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A IMIGRAÇAO BRASILEIRA NO PARAGUA

CIDADE DE SANTA RITA – ALTO PARANÁ, PARAGUA

Uma das ruas principais da cidade de Santa Rita, Alto Paraná –Py (Foto do jornal Última Hora, 23/09/2003)

O crescimento econômico dessa e de outras cidades favoreceu a constituição de uma elite local que lutou pela emancipação desses municípios e que posteriormente tem disputado os pleitos eleitorais. Alguns médios e grandes agricultores e comerciantes brasileiros estão se tornando vereadores. Os filhos destes imigrantes “bem sucedidos”, que já nasceram no Paraguai, começam a disputar as eleições municipais e a se tornarem prefeitos.

5. O aumento do poder político dos imigrantes

Atualmente há um prefeito que é imigrante brasileiro, três prefeitos paraguaios que são filhos dos imigrantes no departamento do Alto Paraná e vários vereadores brasileiros nos departamentos de Alto Paraná e Canindeyú39. Os vereadores brasileiros atuais começaram a vida

39 O imigrante é prefeito de Mbaracayu (José Giacomelli), e os descendentes de imigrantes são prefeitos de Naranjal (César Padoin), Santa Rosa de Monday (Clairton Feix) e San Alberto ( Luciana Valaites Maia). A lei municipal paraguaia só permite que os imigrantes sejam vereadores. O atual prefeito de Mabaracayu recorreu a Constituição de 1992 a qual permite a candidatura de estrangeiros ao cargo de prefeito, embora a legislação municipal proíba.

política ainda no período da ditadura de Stroessner como secretários de alguma seção do Partido Colorado. No contexto democrático, as colônias e vilas fundadas por brasileiros se tornaram municípios. Desde então começaram a se candidatar e a se eleger em número crescente a cada eleição40. Atualmente a maioria dos vereadores e prefeitos faz parte do Partido Colorado, com exceção do prefeito de Mbaracayu, que é do Partido Liberal, e de alguns vereadores que pertencem a outros partidos. Os colorados estão no poder desde a Ditadura de Stroessner (1954- 89) e continuam sendo o grupo político mais estruturado na sociedade paraguaia. O processo democrático paraguaio tem sido bastante parcial, as oposições não chegaram ao poder e o partido da ditadura, com suas variadas tendências, continua governando o país 41. Provavelmente seja conveniente que a maioria desses imigrantes se candidate por esse partido devido ao apoio que teve na época da ditadura e pelo fato do governo atual ser colorado, facilitando a governabilidade e o repasse de recursos em um país bastante centralizado.

O primeiro prefeito brasileiro chegou ao poder nas eleições de 1998 na pequena cidade de San Alberto, Alto Paraná. Ele pediu a naturalização paraguaia para poder disputar a administração municipal. Fazia parte de uma rica família de imigrantes e era dono da principal rádio local. Nas eleições de 2001, sua sobrinha se torna prefeita daquele município e outros três descendentes ou imigrantes se elegeram em outras cidades do Alto Paraná. Todos estes atuais prefeitos destacaram a ampla maioria de votos que tiveram e a boa legitimação de seus mandatos, dois deles pensam na reeleição.

Disputando era eu com mais três e nós ganhemos com 66, 6% acima dos 3. Saí muito bem, dos 12 vereadores, 8 entrou da minha lista. Nas mesas de imigrantes a diferença era de 260 contra 7, contra 3 e contra 1, uma coisa assim. Na mesa de paraguaios natos era menos a diferença, mas também tinha diferença para nosso lado (César Pandoin, Prefeito de Naranjal, 19/11/2004).

Não existe votação individual para vereador no Paraguai. Cada partido político define previamente a quantidade e a ordem de candidatos. Conforme o número de votos para cada partido que concorreu ao cargo de prefeito, se escolhe proporcionalmente a quantidade de

40 Na cidade de San Alberto, na primeira eleição municipal se elegeram dois vereadores brasileiros, na segunda

eleição este número subiu para 4, e agora na terceira eleição já são 5.

41 O jogo político no Paraguai após a longa ditadura de Stroessner tem se modificado lentamente. Não houve

alternância de poder no processo de democratização da sociedade paraguaia, o mesmo partido do período da ditadura continua no poder, o Partido Colorado. Mas este partido não é um bloco monolítico, as facções mais progressistas vêm ocupando o poder. Por sua vez, as forças de oposição, embora não tenham conseguido conquistar a Presidência da República, aumenta sua participação no Legislativo e na organização de setores populares, especialmente o movimento campesino.

vereadores de cada lista partidária. No caso citado acima, o prefeito obteve 66,6% dos votos e elegeu 8 vereadores de um total de 12. Neste município existem seções eleitorais formadas basicamente por imigrantes e seus descendentes. O prefeito “brasiguaio” obteve maior votação justamente nestas zonas eleitorais. De uma maneira geral, esses prefeitos se elegem principalmente com os votos dos imigrantes e seus descendentes e de alguns “paraguaios natos”. Os descendentes de brasileiros são maioria nestas cidades e os candidatos identificados com os imigrantes conseguem se eleger com boa margem de diferença em relação aos outros concorrentes.

Esses prefeitos são bastante jovens, eles têm entre 25 e 35 anos. Aqueles que geralmente detêm maior prestígio e legitimidade nessas cidades são os imigrantes “pioneiros” que fundaram os municípios e participaram dos processos de emancipação. Todavia, estes não têm a naturalização paraguaia para disputar o cargo de prefeito, então resolvem lançar como candidatos os filhos e os sobrinhos que já nasceram no Paraguai. O prefeito da cidade de Naranjal tem 25 anos e afirma que “na verdade tinha que ser meu pai, mas ele não podia por causa de

documento, então jogaram pra mim” (César Pandoin, Prefeito de Naranjal, 19/11/2004). Esses

jovens prefeitos se apresentam como modernos e relatam que estão rompendo com a cultura política corrupta e autoritária da sociedade paraguaia, herdeira do período da ditadura de Stroessner. Há um discurso bastante divulgado e aceito entre os imigrantes e seus descendentes que o Paraguai só vai mudar e se modernizar quando estes ocuparem os principais cargos políticos municipais e nacionais.

Eu digo para você dentro de 4 ou 5 anos vai ter uma renovação dentro do Paraguai que são os filhos destes imigrantes tomando toda a parte política. Hoje nós temos aqui no distrito de Naranjal, onde eu moro, nós temos um prefeito de 25 anos. Ele é filho de imigrante, filho de brasileiro, mãe argentina, e são todos descendentes de alemão ali. Então é uma renovação, o que ele fez, é uma política jovem. Já tem senador que é descendente de alemão, só que eles são uma minoria, mas cada dia estão crescendo mais e vai chegar num momento que vai mudar esta mentalidade (Sérgio Kempf, líder do movimento jovem da Congregação Scalabrini, 19/11/2004).

A crença desse líder juvenil é que os imigrantes implementarão um projeto de modernização política no país. Todavia, não basta ser imigrante brasileiro, mas especialmente aqueles descendentes de alemães, como ele mesmo e o prefeito citado. Ele elogia os deputados e os senadores descendentes de imigrantes e até o ex-ditador Stroessner, que também era filho de

alemão. Nessa perspectiva, os imigrantes seriam os porta-vozes dos ideais da modernidade, enquanto os paraguaios seriam tradicionais e atrasados, como discutirei no quinto capítulo.

6. A influência cultural brasileira na zona de fronteiras

Os imigrantes não estão presentes somente na economia e na vida política local. É bastante significativa a influência cultural (língua portuguesa, meios de comunicação, religião, música, danças, tradições e culinária) do Brasil nesta ampla zona de fronteira. É justamente na língua e nos meios de comunicação que podemos refletir sobre o que alguns trabalhos já denominam de “espaço brasiguaio” (Souchaud, 2002), ou de “um pedaço do Brasil no Paraguai”, como alguns entrevistados expressaram durante o meu trabalho de campo.

A língua guarani é a mais falada no Paraguai, principalmente na zona rural. O espanhol é o segundo idioma em todo o país e o mais falado em Assunção. Além dessas duas línguas oficiais, o português aumenta sua importância no país devido à imigração brasileira e à influência dos meios de comunicação na zona de fronteira. Conforme dados do último censo, 326.496 pessoas falam em português no Paraguai, quase quatro vezes a mais do total oficial de imigrantes brasileiros regularizados naquele país (81. 592).