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Observando do alto e entendendo os fatos

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 156-161)

OBSERVANDO DO ALTO E

ENTENDENDO OS FATOS

Como se pode observar, naquela semana, os Espíritos inferiores tinham atuado em várias frentes com a finalidade específica de tecer uma teia envolvente que viesse a enredar todos os nossos invigilantes personagens.

Luiz havia sido afastado da boa influência.

Marisa, naquele sábado, encontrara, na agenda de recados de seu marido Marcelo, as três mensagens, duas de Letícia e uma outra anônima, produzida por Sílvia, as quais, direta e indiretamente, apontavam para a prevaricação do esposo.

Ao mesmo tempo em que, como esposa, se sentira surpresa, isso lhe soara como uma boa oportunidade para dar seguimento aos seus desejos de sedução de Glauco, apresentando-se como vítima da traição do marido e não como aquela que lhe dera causa.

Por isso, ao final da noite, quando Marcelo regressara do apartamento de Letícia ainda com as emanações alcoólicas a interferirem em seu equilíbrio consciente, Marisa optara por nada falar nem lhe fazer nenhuma cobrança, deixando-o entregue aos próprios desajustes, dando-lhe corda à vontade para que, no exato momento, pudesse enforcá-lo pela melhor maneira.

Antes de se retirar para dormir, a esposa deixara o celular visível ao lado de um bilhete, sobre a cama onde Marcelo passara a dormir, nas noites em que chegava muito tarde.

“Querido, aqui está o seu celular, que encontrei escondido atrás do nosso porta-

retratos. Não faça barulho porque estou muito cansada.”

Marcelo, acostumado com aquela rotina de indiferença, nada desconfiara sobre o fato de seus recados já terem caído no conhecimento de sua esposa, uma vez que não era hábito de ambos a investigação das ligações em seus aparelhos celulares pessoais.

Assim, depois que saiu do banho no qual procurava acordar melhor para avaliar o que havia feito com Letícia em seu apartamento acolhedor, Marcelo resolvera escutar as mensagens existentes na sua caixa postal, surpreendendo-se não com as duas que Letícia havia gravado, mas com as palavras melosas que ele sabia pertencerem a Sílvia, arrojada e provocante.

Ao ouvir-lhe a voz e o teor sedutor da mensagem, Marcelo deu-se pressa em apagar seu conteúdo comprometedor, tanto quanto as duas que Letícia havia produzido com a finalidade de confirmar c encontro do final de semana.

Já Marcelo, naquela noite, se perdia em tentar equacionar c envolvimento amoroso e íntimo que passara a estabelecer com as três moças que compunham seu grupo de trabalho no escritório.

Começara a se apaixonar pela bela Camila. Depois, descobrira em Sílvia um verdadeiro furacão na intimidade e, por fim, encontrara Letícia, uma flor delicada, a revelar-se do interior da casca em que se escondia, frágil e com medo de se expor, revelando sua verdadeira personalidade.

Por mais que tentasse colocar seus sentimentos em ordem, não sabia para que lado caminhar. Além do mais, ainda possuía o relacionamento com Marisa, o que significava tripla traição e enganação quádrupla.

Com exceção da esposa que, por seu comportamento estranho e hostil não lhe causava mais nenhuma atração ou interesse, Marcelo se interessava pelas outras três mulheres, cada uma por um motivo diferente.

Com Sílvia, sentia-se potente e viril, compartilhando o prazer pelo prazer ao lado de uma mulher experiente no assunto.

Com Camila, sentia-se sedutor e galante, enaltecido em sua vaidade por apresentar-se como o conquistador de uma mulher de beleza invejável.

Com Letícia, sentia-se forte e audaz, como um herói que chega para salvar a doce e ingênua donzela, solitária e sonhadora nos sentimentos, desejosa de se entregar ao seu cavaleiro, no compromisso definitivo de um afeto romântico e longamente esperado.

Com as três, havia pactuado manter a discrição no local de trabalho e o respeito aos seus espaços pessoais, afastando qualquer tipode suspeitas comprometedoras.

No entanto, não poderia adiar por muito tempo o plano de atingir Leandro com o golpe que o tiraria do posto de confiança de Alberto, visando conquistar-lhe o lugar.

Camila era sua aliada confessa, ao mesmo tempo em que, graças à intimidade com as outras duas, não lhe parecia difícil conseguir-lhes o apoio, principalmente depois de tudo o que aconteceu.

Sabia, no entanto, que tudo estaria perdido se, entre elas, a notícia de seu envolvimento físico com todas acabasse conhecida, o que representaria uma péssima novidade, arrasando com seus planos de ascensão.

Agora, a subida na empresa já não era mais para encantar Marisa. Era uma forma de ser importante para, finalmente, reconhecer-se melhor do que os demais e afirmar-se profissionalmente perante as mulheres e homens que ali trabalhavam em regime de constante competição.

Naquela noite, Marcelo, Sílvia, Marisa, Letícia, Camila e Luiz estariam assumindo suas posições no drama que iriam produzir, não por causa da ação das entidades negativas que os intuíam, mas por causa da maldade, da astúcia, da invigilância com que se conduziam na vida. Nesse sentido, adotando as atitudes mais nefastas para si próprios, se tornavam ferramentas destrutivas nas mãos de entidades inteligentes e igualmente nocivas, que, da mesma forma, os usariam.

No fundo, entretanto, todos estavam em processo de crescimento, tanto os encarnados e quanto os Espíritos ignorantes, ainda que tal evolução viesse a se realizar através das dores profundas e das recepções da alma, abrindo ferimentos que somente a noite dos séculos poderia cicatrizar.

No plano invisível, depois que o sábado se despedia e o domingo dava os primeiros sinais no horizonte, reuniam-se no astral inferior todos os encarregados do processo obsessivo daquele grupo.

Perante o Presidente da Organização, teriam que prestar contas de seus atos, incluindo-se aí, não apenas o Chefe e seus ajudantes, mas Jefferson e os representantes do Departamento que administrava as ações negativas do escritório onde nossas personagens trabalhavam.

Além do mais, de forma direta e agressiva seriam cobrados pela perda do chefe dos hipnotizadores, perda essa que já havia sido noticiada ao Presidente e que lhe havia causado profundos dissabores, que não foram atenuados mesmo com a revelação dos inúmeros sucessos obtidos com os encarnados que estavam se deixando manipular tão bem, em seus desejos e sensações pervertidas.

A reunião do grupo seria bastante tensa e ameaçadora, sobretudo porquê, com as notícias sobre o progresso do plano, o Presidente marcara para as próximas semanas a intensificação dos processos de perseguição, com a finalidade de atingir seus objetivos pessoais, objetivos estes ainda desconhecidos de todos os seus auxiliares, mesmo dos mais chegados.

A verdade é que todos os integrantes desse movimento, obedientes ao comandante trevoso, estavam sendo utilizados por ele para a conquista de suas metas de destruição e vingança que buscava com determinação.

Ao lado dessa reunião de entidades inferiores, nos círculos superiores do mundo invisível, nossos amigos Félix e Magnus continuavam acompanhando os passos de todos e, amparados pelo devotamento de Alfonso, podiam estabelecer roteiros para suas próximas ações, antevendo as estratégias negativas planejadas pelas trevas.

— Mas o pobre Glauco está sendo cercado por todos os lados — falou Magnus, compungido. — E nem está sonhando com tudo o que estão planejando a seu respeito.

— Sim, Magnus, é isso mesmo.

— Mas não seria bom que nós o protegêssemos para que não acabasse vítima de tantos ataques?

— E nós não o estamos ajudando? — perguntou Alfonso.

— Sim, de uma certa forma, mentor. No entanto, parece que estamos fazendo essas coisas à distância, enquanto que nossos irmãozinhos inferiores se apresentam diretamente, atacando-o de frente, sem rodeios.

— É, realmente você está avaliando bem a situação. Quando estamos no mundo, pensamos que a função de Deus é criar um sistema de proteção e vigilância para defender todos os que O aceitem e creiam em Sua existência. Pensamos que, pelo simples fato de irmos às igrejas ou envergarmos esta ou aquela camisa religiosa, passamos a ter direitos de exigir de Deus a proteção absoluta, não mais aceitando que nada de ruim nos aconteça.

No entanto, essa postura é ingênua e atesta o grau de infantilidade que ainda existe dentro de cada um de nós.

Que pai humano deseja criar o seu filho para que ele fique em sua dependência pelo resto da vida? Que mãe não deseja ver seu filho abandonar as fraldas e caminhar com suas próprias pernas? Ainda que estejam sempre por perto, dispostos a dar a ajuda que lhes seja possível, os pais humanos costumam, quando lúcidos e cônscios de suas obrigações no tutelar os filhos, entregá-los à vida, para que constituam suas próprias famílias e cresçam interiormente.

Assim também acontece com as preocupações Divinas, Magnus. Nosso querido Glauco é credor de nosso carinho e atenção e, sempre que estiver em sintonia conosco, estaremos com ele igualmente. No entanto, não desejamos transformá-lo em um boneco que nos obedeça ou que se entregue a nós como se nos pertencesse. Em sua história de vida, meu amigo, ele já passou por situações delicadas no afeto desprevenido e invigilante. Nada mais certo que, depois que lhe foi oferecida a primeira ajuda, na forma de conselhos e apoios à emoção desajustada, chegue a hora de passar pela prova decisiva para dar testemunho de que, efetivamente, aprendeu a lição.

Nessa hora, não podemos interferir, tornando-nos assistentes de seus pensamentos e decisões livres, como o aluno no dia da prova, para ser bem avaliado, precisa responder às perguntas longe das suas anotações pessoais, dos livros teóricos, da ajuda do professor e das fraudes representadas pelas cópias clandestinas.

Somente assim, Magnus, é que o aluno pode ser apreciado integralmente, ficando o professor e ele próprio com a exata noção do grau de seu aprendizado.

Como está vendo, meu amigo, não se trata de descaso para com Glauco e, sim, de conferir-lhe liberdade para que seus avanços espirituais possam ser testados, tanto quanto a sua ligação conosco, nos momentos mais perigosos de seu caminho.

Esse é um dos motivos subjacentes que levam a própria Gláucia, sua noiva, a não insistir em unir-se a ele, definitivamente, como é do desejo do rapaz.

Intuitivamente, ela sabe que existem fragilidades em Glauco que só o batismo de fogo poderá aferir se está ou não habilitado com maturidade a superar os desafios de uma união verdadeira e livre, longe das seduções dos corpos e das provocações femininas que cobicem a sua companhia masculina.

Se Glauco não souber se conduzir quando estiver livre para fazê-lo, demonstrará que ainda está em patamar menos elevado e, por isso, precisa de mais tempo para estudar as lições da vida até que possa ser vitorioso nos embates do destino.

Esse é o supremo motivo do processo de reencarnação.

Magnus se admirava da sabedoria de tais conceitos e, aproveitando-se de uma pequena pausa do instrutor, comentou, respeitoso:

— No entanto, nobre mentor, no dia da reunião em família, quando foi atacado pelo irmãozinho obsessor que lhe pretendia implantar os ovóides na estrutura magnética do perispírito, pudemos lhe estender as mãos protetoras, a defendê-lo, de forma mais direta, das ações nefastas do perseguidor. Não estaria, igualmente, em teste?

— Sim — respondeu Alfonso — sua observação é procedente. E tal fato assim se deu, porquanto Glauco estava em sintonia com a elevação interior. Não se esqueça, Magnus, que naquele dia, ao invés de esconder suas faltas no véu do esquecimento ao comentar o Evangelho, ele se colocou como o exemplo do equívoco a ser evitado, numa demonstração verdadeira de humildade, não desejando parecer incólume, irrepreensível aos olhos dos demais. Sua demonstração de coragem e sinceridade atraíram para si e de forma natural, a simpatia das forças do Bem que, conhecendo-lhe as fraquezas, puderam bem aquilatar o grau de seu comprometimento com a própria transformação, tornando-se credor da proteção imediata em relação aos ataques que sofreria.

Ao mesmo tempo, havia a necessidade de resgatar a entidade perturbadora, oportunidade longamente aguardada pelo plano superior, nos esforços maternos de amparar e reconquistar o coração transviado. Por isso, não apenas para ajudar Glauco como também para manter a necessária vibração elevada, fornecendo elementos-força para que o hipnotizador pudesse se ver tocado pela presença querida, é que tivemos que ativar o campo protetor do nosso querido companheiro encarnado, graças ao que o obsessor gastou seu potencial magnético em vão, tornando-se menos resistente à ação transformadora do Bem. Se tivesse conseguido o sucesso que desejava, não haveria em sua alma a disposição favorável que se consegue, às vezes, pelo desgaste, pelo cansaço, pela saturação no mal, pelo desencanto a respeito das velhas condutas inferiorizadas.

Por isso, a proteção por nós exercida a benefício de Glauco teve também a função de servir de escudo que obrigasse o hipnotizador a se enfraquecer magneticamente.

Sem contar com a possibilidade de resgatar as quatro entidades ovóides que puderam encontrar o amparo do coração materno que se materializou em nosso meio como um Sol na treva escura da noite.

Por todos estes motivos, Magnus, naquele dia tínhamos motivos variados para associarmos nossas forças às de Glauco. No entanto, não resta dúvida de que aquele era um ambiente especial, inundado pelas luzes da oração, enquanto que cada um, em sua vida diária, vive no universo das idéias e ações que lhes pareça mais conveniente.

E é nesse universo exterior que compete a Glauco dar demonstração de vitória sobre si mesmo e desejo de superar as tendências que, no passado, já o haviam envolvido e produzido a tragédia moral que conhecemos.

O mesmo será esperado de Gláucia, na compreensão sincera, no crédito que possa dar ao companheiro e na capacidade de entendimento que, afastada da proteção materna, do ambiente da oração em família, também precisará da dor, do sofrimento, da

decepção, para as avaliações evolutivas a seu respeito, visando o acesso às futuras promoções no conceito espiritual.

Magnus se dava por satisfeito, ao mesmo tempo em que Félix, calado até aquele momento, solicitara a conversação reservada com Alfonso para tratarem dos próximos passos daquele drama que, contendo os encarnados e os Espíritos inferiores como atores principais até aquele instante, eram acompanhados pela visão atenta das entidades generosas que lhes conheciam as intenções e desejavam ampará-los da forma mais ampla possível.

Assim, retiraram-se os dois instrutores para consultar os detalhes e desdobramentos daquele caso, tanto quanto para recolherem as instruções que lhes chegavam das Entidades Superiores que dirigiam os passos de seus tutelados encarnados, buscando envolvê-los nas companhias luminosas de Espíritos instrutores e mentores com Félix e Alfonso que, representando o Amor de Deus e o Carinho de Jesus na superfície do planeta, caminhavam ao lado de seus protegidos para tentar ajudá-los a fim de que não se comprometessem ainda mais nos equívocos e no mal.

Pode parecer, querido leitor, que o Mal atua sem controle do Bem.

No entanto, gostaria que você se lembrasse de que a verdade é absolutamente diversa.

O Mal atua dentro do espaço de manobra que os encarnados e desencarnados, igualmente invigilantes, lhe concedem.

No entanto, sobre todos eles, o Bem governa os caminhos e intervém no instante adequado para que, indistintamente, TODOS SE ENCONTREM CONSIGO MESMOS E RETIFIQUEM SEUS ATOS.

No documento Despedindo-se da Terra (Chico Xavier) - PDF (páginas 156-161)