram a sa´ude como ausˆencia de doen¸ca. Por isso, s´o recorrem aos servi¸cos de sa´ude quando aparecem sintomas e em consequˆencias limitativas e de incapacidade, sendo muito dif´ıcil trabalhar o conceito de preven¸c˜ao;

• Ausˆencia de educa¸c˜ao para a sa´ude de forma a alterar alguns compor- tamentos e atitudes, predominando a resistˆencia de algumas ideias pr´e- concebidas relativamente ao corpo, `a doen¸ca, `a sa´ude e `a sexualidade. Esta situa¸c˜ao poder´a estar relacionada com o enraizamento dos costumes culturais, sendo mais dif´ıcil a altera¸c˜ao desses comportamentos;

• Ausˆencia de estilos de vida saud´aveis, como por exemplo ao n´ıvel da ali- menta¸c˜ao (inadequada alimenta¸c˜ao, alimenta¸c˜ao desequilibrada) e ausˆencia de exerc´ıcio f´ısico regular, que se reflete na elevada percentagem de in- div´ıduos com peso acima do normal e em risco de obesidade. Assim, ´e premente a realiza¸c˜ao de sess˜oes de educa¸c˜ao para a sa´ude que deve ser um processo de (in)forma¸c˜ao, de responsabiliza¸c˜ao do indiv´ıduo no sentido de adquirir os conhecimentos, h´abitos e atitudes para a defesa e promo¸c˜ao de sa´ude.

5Os indicadores s˜ao: mortalidade, morbilidade, perce¸c˜ao da sa´ude, comportamentos rela-

cionados com a sa´ude, limita¸c˜ao da atividade di´aria, acesso/utiliza¸c˜ao dos servi¸cos de sa´ude, entre outros.

6 A Organiza¸c˜ao Mundial de Sa´ude definiu em 1985 condi¸c˜oes pr´evias de sa´ude como a pre-

serva¸c˜ao da paz, alimenta¸c˜ao apropriada, condi¸c˜oes de habitabilidade suficientes, participa¸c˜ao na vida social, entre outros.

• Por fim, ´e de salientar que existe uma clara situa¸c˜ao de desigualdade entre a popula¸c˜ao cigana e a popula¸c˜ao geral, sendo necess´ario, para al´em do que foi dito anteriormente, uma mudan¸ca de atitudes e de comportamen- tos de sa´ude. Esta mudan¸ca s´o ser´a poss´ıvel contando com a colabora¸c˜ao e o envolvimento das pr´oprias comunidades ciganas e dos profissionais de sa´ude.