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A VEZ DE LETÍCIA

Nos dias que se seguiram, as relações afetivas entre os membros do escritório permaneciam latentes, ocultadas pela conduta dissimulada de todos, principalmente de Marcelo que, envolvido emocionalmente com Camila, aquela que o atraía pela beleza exterior, tanto quanto enroscado fisicamente com Sílvia, aquela que se demonstrara excelente amante, precisava cuidar-se para não se trair nas demonstrações de intimidade que os encontros fortuitos nos corredores do local de trabalho naturalmente propiciavam. No entanto, as duas mulheres nem imaginavam que Marcelo estava mantendo um relacionamento próximo com ambas, até porque, tanto Sílvia quanto Camila igualmente estavam se utilizando do rapaz para seus próprios objetivos pessoais.

Ao lado das duas, a terceira advogada, Letícia, continuava no desejo de se aproximar do rapaz, agora com a desculpa de ser-lhe a solucionadora dos problemas jurídicos.

Ao longo daquela semana, nos momentos que se fizeram favoráveis, a jovem procurara Marcelo para lhe informar sobre o andamento de suas pesquisas e que, em breve, estaria a dar-lhe uma posição sobre o que aquilatara a respeito da situação.

Marcelo, pensando tanto em Camila quanto em Sílvia, quase se surpreendeu com a manifestação de Letícia, custando algum tempo em recordar-se de que ela também estava inserida no horizonte de seus planos para a conquista do posto que pertencia a Leandro.

De acordo com suas avaliações, o envolvimento físico que estava começando a ter com as duas outras mulheres não era adequado, porquanto poderia acabar prejudicando seus objetivos. No entanto, o encantamento que Camila lhe causava era difícil de ser controlado, ao mesmo tempo em que o calor tórrido dos momentos passados com lhe produziam inesquecíveis lembranças.

Ao menos Letícia não se envolvera diretamente com ele, o que sentava uma boa situação a ser explorada mais pacientemente, as emoções não tão à flor da pele.

— Marcelo, preciso falar com você sobre o caso que está comigo para estudo e que, acredito, já tenho a solução.

— Tudo bem, Letícia, agora me recordo melhor. Afinal, já faz algum tempoe, com tantos outros problemas na cabeça, acabei me esquecendo desse.

— É, eu sei como são estas coisas — respondeu Letícia, desejando ser compreensiva com o esquecimento do moço desejado.

— E então, excelentíssima doutora, o que é que você apurou sobre o caso?

Entendendo que Marcelo imaginava conversar sobre o assunto naquele local de trabalho, o que conspirava contra as intenções de aproximação da moça, Letícia, hábil, respondeu:

— Ora, Marcelo, os documentos estão comigo, em minha casa. Não tenho como expor o que apurei aqui, sem eles. Estava querendo que você fosse até lá, aproveitando o final de semana, se não se importar. Então, com calma, lhe explico tudo o que consegui levantar e qual seria a melhor solução para a questão.

Marcelo não pretendia usar seu final de semana em contatos profissionais, uma vez que procurava sempre afastar-se dos problemas do escritório nos momentos de lazer que a vida lhe propiciava.

No entanto, lembrando-se de seus planos iniciais, julgou ser descortês deixar Letícia sem uma resposta depois que ele próprio lhe havia solicitado a cooperação, além

de, igualmente, ser aquela uma boa oportunidade para acercar-se do pensamento e da forma de ser da última de suas três amigas.

Além disso, ele conhecia o temperamento da jovem e sabia que era muito exigente com as coisas do trabalho, sendo natural que ela mantivesse uma postura profissional quando o assunto se tratava da solução de um caso jurídico que fora submetido à sua avaliação.

Qualquer recusa poderia soar como coisa irresponsável, além de ser uma falta de respeito para com todo o esforço intelectual que Letícia havia empenhado.

Desse modo, não lhe restou outra opção senão concordar com o convite, dizendo- lhe, entretanto, que, como ainda estavam na quinta-feira, combinariam, no dia seguinte, os detalhes do encontro que ficara definido para a tarde do sábado próximo, na casa da jovem.

Acertados para a tão esperada reunião, Letícia preparou-se tanto para demonstrar seus dotes intelectuais como também para insinuar-se através da discreta exibição de seus dotes físicos, com o esmero de seus trajes e a informalidade de sua postura, já que o encontro se daria em seu próprio apartamento.

Diferente daquela mulher que se apresentava no escritório em trajes formais e rosto circunspecto, em seu próprio território Letícia preparava uma surpresa para o rapaz, ocasião em que se colocaria mais à vontade, ainda que não vulgarizada por uma conduta leviana ou roupas devassadas. Deixaria o cabelo molhado e solto dar-lhe a impressão de frescor e intimidade, além de cuidar-se para que o ambiente conferisse ao encontro um quê de informalidade agradável, com a música suave, a meia-luz, perfume difundido pela atmosfera, etc, como se essa fosse a rotina em que Letícia vivesse todos os dias.

Cuidou, igualmente, da bebida agradável ao paladar de Marcelo, como, também, de conseguir algum prato saboroso que pudesse ser oferecido, de momento, como chamariz para a sua permanência no ambiente por mais tempo, através de um jantar aparentemente improvisado para os dois.

Na mente da jovem, a única dentre as três que, realmente, nutria por Marcelo um sentimento de afeto sincero e confiado, aquela seria a grande chance de ter o homem de seus sonhos secretos e platônicos assim tão próximo de sua influência.

Sem sequer imaginar o que estava ocorrendo no íntimo de Letícia, Marcelo não fixava muito sua atenção na mais jovem das três advogadas, preferindo oscilar entre as lembranças daqueles dois beijos calorosos trocados com Camila e das ardorosas sensações das intimidades mantidas com Sílvia.

Por isso, o rapaz não se lembrou de que, no dia seguinte, sexta-feira, não estaria no escritório, ausentando-se em viagem profissional para cidade próxima, a fim de atender a um conflito de família, em uma reunião de trabalho que, por certo, duraria todo o dia.

Ficara, então, pendente de confirmação dos detalhes finais, o encontro agendado com Letícia para a tarde do sábado, para o qual a jovem já tinha se organizado magistralmente e que, se não concretizasse, geraria imensa frustração em seu sentimento apaixonado.

Por isso, no dia seguinte, ao tomar conhecimento de que Marcelo não apareceria no escritório, Letícia tratou logo de buscar uma forma de entrar em contato com ele, para deixar certo o encontro de "trabalho" havia agendado para o dia imediato.

Valendo-se, então, do celular cujo número lhe havia sido dado pelo próprio Marcelo, ligou para a confirmação necessária. No entanto, fosse pela situação geográfica do local onde se dava a reunião, fosse sua natural condição de desligado para não atrapalhar as discussões familiares sempre tensas e cheias de problemas, o certo é Letícia

não conseguira localizar Marcelo pessoalmente, não lhe ocorrendo outra coisa a não ser deixar um recado na secretária eletrônica do celular:

— Marcelo, sou eu, Letícia. Conforme combinamos anteriormente, esperando-o para nosso encontro no meu apartamento, na rua Florianópolis, n° 135, no sábado, a partir das dezesseis horas. Já avisei o porteiro do prédio que você chegará em seu carro a fim de que ele possa ser estacionado na garagem. Espero por você para conversarmos sobre o nosso caso. Qualquer problema, me ligue, tá?

Letícia, que estava ansiosa, tendo-se preparado tanto para aquele momento, agora permanecia apreensiva, correndo o risco de não conseguir realizá-lo, caso Marcelo dele tivesse se esquecido.

Sentia-se um pouco ridícula, como toda pessoa apaixonada que espera pelo encontro sonhado, correndo o risco de parecer uma tola pelo descaso da pessoa a quem se devotava com sinceridade.

Passou toda a sexta-feira indisposta, entre a possibilidade de encontrar o rapaz no dia seguinte e a de se ver esquecida por ele, perdendo toda a preparação realizada.

Duas horas depois do primeiro recado, Letícia não conseguiu se controlar e, novamente, ligou para ver se conseguia falar pessoalmente com Marcelo, sem imaginar qual o problema que estaria impedindo-o de atender à ligação:

— Marcelo, é Letícia novamente, meu querido. Desculpe insistir, mas como estou sem celular e como você não me respondeu à primeira ligação, estou saindo mais cedo e, por isso, qualquer coisa que precisar falar comigo, ligue em casa que estarei por lá. Se não me telefonar, considero nosso encontro marcado e espero por você. Um beijo, Letícia.

Depois de usar sua saída do escritório como desculpa para tentar lhe falar novamente, Letícia resolveu ir embora, dar vazão à sua ansiedade à distância dos olhos curiosos que, certamente, poderiam notar em seu comportamento os traços de insatisfação, nervosismo e quase descontrole que estavam tomando conta de sua alma.

Em casa, buscou relaxar um pouco, tomando um banho longo, com o cuidado de ficar bem atenta ao telefone.

A noite chegou e ainda não havia notícias do rapaz.

Pensou em jogar tudo fora. Em cancelar o encontro, em devolver a pasta do processo sem qualquer resultado, em falar uns desaforos para o moço, como se tudo o que estivesse acontecendo fosse um comportamento deliberado que ele produzira para fazê-la sofrer.

Certamente que tal suposição era equivocada, mas, carente e despreparada para os encontros onde poderia demonstrar sua fragilidade afetiva, a situação inesperada de ver perdidos todos os seus esmerados esforços lhe causava uma quase revolta no Espírito caprichoso e pouco acostumado a derrotas.

— Calma, Letícia, calma. Às vezes não aconteceu nada de mais. Quem sabe está tudo certo e ele não teve como se comunicar com você até agora? — dizia a jovem em voz alta para que ela própria escutasse.

Deixou-se ficar diante da televisão, assistindo aos programas que se sucediam, sem prestar atenção em nada.

Cada dia que passara, desde o primeiro dia que encontrara Marcelo, se transformara em uma longa gestação de um sentimento guardado há muito tempo e da possibilidade de se aproximar daquele que ela, mais do que admirar, cobiçava como alguém muito interessante.

Lá pelas vinte e duas horas, o telefone tocou.

Ela pulou assustada do sofá, onde o sono já se apresentava, no hipnotismo televisivo.

— Letícia,... sou eu... a ligação está muito ruim. Estou saindo de uma reunião e, somente agora é que pude ver seus recados...

— Ah! Marcelo, tudo bem, logo imaginei que você devia estar muito ocupado. Estava quase dormindo, desculpe — falou Letícia, desejando demonstrar despreocupação.

— Desculpe ligar nessa hora...

— Tudo bem, estava preocupada com o nosso encontro, Marcelo. Ficamos de deixar acertado para amanhã e não sei se vamos poder nos encontrar. O que você acha?

— Por mim, Letícia, tudo bem. Gostaria de resolver logo o assunto pendente e de tirar de você o peso desse problema. Pode ser às dezesseis e trinta?

— Pra mim é ainda melhor, Marcelo. Apenas gostaria que viesse sem muita pressa porque o negócio é um pouco complicado e, para explicar, pode demorar. Inclusive, já providenciei alguma coisa para a gente comer, enquanto trabalhamos no assunto. Tudo bem, pra você?

— Ótimo, Lê... pra mim melhor ainda.

— OK! Então, não esqueça de avisar em casa que você vai demorar.

— Bem lembrado... preciso levar alguma coisa? Algum vinho, algum refrigerante, algum petisco?

— Nada, Marcelo. Só traga a boca e a inteligência de sempre... — falou Letícia brincando.

— Só vou precisar da boca porque a sua inteligência dá duas da minha... — respondeu brincando.

— Que nada, Marcelo, amanhã veremos como tudo tem solução. — Marcado, então.

— Boa noite, Marcelo, e cuidado com a volta. Já está tarde e eu não quero adiar essa conversa jurídica com você.

— Deixe comigo, Letícia... Se eu não chegar aí, amanhã, no horário, pode me procurar no necrotério... Esse é o único motivo que vai me impedir de ir.

— Pare de brincadeiras macabras, Mar. Se cuida mesmo, hein? Espero você!

— Beijos, Lê.

— Até amanhã, Marcelo.

As últimas frases de Letícia ganharam a vida e o brilho de alguém que está acabando de se despedir de um ser muito querido, com quem se preocupa profundamente e sobre o qual se está colocando todos os sonhos e os dias do futuro, nos planos de um novo destino.

Essa era a emoção com que Letícia estava encarando aquele momento de aproximação.

Para seu coração solitário, o rapaz era o alimento doce e suave que lhe satisfaria todos os sonhos de mulher.

Não que o desejasse seduzir como mulher, como fizera Sílvia, nem que tivesse interesse em envolvê-lo nas teias do jogo afetivo para que o manipulasse, como Camila estava acostumada a fazer com os homens.

Letícia tinha carinho por ele, o que a levava a manter seus pensamentos sonhadores alimentados com as cenas naturais propiciadas pelos diversos casais de namorado que conhecia, indo ao cinema de mãos dadas, trocando carinhos sinceros, passando o final de semana juntos, viajando e desfrutando das belezas naturais, tirando fotografias e tendo o que contar para as amigas, nas expansões normais de seus sentimentos femininos.

Mais do que a intimidade física, igualmente agradável quando vivenciada com quem se ama, o desejo de Letícia se prendia ao prazer de ter uma companhia com quem

pudesse se entender e de quem poderia cuidar como um patrimônio pessoal e intransferível.

Não pensava sobre os compromissos matrimoniais que Marcelo ostentava, uma vez que, como acontece sempre com as pessoas egocêntricas, a satisfação de seus sonhos e caprichos sempre vem antes e está acima das dores ou tristezas que tal satisfação possa produzir na vida de outras ou outros concorrentes.

A existência do relacionamento conjugal de Marcelo era, quase, mais um estímulo do que um obstáculo.

Para ela, se o rapaz não a conhecesse, jamais poderia lhe conceder alguma chance. Além do mais, quem lhe garantia que Marcelo era feliz com a mulher?

Não percebeu, ela mesma, uma certa melancolia quando ele se referiu aos problemas que enfrentava na companhia da esposa? Que ela se apresentava como uma pessoa individualista e que ele só tinha tranqüilidade quando ela se ausentava de casa?

Aquelas palavras não lhe saíam da cabeça, motivadoras de todos os seus esforços para se tornar alguém interessante nos interesses de umhomem insatisfeito com a mulher escolhida.

— Todo mundo tem o direito de errar e o direito de começar com outra pessoa — pensava Letícia consigo mesma.

E se a mulher é tão indiferente assim com o pobre do Marcelo, porque é que fica ocupando o lugar e não libera o cara para ser feliz com outra?

Esquecia-se, Letícia, de que, em decorrência do desvirtuamento do sentimento, a finalidade principal dos cônjuges, em muitos relacionamentos, não era mais a de fazer o outro feliz. Ao contrário, era a de não deixar o outro ser feliz, se isso representasse vê-lo ao lado de outra pessoa.

Quantas uniões não estão orbitando no escuro espaço da incompreensão e do desafeto, graças à criminosa conduta de um ou de ambos que, não desejando ser instrumento de produção da felicidade do parceiro, se torna empecilho de qualquer tentativa para que tal felicidade seja construída por ele.

— Se você não for feliz comigo, não o será com mais ninguém...

Tenebrosa frase que é tão comum na mente e no sentimento de tantas criaturas, homens e mulheres, e que está por detrás de muitos crimes passionais, tragédias familiares, décadas de perseguições e séculos de obsessões tenebrosas no lado espiritual da vida.

Orgulho ferido, vaidade machucada, egoísmo insatisfeito, todos os piores defeitos estão por detrás de um sentimento deturpado dessa natureza, a denunciar os seus cultivadores como pessoas imaturas, crianças no afeto, desequilibrados da alma, a merecerem tratamento para desajustes mentais quando não façam jus, igualmente, aos corretivos da justiça dos homens, pelos delitos e perseguições, crimes e desassossego que causam na vida das pessoas que perseguem, com o declarado desejo de infelicitá-las e cerceá-las de toda e qualquer tentativa de recomeço com outrem.

Marcelo, logo depois de ter falado com Letícia, desligou o celular sem se preocupar em apagar o recado de sua caixa postal.

Chegou em casa tarde da noite, encontrando Marisa já adormecida, como passara a ser normal acontecer.

Ele mesmo, depois que iniciara o envolvimento emocional com as outras colegas, igualmente se deixara abastecer pelas lembranças agradáveis que arquivara, fosse do contato com Camila, fosse com a recente experiência sexual esfuziante com Sílvia.

Marisa já não lhe atraía mais a atenção.

De verdade, começara a perceber um outro universo feminino que existia fora do casamento e que, realmente, era mais empolgante do que aquele que a esposa passara a lhe proporcionar, com seus caprichos e com sua indiferença.

Tomou um banho para descansar e deitou-se para dormir, preferindo o quarto de hóspedes para não acordar Marisa que, à sua chegada, mostrava-se sempre mal humorada quando despertada por seus ruídos.

E esse afastamento vinha bem a calhar no ambiente culpado de sua consciência, agora comprometida com a infidelidade física e mental com as duas mulheres.

— Foi Marisa quem quis que fosse assim. A culpa não é minha, é dela — repetia Marcelo para si próprio, como alguém que deseja transferir a responsabilidade de seus atos clandestinos para a esposa indiferente, no mecanismo de defesa natural das pessoas que não assumem por si mesmas a própria conduta.

Dormiu pesado e acordou tarde, na manhã de sábado.

Sabia que Marisa costumava sair cedo e só voltava no período da tarde. Às vezes, almoçavam juntos, nos velhos tempos. Mas depois, quando as coisas começaram a mudar entre eles e como a companhia de Marcelo parecia irritar a esposa, que passara a ocupar seu tempo em cursos e em academias de ginástica para que adiasse o regresso ao lar, os encontros escassearam ainda mais.

Em realidade, Marisa também estava buscando caminhos para tornar mais reais seus planos pessoais, no sentido de atrair a atenção de Glauco.

Marcelo, então, tratou de alimentar-se frugalmente, tomou um banho e, um pouco antes da hora prevista, saiu de casa para o encontro com Letícia, desta feita, bem mais elegantemente vestido. Afinal, bem ou mal, bonita ou não, iria estar na companhia de uma mulher a quem seus encantos poderiam produzir uma aproximação amistosa, sem qualquer pretensão que fosse amorosa.

Na pressa ou na emoção dos preparativos, no entanto, Marcelo esqueceu em casa o telefone celular, ocultado por um porta-retratos para trás do qual deslizara, inadvertidamente, quando o rapaz depositara seus objetos pessoais sobre o móvel aparador da entrada, na noite anterior.

Dirigiu-se para o endereço que sabia localizar com facilidade, por já ter sido informado por Letícia, nas conversas amistosas do escritório.

Conforme combinado ao celular, o porteiro do prédio, depois de consultar a proprietária do apartamento, permitiu que Marcelo ingressasse na garagem, indicando- lhe o local para o estacionamento. Não demorou muito e Marcelo subiu ao andar respectivo, onde o esperava uma outra Letícia.

Lá estava a mulher mais ansiosa do prédio naquela tarde.

O apartamento estava agradavelmente iluminado e decorado com sobriedade, com indiscutível bom gosto.

Som ambiente demonstrava o zelo de sua moradora, nas músicas leves e suaves que deslizavam pelos ouvidos.

No ar, uma fragrância sutil atraía a admiração do olfato, na combinação adequada entre visual agradável, audição harmoniosa e olfato atrativo.

E à sua frente, Marcelo tinha uma outra mulher. Letícia estava transformada.

Buscando externar sua admiração e espanto, quis voltar ao hall dos elevadores, informando que deveria ter-se equivocado de apartamento.

— Ora, Marcelo, cala a boca e vê se entra logo, seu moleque brincalhão!

— Nooooooossssssssaaaaaaa, Letícia, é você mesmo? — perguntou, admirado, o jovem, surpreso com o novo estilo.

— Claro que sou eu, seu engraçadinho. Quem você esperava? A madame Min? — referindo-se, Letícia, à bruxa das histórias em quadrinhos de Walt Disney.

Percebendo que seu espanto poderia ser mal interpretado, Marcelo emendou: — Jamais comparei você àquela bruxa, Letícia. Mas estou tão acostumado a vê-

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 147-156)