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Linhas mestras da imputação objetiva segundo roxin

No documento Livro Proprietario Estácio Direito Penal 1 (páginas 58-60)

5.7 SiSTEmA FuNCioNALiSTA 5.7.1 introdução

5.7.3. Linhas mestras da imputação objetiva segundo roxin

Roxin afi rma que a imputação objetiva possui as seguintes linhas mestras (que correspondem a três níveis de imputação): criação de um risco relevante e proibido + realização do risco no resultado + resultado dentro do alcance do tipo.

5.7.3.1. Criação de um risco relevante e proibido

Para que exista imputação objetiva o agente tem de produzir (ou au- mentar) um risco relevante e proibido, caso contrário (i. e., riscos irrele- vantes, permitidos ou diminuídos), ter-se-á um fato penalmente atípico.

a) Riscos irrelevantes

Os riscos gerais da vida são irrelevantes penalmente. Quem se apro- veita de tais riscos não pode ser considerado como responsável pelo re- sultado. Este não será obra sua, mas desses riscos gerais da vida (ex.: aquele que instiga alguém a praticar um esporte radical ou a fazer uma viagem de carro numa estrada perigosa não pode ser responsabilizado pela morte da pessoa, ainda que tenha desejado esse resultado).

b) Riscos permitidos

A criação de riscos permitidos afasta a imputação objetiva do re- sultado (e, como consequência, a responsabilidade penal). Assim, por exemplo, os riscos autorizados em face de sua utilidade social, como o decorrente do tráfego de automóveis (de acordo com as regras de trânsi- to), a correta utilização da lex artis (no caso da Medicina, da Engenharia etc.), a prática de esportes, entre outros.

Também se entendem por risco permitido as situações às quais se aplica o princípio da confi ança:

I) confi ança de que a conduta de terceiros realizada na sequência será conforme o direito. Exemplo: o motorista que conduz pela via pre- ferencial confi a que o outro irá aguardar sua passagem; se isso não acon- tece, não se pode imputar àquele que trafegava na via principal respon- sabilidade alguma pelo acidente, ainda que fosse possível a ele evitá-lo, por exemplo, dando a passagem ao outro motorista;

II) confi ança de que aquele que realizou uma conduta preceden- te cumpriu corretamente seu papel. Exemplo: o médico que utiliza um

Direito Penal

59 material cirúrgico confia que seus assistentes o esterilizaram correta- mente; caso isso não tenha ocorrido, o médico não poderá responder pela infecção contraída, cabendo tal responsabilidade exclusivamente aos seus assistentes.

c) Diminuição do risco

Quando alguém realiza um comportamento que diminui um risco proibido e relevante gerado por terceiro, não age de modo contrário ao direito e, por óbvio, não será responsabilizado criminalmente por sua conduta. Exemplo: a pessoa que consegue convencer um ladrão a sub- trair mil reais em vez de cinco mil não responde por furto, embora tenha influenciado no ato do furtador.

5.7.3.2. Realização do risco proibido e relevante

no resultado

Quando houver a criação de um risco relevante e proibido, será pre- ciso verificar se ele efetivamente se produziu no resultado, a fim de que este possa ser imputável objetivamente ao autor.

a) Causas imprevisíveis (cursos causais extraordinários) Não se pode imputar a alguém um resultado quando o agente não tinha con- trole sobre o desenrolar causal dos acontecimentos. O responsável pelo atropelamento de um pedestre não responde pela morte deste se ela se deu por conta de um incêndio no hospital. Esta hipótese é expressamen- te solucionada em nosso CP, no art. 13, § 1º.

b) Riscos que não tiveram nenhuma influência no resultado (que teriam ocorrido de qualquer maneira)

Quando se verifica que o resultado teria ocorrido de qualquer modo, ainda que o agente empregasse a diligência recomendada, não se pode imputar a este objetivamente o resultado produzido. Exemplo: o fabricante de um pincel com pelo de cabra deixa de fornecer equipa- mentos adequados de proteção individual a seus funcionários que vêm a contrair uma infecção letal; comprova-se, posteriormente, que se tratava de um bacilo até então desconhecido, cujo contágio seria inevitável, ain- da que todos os equipamentos e normas técnicas de segurança fossem observados.

c) Resultados não compreendidos no fim de proteção da norma É preciso verificar qual a finalidade da norma de cuidado, vale dizer, o que ela visava proteger. Para que haja imputação objetiva, será preciso que o agente tenha produzido um resultado compreendido dentro do fim de proteção da norma. Exemplo: há uma norma que exige dos ciclis- tas, durante à noite, que se utilizem de um farol. Essa norma tem como finalidade evitar acidentes pessoais. Se dois ciclistas andam com farol apagado, e o que vai à frente é abalroado por um caminhão, não se pode imputar esse resultado ao outro ciclista, ainda que se demonstrasse que o fato de ele ter utilizado o farol evitaria a morte do ciclista que seguia à frente. A norma de proteção visa evitar acidentes pessoais, e não de terceiros.

5.7.3.3. Risco compreendido no alcance do

tipo

Há casos em que, mesmo tendo-se verifi cado a realização de um risco proibido no resultado, constata-se que, no caso concreto, “o al- cance do tipo, o fi m de proteção da norma inscrita no tipo (ou seja, da proibição de matar, ferir, danifi car etc.) não compreende resultados da espécie do ocorrido, isto é, quando o tipo não for determinado a im- pedir acontecimentos de tal ordem. Esta problemática é relevante em especial nos delitos culposos” (Claus Roxin, Funcionalismo e imputação

objetiva no direito penal, trad. Luís Greco, p. 352). Em termos de crimes

dolosos, há três hipóteses em que se aplica o critério ora exposto: a) autocolocação dolosa em perigo; b) heterocolocação consentida em pe- rigo; c) âmbito de responsabilidade de terceiros.

a) Autocolocação dolosa em perigo

A vítima que se coloca dolosamente numa situação de perigo ex- clui, com essa atitude, a responsabilidade de terceiros pelas lesões que vier a sofrer. Exemplo: a pessoa que pratica contato sexual desprotegida com um portador do vírus HIV, ciente dessa circunstância, afasta a res- ponsabilidade do parceiro decorrente do contágio venéreo.

b) Heterocolocação consentida em perigo

A mesma solução se aplica quando a vítima consente em que ou- trem a coloque numa situação de perigo, como no caso de quem pede carona a um motorista visivelmente embriagado, vindo a ferir-se num acidente automobilístico.

c) Responsabilidade de terceiros

A responsabilidade de terceiros no resultado afasta a imputação ob- jetiva de quem deu início ao processo causal. É o caso do erro médico. Para Roxin, quando o erro substitui o perigo gerado, só o médico res- ponde pelo resultado (ex.: a morte do paciente por choque anafi lático afasta a responsabilidade pelo óbito de quem havia lesionado o falecido). Quando, por outro lado, o erro não impede a realização do resultado, é preciso distinguir se o médico agiu com culpa leve (hipótese em que haverá responsabilidade do médico e da pessoa que havia provocado as lesões no falecido) ou culpa grave (só o médico responde).

5.7.4. A imputação objetiva segundo Jakobs

No documento Livro Proprietario Estácio Direito Penal 1 (páginas 58-60)