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Instituições midiáticas e suas interações com aspectos de poder social,

3.1 O olhar sobre as mídias – Produção, Textos e Recepção

3.1.1.1 Instituições midiáticas e suas interações com aspectos de poder social,

Dos 18 estudantes que abordaram o polo da produção midiática, 12 ofereceram elementos relacionados à compreensão de como olham para as instituições midiáticas e para suas interações com aspectos de poder social, econômico e institucional. Destes, seis restringem-se a registrar motivações e interesses das instituições midiáticas em um contexto interno às próprias indústrias midiáticas, ou seja, sem relacionar essas indústrias a outras instituições. O Licenciando T fala em

“mídias que vendem a ciência [...] apenas para vender mais jornais”. Já o Licenciando Q trata da concentração da propriedade dos meios de comunicação – que associa à possibilidade de manipulação da informação – e, como vemos no excerto reproduzido abaixo, menciona uma “filosofia” própria de uma emissora de televisão. Porém, como os elementos dessa “filosofia” não são apresentados, tampouco são explicitadas as motivações e os interesses que conformam tais elementos, prevalece a ideia de uma prática direcionada por uma empresa midiática isolada de outros atores sociais:

“Obviamente a rede [Globo] possui uma filosofia, ou seja, a informação chega até nós, mas não necessariamente os focos apontados por ela serão totalmente neutros.” (Licenciando Q)

Os Licenciandos D e P, embora associem as motivações e interesses da mídia ao controle de informações com fins de estímulo ao consumo, não registram explicitamente a relação entre a indústria midiática e o contexto econômico em que esse estímulo ao consumo se insere, mantendo-se, assim, uma perspectiva interna à própria mídia. O Licenciando D, por exemplo, afirma que a mídia controla as informações “para criar uma linha de desejos e ideias visando lucro próprio” e que:

“Em muitos casos a mídia vem remodelando o mundo e suas pessoas colocando vontades em elas mesmas, manipulando a grande massa e fazendo que as pessoas se tornem meros compradores de seus produtos colocados como desejos [...].” (Licenciando D)

O Licenciando K também trata das motivações e interesses da mídia em associação a aspectos econômicos, ao falar em “homogeneização comercial” ao tratar da concentração de propriedade dos meios de comunicação e consequentes escolhas daquilo que ganha visibilidade nas mídias, mas, da mesma forma como os licenciandos D e P, trata dessas motivações e interesses sem relacioná-los a outras instâncias de poder. Por fim, o Licenciando A, embora destaque a importância da discussão sobre “os interesses da mídia com a informação científica noticiada”, não elenca esses interesses e associa esse reconhecimento da existência de interesses a uma dimensão apresentada como fundamentalmente técnica (e não, portanto, penetrada por questões de ideologia e poder), ao destacar os critérios de noticiabilidade abordados durante as aulas da disciplina apresentando-os como “técnicas de noticiabilidade” objetivas, naturalizadas,

dissociadas de interesses subjetivos e/ou institucionais, como exemplificado no excerto reproduzido a seguir:

“[...] na sala de aula pudemos conhecer alguns parâmetros que os fatos possuem que o tornam ‘mais noticiável’ [...] e também estudamos algumas técnicas para aprimorar a notícia [...].” (Licenciando A, grifos nossos)

Em outro momento, o Licenciando A afirma que a mídia “dá preferências para uma cultura capitalista e neoliberal”, destacando assim a dimensão da realização de escolhas, de seleções e, consequentemente, ocultações na produção midiática; porém, as motivações e interesses que justificam tais “preferências” também nesse caso parecem ser próprios da mídia.

Em outros seis casos, aparecem reflexões sobre as interações das instituições midiáticas com outras instituições. Porém, em dois deles, embora sejam estabelecidas essas relações, instituições externas são apresentadas como fazendo ingerências sobre a mídia. O Licenciando I afirma que “governos e empresas controlam e censuram parte dos conteúdos que são expostos nas mídias para que seus interesses sejam preservados”, em uma construção bastante semelhante à do Licenciando L, sendo que esta última pode inclusive dar a entender – frente à relação causal estabelecida entre tais ingerências e a parcialidade das informações veiculadas – que, caso não houvesse tais ingerências, a mídia poderia ser mais neutra e imparcial:

“Ela [a mídia], ao mesmo tempo em que oferece algo bom à sociedade, como fluxo livre de informações; oferece também algo ruim pela imposição de empresas e governo, como restrição e seleção do fluxo dessas mesmas informações. Por causa disto, deve-se tomar muito cuidado com o que se vê na mídia e ficar atento, pois nem tudo que se passa ou se ouve num meio de comunicação é imparcial.” (Licenciando L)

Já nos outros quatro casos, as motivações e interesses que têm impacto sobre a prática midiática são inseridos em contextos institucionais mais amplos. O Licenciando N associa “intenções” presentes nas notícias aos “contextos políticos, econômicos, históricos e sociais” nos quais elas são escritas (e lidas), sem detalhar essa relação. Já o Licenciando F associa a parcialidade das notícias a um “objetivo específico de favorecer de alguma forma um patrocinador, empresa ou instituição”. Na produção do Licenciando E, identificamos um tratamento da mídia como elemento constitutivo do poder econômico, na formulação: “Não é de se negar que a economia tem na mídia um poder muito forte sobre nosso dia a dia [...].”. O Licenciando E relaciona esse poder que a mídia representa para a economia com a sua estrutura institucional e, mais especificamente, com a concentração de propriedade dos meios de comunicação, ao falar em “redes de TV dominantes” que, além de se configurarem como

principais fontes de informação para grandes estratos da população, estariam buscando também o domínio sobre os meios emergentes – particularmente a Internet – para preservarem sua hegemonia. Em outro momento, ao abordar a produção de notícias sobre Ciência e Tecnologia, destaca a importância do olhar para o “contexto de produção da notícia”, que “induz a sua elaboração e divulgação”, mencionando como exemplo a corrida espacial da Guerra Fria:

“Um grande exemplo seria a corrida espacial entre EUA e a velha União Soviética nos anos 80, que acabou tomando grandes proporções que ultrapassavam o âmbito da notícia.” (Licenciando E)

Por fim, também especificamente em relação às notícias sobre Ciência e Tecnologia, o Licenciando B registra que a produção dessas notícias sofre impactos de interesses tanto da mídia quanto dos responsáveis pela produção das pesquisas que são divulgadas.

Um resumo das abordagens detalhadas nesta subseção está apresentado no Quadro 13.

Quadro 13 – Olhar sobre o polo da produção da mídia nas sínteses – Resumo das abordagens das instituições midiáticas e de suas interações com aspectos de poder social, econômico e institucional

Categoria inicial Categorias finais Ocorrências (Licenciandos)

Presença de reflexões sobre as instituições midiáticas e

suas interações com

aspectos de poder social, econômico e institucional

Motivações e interesses tratados em contexto interno às indústrias midiáticas

A, D, K, P, Q, T Motivações e interesses tratados

como ingerências de instituições externas à mídia

I, L Motivações e interesses tratados em contexto institucional amplo

B, E, F, N