• Nenhum resultado encontrado

O centro de mensagens

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 75-80)

O CENTRO DE MENSAGENS

Duas entidades luminosas, em um centro de informações localizado em plano superior aos níveis vibratórios mais próximos da crosta terrena, recebiam as últimas notícias das regiões umbralinas onde todos estes eventos ocorriam.

Era um local destinado à captação de todas as emissões energéticas com origem nos pensamentos e emanações articuladas em forma de oração pelos encarnados sobre o mundo e, igualmente, daqueles Espíritos sem o corpo físico que estagiavam na escura e densa região astral, imediatamente ligada aos interesses materiais mais grosseiros. Sintonizavam, pois, tanto com os que se achavam em aflições quanto com aqueles que para lá se dirigiam em tarefas salvadoras, no encalço de amigos, parentes ou tutelados que ali demonstrassem algum tipo de transformação, sempre expressada na modificação de seu potencial magnético e pelo tipo de energia emitida.

O centro de mensagens daquele núcleo de trabalhos congregava uma infinidade de servidores espirituais, dando um destino apropriado a cada uma das inúmeras ligações magnéticas identificadas, desde a sua procedência, o seu emissor, as suas condições, os seus compromissos pessoais, o estado atual de compreensão, os níveis magnéticos positivo ou negativo, o teor de sua manifestação — se em forma de pedido, de clamor, de rogativa, de imposição, de louvor, de agradecimento, de reclamação, de lamúria, etc. — seu estágio expiatório de provação, de tarefa — se se tratava de alguém ligado pessoalmente com aquela colônia espiritual, tudo isso era observado pelos trabalhadores espirituais que tinham a seu cargo a recepção, organização e encaminhamento aos canais competentes de todos os tipos de ligação mental partidas dos seres humanos em estágio no planeta terreno, naquela região sob sua competência e responsabilidade.

Assim, com pequena ficha em suas mãos, cujas reduzidas dimensões não faziam supor o tão grande volume de informes e inscrições que continham, o instrutor espiritual tecia comentários com o companheiro de tarefas, ambos diretamente ligados aos problemas de nossas personagens.

— Como pode ver, meu caro Magnus, o Presidente está se esmerando em buscar vingança contra seus antigos comparsas.

— Sim, nobre instrutor, a velha e repetida fórmula que vêm mantendo os seres humanos enredados em si mesmos pela incompreensão do poder libertador do perdão.

— Muito bem observado, Magnus. Quando os homens entenderem o quanto o perdão vivenciado com sinceridade é fonte de consolação e de bênçãos para aquele que o fornece, abreviarão uma enormidade de sofrimentos que se enraízam em cada um que, mais do que não esquecer, cultiva a dor pessoal como um fungo venenoso no próprio coração.

— Mas você acha, instrutor Félix, que chegará a ocasião em que as pessoas conseguirão captar a importância dessa conduta íntima? São tantos séculos, para não dizermos milênios, em que cada um se permite cristalizar a resposta agressiva, herdada dos seres primitivos de onde evoluímos... — comentou Magnus.

— Você acaba de tocar o assunto mais importante de nossa trajetória. Nós evoluímos, meu filho. Um dia também estivemos dividindo o mesmo espólio fumegante conquistado em guerras que mataram, escravizaram e feriram a muitos, mas que, irremediavelmente, abriram abismos dentro de nossa alma, de culpa, de remorso, de angústias. E tanto quanto as peças de ouro e prata que carregávamos para nossos tesouros, tivemos que guardar, no escrínio de nossa consciência, os gritos desesperados de nossas vítimas, as lágrimas de crianças trucidadas pelos nossos cavalos ou carros de

combate, as maldições de tantos que morriam por causa de nossa volúpia de poder. Chega sempre, Magnus, o momento em que tudo isso pesa demais dentro de nós. Dessa forma, primeiramente a criatura precisa cansar de carregar esse fardo para que pense em se livrar dele e adotar outro tipo de carga menos difícil. E para isso, o tempo é aliado indispensável.

Conosco também foi assim e, como você pode ver, vencemos, ao menos em parte, nossos equívocos.

E na questão da vingança encontramos uma das mais baixas manifestações do primitivismo em nosso ser essencial. Quando feridos, somos defrontados com nossos atos de ontem, a ferirmos nossas vítimas, a destruirmos e causarmos dores sem conta a tantos quantos estivessem em nossa frente, interpondo-se entre nossas ambições e nossos objetivos. Por isso, os ataques que temos que suportar são decorrência da Lei de Causa e Efeito, que se originou da liberdade de agir, produzindo os resultados que se voltam contra o agente, tanto no bem quanto no mal.

No entanto, quando nos prendemos à vingança, ao remorso, à mágoa, depois de termos recolhido a nossa cota de dor, como herança de nossos atos perante o Tribunal da Justiça Celeste, estamos agindo, novamente, com a mesma liberdade de outrora e, ao invés de conseguirmos melhorar um pouco as coisas, nos endereçamos por segunda vez à condição de algozes de nós mesmos por desejarmos ver o sofrimento daquele que nos fez sofrer.

Repetimos a conduta infeliz, demonstrando pouco ou nada termos aprendido com os efeitos funestos de nossas atitudes destrambelhadas. Se pedimos ou arquitetamos vingança, demonstramos ser igualmente belicosos e não estarmos preparados para a compreensão de princípios mais elevados de viver.

Para evoluirmos em processo vertical em direção da superioridade precisamos abdicar, desistir, renunciar ao animal interior que pede o revide pela agressão recebida, porquanto nos níveis superiores da vida, a condição espiritual se dirige no rumo da angelitude e, por mais que busquemos maneiras de vislumbrar os anjos de nossas tradições religiosas, jamais os encontraremos a pedir vingança para seus inúmeros sofrimentos, muitos dos quais, ao contrário, deixaram suas imagens heróicas de renúncia e devotamento, retratados que são até hoje com as cicatrizes gloriosas, conquistadas no martírio inocente, rogando perdão para os seus algozes.

Sem desejar interromper os ensinamentos de Félix, Magnus pensava em tudo o que ouvia, alinhavando idéias na direção da questão afetiva que lhes cabia avaliar.

E sem que precisasse das palavras articuladas do amigo aprendiz, o benevolente instrutor se manifestou, acertadamente, sobre a questão, dizendo:

— E em relação ao sentimento, meu filho, as questões da violência e da vingança são ainda mais candentes do que em relação às guerras torpes de conquista.

No sentimento, os homens guerreiam. Armam estratégias de batalha, se municiam com um arsenal inumerável, adotam fantasias ou disfarces para melhor enganar as suas vítimas, disputam cada palmo do território conquistado, exercitam-se para estar em forma, fazem propaganda de sua causa para atrair o apoio moral dos seus companheiros, atiram suas armas sem medo nem dó, desprezam as vítimas de seus ataques e se apossam, quando pensam ter vencido, do prêmio decorrente de seus esforços, como algo que lhes pertencesse cor direito, como acontecia ao vencedor de outrora.

Mas aquele que perde, em geral, inconformado com a derrota, geralmente se entrincheira no ódio, na desastrosa mágoa corrosiva e, por sua vez, articula o contragolpe, se possível mortal, a ser desferido contra seus oponentes.

Nessa atmosfera se acham todos os que são considerados homens e mulheres nas lutas da conquista afetiva, guerreiros que, em nome de um amor que dizem nutrir,

espalham ódios, divisões, enganos, mentiras, agressão, más palavras, calúnias, jogando com a afetividade alheia para obterem alguma vantagem pessoal.

E quando atingem seus objetivos, depois de destruírem relações estáveis, depois de atearem fogo ao sossego de outros relacionamentos, cassam a ter que suportar as exigências da nova conquista, agora sob sua tutela, ao mesmo tempo em que precisam administrar o ódio dos perdedores e as suas estratégias de ataque para destruírem a nova situação afetiva implantada.

Por isso, muita gente, depois de abandonada pelo companheiro ou companheira, adotando a postura da vingança, ao invés de reconstruir sua vida em outras bases mais luminosas e limpas, entregando os que partiram ao destino que os irá educar, se compromete a fazer a infelicidade dos que fugiram ao compromisso.

Muitos dizem: se não for para ser feliz ao meu lado, não será feliz ao lado de ninguém. Se não é para estar comigo, vou mover céus e terras para acabar com eles. Não pensem que vão me deixar aqui, na solidão, enquanto vão ficar sorrindo de felicidade por aí, como dois pombinhos apaixonados, isso é que não.

Se o abandono os feriu como efeito de um pretérito comprometido na área do afeto, quando suas outras vidas passadas testemunharam suas condutas irresponsáveis, produzindo, agora, o sofrimento da solidão para aprenderem o amargor de tal comportamento, ao adotarem o caminho da vingança, voltam a cair na mesma condição de agressores, de espalhadores do mal, de semeadores de tragédias.

E isso é assim em todos os setores da vida.

O Presidente, como você pode ver, está estendendo seus tentáculos de vingança porque se viu traído.

Para isso, está usando seu potencial de inteligência e organização, imaginando que o mundo se esgote em seu quintal e que o Universo não seja dirigido por forças Soberanas e Justas. Por mais que pareça estar no caminho "de conseguir seus intentos, chegará o momento em que precisará enfrentar as forças de Deus, representadas não mais por um exército de anjos empunhando espadas flamejantes, mas, sim, pelas leis que governam a vida e que não reconhecem a vingança como uma das manifestações do Criador.

E, na paciência com que administra as sandices dos humanos imaturos, o Criador, pelas mãos do Venerável Mestre Jesus, busca nos educar através dos espinhos que plantamos.

Você pode imaginar outro método mais justo e sábio de nos fazer despertar senão o de nos surpreendermos com os efeitos de nossas próprias escolhas?

Por isso, que a expressão Pedagogia é muito bem aplicada quando se refere ao modo como o Pai encaminha seus filhos para a evolução, porquanto em sua raiz grega original, pedagogo é o CONDUTOR DE CRIANÇAS.

Crianças como nós, birrentas, caprichosas, teimosas, mas capacitadas para nos tornarmos anjos um dia.

Buscando ampliar os aprendizados daquela hora, Magnus indagou do instrutor sobre até que ponto o Presidente continuaria a agir sem que as forças do bem se interpusessem em seu caminho.

— Bem, meu filho, as estratégias de Deus são um pouco diversas daquelas que os homens tolos costumam usar, porquanto o Criador não se importa em perder algumas batalhas, desde que ganhe a guerra. E até hoje não me consta nenhuma Guerra em que o Bem tenha sido derrotado. O Presidente está contando com as forças que encontrou em seus próprios aliados, sem se aperceber de que seus esforços estão gastando suas próprias estruturas. Somente quem se liga à fonte do Universo se mantém sempre abastecido e harmonizado para lutar sem ser levado à exaustão.

Todos os outros tipos de lutas são, apenas, a manifestação do mal a consumir-se a si próprio e a espalhar ferimentos na carne ou na energia dos próprios maldosos. Por isso, deixando que se entretenham com suas pequenas estratégias, Deus os está ajudando a que se cansem de brincar com a pólvora do mal, exatamente por se queimarem com suas explosões imprevisíveis.

Além do mais, a ação do Bem está sempre por cima de tudo, vigiando os efeitos desse processo sobre cada um dos envolvidos e, o logo algum deles demonstre ter modificado seu rumo de pensamentos e sentimentos, estaremos prontos a atendê-los diretamente.

E você não pode se esquecer dos trabalhadores devotados que estão a campo para ajudar em todos os ambientes, suportando os toques vibratórios mais intensos para nos trazerem os feridos e cansados da luta que apresentem a rendição incondicional, arrependendo-se das antigas posturas de crueldade e vingança.

Há representantes do Bem em todas as partes e, se de imediato, parecer que o Mal está galopando enquanto o Bem rasteja, é porque as pessoas não imaginam que o cavalo em que o Mal galopa amarrado pelas rédeas que o Bem produziu.

Na hora certa elas serão puxadas e as coisas serão restabelecidas, com o maior número de salvados que for possível conseguir.

Essa estratégia também é usada no meio dos homens quando desejam desbaratar um grande núcleo do crime organizado.

Muitas vezes, se prendem o primeiro corrupto que encontram pela frente, alertam todos os demais, que fogem como ratos prestes a serem capturados, frutando a ação policial.

Por isso, muitas operações dos representantes da Justiça Humana já têm adotado esse outro modo de proceder. Vão dando corda aos integrantes da quadrilha que, pensando-se seguros em sua conduta vão demonstrando como é que funciona a sua organização criminosa, quem é que obedece, como é a escala de comando até que se possa entender quem é o seu chefe e quem o está sustentando. Assim, passam-se meses, anos até, nessa luta paciente de escutar suas comunicações, seguir com discrição os seus passos, observar sua estrutura de funcionamento em pleno ato criminoso, filmar suas ações, documentar seus golpes e, na hora certa, organizar o cerco com uma grande quantidade de força intimidatória e desbaratar o bando inteiro, colocando-o nas prisões e encerrando o esquema do crime.

Ao invés de se ocupar com o pequeno ratinho que roia a corda do navio, a ação inteligente acaba apreendendo o próprio navio, onde estão todos os ratos, incluindo o próprio capitão do barco.

O Bem sabe agir e, esteja certo, Magnus, tudo está sob sua supervisão integral. Entendendo as afirmativas do instrutor, sempre sereno e oportuno em suas palavras esclarecedoras, saíram ambos do ambiente onde o trabalho de recepção das orações continuava sem interrupção, dando seqüência às suas atividades de amparo àquele contingente de almas que recorriam à fonte do Universo para que, de uma forma ou de outra, exercitassem suas ligações com a Bondade do Pai, ainda que, muitas vezes, através da oração, pedissem a vingança divina contra algum de Seus próprios filhos.

Enquanto isso, na superfície da Terra, nossas personagens se preparavam para uma nova semana de atividades do viver, inigualável fonte de experiências e aprendizagem que garantirá a todos eles noções mais exatas sobre as responsabilidades do afeto e os efeitos diretos de suas escolhas.

Letícia se esmerava na vestimenta mais provocante, sem chegar ao exibicionismo. Marcelo se direcionava, agora, para a aproximação de Sílvia.

Sílvia, alimentada pelas vibrações lascivas, estaria diante daquele cuja imagem lhe teria estimulado os prazeres íntimos nos sonhos e sensações do final de semana.

Marisa, atribulada com o planejamento de sua estratégia, a fim de se tornar melhor e mais atraente do que Gláucia, a mesma que lhe havia revelado a autorização que dava ao noivo para que a trocasse cor outra, se essa outra se apresentasse em condições de fazê-lo mais feliz. No entanto, enquanto Gláucia deixara bem claro que seu interesse era pela felicidade do noivo, Marisa se preocupava em conquistá-lo com vistas à felicidade dela própria, resumindo esse esforço em uma apresentação física mais interessante, mais exuberante, mais chamativa, improvisada sobre a antiga maneira egoísta de se conduzir, como criança que quer tudo para si, sem medir as conseqüências de seus atos para conquistar.

Camila seguia com seu proceder rotineiro, gostando do joguinho de sedução que começara com Marcelo, no qual se colocava no centro das atenções do rapaz, jogando-lhe as migalhas tão apreciadas pela vaidade masculina, representada por alguns elogios e por uma certa forma frágil de ser, posicionando-se na dependência das atenções do rapaz.

Leandro, Alberto e Ramos se mantinham em suas rotinas normais, ao passo que o Departamento Trevoso, que se edificava na atmosfera fluídica daquele suntuoso escritório, estava cada vez mais concorrido nos trabalhos de vingança que eram solicitados por Espíritos infelizes e insensatos, afastados da compreensão das verdadeiras leis da vida e que, depois de atendidos, se viam vinculados ao mal que haviam requerido.

Somente Glauco e Gláucia não estavam envolvidos nessa trama sórdida, protegidos pela inocência e pelas formas mais elevadas de entenderem as coisas do Espírito.

Como pode perceber o leitor querido, tudo isto estava acontecendo, envolvendo a ambos, sem que de nada suspeitassem.

Certamente poderão pensar que se trata de uma injustiça e que o Bem deveria protegê-los contra as ações clandestinas do Mal.

E, como vocês poderão perceber, o Bem sempre protege a todos, mas, mais do que isso, procura ensinar a cada um dos que o aceitam, que os Bons devem demonstrar que aprenderam a usar a Bondade como a maior proteção de si mesmos.

Nesse sentido, Glauco e Gláucia estavam indo no bom caminho.

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 75-80)