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8.3 Causas de exClusão da Culpabilidade

No documento Livro Proprietario Estácio Direito Penal 1 (páginas 89-92)

No nosso ordenamento jurídico haverá exclusão da imputabilida- de penal nas seguintes hipóteses: a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (CP, art. 26); b) embriaguez completa e involuntária — decorrente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28, § 1º); c) dependência a substância entorpecente (Lei n. 11.343/2006, art. 45, caput); d) intoxicação involuntária por substância entorpecente (Lei n. 11.343/2006, art. 45, caput); e) menoridade (CP, art. 27, e CF, art. 228).

As quatro primeiras fundam-se no chamado sistema (ou critério) biopsicológico. A última, no biológico.

Sistema biopsicológico: além da causa (“bio”), é necessário o efeito (“psico”). Explica-se: além de o sujeito ser doente mental, estar com- pleta e involuntariamente embriagado etc. (que é a causa ou origem do problema), é preciso que, ao tempo da conduta (ação ou omissão), não tenha capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- -se de acordo com esse entendimento (como consequência do problema).

Sistema biológico ou etiológico: a última causa de exclusão da im- putabilidade — a menoridade — é puramente biológica. Isso porque é de todo indiferente pesquisar o efeito, bastando identificar-se a causa; ou seja, basta que o sujeito seja menor de 18 anos para que se considere inimputável, sendo totalmente irrelevante investigar se o sujeito sabia o que fazia (tinha noção de certo e errado) e podia controlar-se (capacida- de de autodeterminação).

Sistema psicológico: por meio desse sistema, que não foi adotado entre nós, bastaria o efeito para caracterizar a inimputabilidade; o por- quê seria irrelevante.

Todas as causas de exclusão da imputabilidade devem fazer-se pre- sentes no exato momento da conduta. O requisito temporal é funda- mental. Em tese, portanto, é possível que alguém seja são no momento da conduta e, depois, tenha suprimida, em virtude de doença mental, a capacidade de entender e querer. Responderá normalmente pelo crime.

O exame do requisito temporal dá ensejo a outro questionamento. Qual a solução quando alguém propositadamente se coloca numa situ-

biblioTeCa

Para aprofundar o tema da me- noridade, indicamos as obras Curso de direi­ to da Criança e do adoles­ cente: aspectos teóricos e prá­ ticos, coorde- nado por Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade Maciel, Editora Saraiva. estatuto da Crian­ ça e do ado­ lescente: lei n. 8.069/1990 co­ mentada artigo por artigo, de Luciano Alves Rossato, Paulo

Eduardo Lépore e Rogério San- ches Cunha, Editora Saraiva. direito penal de

adolescentes: elementos para uma teoria ga­ rantista, de Kary- na Batista Spo- sato.

VoCabulÁRio

inimputabilidade é a ausência de características pessoais ne- cessárias para que possa ser atribuída a alguém a responsa- bilidade por um ilícito penal.

ação de inimputabilidade para cometer o crime, considerando que, no momento da conduta, terá afastada a capacidade de autodeterminar-se? É o caso do sujeito que voluntariamente se deixa hipnotizar para o fi m de cometer o crime, ou se embriaga com esse mesmo propósito. Aplica- se a teoria da actio libera in causa (ação livre na causa), pela qual o agente responde pelo resultado produzido, uma vez que, ao se autocolocar no estado de inimputabilidade, tinha plena consciência do que fazia. Im- portante advertir que o sujeito só responderá pelo crime se na causa (ação livre) estiver presente o dolo ou a culpa ligados ao resultado. Em outras palavras, o resultado posterior que se pretende imputar ao agente deve ter sido, ao menos, previsível quando da ação livre (hipnose ou embriaguez, p. ex.).

Como ensina Damásio de Jesus: “A moderna doutrina penal não aceita a aplicação da teoria da actio libera in causa à embriaguez comple- ta, voluntária ou culposa e não preordenada, em que o sujeito não pos- sui previsão, no momento em que se embriaga, da prática do crime. Se o sujeito se embriaga prevendo a possibilidade de praticar o crime e acei- tando a produção do resultado, responde pelo delito a título de dolo. Se ele se embriaga prevendo a possibilidade do resultado e esperando que ele não se produza, ou não o prevendo, mas devendo prevê-lo, responde pelo delito a título de culpa. Nos dois últimos casos, é aceita a aplicação da teoria da actio libera in causa. Diferente é o primeiro caso, em que o sujeito não desejou, não previu, nem havia elementos de previsão da ocorrência do resultado” (Direito penal: parte geral, v. 1, p. 513).

a) Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou re- tardado (CP, art. 26)

A doença mental, ou desenvolvimento mental incompleto ou re- tardado, se aliada à falta de capacidade de compreender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, produz a inimputabilidade.

Três são os requisitos: biológico (a causa, ou seja, a doença mental etc.); psicológico (o efeito, ex., a supressão das capacidades de entendi- mento ou autodeterminação); temporal (ocorrência dos requisitos an- teriores no exato momento da conduta).

O sujeito que, nessa hipótese, praticar um crime será absolvido. Trata-se de absolvição imprópria, pois a ele se aplicará uma medida de segurança.

Se, por outro lado, presente a causa, o agente não tiver suprimida mas simplesmente diminuída a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de autodeterminar-se, aplica-se o parágrafo único do art. 26 (“semi-imputável”). A ele poderá ser imposta a pena pelo crime pratica- do, diminuída de 1 a 2/3, ou uma medida de segurança (art. 98), confor- me se afi gure mais adequado ao juiz, em função da necessidade ou não de especial tratamento curativo.

O silvícola inadaptado ao convívio com a civilização, assim como o surdo-mudo alijado da cultura, pode enquadrar-se no art. 26, caput ou parágrafo único, de acordo com o caso concreto.

VoCabulÁRio

silvícola é que ou quem nasce ou vive na selva, selvagem.

Direito Penal

91 Obs.: a expressão “semi-imputável”, apesar de corrente, não é ade- quada; isso porque se o agente possui, ainda que reduzidamente, a capa- cidade de entendimento ou de autocontrole, é imputável, embora com culpabilidade diminuída (daí o fato de a lei determinar que ele receba pena reduzida e, excepcionalmente, no caso de necessidade de tratamen- to, uma medida de segurança).

b) Embriaguez completa e involuntária (decorrente de caso fortuito ou força maior) (CP, art. 28)

Somente a embriaguez (intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool) completa e involuntária exclui a culpabilidade. Há três es- tágios de embriaguez: 1º) excitação; 2º) depressão; 3º) sono (letargia). Considera-se completa a embriaguez nas duas últimas fases, pois ela re- tira por completo a capacidade de discernimento do agente.

O sujeito pode embriagar-se voluntariamente (quando tem a inten- ção de fazê-lo) ou de forma culposa (excesso imprudente no consumo de bebida alcoólica). Nessas hipóteses não incide o dispositivo em exame, que pressupõe embriaguez involuntária, ou seja, oriunda de caso fortui- to (quando se ingere substância cujo efeito inebriante era desconhecido) ou força maior (quando se é fisicamente forçado a consumir álcool ou substância de efeitos análogos). Aos casos de embriaguez voluntária, do- losa ou culposa, aplica-se a teoria da actio libera in causa.

Juridicamente, a embriaguez completa e involuntária enseja absol- vição própria, por exclusão da culpabilidade. Se o comprometimento da capacidade de compreensão ou autodeterminação for apenas parcial, incidirá uma causa de diminuição de pena, de 1 a 2/3 (CP, art. 28, § 2º).

A embriaguez pode, ainda, ter os seguintes efeitos: a) imposição de medida de segurança, no caso de embriaguez patológica (o alcoolismo é equiparado a doença mental, sendo tratado na forma do art. 26 do CP); b) imposição de agravante genérica (CP, art. 61, II, l), quando houver embriaguez preordenada (o agente se embriaga propositadamente para cometer o crime).

c) Dependência ou intoxicação involuntária por substância entor- pecente

O art. 45, caput, da Lei de Tóxicos (Lei n. 11.343/2006) dispõe: “É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determi- nar-se de acordo com esse entendimento”. Nesse caso, “quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste arti- go, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado” (parágrafo único).

d) Menoridade (CP, art. 27, e CF, art. 228)

Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, aplicando- -se-lhes a legislação pertinente: Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA). biblioTeCa penas e Medi­ das de segu­ rança no direito penal brasileiro, de Salo de Car- valho, Editora Saraiva. O livro aborda os pro-

blemas nucleares da justificação e da aplicação das penas e das medidas de segurança.

O adolescente (pessoa com mais de 12 e menos de 18 anos comple- tos) que pratica um fato defi nido como crime ou contravenção penal incorre, nos termos do ECA, em ato infracional, sujeito às chamadas medidas socioeducativas (internação, semiliberdade etc.).

“O limite de idade deve ser fi xado de acordo com a regra do art. 10, 1ª parte: ‘O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo’. Se o fato é cometido no dia em que o sujeito comemora 18 anos, responde por crime, pois não se indaga a que hora completa a maioridade penal. A partir do primeiro instante do dia do aniversário surge a maioridade” (Damásio de Jesus, Direito penal: parte geral, v. 1, p. 506).

8.4

a iNexiGibilidade de CoNduTa diVeRsa CoMo Causa supRaleGal

No documento Livro Proprietario Estácio Direito Penal 1 (páginas 89-92)