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CHOPIN FOI UM HOMEM RELIGIOSO

No documento Ano I 1 / 2010 CURITIBA - PR (páginas 135-149)

Krzysztof TOMASIK *

Chopin foi um homem religioso! Está convencido disso o prof. Mieczyslaw Tomaszewski, um eminente musicólogo polonês e um dos melhores conhecedores da vida e da obra de Frederico Chopin. O mundo está comemorando agora os duzentos anos de nascimento do genial compositor.

Na opinião do prof. Tomaszewski, um dos argumentos principais em favor da profunda religiosidade do compositor é o parecer da sua companheira de vida por longos anos George Sand, a qual reconheceu que Chopin estava “refugiado no catolicismo”. Além disso, o musicólogo cita a opinião de pessoas próximas a Chopin – entre as quais Franz Liszt, que escreveu a respeito dele definindo-o como uma pessoa “profunda- mente religiosa e sinceramente apegada ao catolicismo”.

Na entrevista que se segue, o prof. Tomaszewski traça o perfil espiritual de Chopin, fala das inspirações e do significado da sua obra e tenta ainda responder à pergunta por que ele não compôs uma obra sa- cra.

Segue-se o texto da entrevista. O que é a música?

A música é um milagre, um milagre, um milagre... Um fenômeno difícil de explicar, mas com todas as marcas de um fenômeno miraculoso, que encanta, proporciona alegria, emoção... É simplesmente um milagre!

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Krzysztof Tomasik entrevistou o prof. Mieczyslaw Tomaszewski. Apresenta- mos aqui o texto da entrevista, que foi publicada no portal da KAI (Agência Católica de Informação). Agradecemos à KAI pela autorização para a publicação desse texto nas páginas da nossa revista polônica Polonicus. http://ekai.pl (01.03.2010).

Que lugar ocupa então nesse “milagroso universo musical” a música de Chopin?

Eu lhe dediquei apenas sete livros. Ocupa um lugar preeminente. A in- trodução da valorização, desse ponto de vista, é algo muito difícil e peri- goso. Muitas vezes me perguntam que disco eu levaria comigo, para a proverbial ilha deserta, com a música de Bach, Mozart, Chopin ou Bee- thoven. A resposta a esse tipo de pergunta é perigosa, porque se pode então, na própria espontaneidade, ser indecente, como por exemplo Fre- derico Nietzsche, que escreveu em seu Ecce Homo que por Chopin estava pronto a entregar todo o restante da música. Isso é incrível... Por ele es- tava pronto a entregar Bach, Mozart, Beethoven, Brahms! Ou vejamos Julian Tuwim, o qual disse que, se tivesse de escolher, entregaria Micki- ewicz com desespero, Slowacki com pesar, e dez Krasinskis – por um único Chopin. Por isso é difícil falar do seu lugar no universo musical. No meu sentimento de beleza, na música haverá lugar para Chopin, Mo- zart, Beethoven, Bach e Schubert, Schuman, Brahms ou Mahler. Esse é o meu Olimpo musical.

Como o senhor imagina a figura exterior de Chopin?

Eu não preciso imaginar a figura exterior de Chopin. Vejo-o em dezenas de imagens que a sua época deixou, desde a idade juvenil, em 1826, até 1829, quando foi retratado por Eliza Radziwill. Depois, ainda em 1929 ele foi maravilhosamente retratado por Ambrósio Miroszewski. Há também alguns retratos a respeito dos quais não sabemos se eles retratam Chopin ou não. Mas certamente o melhor é o retrato de Eugene Delacroix, que nos mostra um Chopin maduro, como alguém que na rua não podia dei- xar de chamar a atenção de ninguém. O retrato de Delacroix reflete per- feitamente a profundeza dos sentimentos e dos pensamentos do compo- sitor. Ele foi ali retratado num momento especial – de enlevo sentimental em relação a George Sand. Depois temos alguns retratos de salão, como os de Ary Scheffer, Antônio Kolberg, até chegarmos aos daguerreótipos e à única fotografia, de Louis-Auguste Bisson.

Ele era um homem apresentável?

Era um homem de estatura mediana, com cerca de 170 centímetros de altura, sempre magro e de cabelos loiros. Quanto à cor dos olhos, temos

pronunciamentos diversos. Fala-se que seus olhos eram de um cinza azulado.

Qual dos testemunhos das pessoas contemporâneas de Chopin pode ser reconhecido como o melhor?

Um dos melhores retratos de Chopin é fornecido por Franz Liszt em sua monografia, uma das primeiras, publicada em Paris em 1852, na qual ele descreve o compositor com entusiasmo. De todas as descrições preserva- das resulta que ele irradiava benevolência diante das pessoas. E realmen- te ele foi assim. Se alguém diz que ele era sobretudo uma pessoa dos salões, isso é falso na medida em que ele frequentava os salões em razão da sua profissão. Ele tocava nesse ambiente e pelos concertos apresenta- dos nos salões ganhava dinheiro, da mesma forma que ganhava dinheiro dos seus alunos. Mas, permanecendo nos salões, ele não assumiu nada do ouropel desses salões. Existe um testemunho engraçado do compositor suíço Stefan Heller, que, ao fazer a Robert Schumann um relato da vida parisiense da época, escreveu: “Chopin se afunda na lama dos salões, mas nada disso adere a ele, que escreve com beleza e profundidade”. Trata-se de um excelente testemunho. Chopin introduzia nos salões um tom elevado, a sublimidade e os ideais. Uma prova disso são as palavras de Solange, filha de George Sand, que chama a atenção para o fato de que nos anos 30 do século XIX, quando florescia o salão de sua mãe, em 1836 surgiu nele pela primeira vez Chopin. Lembra ela que, a partir do mo- mento em que nele entrou Chopin, tudo ali mudou. A sua presença eli- minou pessoas casuais e vulgares. A partir de então o salão tornou-se um lugar santo, um lugar de conversas sérias, no qual era praticada a arte elevada. Ali Sand lia à noite o que havia escrito pela manhã, e Chopin apresentava as suas novas composições.

Parece que Chopin não gostava muito de se apresentar em grandes salas de concertos...

É difícil dizer se isso realmente acontecia. Chopin iniciou a sua carreira a partir de concertos públicos. Em 1930, em Varsóvia, antes de viajar apre- sentou na primavera dois, e no outono um concerto. Naquela ocasião, para a apresentação do jovem pianista na Ópera de Varsóvia vieram 700 a 800 pessoas, que o aplaudiram com entusiasmo. Na mesma oportuni-

dade escrevia resenhas entusiásticas a respeito da sua música Maurycy Mochnacki. Essas resenhas precederam as opiniões de Schumann, que disse: “Senhores, tirai os chapéus, aqui está um gênio”. Foi Mochnacki quem anteriormente o havia chamado de gênio, mas, mais importante que essa definição era a sua constatação de que aquilo que tocava Chopin era a “verdade”, visto que nela não existe ênfase nem páthos.

Chopin iniciou a sua carreira como um pianista que compunha. Fez con- certos em Viena e Paris. Na capital da França apresentou o primeiro concerto em fevereiro de 1832, e imediatamente se tornou um grande su- cesso. François Fetis, que na época era o “papa” dos críticos musicais, escreveu que havia chegado um jovem pianista de Varsóvia, que em tudo que apresentava, na melodia, na harmonia, no ritmo, na composição pianística era original.

Durante os primeiros cinco anos em Paris, Chopin foi um pianista concer- tante. Em 1836 realizou-se um concerto que não teve sucesso e que ele mesmo havia organizado na Ópera de Paris em prol dos emigrantes po- loneses pobres. Ele realizou o seu concerto de piano. No entanto, para as condições do salão da ópera, tocou baixo demais, e a apresentação não causou uma grande impressão. Já naquela época estava amadurecendo nele alguém que, de um pianista concertante, que compõe música, surge um compositor, que de vez em quando faz concertos. Ele se tornou um pianista de câmara e apenas de vez em quando, a pedido de amigos, dava concertos no Salão de Pleyel nos anos 1841, 1842 e 1848. Numa re- senha de um desses concertos Liszt escreveu que esteve presente nele a elite francesa do talento – os artistas, da beleza – as mulheres, do dinheiro – os banqueiros e os políticos. Foi um sucesso incrível. O poeta alemão Heinrich Heine, na sua correspondência de Paris a jornais alemães, e outros escreviam que havia excelentes pianistas, como Liszt ou Thalberg, mas que havia um que sobrepujava a todos eles, e este era Chopin. Nos rankings dos pianistas ele era sempre o primeiro, ou melhor que os ou- tros. Balzac disse certa vez que quem não ouviu Chopin não pode falar de Liszt. “Chopin é o anjo, e Liszt é o demônio” – disse o escritor francês. Também durante a turnê pianística de Liszt e Thalberg discutia-se quem era melhor, e escrevia-se que a resposta só podia ser uma – Chopin. Nos

anos 40 do século XIX ele já não queria apresentar-se em grandes salas de concertos. Ele sentia-se bem diante do público de câmara.

Os concertos lhe garantiam a independência financeira?

Os concertos lhe proporcionavam também grandes sucessos financeiros. Numa carta a um primo seu, Sand escrevia que num único concerto, com os golpes das duas mãos, por duas horas Chopin havia recebido 6 mil francos e que poderia nadar em ouro durante anos inteiros.

Como era seu caráter? Era sanguíneo ou colérico?

Era sem dúvida um sanguíneo. Reagia à realidade de forma extremamen- te viva, espontânea e transparente. Possuía também um excelente talento de ator e parodista, para o que contribuía a sua elevada cultura pessoal, a qual fazia com que fosse considerado um conde ou príncipe. Chopin tinha um comportamento diferente no ambiente oficial, onde se apresen- tava como um príncipe, e entre os seus amigos, sobretudo poloneses, quando era inteiramente ele mesmo. Famosos eram os seus encontros no Hotel Lambert, em Paris, com a família Czartoryski, quando passava horas inteiras tocando para as pessoas que se divertiam. Também duran- te as suas estadas em Nohant ele montava um burrinho, ao lado de Sand, que montava um cavalo, o que devia ser um espetáculo interessante. Gostava de jogar bilhar com os convidados e xadrez com a Solange, com a qual sempre jogava de maneira a perder. Ali também, em companhia de Paulina Viardot, participava de festas e diversões populares. E não havia nisso nenhuma bipartição de personalidade. Nos salões ele cum- pria a profissão de pianista, e com os seus companheiros era inteiramente ele mesmo.

Como as mulheres se comportavam diante de Chopin?

No relacionamento com as mulheres Chopin era tão sensível que não sou capaz de comparar com ele qualquer outro compositor. Como falam a respeito dezenas de testemunhos, ele reagia à beleza das mulheres viva- mente e com elevada cultura. Pode-se dizer que as suas reações eram platônicas. Alguém até o acusou de conquistador, do que ele ria numa carta escrita a um amigo. Reagia vivamente à beleza e aos fluidos proce- dentes das mulheres. Por outro lado, contava com a adoração do lado do

belo sexo. Lembremos que três quartos dos seus alunos eram constituídos por mulheres, entre as quais estavam as mais belas damas da Europa. Sand certa vez escreveu com bastante malícia que durante uma noite ele se havia apaixonado por três mulheres. Mas ele não se ofendia com isso e dizia que esse tipo de opinião era permitido a uma autora de romances. Ele se realizou no amor?

O seu amor por George Sand certamente foi completo. Da mesma forma, pode-se falar de um amor completo, no início dos anos 30 do século XIX, em relação a Delfina Potocki. Ele sempre se encontrava junto a Chopin nos momentos mais importantes da sua vida, sobretudo na hora da mor- te. Durante a sua agonia ela lhe cantava as suas canções prediletas. De- monstrou-lhe um sentimento que perdurou até o fim da vida. Chopin escreveu a última das suas canções para as palavras de Zygmunt Kra- sinski, que havia recebido de Delfina – “Das montanhas de onde trazi- am”. Ele transcreveu essa canção no álbum de poesias dela e assinou “Nella miseria”. Eram palavras da Divina Comédia, de Dante: “Não existe dor mais pungente do que lembrar os dias felizes na desdita”. Essas pa- lavras de Chopin comprovam que a bela amizade de Chopin com Delfina permaneceu até o fim.

Mas com George Sand...

O outro amor realizado foi George Sand. Foi uma espécie de resposta ao sentimento não realizado em relação a Maria Wodzinski, da qual foi noi- vo confidencial, mas infelizmente isso não resultou em nada. Sand prin- cipalmente se apaixonou pela sua música e pela sua personalidade. Lu- tou por ele encarniçadamente. Por causa dele ela usava roupas de cores branca e vermelha e travava amizades com poloneses, entre os quais Mickiewicz, para estar perto dele. No final conquistou o seu coração. Ela escreveu a esse respeito a um amigo de Chopin, Adalberto Grzymala, na qual argumenta que ele não estaria feliz numa união com a Wodzinski. Explodiu mutuamente não apenas um ardente sentimento, mas a paixão. Mas isso acabou durante uma estada na Maiorca, quando Chopin teve de regressar a Paris após uma violenta crise de tuberculose. O relacionamen- to deles durou alguns anos. Mais tarde, da parte de Chopin era o amor, e da parte de Sand – a amizade. Ela cuidou dele como uma enfermeira,

nisso esforçou-se ao máximo e sob a influência de Chopin tornou-se uma outra pessoa. Mas, apesar de ter acabado o relacionamento sentimental, na minha opinião Chopin nele se realizou. Vejamos que durante os anos desse relacionamento, no período 1839-1847, ele compôs quase todas as suas obras mais geniais. Essas obras eram compostas na hospitaleira resi- dência de Nohant. E, seja qualquer coisa que se diga a respeito de George Sand, não nos podemos esquecer de que foi ela quem lhe possibilitou isso. Certamente ela o motivava com a fascinação que demonstrava dian- te da sua arte. Numa das suas cartas ela escreve que Chopin compôs três novas mazurcas, que valiam mais que todos os romances do século XIX. Era uma afirmação exagerada, mas sincera. Em suas memórias – História da minha vida – Sand escreveu a respeito de Chopin as mais belas palavras que era possível escrever, dizendo que ele era o mais maravilhoso artista que havia encontrado em sua vida. Mas foi também nessa carta que ela escreveu uma frase espantosa: “Uma coisa não lhe posso perdoar – o seu apego ao catolicismo”.

Justamente... Ele foi uma pessoa religiosa? Há várias opiniões a esse respeito, inclusive a de que era indiferente quanto à religião...

Não apenas se falava do seu indiferentismo religioso, mas até se escrevia que era um ateu. Opiniões desse tipo surgiram já no final do século XIX. Escreveu a esse respeito Fernando Hoesick na monografia Chopin – vida e obras. Na opinião desse autor, já o próprio relacionamento com George Sand comprovava que ele não era religioso. Eles simplesmente viviam juntos sem serem casados. Naturalmente, em razão disso Chopin tinha remorsos de consciência, pois de outra forma Sand não teria escrito a respeito daquele “apego ao catolicismo”. Depois eram apresentados ou- tros argumentos. O filósofo religioso André Nowicki, em seu texto A religião de Frederico Chopin, conta que nas cartas de Chopin a palavra “Deus” aparece setenta vezes e que ele a utilizava apenas no sentido convencional, por exemplo: “Queira Deus que faça bom tempo”. Então eu pesquisei como isso se apresentava na realidade e posso afirmar que todos que acusam Chopin de irreligiosidade – não sei por que razões – fecham os olhos aos fatos. Hoesick devia conhecer a opinião de Sand a respeito do seu “apego ao catolicismo” e não sei por que ele não quer reconhecer que afinal essa afirmação é o argumento principal e suficiente

a favor da religiosidade de Chopin. Um outro argumento é também a utilização da palavra “Deus” em setenta ocasiões. Chopin se utiliza dela diversas vezes justamente de forma não convencional, por exemplo na carta a um amigo: “Que Deus te conduza, que eu aqui vou rezar”, ou nas palavras dirigidas a um jovem pianista: “Que Deus abençoe o teu traba- lho”. Vamos adiante. Será que uma pessoa religiosamente indiferente escreveria “Hoje é Quarta-Feira de Cinzas”?. Expressões desse tipo e outras semelhantes podem ser encontradas nas cartas de Chopin de Vie- na, Paris e outras localidades. Será que um ateu escreveria que num de- terminado dia se comemora uma festa da Igreja? Para assim escrever, é preciso ser uma pessoa verdadeiramente crente.

Além disso, temos ainda numerosos testemunhos da religiosidade de Chopin procedentes das pessoas dele mais próximas...

Sem dúvida. Vejamos a monografia de Liszt Chopin, de 1852, na qual ele o descreve como uma pessoa “profundamente religiosa e sinceramente apegada ao catolicismo”. Outros testemunhos provêm de um outro cató- lico praticante, que era Eugene Delacroix. Anteriormente, numa das suas cartas ao amigo Tito Woyciechowski, de 1828, Chopin havia escrito: “Há uma semana nada tenho composto, nem para os homens nem para Deus”. Como então devem ser entendidas essas palavras num composi- tor que não compôs nenhuma obra religiosa?

Justamente. Por que ele não compôs nada desse tipo? Será que era uma questão do estilo, da moda daquela época?

Ao contrário! Naquele tempo existia a moda de escrever obras religiosas. Para o fato de Chopin não ter composto obras sacras contribuíram duas questões: ele tinha um profundo sentimento do próprio valor, conhecia os seus limites criativos e era marcado pela modéstia. Não entrava em áreas em que sentia que não era competente. Escolheu como seu instru- mento o piano e ele se sentia melhor compondo justamente para esse instrumento. Era uma escolha da sua vida. Chopin não apenas não escre- veu uma composição religiosa, mas, por exemplo, não compôs uma ópe- ra, apesar das pressões, por exemplo, do seu mestre José Elsner. Além disso, é uma característica maravilhosa dele não ter composto profissio- nalmente. Ele compunha para expressar a si mesmo, e por isso encontrou

o instrumento que a ele melhor se adaptava. Numa das suas cartas ao amigo Woyciechowski escreveu que “eu digo ao piano o que muitas ve- zes gostaria de dizer a mim mesmo”. Também Sand escreveu que Chopin era fechado para o exterior, não admitia ninguém em seu santuário e entregava todo o seu interior à música. O característico é que tanto Sand como Liszt escrevem da inacessibilidade ao interior de Chopin. No entan- to ambas essas pessoas não sabiam que Chopin se abria sobremaneira, o que acontecia nas suas cartas aos familiares e aos amigos poloneses. Basta lembrarmos a sua correspondência com o amigo Woyciechowski, com João Matuszynski ou com o Diário de Stuttgart. Neste último aparecem palavras semelhantes ao famoso trecho da Grande Improvisação de Micki- ewicz: “Ó Deus, Tu existes e não te vingas? Não Te são suficientes ainda os crimes moscovitas – ou Tu mesmo és um moscovita?”

Como compositor, Chopin foi mais intuicionista ou racionalista? João Ekiert disse certa vez: “Chopin tinha a cabeça nas nuvens, mas an- dava firmemente pela terra”. “Pela terra” é a sua educação iluminista e clássica alcançada sob a supervisão do pai, Nicolau Chopin, no Liceu Varsoviano de Bogumil Linde e José Elsner. Ele obteve uma educação racional, iluminista. Mas, por influência da mãe e de amigos da casa co- mo Witwicki e Casimiro Brodzinski, moldou-se nele um sentimento ro- mântico e religioso. Graças a isso, ele se tornou o mais eminente repre- sentante do Romantismo na música. Paradoxalmente, ele era um român- tico que negava a maioria das teses fundamentais daquela época. Não se ligava com a Idade Média. Para Chopin, o fantástico não dominado pela forma é inadmissível. Não existe nele também a ligação entre a palavra e a música – as canções são marginais em sua criatividade. A seguir, perce- bamos em Chopin a falta de obras programáticas, como ocorre com Hei- tor Berlioz ou Liszt. Mas, apesar da falta desses traços, Liszt escreveu em sua monografia que Chopin foi o líder da escola romântica.

Há em Chopin muitos outros paradoxos desse tipo...

Igualmente paradoxal é o seu relacionamento com o heroísmo, o patrio- tismo e a Pátria.

Junto a seus contemporâneos ele tinha a fama de um “pianista e compo- sitor político”...

O patriotismo despertou em Chopin muito vivamente em razão da ami-

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