• Nenhum resultado encontrado

Fazendo uma breve an´alise `a hist´oria de Portugal chegamos `a conclus˜ao que a comunidade cigana ´e a comunidade ´etnica com quem os cidad˜aos portugueses convivem h´a mais tempo em territ´orio Portuguˆes, as monografias apontam para o s´eculo XIV. Mas facilmente chegamos `a conclus˜ao que esta convivˆencia nunca foi f´acil. A justi¸ca em geral e a pol´ıcia em concreto tiveram sempre um papel importante nesta correla¸c˜ao.

Esta constata¸c˜ao leva-nos a colocar algumas quest˜oes.

Como ´e poss´ıvel Portugal ainda n˜ao ter encontrado uma solu¸c˜ao adequada e eficaz de integra¸c˜ao dos ciganos nas comunidades locais em que se inserem?

Como ´e poss´ıvel que a comunidade cigana ainda n˜ao tenha a confian¸ca ne- cess´aria para se abrir a uma integra¸c˜ao que lhes proporcione apoio social e laboral?

Ser´a que a responsabilidade ´e apenas da sociedade em geral, ou dever´a ser partilhada com a comunidade cigana?

Nesta quest˜ao, onde a cultura e os aspectos sociais s˜ao fulcrais para o en- contro de solu¸c˜oes, estaremos todos, incluindo a comunidade cigana, a fazer o necess´ario?

N˜ao ter˜ao esta ambiguidade e inefic´acia do sistema transformado, instinti- vamente, esta fr´agil rela¸c˜ao num caso de pol´ıcia?

Haver´a aqui falhas de parte a parte que urge resolver, para que nem o ostra- cismo seja uma realidade em rela¸c˜ao `a comunidade cigana, nem a comunidade cigana aja com desconfian¸ca em rela¸c˜ao quer `a sociedade em geral, quer em rela¸c˜ao `as for¸cas de seguran¸ca em particular.

Agente da Pol´ıcia de Seguran¸ca P´ublica e Presidente da Associa¸c˜ao dos Profissionais da

Pol´ıcia de Seguran¸ca P´ublica.

NOTA: As opini˜oes em referˆencia advˆem de respostas verbais `as quest˜oes colocadas da mesma forma pelo autor. N˜ao s˜ao amostragens, nem foi realizado nenhum estudo.

H´a uma verdade insofism´avel: n˜ao pode integrar-se quem n˜ao quer ser inte- grado. Assim, importa acima de tudo sermos claros, e afirmar sem receios, que h´a uma esp´ecie de xenofobia rec´ıproca, que mais abaixo se explica. A comu- nidade cigana tem de abrir-se `a restante sociedade, dando a conhecer os seus h´abitos e costumes, ao passo que a sociedade tem de preparar-se para conviver com eles.

A mudan¸ca de mentalidades ´e um trabalho que leva d´ecadas, um desafio quase geracional, pelo que quanto mais tarde este trabalho for iniciado, mais tarde trar´a resultados satisfat´orios.

Importa tamb´em neste contexto de crise profunda que atravessamos, que a pr´opria comunidade cigana se proteja em rela¸c˜ao `a opini˜ao p´ublica. Que se proteja, precisamente abrindo-se, relatando o seu quotidiano e as dificuldades por que passam muitos deles, mostrando que sofrem tanto com a crise como qualquer outro cidad˜ao.

Na verdade, a maior parte das medidas adoptadas pelos sucessivos Governos na integra¸c˜ao dos ciganos na sociedade envolveram directamente, antes, durante e ap´os, os pol´ıcias.

Um exemplo bem claro foi o realojamento das fam´ılias ciganas. Onde os pol´ıcias eram e s˜ao solicitados para a resolu¸c˜ao de problemas de convivˆencia intercultural mas que a sua actua¸c˜ao, al´em de n˜ao resolver o problema, origina outros de resolu¸c˜ao complexa, at´e para os pr´oprios pol´ıcias. Situa¸c˜ao recorrente s˜ao tamb´em as ocorrˆencias de violˆencia dom´estica, nomeadamente sobre as mu- lheres aceite, n˜ao raras vezes, na comunidade cigana.

Se questionarmos um qualquer cidad˜ao sem rela¸c˜ao directa com a comu- nidade cigana, sobre o que pensa dela, a primeira imagem transmitida ´e de

medo, apontando aos ciganos:

• Grupo de pessoas `a margem da Lei; • Violentos;

• Uns dos respons´aveis pela criminalidade directamente ligada ao tr´afico, de armas ou droga;

• Vingativos;

• Utilizando a vitimiza¸c˜ao como capa de autodefesa.

Mas, ao mesmo tempo, se perguntarmos ao mesmo cidad˜ao qual o papel da pol´ıcia na interven¸c˜ao junto da comunidade cigana, a resposta ´e directa:

• Os pol´ıcias tˆem medo; • Os pol´ıcias n˜ao os fiscalizam;

• Eles sabem que se agirem, os ciganos vingam-se;

Questionando um pol´ıcia sobre o que pensa da comunidade cigana, obtemos:

• Violentos;

• Ignoram completamente as regras de funcionamento da sociedade, n˜ao respeitam as leis nem as autoridades;

• Uma comunidade que imp˜oe a sua pr´opria cultura sem olhar a meios; • Uma comunidade que utiliza a vitimiza¸c˜ao com objectivos de autodefesa. E os ciganos, qual a opini˜ao sobre a interven¸c˜ao dos Pol´ıcias:

• Para os pol´ıcias, os ciganos est˜ao sempre `a margem da Lei;

• Quando intervˆem partem sempre do pressuposto que o cigano ´e o culpado; • A pol´ıcia n˜ao respeita a nossa cultura.

Percebemos assim que a nossa sociedade est´a ainda longe do que se pretende no que diz respeito `a integra¸c˜ao da comunidade cigana. Essa distˆancia come¸ca desde logo pela dificuldade em perceber as diferen¸cas culturais e a importˆancia, para o melhor conv´ıvio, de uma consciˆencia mais aberta e mais correcta da nossa parte, mas tamb´em da comunidade cigana.

Chega-se `a conclus˜ao que, apesar de os pol´ıcias continuarem a ter um papel importante nesta quest˜ao, deix´a-los-´a numa fronteira de extrema complexidade, onde a incompreens˜ao das diversas partes poder´a condicionar o seu trabalho, com reflexos negativos.