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A doutrina classifica a negociação coletiva de trabalho sob diversos aspectos, não havendo uma uniformidade que justifique a inclusão desses diversos critérios no presente tópico162. Contudo, uma variável é de suma importância para a

classificação da negociação coletiva, uma vez que implica em repercussão constitucional e legal. Trata-se da classificação da negociação coletiva quanto à liberdade em que as partes podem exercê-las.

Assim sendo, a negociação coletiva pode ser voluntária ou obrigatória, sendo que a primeira ocorre nas hipóteses em que o exercício do direito de negociar depende única e exclusivamente da vontade das partes, ao passo que na segunda as partes devem necessariamente negociar, mesmo que seja para poder praticar determinado ato ou exercitar um direito163.

O direito pátrio adota a hipótese da negociação coletiva como sendo obrigatória, ex vi do disposto na art. 616 da Consolidação das Leis do Trabalho164, onde os sindicatos, quando provocados a participarem de uma negociação coletiva, não podem recusar-se. Ademais, para que seja possível buscar-se uma solução jurisdicional em relação a um conflito coletivo de interesses, há necessidade de efetivamente realizar-se a negociação coletiva e somente após de frustrada esta é que poderá ser exercido o direito de pleitear a prestação jurisdicional, conforme determinação constitucional165.

162 Alfredo Ruprecht classifica a negociação coletiva em quatro categorias. a) negociação coletiva de

criação, que consiste na negociação que vai produzir a primeira convenção coletiva de trabalho, até então inexistente; b) negociação coletiva de modificação, por meio da qual se deseja mudar algumas cláusulas, condições ou princípios de uma convenção coletiva já vigente; c) negociação coletiva de substituição, que ocorre quando se substitui uma convenção coletiva vigente por outra nova e; d) negociação coletiva de esclarecimento, que se manifesta quando é necessária a celebração de ou outra convenção coletiva para elucidar conceitos ou situações que se apresentam confuso ou de difícil interpretação existente em determinada convenção coletiva previamente existente. (RUPRECHT, Alfredo. Conflitos coletivos de trabalho. trad. José Luiz Ferreira Prunes. São Paulo: LTr, 1979, p. 27.)

163 SCUDELER NETO, Julio Maximiano. Negociação coletiva e representatividade sindical. São

Paulo: LTr, 2007, p. 33.

164 CLT, art. 616 - Os Sindicatos representativos de categorias econômicas ou profissionais e as

empresas, inclusive as que não tenham representação sindical, quando provocados, não podem recusar-se à negociação coletiva.

165 CF/88, art. 114, § 2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é

facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

Dessa forma, resta absolutamente claro a opção do ordenamento jurídico pátrio em adotar o critério da obrigatoriedade da negociação coletiva.

Da mesma forma, a negociação coletiva pode resultar em condições de trabalho mais ou menos benéficas do que as atuais condições.

Por conseguinte, a negociação coletiva também pode ser dividida em negociação in mellius e negociação in pejus. A primeira é aquela que resulta em condições mais benéficas aos trabalhadores em relação às atuais condições de trabalho, estipuladas em convenção ou acordo coletivo de trabalho, ao passo que a segunda é aquela que resulta em redução de vantagens aos trabalhadores, em relação às condições atuais.

Obviamente que a negociação coletiva que atribua melhores condições de trabalho para a respectiva categoria deve prevalecer sobre outros instrumentos de negociação, ou seja, um acordo coletivo que defina melhores condições para os trabalhadores devem prevalecer sobre a convenção coletiva menos benéfica. Ademais, o instrumento negociado mais benéfico para os trabalhadores deve prevalecer sobre outras fontes formais do direito, como a lei, por exemplo, diante do princípio da norma mais favorável. Esse é também o entendimento de Renata Nóbrega Moraes, para quem as alterações in mellius são sempre permitidas, ainda que contrariem normas tidas como hierarquicamente superiores166.

Contudo, chame-se atenção para a exigência de que as alterações para melhor, mesmo que contrariando normas tidas como superiores em uma ordem hierárquica, estão condicionadas à validade dessas no ordenamento jurídico.

Conforme analisado alhures, a autonomia privada coletiva, norma fundamental atribuída, é o principal pressuposto de validade das negociações coletivas, ou melhor, a negociação coletiva é o pleno exercício da autonomia privada coletiva, o que justifica a realização de uma negociação coletiva para melhor, ou mesmo para pior, dentro dos limites impostos constitucionalmente.

Sendo assim, é possível que a autonomia privada coletiva, uma vez que autorizada constitucionalmente, possa se manifestar de forma a estabelecer e

166 MORAES, Renata Nóbrega Figueiredo. Flexibilização na CLT: na perspectiva dos limites da

modificar, in pejus, as condições de trabalho, adequando às necessidades das partes167.

É o que se extrai da Constituição Federal, em seu art. 7º, incisos VI, XIII e XIV, que estabelece a possibilidade de redução de direitos por ela mesma assegurados, mediante a negociação coletiva, in verbis:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;

Portanto, verifica-se que normas constitucionais de proteção mínima dos trabalhadores podem ser renunciadas diante do exercício da autonomia privada coletiva, que é realizado no âmbito das negociações coletivas. Contudo, observe-se que não é uma simples renúncia de direitos mínimos garantidos constitucionalmente. Em verdade, o que ocorre é um sistema de compensação, ou seja, a constituição autoriza a redução desses direitos por meio da negociação coletiva, mas desde que haja uma respectiva compensação aos trabalhadores, conforme se constata do inciso XIII supra.

O que se verifica é a irreversível função democrática exercida pela autonomia privada coletiva, como instrumento capaz de atribuir melhores condições aos trabalhadores, sem a necessidade de se aguardar a iniciativa legislativa para a edição de leis, fomentando, assim, o diálogo e a composição dos conflitos coletivos por meio da negociação coletiva de trabalho.

Por fim, a negociação coletiva de trabalho pode ser classificada quanto à regulamentação pelo Estado, sendo que na hipótese de ausência de regulamentação estatal (ou regulamentação mínima), a negociação coletiva pode ser livre ou desregulamentada, uma vez que as próprias partes estabelecem as

167 SCUDELER NETO, Julio Maximiano. Negociação coletiva e representatividade sindical. São

regras. No caso de imposição Estatal, mediante lei, das regras para negociação coletiva, diz-se que esta é regulamentada168.

O ordenamento jurídico pátrio não impõe regras a serem seguidas na negociação coletiva, isto é, adota-se a livre negociação.