2.3 A análise – Categorias a priori e categorias emergentes construídas a partir do
2.3.1 Categorias de análise do olhar dos sujeitos sobre as mídias
A construção das categorias de análise dos olhares dos estudantes da disciplina sobre as mídias partiu, em consonância com nossos referenciais teóricos e metodológicos, de uma divisão inicial entre olhares sobre o polo da produção midiática, os textos midiáticos e as audiências e processos de recepção dessas produções. Assim, inicialmente, na primeira etapa de descontrução e unitarização dos textos produzidos pelos estudantes, identificamos unidades de significado e sentido que associamos a cada um desses focos, sendo que, considerando nossa opção pelo uso de categorias não mutuamente exclusivas, como comentado anteriormente, cada unidade pôde ser relacionada a mais de uma categoria.
A partir desse processo, como registrado no Quadro 4, identificamos trechos dos textos produzidos pelos estudantes associados ao polo da produção midiática com as seguintes categorias a priori extraídas de nosso referencial teórico para a análise dos olhares sobre o polo da produção midiática: presença de reflexões sobre as instituições midiáticas e suas interações com aspectos de poder social, econômico e institucional; presença de reflexões sobre a produção consciente dos textos midiáticos; e presença de reflexões sobre as tecnologias utilizadas para produzir e distribuir textos midiáticos. A partir da aproximação, com o uso dessas categorias, de unidades de sentido e significado extraídas de textos de diferentes estudantes para uma mesma síntese, foi possível identificar semelhanças e divergências que, operando como categorias intermediárias, guiaram a comparação entre a produção dos estudantes para diferentes sínteses e, também, entre os conjuntos de produções de estudantes diferentes e, assim, o refinamento das categorias em direção ao conjunto de categorias iniciais e finais utilizadas. Assim, por exemplo, em relação à categoria inicial referente à presença de reflexões sobre as instituições midiáticas e suas interações com aspectos de poder social, econômico e institucional, a impregnação com os materiais produzidos pelos estudantes nos permitiu identificar um tratamento das instituições midiáticas e de suas relações com outros atores e instituições relacionado à identificação de
motivações e interesses, sendo que parte dos estudantes associava tais motivações e interesses apenas a contextos internos às indústrias midiáticas, parte a ingerências de instituições externas sobre a mídia e parte a contextos institucionais mais amplos. Processo análogo foi realizado em relação às demais categorias iniciais referentes aos olhares sobre as mídias – produção, textos e audiências –, bem como na etapa de análise dos relatórios produzidos pelos grupos de estudantes, resultando nos conjuntos de categorias apresentados nos quadros 4, 5, 6 e 7.
Quadro 4 – Categorias iniciais1 e finais utilizadas na análise dos olhares sobre o polo da produção da mídia
Categorias iniciais Categorias finais
Presença de reflexões sobre as instituições midiáticas e suas interações com aspectos de poder social, econômico e institucional
Motivações e interesses tratados em contexto interno às indústrias midiáticas
Motivações e interesses tratados como ingerências de instituições externas à mídia Motivações e interesses tratados em contexto institucional amplo
Presença de reflexões sobre a produção consciente dos textos midiáticos
Autoria atribuída exclusivamente a indivíduos
Autoria atribuída exclusivamente a instituições midiáticas
Autoria atribuída a indivíduos e instituições midiáticas
Autoria relacionada a contexto institucional amplo
Reconhecimento da produção consciente sem elementos para análise da atribuição de autoria
Presença de reflexões sobre as tecnologias utilizadas para produzir e distribuir textos midiáticos
Tecnologias utilizadas na produção midiática associadas à quantidade de informações disponíveis na atualidade
Tecnologias utilizadas na produção midiática associadas a questões de poder e hegemonia Tecnologias utilizadas na produção midiática associadas a diferenças nos produtos midiáticos
Presença de reflexões sobre a regulação da produção e distribuição das mídias
Presença de reflexões sobre a regulação da produção e distribuição das mídias
Categorias iniciais Categorias finais
Presença de reflexões sobre processos de representação nos textos midiáticos
Reconhecimento de que há processos de representação Apenas reconhecimento de que há processos de representação Reconhecimento de processos de representação em relação à visão de Ciência veiculada Crítica às mitologias da neutralidade e dos resultados Crítica à associação de interesses a uma Ciência desinteressada
Reflexões sobre reivindicações de veracidade e/ou autenticidade nos textos midiáticos
Reflexões sobre reivindicações de veracidade e/ou autenticidade nos textos midiáticos
Reflexões sobre viés e objetividade nos textos midiáticos
Reflexões sobre presenças e ausências de vozes e/ou grupos sociais nos textos midiáticos
Reflexões sobre presenças e ausências de vozes e/ou grupos sociais nos textos midiáticos
Reflexões sobre diferentes formas de representar grupos sociais específicos
Reflexões sobre diferentes formas de representar grupos sociais específicos
Presença de reflexões sobre as linguagens utilizadas nos textos midiáticos
Reconhecimento de que há uso intencional da linguagem nos textos midiáticos
Apenas reconhecimento de que há o uso intencional da linguagem
Reflexões sobre uso de diferentes linguagens em diferentes mídias Reflexões sobre uso de diferentes linguagens em diferentes mídias
Reflexões sobre convenções, códigos e gêneros das linguagens midiáticas e como são estabelecidos
Reflexões sobre convenções, códigos e gêneros das linguagens midiáticas e como são estabelecidos
Reflexões sobre diferentes linguagens utilizadas para produzir diferentes sentidos
Reflexões sobre os efeitos das
linguagens sobre os sentidos Reflexões sobre quais são os efeitos das linguagens sobre os sentidos produzidos Reflexões sobre os efeitos das
tecnologias sobre os sentidos
Reflexões sobre quais são os efeitos das tecnologias sobre os sentidos produzidos
Reflexões sobre como convenções, códigos e gêneros diferentes produzem sentidos distintos
Reflexões sobre como convenções, códigos e gêneros diferentes produzem sentidos distintos
Quadro 6 – Categorias iniciais1 e finais utilizadas na análise dos olhares sobre as audiências como vulneráveis e passivas e/ou críticas e ativas
Categorias
iniciais Categorias finais
Compreensão das audiências como vulneráveis e passivas
Atribuição da vulnerabilidade/passividade com foco em características da produção e dos textos midiáticos
Atribuição da vulnerabilidade/passividade com foco em características das próprias audiências
Atribuição da vulnerabilidade/passividade com foco em características da produção, dos textos midiáticos e das próprias audiências
Compreensão das audiências como críticas e ativas
Presença de reflexões indicando elementos que favorecem a transformação de audiências vulneráveis e passivas em críticas e ativas
Atividade pela possibilidade de expressão
Capacidade de crítica associada à ideia de “vontade de crítica” Capacidade de crítica associada à capacidade de identificação da “verdade”
Capacidade de crítica associada à disponibilidade de “ferramentas” de distinção
Capacidade de crítica associada à negociação de sentidos
Quadro 7 – Categorias iniciais1 e finais utilizadas na análise dos olhares sobre o papel das diferenças sociais no comportamento das audiências, os usos das mídias e as audiências como públicos-alvo
Categorias iniciais Categorias finais
Presença de reflexões sobre o papel das diferenças sociais no comportamento das audiências
Apenas registro de que há diferenças Diferenças relacionadas à idade
Diferenças relacionadas ao acesso à informação
Diferenças relacionadas ao acesso à infraestrutura (computadores e Internet) Diferenças relacionadas ao acesso à educação Diferenças relacionadas a contextos políticos, econômicos, históricos e sociais
Presença de reflexões sobre usos das mídias
no cotidiano Uso das mídias no cotidiano como relação de dependência Uso para autoexpressão
Uso de dispositivos técnicos e tecnologias Uso para acesso à informação
Uso para compreensão da realidade
Uso para participação nas decisões da sociedade
Tratamento da dimensão de uso das mídias por prazer
Presença de reflexões sobre audiências como públicos-alvo
Apenas reconhecimento de que audiências são “miradas” como alvos
Audiências como alvos para estímulo ao consumo
Tratamento de ações voltadas ao conhecimento das audiências para definição de estratégias da mídia
Associação de características das mídias à busca por audiência
Audiências como alvos para
consolidação/reprodução de visões de mundo 1Adaptadas de Buckingham, 2003; Kellner, 2001; Kellner, 2009; Kellner; Share, 2008.
2.3.2 Categorias de análise das concepções e expectativas em relação à inserção das mídias