• Nenhum resultado encontrado

Marcelo e Camila tecem sua teia

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 179-191)

MARCELO E CAMILA

TECEM SUA TEIA

Enquanto estas coisas envolviam Marisa, Marcelo passara a examinar muito bem as novas perspectivas.

Enlevado pelo sentimento crescente por Camila, desejava conseguir, agora, atingir não mais um só objetivo. Não almejava, apenas, retirar Leandro de seu posto confortável e vantajoso, mas, igualmente, elevar-se na consideração da bela colega de profissão, através das posturas corajosas que mostrassem sua liderança.

Sabia que tal oportunidade não se renovaria com muita facilidade e que, dentro da sorte que parecia lhe sorrir, deveria empenhar-se para tirar o melhor proveito.

Ainda mais agora, que se havia aproximado das outras mulheres do escritório, ponderava na possibilidade de colocá-las ao seu lado, de forma a contar com o apoio decisivo de todas para a modificação das estruturas administrativas do escritório.

Quanto a Marisa, já não mais se preocupava com ela. No momento adequado, iria romper a união que já não tinha mais sentido de existir.

Graças ao empurrão inicial que a esposa lhe dera, descobrira outras companhias e, longe até de odiar a mulher que se fizera indiferente, Marcelo pensava em lhe agradecer a postura que o permitira descobrir uma nova visão do mundo afetivo.

Agora voltara a ter o coração aquecido pela emoção nova da conquista de uma outra pessoa tão ou mais bela do que a própria esposa.

Além do mais, as suas práticas sexuais haviam sido retomadas na companhia das outras duas colegas, abastecendo-se das emoções físicas ao mesmo tempo em que se sentia orgulhoso de ser, igualmente desejado tanto por Sílvia quanto por Letícia.

Marisa já não lhe fazia mais nenhuma falta.

Mantinha sempre a mesma postura e se deixara levar pelas futilidades de uma vida sem sentido, coisa que não acontecia com Camila. Com esta, podia sentir a emoção de um amor que se completava na harmonia da compreensão e da divisão dos mesmos interesses, já que os dois trabalhavam na mesma atividade e podiam, assim compartilhar as mútuas alegrias e dificuldades, aproximando-se pela comunhão da mesma linguagem e pela vivência no mesmo universo jurídico.

. Ao mesmo tempo, precisava voltar a avistar-se com Letícia, para quem sua presença era a do audaz cavaleiro, do homem longamente esperado, do varão corajoso que acolhe a dama aflita e frágil.

Sim. Letícia, apesar de adulta para as questões profissionais guardava em seu íntimo, como já vimos, a fragilidade do afeto, o vazio do sentimento, sempre na ansiedade de ser preenchido pela presença do príncipe encantado.

E Marcelo, com a sua forma de ser, seu modo seguro e sua beleza apreciável, correspondia ao seu sonho.

O rapaz, sabendo do interesse de Letícia graças à fatídica noite no apartamento da jovem, nas íntimas confissões que escutara de seus lábios, o quanto ela sonhara com aquele momento desde os primeiros dias quando se encontraram no escritório, tinha a noção exata do quanto sua personalidade masculina era importante nos sentimentos da moça

Apesar dos cuidados que ambos se prometeram para que, no ambiente profissional, ninguém pudesse suspeitar de seus encontros alegando Marcelo que sua condição de casado não permitia tal exposição perante os demais colegas, durante os dias que se seguiram ao encontro íntimo com Letícia, de forma cuidadosa e disfarçada, o rapaz arrumava sempre uma maneira delicada de lhe fazer alguns mimos, fosse na forma

de mensagens de texto no celular, fosse na de sutis gentilezas, invisíveis aos olhares das outras pessoas.

Isso era um verdadeiro alimento ao coração de Letícia que longamente ressecado na solidão do desafeto, agora recebia cada gotinha da atenção de Marcelo como a chuva bendita em sua seara de isolamento afetivo.

Na verdade, a real preocupação do rapaz era a de não se comprometer com as duas outras mulheres, com quem estava se relacionando também.

Ele, preocupado apenas consigo mesmo, não desejava perder a pose de cavalheiro junto à Letícia. Na verdade, ela soubera ocultar ao máximo a real debilidade na área afetiva. Em momento algum, mesmo durante as confissões daquela noite, a moça deixou transparecer uma situação de dependência emocional, de rendição absoluta ao seu afeto. Letícia, como boa fêmea, procurou manter a postura de mulher controlada, senhora de si mesma, ainda que desse a conhecer ao rapaz o segredo de sua admiração por ele, desde o início de sua atividade naquele ambiente.

Por tudo isso, Marcelo atirava algumas pequeninas pérolas, sem imaginar que, com elas, Letícia estava tecendo um vestido de núpcias.

Dentro dessa ingenuidade na avaliação masculina, o rapaz sentira que seria indispensável aproximar-se novamente de Letícia para consolidar seus domínios e, dessa forma, conseguir seu apoio, contando-lhe os fatos de forma mais pormenorizada, a respeito de Leandro e de seu comportamento perigoso.

Antes de qualquer coisa, contudo, necessitava da autorização de Camila, sua amada, para que, dentro dos planos, assumisse a corajosa postura daquele que dá início ao processo de denúncias.

Por isso, logo no dia imediato àquele em que Camila lhe revelara as falcatruas de Leandro, Marcelo pediu para lhe falar em particular.

Não poderiam conversar no ambiente do escritório porquanto não saberiam dizer o quanto sigilosa a conversa estaria sendo, diante das suspeitas de espionagem que pairavam sobre Leandro em relação a Camila.

Assim, combinaram de se encontrarem em um restaurante no centro da cidade, algo afastado do local onde todos entreteciam as suas experiências profissionais.

No horário marcado, sentaram-se despreocupados e, como dois colegas de trabalho, pediram algo para comer, naquele almoço fora de hora.

— Camila, estive pensando naquele assunto que envolve Leandro e, dentro das dificuldades que você levantou para o desmascaramento de sua conduta, reconheço que, realmente, é um risco muito grande para você, risco que pode levar tal denúncia ao descrédito.

— É um alívio que você me entenda, Mar, porque fico me acusando de covarde, de fraca, de todas as coisas mais baixas...

— Sabe, Camila, você até que tem sido muito corajosa diante de tais fatos. Veja só, há quanto tempo isso vem acontecendo e sua conduta tem sido discreta, na capacidade de assimilar e não explodir? Outra pessoa, talvez, não agüentasse essa pressão.

— Não sei... Falo por mim mesma e, sabendo de tais coisas com as provas que tenho, temo por minha própria vida, tanto que as guardo comigo em cofre pessoal.

— Pois então, Camila. É sobre isso que gostaria de conversar. Também não suporto essa coisa de estarmos acobertando um canalha em nosso meio, fraudando nossos esforços para a conquista de uma posição social melhor e da realização de nossos sonhos materiais.

De nosso trabalho, nossos ganhos são divididos com a administração do escritório que, invariavelmente, abocanha metade de nossos honorários, alegando que os clientes que

nos procuram o fazem por causa da estrutura advocatícia e pelo nome respeitável que já estavam consolidados quando chegamos.

É certo que aceitamos este jogo e, longe de nos ser prejudicial, o que ganhamos tem sido suficiente para nossas vidas, ainda que não possamos nos dar o direito de certos luxos que são observados em Alberto, em Leandro, em Ramos e em Clotilde.

Os quatro trabalham quase nada e nadam em recursos que nós nos esforçamos para conseguir. Se nos deixassem em paz, pelo menos, ainda que isso poderia continuar assim. No entanto, essa pressão que fazem por mais e mais dinheiro, aliada à condição de chantagista barato de clientes corruptos como você me contou, nas práticas de Leandro, nos coloca em uma delicada situação na consideração dos nossos contratantes, de nossos clientes, fazendo-os acreditar que nós também somos tão corruptos quanto os que dirigem o escritório.

Para mim, reconheço inúmeros defeitos morais em meu íntimo. No entanto, não aceito ser considerado fazendo parte da panela dos ladrões sem que, realmente, tenha desejado dela participar. Toda a lama que possa respingar em mim, proveniente desses salafrários que colocam banca de éticos julgadores do mundo, será uma nódoa que não aceitarei e que, acredito, possa fazer mal a você também.

Camila escutava, admirando-se do raciocínio do colega, demonstrando velada concordância com suas alegações.

Aproveitando a sua postura favorável, Marcelo continuou:

— Por isso, Ca, pensei em uma coisa que me pareceu a mais acertada a fazer, no sentido de acabar com essa palhaçada completamente.

— Fazer o quê, Mar...? Isso é um lixo que quanto mais a gente mexer, mais mau cheiro vai produzir.

— Sim, mas é preciso acabar com o lixão, tirando o seu conteúdo do local e removendo-o para longe.

— Mas o que você está pensando?

— Bem, depois de tudo o que me falou, acho que encontrei uma forma de fazer essa coisa acontecer. Se você concordar e me der apoio, irei apresentar estas provas no dia da nossa reunião coletiva, quando todos os integrantes dos dois grupos do escritório nos reunimos para uma avaliação geral dos problemas e das rotinas.

Demonstrando uma surpresa acima do esperado, Camila estampou no rosto uma expressão de contrariedade e respondeu:

— Não posso, Mar, não posso deixar que isso seja assim, Esse não é um problema seu. É comigo que as coisas estão acontecendo e não é prudente que outras pessoas inocentes sejam envolvidas nisso.

— Mas se ninguém fizer nada, isso nunca vai parar e eu mesmo posso acabar sendo atingido pela conduta suja dessa gente.

— Eu sei que isso é verdade, mas não desejo que você pague esse preço.

E pegando em suas mãos, como a dar vazão a um sentimento de cuidado e importância, Camila afirmou:

— Não agora, que você está sendo tão importante para mim, Mar. Não quero que corra um risco tão grande envolvendo-se nesse assunto.

Emocionado com uma tal confissão indireta de amor, o Espírito do rapaz se revestiu de uma tal determinação, que só acontece com os corações apaixonados que, na cegueira do afeto, se atiram nos abismos mais desafiadores para demonstrar a sua capacidade de amar e disse:

— Pois do mesmo modo que sou importante para você, você é importante para mim. Já há muito tempo que meu sentimento vinha envolvido na penumbra da rotina, na

companhia de alguém que não representava, senão, o contato sexual nas horas noturnas de cada dia.

Com você, Camila, as coisas são muito diferentes. Uma nova vida tomou conta do meu ser e, sentindo o sabor de seu beijo, minha alma parece ter redescoberto a alegria de viver, o que me fortalece para a adoção de qualquer medida que possa representar a proteção a alguém que é muito mais importante para mim do que qualquer outra coisa.

As mãos de ambos estavam delicadamente unidas sobre a mesa do restaurante quase vazio, de onde se podia ver a avenida logo à frente, igualmente sem o movimento de costume. Seus dedos se entrelaçavam como se todos eles desejassem se apertar mutuamente, num abraço particular e caloroso.

Sentindo a emoção de Camila, Marcelo continuou:

— Pois se você não me ajudar, irei denunciar os fatos sozinho, somente com as poucas alegações que tenho, ouvidas de você própria.

— Mas isso, Marcelo, não vai adiantar nada. Leandro é um rato na fuga e um leão no ataque. Se nós não agirmos com precisão, seu rugido se fará sentir sobre nós e seus dentes nos dilacerarão sem chance. Nossa única oportunidade está em intimidá-lo com demonstrações de força de forma que não lhe reste outra saída a não ser fugir como um roedor flagrado no ato.

— Eu também acho. Mas você está dificultando as coisas.

— É que eu não quero expor você, Mar. Quero que tudo se resolva, mas não quero que você sofra.

— Mas se você me apoiar, nós dois poderemos ter uma voz maior do que a minha, somente. Além do mais, podemos conversar com as meninas, preparando seusEspíritos com as notícias que já possuímos e, assim, elas também poderão nos ajudar nessa empreitada.

Balançando a cabeça, Letícia considerou:

— Até que seria muito bem-vindo o apoio das duas. No entanto, elas são mulheres, são partes fracas nessa relação e eu não posso garantir que aceitem correr tais riscos.

— Mas se me autorizar, assumirei a tarefa de falar com elas, apresentando as provas como se eu mesmo as tivesse conseguido e lhes dizendo que tal procedimento leviano está nos comprometendo a todos.

Tenho certeza de que elas também vão se indignar com a conduta de Leandro e, certamente, nos apoiarão. Uma vez conseguido tal alicerce, no dia, depois que apresentar as provas aos olhares de todos, pode contar de viva voz as experiências pessoais que têm acontecido com você e que envolvem a conduta clandestina de Leandro, invadindo sua sala e fiscalizando os documentos de suas pastas sem a sua autorização.

E, se ele tem feito isso consigo, quem é que nos pode garantir que também não o está fazendo com as outras duas?

Acho que, sabendo contar-lhes todos os fatos, encontraremos nelas o apoio de que estamos carecendo para que uma verdadeira faxina possa ser feita, apresentando tais fatos a Alberto e Ramos, os primeiros prejudicados com os desvios de dinheiro.

A eles caberá a sentença, uma vez que são os donos do negócio.

A nós restará, por fim, a liberdade de ação, com a defesa de nossas consciências profissionais, livrando-nos da ação de um indivíduo pernicioso.

Dando a impressão de que a sugestão de Marcelo lhe parecia extremamente favorável, Camila afirmou:

— Esta é uma verdadeira possibilidade, Mar. Mas a idéia de expor você ainda me causa arrepios no corpo e no coração. Isso é um vespeiro ardente e, por mais

tranqüila que pareça a coisa, ao se abrir a caixa, os marimbondos voarão sobre você para acabar com sua vida.

Dando de ombros, Marcelo respondeu, confiante:

— Estou preparado para qualquer coisa, Ca. Principalmente com o seu apoio, estou certo de que tudo caminhará para melhor. E se a situação se tornar perigosa, a ordem dos advogados, a polícia e a justiça poderão ser as instâncias a recorrermos para que a Verdade prevaleça.

— Além do mais, temos os clientes que foram chamados a colaborar com o dinheiro para a compra das autoridades.

— Isso mesmo, Ca. Eles são outra fonte de provas. Você os conhece?

— Sim, eu sei quem são e, se isso se fizer necessário, poderemos chamá-los ou obter seus depoimentos.

Já envolvida pela idéia, depois de ter relutado muito em aceitá-la, Camila passara a concordar, tacitamente, com Marcelo, demonstrando estar satisfeita com sua postura de coragem e obstinação.

— Mas você vai me prometer que vai se cuidar, Mar. Esse povo é muito perigoso, inclusive na questão de se livrar dos problemas contratando profissionais para tirar a vida de quem não seja conveniente aos seus interesses.

— Deixe comigo, Camila. Eu também sei atirar e tenho meus recursos para me defender. Mas acho que as coisas não vão chegar a tanto...

É importante saber o leitor querido que, uma vez inteirando-se de que sua doença era irreversível, Dr. Josué, quando trouxe Marcelo para o escritório, meses antes de morrer, instruiu-o sobre muitas coisas e deixou vários documentos sobre as sujeiras que haviam sido escondidas debaixo do tapete.

Coisa da grossa a envolver pessoalmente Alberto e Ramos e que nenhum dos dois proprietários tinha a menor idéia de que Josué também soubesse, muito menos que tivesse documentos provando tais crimes. Assim, antes de morrer, Josué havia instruído Marcelo sobre os fatos graves, sem revelar pormenores ao rapaz que o sucederia na atividade do escritório.

Orientou-o no sentido de que havia deixado os envelopes lacrados, com todas as provas, em um cofre de segurança e as chaves, uma em poder de Marcelo e outra em poder de uma influente autoridade judiciária, um desembargador, seu íntimo amigo desde os tempos da faculdade.

O conteúdo só poderia ser acessado com as duas chaves favorecendo a abertura do cofre, sendo certo que, se isso se tomasse necessário, os envelopes deveriam ser entregues ao desembargador para que fossem encaminhados às instâncias legais, penais, civis, tributárias, fiscais, para a apuração e as medidas punitivas indispensáveis.

Essa condição permitia a Marcelo uma certa tranqüilidade.

Seria ele que, em avaliando as circunstâncias, definiria a conveniência de solicitar ao outro detentor da chave o início dos procedimentos. E se alguma coisa o colocasse em risco de vida, Marcelo deveria encaminhar a sua cópia da chave ao detentor da outra para que a sua morte não impedisse as apurações.

Marcelo, com isso, deixara a chave aos cuidados de sua mãe, em um envelope lacrado com o destinatário já pré-escrito, informando-a de que, se alguma coisa acontecesse com ele, ela deveria, pessoalmente, fazer a carta chegar às mãos da referida pessoa.

Como isso seria fatal para os antigos donos, tal atitude drástica deveria ser adotada somente em último caso, pois todos os demais integrantes do escritório igualmente seriam atingidos pela força das denúncias provadas documentalmente.

Era a forma pela qual, mesmo do lado de lá da vida, Josué poderia conduzir aos tribunais aqueles que se valiam de condutas desonestas e corruptas para se manterem ricos e influentes, respeitáveis e admirados ao longo das décadas de associação profissional que mantivera com Alberto e Ramos.

Mesmo depois de morto, continuaria associado aos dois antigos sócios, como elemento importante na decisão final da sobrevivência do empreendimento.

No entanto, ninguém, além de Marcelo, sabia da existência de dos documentos, coisa que o rapaz tivera o bom senso de não revelar nem a Camila, apesar da sua paixão estar se avolumando.

E com base nesse trunfo escondido, ele também reunia coragem suficiente para apresentar-se como o responsável pelas acusações diretas que iria apresentar na reunião coletiva.

Assim, ficou acertado com Camila que, sem saber desses detalhes, admirou-se ainda mais da coragem do rapaz, combinando entregar-lhe as fotografias e as provas contra Leandro.

A hora ia tarde e, envolvidos pelo acerto sobre a questão decidiram aventurar-se por uma sessão de cinema, onde um filme garantiria a escuridão necessária para que pudessem, à moda dos antigos namorados, trocar carinhos sem os olhos curiosos de pessoas conhecidas.

Marcelo, então autorizado por Camila, sabia que o próximo passo seria procurar Letícia e, valendo-se dos sentimentos da jovem encontrar a facilitação dos caminhos para a obtenção de seu apoio nas denúncias.

27

MARCELO EM BUSCA DE APOIO

Marcelo chegara ao apartamento da moça, que o esperava entre ansiosa e feliz. Novamente tudo estava preparado para mais um encontro de sensações inesquecíveis ao seu coração. Duas semanas já se haviam passado desde a primeira intimidade havida entre ambos e isso já lhe parecia mais de duas décadas.

Letícia, apesar de exultante e excitada, cuidadosa que era, não pretendia dar a Marcelo a idéia do quanto se achava na total dependência emocional de seus carinhos.

O envolvimento físico já havido entre ambos dispensava os rituais preliminares, o que permitiu que, tão logo colocasse seus pés no ambiente, Letícia já o tomasse pelas mãos com intimidade, conduzindo-o para o sofá confortável, localizado no ambiente agradavelmente escurecido da sala de seu apartamento, guarnecido com os petiscos e o inesquecível vinho.

Para receber o rapaz, ela se fizera, agora, mais envolvente, usando roupa leve e provocante, sem ser vulgar.

Sabia que Marcelo, como todo homem, depois da segunda ou terceira taça de vinho, se soltava e mais facilmente acedia à troca de carícias.

Com elas, Letícia contava construir no interesse de Marcelo uma dependência que lhe garantiria alguma vantagem na disputa com Marisa, acerca das preferências do homem desejado.

Enquanto os dois se permitiam as brincadeiras dos adolescentes que se acham em isolamento, podendo dar vazão aos seus modos de ser mais autênticos, Marcelo pensava na melhor maneira de dar início ao assunto, enquanto que Letícia mais e mais desejava alongar

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 179-191)