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Estrutura do Currículo dos Cursos Científico-Humanisticos e Prosseguimento de Estudos

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.6. Estrutura do Currículo dos Cursos Científico-Humanisticos e Prosseguimento de Estudos

Prosseguimento de Estudos

Para compreendermos melhor as opções possíveis ao nível da gestão curricular, no que respeita às disciplinas a ensinar por parte das escolas, é necessário conhecer a organização curricular proposta pelo Ministério da Educação. Neste estudo torna-se pertinente abordar a estrutura curricular dos Cursos Gerais ou Científico-Humanísticos, pois são os cursos concebidos para o prosseguimento de estudos.

A organização curricular destes cursos assenta no conceito de currículo mínimo, a partir do qual o aluno pode construir um percurso flexível, ao longo do ensino secundário. Essa flexibilidade não põe em causa, dizem eles, a coerência, a identidade ou as aprendizagens e formações relevantes de cada curso (ME, 2003).

Como podemos analisar na tabela 2.1., a flexibilidade da organização curricular ao nível das disciplinas expressa-se apenas na formação específica. Sendo obrigatória a frequência das disciplinas da formação geral (Português, Língua Estrangeira, Filosofia, Educação Física e TIC), da disciplina de Área Projecto no 12º ano e de uma disciplina específica trienal (Matemática no caso dos Cursos Científico-Tecnológicos).

Assim, ainda na formação específica, são possíveis várias opções, todas elas incluindo a frequência obrigatória da disciplina trienal já mencionada, mais:

1ª opção) duas disciplinas bienais estruturantes do curso iniciadas no 10º ano e uma disciplina anual de 12º ano (de escolha livre, ou seja, uma disciplina que dê continuidade à formação ou uma disciplina de outra área não específica do curso).

2ª opção) duas disciplinas bienais estruturantes do curso uma a iniciar no 10º ano e outra no 11º ano e uma disciplina anual de 12º ano que complete as aprendizagens da disciplina iniciada no 10º ano ou uma disciplina de outra área não específica.

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3ª opção) uma disciplina bienal estruturante no 10º ano, uma disciplina bienal de outra área não específica do curso a iniciar no 11º ano e uma disciplina anual de 12º ano que complete as aprendizagens da disciplina iniciada no 10º ano ou uma disciplina de outra área.

No caso dos Cursos de Ciências e Tecnologias constata-se que a “Matemática A” é a disciplina trienal estruturante, as disciplinas bienais estruturantes são a “Física e Química A”, a “Biologia e Geologia” e a “Geometria Descritiva A”. Existe ainda um leque variado de disciplinas que permitem a escolha de uma opção enriquecedora da formação do aluno, em área não específica do seu curso. As disciplinas bienais estruturantes e as de outras áreas podem ser objecto das múltiplas combinações, descritas anteriormente.

Para o 12º ano dos Cursos de Ciências e Tecnologias apresenta-se um elenco de disciplinas anuais das quais se distinguem as que completam as aprendizagens das disciplinas estruturantes iniciadas no 10º ano (como a Química, Física, Biologia ou Geologia) bem como as que proporcionam a oportunidade dos alunos desenvolverem outras aprendizagens enriquecedoras relacionadas, ou não, com os respectivos cursos (como a Psicologia, a Antropologia, as Aplicações Informáticas B, a Ciência Política, os Clássicos da Literatura, o Direito, a Economia C, a Filosofia A, a Geografia C, o Grego e a Língua Estrangeira I, II e III) o aluno deverá escolher apenas uma disciplina deste elenco variado de opções.

No âmbito da autonomia das escolas e de acordo possibilidade de adequação do currículo nacional ao contexto de cada escola e ao seu projecto curricular, as disciplinas bienais e anuais de opção, assinaladas nas matrizes curriculares da tabela 2.1. com a alínea f), poderão ser oferecidas em função do acordo celebrado entre o Ministério da Educação e cada escola em particular.

45 Tabela 2.1.

Estrutura curricular dos Cursos Científico-Humanísticos

a) O aluno deverá dar continuidade a uma das línguas estrangeiras estudadas no ensino básico. Se tiver estudado apenas uma língua estrangeira, iniciará obrigatoriamente uma segunda língua no ensino secundário. Neste caso, tomando em conta as disponibilidades da escola, o aluno poderá, cumulativamente dar continuidade à Língua Estrangeira I como disciplina facultativa, com aceitação expressa do acréscimo de carga horária.

b) A carga horária semanal poderá ser reduzida até 1 unidade lectiva, no caso de não ser possível a escola assegurar as condições físicas, humanas e organizacionais para a leccionação da disciplina com a carga horária definida.

c) O aluno escolhe uma ou duas disciplinas bienais estruturantes.

d) No caso de o aluno ter optado por iniciar apenas uma disciplina bienal no 10º ano, escolherá uma disciplina, excluindo a iniciada no 10º ano.

e) O aluno escolhe uma disciplina. No caso de ter iniciado uma disciplina bienal no 11º ano, é excluída das possibilidades de escolha a disciplina que se considere sequência da referida disciplina bienal.

f) Oferta dependente do projecto curricular da escola. g) A Área de Projecto é assegurada por um só professor. h) Disciplina de frequência facultativa.

(extraído do Documento Orientador da Revisão Curricular do Ensino Secundário Produzido pelo Ministério da Educação em 2003)

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Para além deste currículo mínimo, o aluno poderá inscrever-se em qualquer outra disciplina, nomeadamente numa segunda disciplina anual do 12º ano, sendo que essa inscrição estará dependente de existir vaga na turma, após a distribuição dos alunos inscritos na disciplina como integrante do currículo mínimo.

Ainda há mais um pormenor importante a referir, é a precedência disciplinar para as opções do 12º ano, como consta das tabelas retiradas da Portaria n.º 259/2006 de 14 de Março.

Tabela 2.2.

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Posteriormente rectificada na Portaria n.º 1322/2007 de 4 de Outubro para: Tabela 2.3.

Excerto da Portaria n.º 1322/2007 de 4 de Outubro

A estrutura curricular proposta para estes cursos impõe que o aluno faça opções precoces para a frequência das disciplinas da Componente de Formação Específica. Sendo perversa a flexibilidade de alternativas disciplinares porque, seja qual for o conjunto escolhido, ficam sempre excluídas disciplinas essenciais para uma formação que se quer estruturante e fundamental para o prosseguimento de estudos nessas áreas.

Não basta uma disciplina específica obrigatória, cada Curso Geral deveria ter um tronco comum obrigatório com pelo menos três disciplinas, de forma a definir um conjunto preciso de competências estruturantes. Ou com que lógica poderá um aluno com vocação para Física, Química, Medicina, Engenharia ou Arquitectura, matriculado no Curso Geral de Ciências e Tecnologias, optar na sua Formação Específica, para além da Matemática, por disciplinas como Aplicações Informáticas e Ciências Políticas? Estas situações demonstram que é possível, com a flexibilidade curricular proposta, um aluno escolher mal as disciplinas opcionais, deixando de fora disciplinas estruturantes para a sua formação futura. Depois, ou as instituições de Ensino Superior definem coerentemente os seus pré-

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requisitos, ou seja quais as disciplinas que os seus candidatos têm de frequentar no Ensino Secundário, para se candidatarem a determinados cursos, ou terão de nas próprias instituições do Ensino Superior leccionar as ditas disciplinas de base.

O Professor Décio Martins, do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, profere algumas críticas sobre o projecto de reforma do ensino secundário. Considerando-o como uma séria ameaça para os profissionais da Física e para a futura formação e investigação científica em Portugal (Martins D., s.d.).

Estando no entanto, conscientes de que o problema central não é, de todo, a investigação científica, nem a formação de futuros Físicos, é importante ter em conta o desenvolvimento de uma cultura científica dos estudantes, especialmente quando se projecta o prosseguimento de estudos em diversas áreas, como a generalidade dos cursos de engenharia, ciências da saúde e do desporto, ou mesmo quando se opta no ensino secundário pelas vias profissionalizantes e pela finalização da escolaridade no 12 º ano. Para tal, a disciplina de Física e Química no 10º e 11º ano, e a Física ou Química ao nível do 12º ano, devem ser encaradas como disciplinas de carácter indispensável. A tónica deve ser colocada na importância que a Física pode e deve ter na formação de uma juventude científica e tecnologicamente culta, na qual a Física deve ser reconhecida como ciência basilar.

A grande opção que o Ministério da Educação deveria tomar, jamais deveria centrar-se na possibilidade do ensino da Física nos cursos da área científica do Ensino Secundário, passar a ser uma disciplina de estudo opcional, pois qualquer medida que relegue a Física para um plano de menor importância, estará a contribuir para agravar uma situação lamentável da sociedade portuguesa: o da iliteracia científica (Martins D., s.d.).

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Na prática, a proposta do Ministério da Educação terá como consequência imediata a eliminação efectiva do ensino da Física no Ensino Secundário. As condições actualmente definidas para o ingresso no Ensino Superior têm contribuído para acentuar esse carácter não preferencial da disciplina. Com efeito, a não definição desta disciplina como específica obrigatória para o ingresso em vários cursos das áreas científicas e tecnológicas afins tem contribuído para acentuar o desinteresse dos estudantes. Esta situação tem gerado diferenças, evidenciadas pelos dados estatísticos, como uma tendência, desde o ano de 2000, para os alunos considerarem como primeira opção os cursos para os quais foi estabelecido como critério de ingresso a não exigência da Física como disciplina específica (Martins D., s.d.).

A consequência imediata deste critério é que, após o ingresso no Ensino Superior, se verifica uma inaptidão dos estudantes que frequentam cursos cuja estrutura curricular é muito dependente de uma formação fundamental em Física. O que leva a um elevado índice de insucesso escolar nos primeiros anos académicos.

Este momento em que a oferta de cursos superiores é muito superior à procura, é propiciador de critérios de ingresso pouco fiáveis, nos diversos cursos. A lógica que ultimamente tem prevalecido é a de se encontrar mecanismos pouco exigentes de ingresso, facultando o maior preenchimento possível das vagas disponíveis. Assim, verifica-se actualmente uma tendência para generalizar a exigência apenas da Matemática como disciplina específica única do 12º ano, relegando as restantes disciplinas de formação científica para um plano de opção facultativa. Situação que infelizmente vem apoiar a proposta do Ministro da Educação, em relegar para o nível de opções todas as restantes disciplinas de formação científica específica, sem definir quaisquer critérios que conduzam o estudante a uma opção adequada às suas expectativas de prosseguimento de estudos (Martins D., s.d.).

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3.

METODOLOGIA

Neste capítulo apresenta-se a fundamentação metodológica da investigação efectuada, assim como a descrição das fontes de dados, das técnicas e instrumentos de recolha e análise de dados e os procedimentos da investigação.