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Co-autoria ou Autoria Coletiva – conceito e classificações

1.9.1. Conceito

Para definir o que seja a co-autoria, Fernando Capez cita a lição de WESSELS, o qual diz que “co-autoria é o cometimento comunitário de um fato punível mediante uma atuação conjunta consciente e querida” 144 e a de WELZEL, para quem “a co-autoria é, em última análise, a própria autoria. Funda-se ela sobre o

143 ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro. Parte geral. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 676.

144 WESSELS, Johannes. Direito Penal; parte geral. Trad. TAVARES, Juarez. Porto Alegre: Sérgio A. Fabris Editor. 1976. p.121 apud CAPEZ, Fernando. Concurso de pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito

princípio da divisão do trabalho: cada autor colabora com sua parte no fato, a parte dos demais, na totalidade do delito e, por isso, responde pelo todo”.145

BITENCOURT aborda co-autoria como sendo a realização conjunta por mais de uma pessoa, de um mesmo delito, para isso não é necessário um prévio acordo entre os agentes ou que todos pratiquem o mesmo ato de execução, basta a consciência de cooperar, ou de estar contribuindo na realização do crime. Esta consciência continua o autor, consiste no liame psicológico que une a ação dos participantes e dá o caráter único ao crime, basta que cada um contribua efetivamente e que essa contribuição seja importante na conclusão da empreitada criminosa. 146

De acordo com Rogério GRECO,pode-se falar em co-autoria quando houver a reunião de vários agentes, cada qual com o domínio das funções que lhe cabem para o sucesso do fato típico e de acordo com a divisão de tarefas.147

ZAFFARONI e PIERANGELI em seus ensinamentos dizem que se vários autores concorrem de forma que cada um deles realiza a conduta típica, haverá co- autoria, a qual ocorre quando cada dos agentes têm o domínio do fato. Se na prática do fato típico houver uma divisão de tarefas, pode haver confusão em determinar se o caso é de co-autoria ou de participação. Para determinar qual a figura que se aplica, deve-se utilizar a “teoria do domínio funcional do fato”, isto é, se a contribuição do agente for fundamental, ou seja, sem ela o fato não poderia ter sido realizado, tem-se a co-autoria. Ressalvam ainda os citados autores, que na co-autoria cada um dos co- autores deve reunir os requisitos típicos exigidos para ser autor. Se estes não estiverem presentes, por mais que haja uma divisão de tarefas, um aporte necessário para a realização do fato, não haverá co-autoria.148

Também aponta BITENCOURT que na co-autoria há imediata imputação recíproca e não há relação de acessoriedade, visto que cada co-autor tem um papel

145 WELZEL, Hans-Heinrich. Derecho penal alemán. 11.ed.4.ed.castellana. Trad. RAMIREZ, Juan Bastos; PÉREZ, Sergio Yañez. Ed. Jurídica do Chile, 1997. p.129 apud CAPEZ, Fernando. Concurso de

pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume 1 (arts. 1º a 120), por Fernando CAPEZ, p.

320. São Paulo: Saraiva, 2004.

146 BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito Penal, Parte

Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.384.

147 GRECO, op. ct., p. 482.

148 ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. A Autoria. In: Manual de Direito

fundamental na execução do objetivo pretendido por todos; o essencial é que o domínio do fato pertença a todos que desempenham uma função essencial na realização do crime. 149

Observa Fernando CAPEZ que o co-autor que concorre na realização do delito responderá pela qualificadora ou agravante objetiva quando dela tiver consciência e aceitá-la como possível e que não existe co-autoria em crime omissivo, se duas pessoas deixam de prestar socorro a terceiro, sem risco pessoal, ambas cometerão o crime de omissão, não se concretizando o concurso de agentes, pois não há divisão de tarefas.150

Para Juarez Cirino dos SANTOS:151

A autoria coletiva, ou co-autoria, é definida pelo domínio comum do tipo do injusto mediante divisão do trabalho entre os co-autores: subjetivamente, decisão comum de realizar fato típico determinado, que fundamenta a responsabilidade de cada co-autor pelo fato típico comum integral – o que exclui a possibilidade de co-autoria em crimes de imprudência, apenas autoria colateral independente; objetivamente, realização comum do fato típico mediante contribuições parciais necessárias para existência de fato como um todo, e portanto, mediante domínio comum do fato típico.

1.9.2. Co-autoria eventual e necessária

René Ariel DOTTI ensina que há delitos que podem ser praticados por um só autor, mas por facilidade ou para ocultá-lo duas ou mais pessoas se reúnem com vontade e consciência da cooperação mútua para realizar a conduta criminosa, quando tal situação ocorre tem-se a co-autoria eventual. De outro lado, a co-autoria necessária ocorre quando o verbo do tipo penal exige a atuação de dois ou mais agentes conjuntamente. Verifica-se, portanto, que esta classificação de Dotti é a mesma citada no início desta monografia acerca do concurso de agentes.152

149 BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito Penal, Parte

Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.385.

150 CAPEZ, Fernando. Concurso de pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume

1 (arts. 1º a 120), por Fernando CAPEZ, p. 320. São Paulo: Saraiva, 2004.

151 SANTOS, op. cit., p.356-357.

152 DOTTI, René Ariel. “O concurso de pessoas.” In: Curso de Direito Penal, Parte Geral, por René Ariel DOTTI, 352-364. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p.362.

2. PARTICIPAÇÃO