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CAPÍTULO 2 – INDÚSTRIA TÊXTIL

2.4 Cenário Atual do Setor Têxtil

Atualmente, o complexo têxtil brasileiro tem dado continuidade ao processo de reestruturação e modernização de todo seu parque fabril e das formas de gestão de seus sistemas produtivos, intensificado após a abertura comercial, a fim de ampliar a capacidade de competição do País neste setor, além de aumentar sua representação no mercado externo por intermédio de um esforço organizado de crescimento das exportações de artigos têxteis. Assim, esse torna-se o principal desafio para esta década de 2000: ampliar consideravelmente os volumes de exportação, de itens de maior valor agregado, para todos os mercados internacionais.

De acordo com dados da Abravest (2001), o parque fabril têxtil brasileiro tem cerca de 900 mil máquinas. Porém, nos anos de 2002, 2003 e 2004, foram descartadas 165 mil e adquiridas outras 232 mil máquinas. Isto confirma o movimento de renovação do parque fabril brasileiro. Na verdade, o descarte de 165 mil máquinas não significa necessariamente que foram inutilizadas, mas provavelmente, a maior parte foi revendida ao mercado interno informal. Segundo informa a associação acima citada, a média anual de investimentos do setor em máquinas é de US$ 154,5 milhões. Média esta que deve subir, pois, de acordo com as macro-metas para o setor, definidas no Fórum competitividade da cadeia têxtil, apresentam investimentos, em modernização e expansão da capacidade produtiva do setor, da ordem de US$12,5 bilhões para o período entre os anos de 2002 e 2011.

Segundo o Relatório Setorial da Indústria Têxtil brasileira (2006), no segmento de têxteis (fios, malhas e tecidos) tanto o número de produtores quanto o número de empregados, têm se mantido em níveis estáveis desde o ano de 2000, mesmo com as grandes reduções desses índices, que ocorreram na década de 90. Já no segmento de confeccionados o número

de empregados teve grandes reduções no período, certamente em decorrência do processo de modernização e renovação do parque fabril.

Na Figura 2.2 são apresentados dados relacionados aos investimentos feitos em máquinas têxteis desde a década de 90.

684 1053 638 610 511 419 559 650 0 200 400 600 800 1000 1200 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 2005 U S $ m il h õ es

Figura 2.2 – Investimentos em máquinas têxteis. Fonte: ABIMAQ/SECEX apud IEMI. (2006).

Entre 2005 e 1990, o processo de renovação do parque fabril das empresas da cadeia produtiva têxtil consumiu recursos da ordem de US$ 10,5 bilhões, o equivalente a US$ 656 milhões por ano, em média. O pico de investimento no ano de 1995 é reflexo dos impactos causados pela abertura comercial no ano anterior, evidenciado o atraso significativo em que o setor se encontrava, neste período, a reação direta foi o direcionamento de grande fluxo de recursos monetários para aquisição de equipamentos mais modernos e ampliação dos índices de produtividade e qualidade internamente.

Em paralelo ao processo de modernização do parque fabril, pela importação de máquinas de eficiência superior, busca-se melhorar o desempenho dos resultados por intermédio de uma gestão conjunta de toda a cadeia de suprimentos, do conceito de supply

chain management (SCM), estabelecer uma produção de forma coordenada entre os diversos segmentos que compõem a cadeia produtiva têxtil com o objetivo de reduzir as ineficiências e criar melhores condições para suportar as pressões da forte concorrência internacional.

Nos últimos anos o País tem aumentado suas participações no mercado internacional, novamente no ano de 2005, como já havia ocorrido em 2004, o setor têxtil bateu seu recorde de exportação, entre artigos têxteis e confeccionados foram ao todo US$ 2,2 bilhões em

exportações. Por outro lado, as importações também aumentaram alcançando US$ 1,5 bilhões. Com este resultado, houve um crescimento de US$ 27 milhões no saldo da balança comercial em relação ao ano de 2004.

Com relação à distribuição regional da produção de artigos têxteis no Brasil, pode-se constatar pela Figura 2.3 que existe uma concentração significativa nas regiões Sul e Sudeste. Comparando-se os anos de 1990 e 2005, durante esse período houve reduções nas regiões Norte e Sudeste, no entanto, esta ainda permanece com a maior concentração de empresas do setor, o que é compreensível considerando-se o maior número de consumidores, assim como, as maiores redes de distribuição de artigos têxteis do País.

1,60% 18,50% 47,30% 30,90% 1,70% 0,90% 56,80% 26,80% 2,20% 13,20% norte nordeste sudeste sul C. Oeste 1990 2005

Figura 2.3 - Participação das indústrias por regiões produtivas. Fonte: IEMI (2006).

As empresas do sudeste brasileiro concentram a produção de artificiais e sintéticos, desde os grandes produtores de matérias-primas (viscose, poliester, náilon, elastano, dentre outros) até as pequenas e médias tecelagens, malharias e confecções. Enquanto isso, no sul, estão reunidos produtores de malhas, cama, mesa e banho de grande e médio porte, bem como confecções de pequeno porte que atendem às demandas. Esta transação é feita por contratos de terceirização, de grandes empresas tradicionais. É necessário ressaltar que o algodão ainda é a matéria-prima principal nesta região, assim como destacar o crescimento da região nordeste, onde houve grande fluxo de investimentos em plantas modernas, dotadas de equipamentos de última geração, voltadas para produção em alta escala de commodities, que vão desde a fiação até a confecção, com intuito de aproveitar os atraentes incentivos fiscais oferecidos pelos governos estaduais, além de uma mão-de-obra barata e abundante encontrada

na região. A região centro-oeste também teve sua concentração ampliada principalmente devido à grande oferta de algodão como matéria-prima, posto que, nos últimos anos os campos de plantação de algodão foram significativamente ampliados na região, com destaque para o estado de Mato Grosso.

Para Campos et al. (2000), no caso da indústria têxtil, a reestruturação produtiva pode ocorrer dentro do contexto de localização industrial. O processo de relocalização está intimamente aliado à reestruturação produtiva. Muitas vezes, a reestruturação envolve o abandono de plantas obsoletas. É natural que a montagem da nova planta ocorra em regiões onde os fatores competitivos ligados à localização de indústrias apresentem-se favoráveis. Em outros termos: as firmas, na busca de maior competitividade, empreendem medidas de reestruturação produtiva que, no limite, podem envolver a escolha de novas localizações nas quais os fatores estruturais e sistêmicos sejam melhores. Isto explica a transferência de algumas indústrias do sul/sudeste para o nordeste.

Na região sul destaca-se o estado de Santa Catarina, em especial o Pólo do Vale do Itajaí, como o Estado de maior tradição na produção de artigos têxteis em tecido de malha de algodão, e apesar da grande evolução das fibras sintéticas e artificiais no mundo, o Estado permanece fiel à sua vocação original de fabricar artigos de malha de algodão.

Apesar da política econômica conservacionista, adotada pelo atual governo de esquerda, quanto à manutenção de elevadas taxas de juros associadas a uma das maiores cargas tributárias do planeta, o complexo têxtil brasileiro alcançou avanços representativos em sua produtividade em virtude do grande esforço de reestruturação e modernização de toda a cadeia produtiva têxtil. A qualidade dos produtos associada a melhores níveis de serviço e adequação ambiental também evoluiu. Além disso, o país tem custos competitivos, em comparação aos seus concorrentes internacionais, principalmente em termos de energia elétrica e mão-de-obra, conforme relata Gorini (2000).

Contudo, o complexo têxtil brasileiro ainda apresenta um parque fabril ultrapassado em comparação aos principais concorrentes internacionais, assim como relatado por Cherem (2004). A cadeia produtiva nacional perde em organização para os fornecedores asiáticos, destacando-se a falta de iniciativa no sentido de estabelecer parcerias estratégicas entre empresas, voltadas para criação de uma rede integrada de fornecimento, consumo e desenvolvimento de produtos, assim como é feito nos paises asiáticos. Tais alianças são estratégicas sob o ponto de vista da cadeia produtiva como um todo, em que se busca a

eficiência global de todo processo de transformação têxtil. Ao invés de desenvolvimentos localizados na cadeia, haja vista o fato de os elos intermediários deficientes fragilizarem a capacidade competitiva de toda a cadeia.

No próximo item, a composição da cadeia produtiva têxtil é apresentada, com ênfase ao segmento correspondente à indústria têxtil, composto pelas etapas produtivas de fiação, malharia, tecelagem e beneficiamento e ambiente escolhido para o desenvolvimento deste trabalho de pesquisa.