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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4. Clima de Escola e Cultura Escolar

No contexto deste estudo, foi considerado importante abordar o significado de clima de escola e de cultura escolar, por considerarmos relevante para a compreensão das interacções escolares e para analisar o clima e a cultura escolar vigentes em cada uma das escolas deste estudo.

O conceito de cultura e de clima encontra-se, por vezes, associado por autores como Katz e Kahn 1978 mas, por outro lado, autores como Hoy, Tarter e Bliss 1990, consideram que a conceptualização de clima é mais complexa e vaga que a conceptualização de cultura (Teixeira 1995).

Clima é a percepção que os indivíduos em inter-relação com o meio e com os outros intervenientes, têm do seu trabalho e dos papéis que desempenham (Nóvoa, 1990). O clima da escola reporta-se à percepção dos actores escolares em relação às práticas existentes na sua escola (Brunet, 1992). Teixeira 1995, considera que clima é aquilo que os intervenientes vêem e sentem da própria instituição, tomando esta problemática um carácter muito subjectivo. Este autor refere também que existe uma forte relação entre o clima e a motivação dos intervenientes, concluindo que onde existe cooperação e partilha, hábitos de trabalho em comum e espírito de equipa existe uma maior motivação e satisfação no trabalho.

Na revisão da literatura encontramos muitos significados para o termo cultura das organizações, ora sendo a escola uma organização achámos importante reter alguma informação relativa a este termo.

Existem autores defensores de cultura enquanto realidade homogénea, como por exemplo, Lemaître 1987, que define cultura como «um sistema de representações e de

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valores partilhados por todos». Autores defensores da cultura enquanto realidade heterogénea, com clivagens, como por exemplo, Aktouf 1990, que define cultura como «um conjunto complexo e multidimensional de quase tudo o que faz a vida em comum nos grupos sociais», implicando uma relação entre a história, as condições de vida e as vivências das pessoas. Ou autores, como Morgan 1992, que abordam a cultura como um «processo de construção da realidade, que permite às pessoas compreender os acontecimentos, acções, declarações, situações ou objectos particulares de modo muito especial». Este autor afirma que a cultura não se impõe, ela desenvolve-se no decorrer das interacções sociais. Já para Sainsaulieu 1987, a cultura são representações comuns sobre o modo de agir para comunicar, decidir, informar, empreender projectos e um sentido de pertença. A cultura está portanto intrínseca às orientações do comportamento, como afirma Enriquez 1989, é um conjunto de valores, normas, pensamentos ou acções que deve modelar a conduta, ou, como afirma Hampden-Turner 1993, «é um modo de vida, de formas de actuar, sentir e pensar que são apreendidas por grupos de pessoas». Para Labie 1986, a cultura é a base das relações sendo simultaneamente «um modo de vida, uma escala de valores, um conjunto de relações e de interacções». Segundo Crozier 1989, a cultura desenvolve-se a partir dos valores (Teixeira 1995).

A expressão “cultura escolar” foi utilizada pelas primeiras vezes em 1995 por Dominique Julia, com o significado de «conjunto de normas que definem os saberes a ensinar e os comportamentos a inculcar e um conjunto de práticas que permitem a transmissão e assimilação de tais saberes e a incorporação desses comportamentos». A expressão foi também utilizada por Terrón e Mato 1995, como sentido de «conjunto de teorias e práticas sedimentadas no seio da instituição escolar ao longo do tempo», sendo a partir dessa cultura, das experiências pedagógicas e da sua formação, que os professores organizam a aula e cumprem os objectivos pedagógicos da escola (Frago, 2007). Há uma

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ideia comum sempre que se utiliza a expressão “cultura escolar”, a ideia de continuidade, estabilidade, sedimentação e relativa autonomia. Podendo a “cultura escolar” ser entendida por um «conjunto de teorias, ideias, princípios, normas, modelos, rituais, inércias, hábitos e práticas (formas de fazer e pensar, mentalidades e comportamentos), sedimentadas ao longo do tempo em forma de tradições, regularidades e regras de jogo (…), no seio das instituições educativas» e que se transmitem de geração em geração, proporcionando estratégias de integração e interacção, estratégias de sala de aula e estratégias para enfrentas as reformas educativas (Frago, 2007). Sendo assim, a cultura escolar, de cada instituição, persistente e duradoura.

Os elementos mais importantes na manutenção de cada cultura escolar são: a) os professores, aos quais cabe o papel mais relevante, importa, por isso, saber a sua formação académica, grau de profissionalização, estabilidade profissional, composição social, por idades ou sexos e as suas representações mentais; b) os pais; c) os alunos; d) o pessoal não docente da administração e serviços; e) os discursos, linguagens, conceitos e modos de comunicação; f) os aspectos organizativos e institucionais tais como práticas e rituais de acção educativa, distribuição e uso dos espaços, critérios de promoção dos alunos, modos de instrução, de relação e comunicação didáctica, etc.; g) a cultura material da escola como as condições de trabalho derivadas do contexto físico/material, edifícios, espaço envolvente, mobiliário, material didáctico e escolar, etc. (Frago, 2007). Também o projecto educativo é um elemento importante no reforço e uniformização da cultura escolar (Teixeira 1995).

Frago 2007 salienta que, a análise das culturas escolares pode ser útil para entender as tradições e inovações das escolas, assim como analisar determinados aspectos que as caracterizam e como estes são incorporados na vida escolar. Pode igualmente ser útil para analisar como se pode gerar mudança educativa e inovação escolar através da formação de

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professores. Ou para analisar como a cultura é um produto histórico, com relativa autonomia para gerar formas de pensar e agir que originam produtos específicos em relação ao ensino e à aprendizagem, como os modos de organização dos espaços e do tempo ou mesmo as estratégias de ensino. Mas, o autor, salienta igualmente os perigos e limites da expressão “cultura escolar”, como por exemplo não se ter em linha de conta o efeito das reformas educativas na própria cultura escolar ou não estar atento às mudanças provocadas pelos contextos sócio-políticos, ou às mudanças devidas à evolução da própria cultura escolar ao longo do tempo, pois as culturas escolares também se modificam, não são eternas. Outro aspecto importante que Frago, 2007, salienta é que existem culturas específicas de cada um dos grupos de intervenientes das escolas, cultura dos professores, cultura dos alunos, das famílias, dos pais, cultura do pessoal administrativo e de serviços, com as correspondentes expectativas, interesses, mentalidades e modos de proceder. As escolas não actuam num vazio, mas sim dentro de um enquadramento legal e de uma política educativa determinada pela sua própria cultura. Uma cultura que mostra uma forma própria de ver a escola.