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3.1 O olhar sobre as mídias – Produção, Textos e Recepção

3.1.1.2 Produção consciente dos textos midiáticos: uma questão de autoria

Associadas à questão dos interesses e motivações da indústria midiática, nas produções de 14 licenciandos aparecem formulações que indicam o reconhecimento de que os textos midiáticos são produzidos conscientemente (sendo que, destes 14 licenciandos, 10 abordaram as motivações e interesses que impactam a produção midiática). Nas produções de 10 desses 14 licenciandos, esse reconhecimento de uma produção consciente dos textos midiáticos pode ser associado a uma ideia de atribuição de autoria, seja a indivíduos, a instituições midiáticas ou em relação a um contexto institucional mais amplo. Dois outros licenciandos apenas registram que há uma produção consciente e, em dois outros casos, essa produção consciente parece estar relacionada a uma ideia de “compromisso com a verdade”.

Nas produções de três dos 10 licenciandos que relacionam a produção consciente a uma noção de autoria, o tratamento dessa dimensão da autoria é feito em relação apenas a indivíduos. O Licenciando O indica essa compreensão ao mencionar a “opinião do autor” em oposição a “fatos”. Já o Licenciando N, embora utilize a ideia de contexto de produção, constrói sua formulação de que há uma autoria da notícia de modo que também parece evidenciar a compreensão de que há um indivíduo isolado responsável por essa produção sendo influenciado por esses contextos, ao mencionar a importância da reflexão sobre “quais as intenções e contextos de quem está por trás daquela notícia” (grifo nosso). O Licenciando I, por sua vez, fala na Ciência veiculada por “jornalistas” e afirma que “existem pessoas modelando a informação”.

Em outros dois desses 10 casos em que associamos a identificação do reconhecimento de que há uma produção consciente dos textos midiáticos à ideia de autoria, a autoria é relacionada à instituições midiáticas. Isso porque o Licenciando Q associa a produção consciente dos textos midiáticos à “filosofia” de uma empresa de mídia (como já registrado na Seção 3.1.1.1) e o Licenciando D a um “império da mídia” e a uma “rede global da mídia”, enfatizando, assim, também as empresas midiáticas. Em uma perspectiva um pouco diferente, as produções de três outros licenciandos trazem evidências da atribuição da dimensão de autoria da construção das produções midiáticas a indivíduos em interação com empresas de mídia. O Licenciando R, por exemplo, indica a percepção da autoria associada a indivíduos isolados ao registrar que a

imparcialidade não é possível, “mesmo a pessoa querendo ser o mais imparcial possível”, bem como que o fato se transforma “dependendo de por quem ele passa”. Porém, em outros momentos, fala que a notícia será elaborada “da forma como aquele veículo quer passar adiante” e de acordo com as características “que a mídia achar conveniente”. Já o Licenciando A, embora destaque, no texto produzido para a Síntese 1, a existência de “opiniões autorais” nas informações veiculadas pela mídia, bem como fale nos interesses de “quem conta” a informação – construções que parecem indicar destaque ao papel de indivíduos na conformação da produção midiática –, enfatiza, ao longo de todo o texto produzido para a Síntese 2, como já abordado anteriormente, o papel que “técnicas de noticiabilidade” têm na determinação da visão de Ciência que aparece na mídia, indicando assim também a compreensão de que há fatores compartilhados na indústria midiática que influenciam o modo como esses indivíduos realizam suas escolhas. De modo semelhante, o Licenciando H também fala na importância de se refletir sobre “quem veiculou a informação” – o que denota a existência de um indivíduo –, mas, em texto também produzido para a Síntese 2, trata a mídia de forma mais abrangente, como um todo coerente em relação ao modo como retrata a Ciência.

Outra compreensão sobre uma autoria consciente da produção midiática identifica essa autoria a contextos institucionais mais amplos do que aquele restrito à indústria midiática e aos indivíduos que a integram. Ou seja, aparece a ideia de que o texto decorre de operações de seleção e ocultação determinadas não por um autor específico, mas pelos contextos em que se dá a produção midiática. O Licenciando B, apesar de também falar da produção consciente em termos de “quem” está noticiando, aborda depois a presença de “pontos de vista” da própria mídia, das instituições científicas, da política, e o Licenciando E, de modo semelhante, relaciona os próprios meios de comunicação, juntamente com instituições políticas e econômicas, às “transformações que um texto sobre ciência pode sofrer”.

Nas produções de quatro outros licenciandos, foi possível encontrar evidências de um reconhecimento de que a produção midiática é consciente, sem que pudéssemos identificar a quem é atribuída a autoria dessa produção. Em dois desses casos, no entanto, o reconhecimento da produção consciente vem associado a reflexões que parecem indicar uma ideia de que a conformação dos textos midiáticos é decorrente da presença ou ausência de um compromisso possível com a verdade dos fatos. No produção do Licenciando U, por exemplo, identificamos evidências da compreensão de que a notícia é uma construção determinada pela presença ou

ausência da preocupação em “trazer fatos verídicos ou em fazer especulações com dados não tão expressivos”, o que pode resultar em notícias parciais ou imparciais. Assim, nessa formulação, notamos a concepção de que a notícia pode ser imparcial, algo próximo de um retrato da realidade, desde que haja a preocupação em “trazer fatos verídicos”. Também na produção do Licenciando L – que, como registrado na Seção 3.1.1.1, em outro momento tratou a questão do impacto de interesses sobre a produção midiática em termos de ingerências externas sobre a mídia – está presente essa abordagem em termos de “verdade”, ao registrar que a abordagem da Ciência na mídia “nem sempre será verídica, completa e relevante”.

Um resumo das abordagens detalhadas nesta subseção está apresentado no Quadro 14.

Quadro 14 – Olhar sobre o polo da produção da mídia nas sínteses – Resumo das abordagens da produção consciente dos textos midiáticos

Categoria inicial Categorias finais Ocorrências (Licenciandos)

Presença de reflexões sobre a produção consciente dos textos midiáticos

Autoria atribuída exclusivamente

a indivíduos I, N, O

Autoria atribuída exclusivamente a instituições midiáticas

D, Q Autoria atribuída a indivíduos e

instituições midiáticas

A, H, R Autoria relacionada a contexto

institucional amplo

B, E Reconhecimento da produção consciente sem elementos para análise da atribuição de autoria

F, L, P, U

Total de estudantes em cujas produções houve ocorrências: 14