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O momento da oração coletiva

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 109-123)

O MOMENTO DA ORAÇÃO COLETIVA

Uma hora antes do início da reunião familiar, podia-se observar a operosa agitação dos trabalhadores do mundo invisível, organizando a chegada das entidades diversas que iriam participar como ouvintes, em seus respectivos lugares, isolados magneticamente do ambiente, para que suas emanações inferiores não comprometessem o teor energético da reunião.

Outros trabalhadores cuidavam dos Espíritos que seriam submetidos aos tratamentos variados, recolhidos das proximidades, inclusive das casas dos vizinhos, enquanto que não faltavam aqueles que se dedicavam a trazer à reunião as entidades que perturbavam os próprios moradores do lar onde a oração se realizava. Naquela noite, os encarnados que se uniriam para as preces costumeiras de todas as terças eram, além de Olívia, seu marido João, que aceitara participar porque, de algum tempo para cá estava apresentando fortes dores no joelho e, segundo acreditava, a oração podia ajudar a melhorar seu sofrimento.

Gláucia e Glauco seriam os outros dois integrantes da reunião.

Luiz, o filho mais novo, não viria, ainda que fosse esperado por todos, uma vez que, pouco sintonizado com as coisas espirituais, as entidades que o perturbavam haviam criado certos embaraços pessoais que se fariam impeditivos de sua presença no momento da oração.

Os membros da família, no entanto, ainda não sabiam de tal ausência, permanecendo na expectativa de sua chegada iminente, até momentos antes do horário marcado.

No mundo invisível, os Espíritos responsáveis pela defesa do lar e que faziam ronda externa já se postavam em todos os ângulos, acompanhados dos enormes cães que já citamos e que comandavam com precisão.

Além do mais, possuíam instrumentos de descarga magnética para qualquer eventualidade mais grave, inclusive para enfrentar a tentativa de invasão de entidades desequilibradas, caso se apresentassem em grupo volumoso.

Transformada em centro luminoso, a residência de Olívia passou a ostentar o brilho que atraía muitos aflitos da região espiritual circundante. Assim, como medida de reforço protetivo, foram levantadas carreiras magnéticas externas, que se pareciam com campos elétricos concêntricos, fixados a diversas distâncias, tendo o lar como o centro. Tais defesas tinham uma função igualmente seletora, permitindo a passagem de Espíritos com vibrações menos agressivas, mas mantendo afastadas as entidades mais violentas, que se viam impedidas de continuar se aproximando na medida em que atingissem o campo elétrico com o qual as suas próprias vibrações reagissem, produzindo o efeito repulsivo. No entanto, aquelas entidades que traziam as vibrações menos agressivas, podiam ir andando na direção daquele foco luminoso, até que atingissem a fronteira energética que lhes obstasse seguir adiante, sendo importante realçar que, em todas estas faixas, Espíritos guardiões se postavam para manter a direção e para avaliar eventuais atendimentos de emergência, inclusive para garantir que os Espíritos mais abrutalhados não impedissem os menos grosseiros de seguirem adiante, enquanto que eles não conseguiam passar.

Essa peregrinação de sofredores se dava porque, como já se falou, com a aproximação dos trabalhos da noite, a casa deixara de ser apenas moradia de pessoas, mas, graças à ação magnética intensa, tanto das entidades desencarnadas trabalhadoras do Bem quanto dos corações harmonizados de Olívia, Gláucia e Glauco, aquele núcleo transformara-se em pequeno Sol rutilante, a brilhar na escuridão noturna e atrair a

curiosidade de inúmeros Espíritos perdidos, aflitos, perambulantes sem rumo, que imaginavam ali estar a saída para suas dificuldades ou o caminho para a melhoria de suas situações.

Como os Espíritos mais primitivos não podiam se aproximar do centro em função de sua condição repulsiva e das barreiras energéticas que não lhes permitia a passagem, ficavam tentando impedir que os outros seguissem adiante, o que obrigava que vários trabalhadores da segurança permanecessem nesses diversos pontos de passagem dos limites de seleção fluídica, garantindo o acesso dos que desejassem, apesar da contrariedade dos rebeldes que se viam impedidos de seguir.

No ambiente físico, cada encarnado, além do Espírito protetor que lhe acompanhava a jornada terrena durante toda a encarnação, possuía uma equipe de mentores, responsável pela estrutura de sua sensibilidade para aquela reunião

Quinze minutos antes de darem início, Olívia colocou sobre a mesa os copos e a garrafa com água que serviria de veículo para os fluidos medicamentosos específicos que as entidades amigas usariam para a continuidade dos tratamentos. Ao mesmo tempo, convidou os demais integrantes da reunião para se sentarem à mesa, providenciando o desligamento temporário dos telefones e suas extensões, além de solicitar a João, o marido, que desligasse a televisão que ele assistia, interessado nas novidades sempre velhas, referentes aos resultados esportivos de seu time de futebol predileto.

— Espera um minutinho, Olívia, já estou indo... — respondeu o marido, preso ao interesse fútil e vão que o desviava do caminho do esclarecimento pessoal por mantê- lo iludido com as quinquilharias da vida, como alguém que pode chegar à mina de ouro, mas que, ao longo do caminho, vai se distraindo como as pedrinhas da estrada, parando nas barraquinhas que lhe fornecem prendas de vidro e distrações, se esquecendo que a jazida de ouro está mais adiante.

— Não demore, querido, já estamos todos aqui, só falta você.

— E o Luiz, ele ainda não chegou — falou João, querendo ganhar mais um tempinho.

— Ele não vai chegar. Se fosse vir, já teria chegado. Só você é que está faltando — falou Olívia, carinhosa, em tom de convocação, enquanto olhava para Gláucia e Glauco à sua frente, com o ar de quem se refere à condição desinteressada do marido.

Entendendo que João precisava de uma ajudazinha, Alfonso, o mentor espiritual dirigente e responsável pela reunião, entidade de elevada condição, com um pequeno gesto determinou que um dos ajudantes do trabalho, que se prendia àquela família já há algumas décadas, tomasse as medidas para acelerar a chegada do marido, a fim de que a reunião não sofresse atrasos desnecessários.

Discretamente, o Espírito amigo se dirigiu ao quarto onde João se deixava levar pelas cenas de jogadas futebolísticas, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo e, sem nenhum teor de violência, mas, até, com uma carga de humor, falou em voz alta:

— É, meu amigo, você já está alguns séculos atrasado. Precisa se lembrar disso e não desperdiçar mais seu tempo com tolices.

Dizendo isso, a entidade colocou suas mãos na área do joelho dolorido de João e, com um movimento rápido, como se o estivesse apertando, produziu uma descarga magnética que atingiu a sua sensibilidade física como se uma agulha tivesse lhe penetrado as fibras da carne.

— Ai, que dor no joelho! — exclamou João, levando a mão imediatamente ao local, recordando-se de que estava doente naquela área de seu corpo.

E nesse exato instante, desinteressou-se pelo esporte e lembrou-se que mais valia orar para pedir a melhora do que ficar ali, sem nada produzir de bom para si mesmo.

Desligou a televisão e dirigiu-se, meio manquitolando, para a copa onde os outros o esperavam.

Depois de acomodar-se, Olívia diminuiu a luz circundante, deixando apenas pequeno foco vindo da cozinha, colocou uma música e, então, solicitou que Gláucia fizesse a oração que, com a entonação amorosa de sua alma, foi simples, breve e espontânea.

A seguir, sem ter a necessidade de aumentar a luminosidade porque sua posição à mesa permitia a clareza suficiente para a leitura, Glauco iria ler o livro escolhido para as meditações. Para tanto, Olívia pediu que seu marido abrisse “O Evangelho Segundo o

Espiritismo” ao acaso e o transferiu ao futuro genro, que procederia à leitura de alguns

parágrafos, de forma clara e pausada, para que todos entendessem.

No meio desse "todos", encontravam-se as entidades invisíveis que haviam sido trazidas para o aprendizado.

Antes do início da leitura, os Espíritos que os orientavam e dirigiam, explicaram que deveriam abrir bem seus ouvidos espirituais para não perderem nenhuma lição porque ela versaria sobre o capítulo mais longo do Evangelho, o capítulo quinto, aquele que fala das aflições.

Glauco, então, depois que João abriu ao acaso, leu o trecho que lhe correspondia: CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES

As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se assim se quer, têm duas fontes bem diferentes que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente, outras fora dela.

Remontando à fonte dos males terrestres, se reconhecerá que muitos são a conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os suportam.

Quantos homens tombam por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!

Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não terem limitado seus desejos!

Quantas uniões infelizes porque são de interesse calculado ou de vaidade, com as quais o coração nada tem!

Quantas dissensões e querelas funestas se teria podido evitar com mais moderação e menos suscetibilidade!

Quantos males e enfermidades são a conseqüência da intemperança e dos excessos de todos os gêneros!

Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio! Por fraqueza ou indiferença, deixaram se desenvolver neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que secam o coração; depois, mais tarde, recolhendo o que semearam, se espantam e se afligem pela sua falta de respeito e ingratidão.

Que todos aqueles que são atingidos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida, interroguem friamente sua consciência; que remontem progressivamente à fonte dos males que os afligem, e verão se, o mais freqüentemente, não podem dizer: Se eu tivesse, ou não tivesse, feito tal coisa eu não estaria em tal situação.

A quem, pois, culpar de todas as suas aflições senão a si mesmos? O homem é, assim, num grande número de casos, o artífice dos seus próprios infortúnios; mas, ao invés de o reconhecer, ele acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a chance desfavorável, sua má estrela, enquanto que sua má estrela está na sua incúria.

Os males dessa natureza formam, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida; o homem os evitará quando trabalhar para seu aprimoramento moral, tanto quanto para o seu aprimoramento intelectual.

A lei humana alcança certas falta e as pune; o condenado pode, pois, dizer-se que suporta a conseqüência do que fez; mas a lei não alcança e não pode alcançar todas as faltas; ela atinge, mais especialmente, aquelas que prejudicam a sociedade, e não aquelas que não prejudicam senão aqueles que as cometem. Mas Deus quer o progresso de todas as suas criaturas; por isso, ele não deixa impune nenhum desvio do caminho reto; não há uma só falta, por pequena que seja, uma só infração à sua lei, que não tenha conseqüências forçadas e inevitáveis mais ou menos tristes. De onde se segue que, nas pequenas, como nas grandes coisas, o homem é sempre punido pelo que pecou.

Os sofrimentos que lhe são a conseqüência, são para ele uma advertência de que errou. Eles lhe dão a experiência fazendo-o sentir a diferença entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para evitar, no futuro, o que lhe foi uma fonte de desgostos. Sem isso, não teria nenhum motivo para se emendar e, confiando na impunidade, retardaria seu adiantamento e, por conseguinte, sua felicidade futura.

Mas a experiência, algumas vezes, vem um pouco tarde. Quando a vida foi dissipada e perturbada, as forças desgastadas e quando o mal não tem mais remédio, então, o homem se põe a dizer: Se no início da vida eu soubesse o que sei agora, quantas faltas teria evitado; se pudesse recomeçar, eu faria tudo de outro modo; mas não há mais tempo!

Como o obreiro preguiçoso, diz; Eu perdi minha jornada, ele também diz: Eu perdi minha vida.

Mas da mesma forma que para o obreiro o Sol se ergue no dia seguinte e uma nova jornada começa, permitindo-lhe reparar o tempo perdido, para ele também, depois da noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, na qual poderá aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.

Terminada a leitura, Olívia pediu que comentasse sobre seu entendimento a respeito.

Procurando fazer-se o mais autêntico possível, Glauco buscou a lição para si mesmo, ao invés de colocá-la no terreno abstrato dos ementários teóricos.

— Pelo que entendi, D. Olívia, nós somos os que agravamos nossos males, desnecessariamente. Se é verdade que existem coisas que temos que passar para nosso aperfeiçoamento moral, muitas vezes criamos dificuldades que não estão no nosso programa, como alguém que procura sarna para se cocar.

E, cada vez que leio este trecho, lembro-se de mim mesmo, tempos atrás, do sofrimento que passei e que fiz passar a todos vocês por minha leviandade, nos períodos da faculdade, encantado com as bobagens de uma vida sem profundidade. Naturalmente que as companhias me ajudaram a errar, mas, em realidade, o erro foi escolha minha, da minha imaturidade. Com certeza, não precisava passar por tudo aquilo, arriscando meu futuro e minha felicidade. Para mim, esta lição é sempre muito bem vinda, sobretudo no dia de hoje quando me correspondeu a leitura do Evangelho. Não desejo fugir das próprias responsabilidades que a lição clara me recorda e, por isso, sou eu o exemplo vivo de tais exortações.

Reconhecendo a dor íntima que aquela confissão lhe deveria estar causando, mas, avaliando o teor da honestidade de Glauco, Olívia esperou que ele terminasse e acrescentou:

— Graças aos seus erros, meu filho, é que hoje temos este homem virtuoso que despertou de seu íntimo por causa das próprias quedas e arrependimentos. Se nosso

passado não fosse o conjunto de equívocos que costuma ser, Glauco, nós estaríamos muito mais vulneráveis no presente às armadilhas da vida que, pegando-nos de surpresa, fatalmente nos arrasariam nos desejos nascentes do Bem.

Quando erramos e queremos sair do equívoco, as forças do Amor nos estendem suas mãos doces e orientam nossos passos na subida.

Mas enquanto isso não acontece, enquanto nos comprazemos no mal, enquanto não nos cansamos de gozar a vida, as coisas não estão maduras para que aconteça a nossa eclosão. Geralmente, meu filho, sem o sofrimento, continuamos perdendo tempo.

— Eu é que o diga... — falou João, ao ouvir as palavras da esposa e recordar-se do que acontecera momentos antes, sorrindo meio sem graça.

— Como assim, pai, por que "você é que o diga"? — indagou Gláucia, surpresa com a observação meio engraçada do pai.

— Ah! Minha filha, você sabe como são as coisas e como seu pai gosta de um futebolzinho.

— Sim, pai, nós sabemos...

— Então. Vocês estavam me esperando e eu não queria perder alguns lances muito legais que a TV estava mostrando. Estava quase que contrariado em ter que sair dali, justamente no melhor da coisa.

— A gente sabe como você é, meu marido — falou Olívia, sorrindo para ele. — É, mas do nada, repentinamente, senti uma pontada tão forte no meu joelho que, imediatamente, esqueci o envolvimento dos lances e me lembrei da dor e do meu problema. Nessa hora, o futebol já não tinha mais nenhuma graça e, então, desliguei a televisão sem reclamar e vim para cá. Como vocês vêem, estou aqui sem reclamação por causa da dor do joelho... porque se dependesse só de mim, talvez estivesse sentadão na cama, vendo uma bola ser chutada de um lado para outro.

Entendendo a confissão espontânea do dono da casa, os demais integrantes da mesa sorriram e Gláucia completou, dizendo:

— Eu estive perto de aumentar as aflições de nossas vidas e da minha própria, Glauco, quando pensava em passar com um trator sobre você, naquela época.

Meu sofrimento, por causa da minha imaturidade, também iria servir para me complicar a vida, se eu não tivesse tido o conselho de mamãe, a me alertar para AGIR, ao invés de REAGIR.

Foi graças a essa escolha adequada que pude entender o que se passava com você, pude aprender sobre as nossas inclinações pessoais, sobre a ação das entidades espirituais que nos induzem para o Bem tanto quanto para o caminho do erro.

Se eu não tivesse sofrido dessa forma, buscando uma solução para tudo aquilo, estaria ainda na condição de uma mulher manipuladora, vingativa, ao invés de ter melhorado e amadurecido na compreensão do afeto verdadeiro.

Quanto entendi o significado do Amor Real, aprendi que ele não depende de ninguém, nem mesmo do ser amado. É um valor que existe em cada um de nós e que se oferece como um tesouro, disponibilizando-o ao ser amado, mesmo que este não o deseje nem o aproveite.

Foi naquela época, Glauco, quando tudo estava tão confuso, que descobri o quanto o amava de verdade e, por isso, resolvi mudar em mim as inclinações ruins para que eu não colaborasse em perdê-lo.

Se eu não tivesse passado por aquilo e tido a orientação desse cristianismo espírita, fatalmente seria hoje uma mulher infeliz, frustrada, arrependida, cheia de saudades de você, fazendo a infelicidade de algum outro homem com quem me relacionasse para não ficar sozinha na vida.

Então, além de você, acho que seríamos outros quatro infelizes, porquanto meus pais, da mesma forma, não iriam ficar bem ao me verem abatida.

Os comentários positivos de todos, ainda que se voltassem para seus próprios defeitos, eram um bálsamo para seus corações, além de representarem uma postura autêntica que assumiam para si mesmos autorizando, por parte do mundo espiritual que testemunhava a conduta verdadeira, a mobilização de potenciais energéticos para que fossem aplicados a benefício de todos.

Por isso, Glauco foi fortalecido moralmente, com a implantação de uma energia revigorante nos centros cerebral e emocional, ficando envolvido por uma luminosidade azulada que lhe transmitia calma à consciência e um calor agradável ao coração.

Gláucia, igualmente, teve seus sentimentos enriquecidos por uma descarga vibratória partida da entidade amiga que cuidava dela, numa energia vibrante que lhe transmitia uma força e uma sensação de invencibilidade moral ainda muito mais estimulante no Bem.

João, ao se confessar distanciado do interesse na própria elevação, preferindo a televisão à prece coletiva, revelação esta que poderia ter ocultado de todos os presentes, foi envolvido pelas forças mais luminosas que ali se postavam, ajudado por médicos espirituais, amparado por amigos de outras eras, ao mesmo tempo em que Alfonso, o dirigente da reunião, voltando-se para aquele cooperador benevolente que se ocupara em trazer João à própria realidade, momentos antes do início da reunião, recomendou-lhe:

— Vai, agora, querido Sebastiãozinho, atende nosso amigo que está crescendo para a realidade. Você, que soube como trazê-lo através da dor que desperta os adormecidos, saberá também como ajudá-lo através da sensação do Amor Verdadeiro.

Emocionado, Sebastiãozinho se aproximou e, afagando-lhe os cabelos, passou a aplicar passes na região do joelho para que suas dores pudessem ser aliviadas por algum tempo.

Regressando, depois, afirmou ao mentor espiritual:

— Fiz o trabalho, mas não retirei todos os focos para que João continue a nos ser dócil às sugestões.

— Fez muito bem, meu amigo. Para certas pessoas, livrá-las de todos os sofrimentos seria conduzi-las a um sofrimento maior e mais grave. Com alguns estrepes no pé, impedimos que um indivíduo imaturo caia no precipício — respondeu, aprovando a ação de Sebastiãozinho.

Olívia, a pessoa encarnada de maior hierarquia espiritual daquele pequeno núcleo, via com satisfação os comentários e, como a mais preparada pela vida para amar acima de todas as coisas, emitia raios de uma luz pura e emocionante, que se desprendiam de seu peito de tal forma que, aos olhos dos Espíritos que ali se congregavam, em nada se parecia à humilde costureira, à trabalhadora anônima do lar, aquela que suportava as leviandades do filho e as infantilidades do marido. Parecia um ser diáfano, desfrutando

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 109-123)