pEssoa, Erro na ExEcuÇÃo
(ABERRATIO CRIMINIS)
Dá-se quando a falsa percepção da realidade incide sobre dados ir-
Descriminantes putativas • Espécies
a) por erro de tipo: dá-se quan- do o equívoco incide sobre os pressupostos de fato da exclu- dente.
b) por erro de proibição: verifi ca- -se quando a falsa percepção da realidade incide sobre os limites legais (normativos) da causa de justifi cação. Exemplo: um executado reage à penho- ra feita por um ofi cial de justiça, por entendê-la, equivocada- mente, injusta.
• Natureza jurídica
1) Para a teoria extremada da
culpabilidade, ambas consti- tuem erro de proibição.
2) Para a teoria limitada da culpa- bilidade, a descriminante puta- tiva por erro de tipo confi gura erro de tipo, e a outra, erro de proibição.
Teoria adotada pelo CP: limi- tada da culpabilidade (item 17 da Exposição de Motivos da Parte Geral do CP).
Direito Penal
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relevantes da figura típica. Encontra-se previsto nos arts. 20, § 3º, 73 e 74
do CP.
Subdivide-se em: a) erro sobre o objeto material, que pode ser erro sobre a pessoa ou erro sobre a coisa; b) erro na execução, que pode ser
aberratio ictus ou aberratio criminis; e c) erro sobre o nexo de causalidade.
Nesses casos, o agente, apesar do equívoco, percebe que pratica o crime; justamente por esse motivo, o erro não o beneficia.
Erro sobre o objeto material
O objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta. Há, portanto, erro sobre a pessoa (error in persona) e erro sobre o objeto (error in objecto).
a) Erro sobre a pessoa
Pressuposto: o agente atinge pessoa diversa da que pretendia ofen- der (vítima efetiva), pois a confunde com outra (vítima visada). Exem- plo: o sujeito mata um sósia do inimigo, pensando tratar-se de seu algoz. Efeito: não beneficia o agente, devendo ele responder como se tives- se atingido a vítima visada (CP, art. 20, § 3º). Assim, se pretendia matar seu pai, mas atingiu desconhecido (porque o confundiu com seu geni- tor), responde pelo crime de homicídio (simples ou qualificado, confor- me o caso), com a agravante genérica do art. 61, II, e, do CP.
b) Erro sobre o objeto
Pressuposto: a conduta do sujeito recai sobre coisa diversa da ima- ginada. Exemplo: alguém subtrai sacas de arroz acreditando tratar-se de milho.
Efeito: não beneficia o agente, respondendo ele pelo crime praticado. c) Erro na execução do crime
Há duas modalidades de erro na execução: aberratio ictus e aberra-
tio criminis.
1ª) Aberratio ictus (erro na execução ou desvio no golpe) — art. 73 do CP. Característica: o sujeito erra nos meios de execução (“erro-inabi- lidade”), de tal forma que atinge pessoa diversa da pretendida.
Espécies:
a) com unidade simples ou resultado único: em face do erro na exe- cução, o agente acaba por atingir apenas pessoa diversa da pretendida (a pessoa que queria atingir é chamada de vítima virtual e a pessoa atingida é chamada de vítima efetiva);
— consequência: a solução é a mesma do art. 20, § 3º, ou seja, o agente responde pelo crime como se tivesse atingido a vítima pretendida (vítima virtual);
b) com unidade complexa ou resultado duplo: o agente, além de atingir a vítima efetiva, atinge a vítima virtual;
— consequência: aplica-se a regra do concurso formal. Apura-se a capitulação jurídica de cada crime, segundo o elemento subjetivo do agente, e faz-se a exasperação das penas.
Para falar em aberratio ictus com resultado duplo, pressupõe- -se que a pessoa diversa da pre- tendida tenha sido atingida por erro (culpa), pois, se houver dolo, ainda que eventual, não se estará diante da figura do art. 73.
curiosiDaDE
Erro de tipo acidental: dá-se quando a falsa percepção da realidade incide sobre dados irre- levantes da figura típica. Encon- tra-se previsto nos arts. 20, § 3º, 73 e 74 do CP.
• Subdivide-se em:
a) Erro sobre o objeto material, que pode ser erro sobre a pes- soa (art. 20, § 3º, do CP) ou so- bre a coisa.
b) Erro na execução, que pode ser aberratio ictus ou aberratio
criminis (arts. 73 e 74 do CP).
c) Erro sobre o nexo de causalida- de.
• Efeito: nesses casos, o agente, apesar do equívoco, percebe que pratica o crime; justamente por esse motivo, o erro não o be- neficia.
aTEnÇÃo
As modalidades de erro so- bre a execução e sobre o nexo causal são chamadas pela doutri- na de delitos aberrantes.
Diferença entre o erro sobre a pessoa e a aberratio ictus (erro na execução): “O erro sobre a pessoa surge no momento da formação da vontade e nisso se distingue da aberratio ictus, que surge no mo- mento da execução da vontade” (Paulo José da Costa Júnior, Comen-
tários ao Código Penal, p. 380-382, apud Luiz Flávio Gomes, Erro de tipo e erro de proibição, p. 126). Além disso, no erro sobre a pessoa,
a vítima visada nem sequer chega a ser ameaçada com a conduta do agente.
2ª) Aberratio criminis (resultado diverso do pretendido) — art. 74 do CP
Pressuposto: o erro do agente também está nos meios executórios. No entanto, em vez de atingir pessoa diversa da pretendida, acaba por atingir bem jurídico diverso do pretendido (daí o nomen iuris: resultado diverso do pretendido).
Exemplo: o agente atira uma pedra contra uma vidraça e acerta uma pessoa (só responde por lesão corporal culposa, fi cando absorvida a tentativa de dano).
Espécies:
a) com unidade simples ou resultado único: só atinge o bem jurídi- co diverso do pretendido; para falar em aberratio criminis pressupõe-se que o bem jurídico diverso tenha sido atingido por erro (leia-se: culpa), pois, se houve dolo, ainda que eventual, deve o agente responder pelo crime na forma dolosa, não se aplicando o art. 74;
— consequência: só responde pelo resultado produzido e, mesmo assim, se previsto como crime culposo;
b) com unidade complexa ou resultado duplo: atinge o bem jurí- dico que almejava e outro, diverso do pretendido, por erro na execução;
— consequência: concurso formal.
9.5
rEsulTaDo DivErso Do prETEnDiDo (ABERRATIO CRIMINIS)
Dá-se quando o agente pretende atingir determinado resulta- do, mediante dada relação de causalidade, porém obtém seu intento mediante um procedimento causal diverso do esperado, mas por ele desencadeado e igualmente eficaz. Exemplo: João, pretendendo ma- tar seu inimigo, joga-o de uma ponte, na esperança de que, caindo no rio, morra por asfixia decorrente de afogamento; a vítima, no entanto, falece em virtude de traumatismo cranioencefálico, pois, logo após ser lançada da ponte, sua cabeça colide com um dos ali- cerces da estrutura.
Se o resultado diverso do pre- tendido não for previsto em lei como crime culposo ou for me- nos grave que a conduta em si, não se aplica a regra do art. 74. Exemplo: o agente atira na vítima e não a acerta, atingindo apenas uma vidraça. Aplicando-se a re- gra do art. 74, deveria responder somente pelo resultado, se previs- ta a forma culposa. Ocorre que não há crime de dano culposo no CP, de modo que isso implicaria a não responsabilização do agen- te. Nesse caso, a ele deve ser im- putada uma tentativa branca de homicídio. Se assim não fosse, um fato atípico (dano culposo) ab- sorveria um fato típico (tentativa de homicídio).
Direito Penal
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