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Julgados citados em códigos comentados ou interpretados

CAPÍTULO 4: PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA E SUA INTERPRETAÇÃO JURISPRUDENCIAL: APLICABILIDADE E CASES

4.1. Julgados citados em códigos comentados ou interpretados

No Código Penal Anotado de Luiz Regis PRADO e Cezar Roberto BITENCOURT são encontrados os seguintes julgados referentes à participação de menor importância:

Inadmissível a incidência do §1º do art. 29 do CP, para efeito de diminuição da pena na hipótese de concurso de pessoas, se não há dúvida do prévio ajuste e da intervenção do réu em todas as etapas do iter criminis” (TJSP – AC – Rel. Dante Busana – RT 624/295). 271 Reconhecida a participação de menor importância, incumbe ao juiz definir os limites da diminuição da pena à luz das circunstâncias da ação. Se a motivação se encontra fundamentada, descabe questionar-lhe a validade” (STF – HC – Rel. Ilmar Galvão – DJU 16.0994, p.24.267). 272

Verifica-se da leitura dos julgados que o primeiro deles trata da hipótese de não aplicação da participação de menor importância, haja vista a conduta do agente ter sido previamente ajustada e ter o mesmo participado de todas as etapas do crime e o segundo trata da obrigatoriedade da aplicação do instituto, cabendo ao juiz definir a pena.

270 NORONHA, op. cit., p.218.

271 PRADO, Luiz Regis, e Cezar Roberto BITENCOURT. Código Penal Anotado e Legislação

Complementar. 2.ed.atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p.126.

SALLES JÚNIOR em seu Código Penal Interpretado apresenta as seguintes decisões judiciais relacionadas com a participação de menor importância:273

Alegada participação de menor importância. Idealizada do crime. Fornecimento de instrumento. Acompanhamento até o momento da venda da res. Inadmissibilidade. (RJDTACrim 11:50).

Participação de menor importância. Agente que atua como executor de reserva e acompanha seus comparsas na consumação do crime. Não reconhecimento (RJDTACrim, 6:234).

Caracterização. Colaboração decisiva para a execução do crime. Participação de menor importância alegada. Inadmissibilidade. Vontade que estava dirigida finalisticamente a um resultado, com todos os riscos inerentes. Recurso não provido (RJTJSP, 136:561).

Pena. Redução. Crime de competência do júri. Concurso de pessoas. Participação de menor importância. Matéria não questionada. Reconhecimento pelo presidente do conselho. Inadmissibilidade. Diminuição incabível (RT, 611: 405).

Reconhecimento da participação de menor importância somente nos casos de cumplicidade perfeitamente dispensável (RJDTACrim, 20:133).

As três primeiras decisões tratam de casos de não aplicação do instituto devido à importância que a conduta do agente teve para o sucesso da empreitada, quer seja fornecendo o instrumento do delito ou atuando como executor de reserva. Na quarta decisão encontra-se a impossibilidade do Presidente do Conselho de Sentença de um Tribunal do Júri reconhecer a causa de diminuição da pena se os jurados antes não o fizeram e a quinta decisão mostra que a aplicação do instituto só pode ocorrer quando a conduta do partícipe for dispensável.

Paulo José da COSTA JÚNIOR tem nas notas de rodapé de seu livro Comentários ao Código Penal decisões proferidas pelos tribunais sobre a participação de menor importância que seguem transcritas: 274

O legislador, ao estabelecer tal causa de diminuição (art. 29, §1º da Lei n.7.209/84), deixou ao direito pretoriano a incumbência de determinar o alcance da norma, já que foi silente sobre o que se deva considerar como sendo de menor importância. Importância é vocábulo que exprime influência, grande valor e, como tal, diz respeito à qualidade e não à quantificação dos atos praticados. Irrelevante que o acusado não tenha participado fisicamente dos atos de abordagem das vítimas de roubo já que, no decurso do procedimento criminoso, veio a ele se incorporar materialmente, nivelando-se em importância com os atos pretéritos de seus acólitos. Em tema de assalto, somente se poderá considerar de pequena importância a ação do participante que não intervém diretamente no ataque, não tendo qualquer influência no rumo dos acontecimentos, cingindo-se sua conduta apenas no plano do pré-ajuste, ou quando apenas colabora para a

273 SALLES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Código Penal Interpretado. 2.ed.atual. São Paulo: Saraiva, 2000.p.69-72.

fuga dos executores materiais. Nem mesmo a conhecida “campana” ou cobertura pode ser erigida em participação de menor importância, já que o agente com tal procedimento está, potencialmente, influindo no desenrolar dos fatos, ditando, o eventual rumo a ser traçado pelos executores materiais e, em condições de intervir de forma decisiva, se necessário, no plano material para a ultimação da meta optata. Tudo o que contribui para o desenrolar da ação física do despojamento da res, é de ser considerado participação de igual importância, até mesmo a simples presença física na cena delitiva, em atitude de simples observação, desde que o observador tenha pré-ajustado ou aderido ao plano criminoso (TACRIMSP, AC. 393.803/7, Rel. Juiz Segurado Braz).

Não pode invocar ‘participação de menor importância’ quem, no desenrolar dos fatos, veio a atuar com procedimento do mesmo nível de importância de seus companheiros, vale dizer, empregou vis compulsiva contra as vítimas, exibindo-lhes arma de fogo que se achava parcialmente encoberta por uma blusa. Pouco importa que não tenha realizado o ataque. Diante do contexto geral dos fatos, o ato realizado não necessitava de qualquer outro elemento exteriorizador de vontade, valendo de per si diante da evidência e da realidade do assalto (TACRIMSP, AC. 393.803/7, Rel. Juiz Segurado Braz).

Se os acusados não só tramaram, como atiraram de emboscada contra a vítima, incabível a causa especial de diminuição da pena prevista no §1º do art. 29 do novo Código Penal, porquanto a participação não pode ser tida como de menor importância (TJSC, Ver. 1.805, Rel. Des. Rid Silva).

Não se pode falar em co-participação de menor importância se um dos agentes imobiliza a vítima com uma faca e o outro a mata (TJSC, AC. 19.689, Rel. Des. Geraldo Gama Salles). A participação de menor relevância deixou, no código de 1984, de ser mera atenuante, balizada pelo mínimo cominado ao crime, para tornar-se causa de diminuição de pena (Art. 29, §1º) (TJMG, AC. 17.831, Rel. Des. Freitas Barbosa).

No livro Comentários ao Código Penal de Regis PRADO são encontrados quatro julgados a respeito da participação de menor importância. Os julgados serão a seguir transcritos, com a ressalva de que esta transcrição será restrita ao instituto sob estudo:

Penal e processual penal – Habeas Corpus – Roubo qualificado pelo resultado morte – Exame minucioso de provas – Configuração típica – Participação de somenos – Cooperação dolosamente distinta - “I - Na via do writ não é permitido o minucioso cotejo do material de conhecimento. II – O roubo qualificado pelo resultado morte (art. 157, §3º, in

fine, do CP) se configura tanto na forma integralmente dolosa (tipo congruente), como na

forma preterdolosa (tipo incongruente por excesso objetivo). III – A participação de somenos (§1º do art. 29 do CP) não se confunde com a mera participação menos importante (caput do art. 29 do CP). Não se trata, no §1º, de ‘menos importante’, decorrente de simples comparação, mas, isso sim, de ‘menor importância’ ou, como dizem ‘apoucada relevância’. (precedente do STJ). IV – O motorista que, combinando a prática do roubo com arma de fogo contra caminhoneiro, leva os co-autores ao local do delito e, ali, os aguarda para fazer as vezes de batedor, ou então, para auxiliar na eventual fuga, realiza com a sua conduta o quadro que, na dicção da doutrina hodierna, se denomina de co-autoria funcional. Writ denegado. (STJ– 5ª T. – HC 20.819-MS – Rel. Min. Felix Fischer – DJU 03.06.2002).

Constitucional e penal – Lei dos crimes hediondos – Regime prisional – Lei 9.455/97 – Participação de menor importância CP, art. 29 ...2. Inviável a análise da suposta participação de menor importância, a ensejar a redução da pena do acusado, já que implicaria necessariamente no cotejo aprofundado e valorativo do material de prova, o que não se admite nesta via constitucional. 3. Pedido de habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa parte, indeferido” (STJ – 5ª T. – HC 17.820-SP – Rel. Min. Edson Vidigal – DJU 25.02.2002).

Apelação criminal – tráfico de entorpecentes –pleito absolutório – suficiência da prova – desclassificação e participação de menor importância – inviabilidade – delito de resistência – prescrição retroativa – ainda que incomprovada a traficância – ... É inviável a desclassificação para o delito de uso de entorpecentes ou o reconhecimento da participação diminuída se o conjunto probatório revela-se induvidosos quanto à prática do crime definido no art. 12 da lei 6.368/76. ... (TJDF – 1ª t. Crim. –APR 20010150058903-DF- Rel. Otávio augusto – DJU 22.05.2002, p.60)

Penal e processual penal – Roubo circunstanciado (art. 157, §2º, inciso ii, do código penal) – Corrupção de menores (art. 1º da lei 2.252/54) – Recurso ministerial – Condenação – Menor corrompido – Impossibilidade – Recurso do réu – Absolvição – Prova – Declarações da vítima – Inviabilidade – Participação de menor importância – Divisão de tarefas – “Não configuração. O crime de corrupção de menores pressupõe vítima não corrompida. Verificando nos autos tratar-se de menor já viciado por comportamentos ilícitos, impossibilita-se a condenação pelo delito previsto na lei 2.252/54. Autoria indene de dúvidas. A prova é robusta e coerente, não deixando dúvidas da participação do apelante na prática delituosa. Na fase judicial, procurou debitar toda a responsabilidade do evento ao menor. Todavia, a vítima bem explicitou terem todos os indivíduos simulado estarem portando armas no momento do ‘assalto’, afastando qualquer tese defensória. A pleiteada participação de menor importância igualmente não prospera. Os agentes agiram de maneira uniforme, dividindo as tarefas da empreitada criminosa desde a sua preparação até a execução. Negou-se provimento aos recursos. Unânime” (TJDF – 2º T.CRIM. – APR 20010410037217 – Rel. Vaz de Mello – DJU 06.03.2002, p.137).

Delmanto et al apresentam os seguintes julgados sobre o art. 29, §1º do Código Penal:275

Participação de menor importância: com a reforma de 84, a participação de menor

relevância deixou de ser mera atenuante para se transformar em causa de diminuição da pena (STF, RT 685/386).

Se a participação for de menor importância, impõe-se a redução da pena (TFR, AP. 6.270, DJU 30.10.86, p.20756).

É de menor importância se apenas transportou os executores do roubo (TACRSP, julgados 90/34).

Não é se, vigiando as proximidades, deu “cobertura” ao roubo (TACRSP, RJDTACR 16/141) ou ao furto (TACRSP, AP. 1.157.345-4, J.26.8.99, in bol. IBCCR 86/418).

Se o co-autor não estava presente fisicamente, a pena pode ser diminuída, de acordo com sua culpabilidade (TACRSP, julgados 89/282).

Se a participação estava dirigida para os mesmos resultados, não pode ser considerada de menor importância (TJSP, RJTJSP 108;497).

Cezar Roberto BITENCOURT em seu Código Penal Comentado, apresenta os seguintes julgados a respeito da participação de menor importância: 276

275 DELMANTO, Celso, Roberto DELMANTO, Roberto DELMANTO JÚNIOR, e Fábio Machado de Almeida DELMANTO. Código Penal Comentado. 6.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

276

BITENCOURT, Cezar Roberto. “Do Concurso de Pessoas.” In: Código Penal Comentado, por Cezar Roberto BITENCOURT, 118-133. São Paulo: Saraiva, 2007. p.130-132.

Participação de menor importância de um dos réus. Penas justas e adequadas à participação de cada um dos réus na empreitada delituosa” (TJRS, AC 70000644005, Rel. Cláudio Baldino Maciel, j.30-3-2000).

Somente se pode cogitar do reconhecimento de ‘participação de menor importância’ para fins do art. 29, parágrafo 1º do CP, em caso de cumplicidade simples ou secundária, perfeitamente dispensável e que, se não fosse prestada, não impediria a realização do crime” (TACRIMSP, AC 30.806, Rel. Aloysio de Almeida Gonçalves, DJE).

Participação do apelante que, pela prova dos autos, não pode ser considerada de menor importância. Atribuição da unificação das penas (TJRS, AC 7000068974, Rel. Rosa Terezinha Silva Rodrigues, j.13-4-2000).

Inadmissível a incidência do §1º do art. 29 do CP, para efeito de diminuição da pena na hipótese de concurso de pessoas, se não há dúvida do prévio ajuste e da intervenção do réu em todas as etapas do iter criminis” (TJSP, AC, Rel. Dante Busana, RT, 624:295).

Damásio E. de. JESUS em seu Código Penal Anotado ensina que a aplicação da participação de menor importância só pode ocorrer quando a conduta do partícipe demonstra leve eficiência. Nesse sentido: TJSP, RvCrim 71.305, RJTJSP, 117:474; STF, HC 68.336, rel. Min. Celso de Melo, RT 685:383 e 385.277

Comenta ainda, que a redução de um sexto a um terço deve variar de acordo com a maior ou menor contribuição do partícipe na prática delituosa: quanto mais a conduta se aproximar do núcleo do tipo, maior deverá ser a pena; quanto mais distante do núcleo, menor deverá ser a resposta penal. No sentido do texto: TJPR, ACrim 111/85, PJ, 17:277. 278

Outras decisões citadas por DAMÁSIO são: 279

- transporte de autores do roubo (TACrimSP, RECrim 155.314, JTACrimSP, 90:34; TJSP, RvCrim 71.305, RJTJSP, 117:474) configura a participação de menor importância. No sentido de que o transporte de autores do crime não configura participação de menor importância: TACrimSP, ACrim 515.329, RJDTACrim, 3:78. Sentinela do crime (JTACrimSP, 91:284).

- a atuação de “olheiro” não é de menor importância: TACrimSP, ACrim 591.707, RJDTACrimSP 10:46. Vigia do crime: não tem participação de menor importância: TACrim ACrim 747.423, RJDTACrimSP 15:88.

277 JESUS, Damásio E. de. Código Penal Anotado, Saraiva, 16ª edição, 2004, São Paulo, pg.143. 278 Idem.

- não constitui participação de menor importância o acompanhamento do executor do delito até a consumação e exaurimento: TACrimSP, ACrim 489.295, JTACrimSP, 93:77.

- executor de reserva: permanecendo durante a realização do tipo na expectativa de eventual intervenção material, constituindo um reforço na execução do crime, responde como co-autor, não consistindo sua conduta participação de menor importância Nesse sentido: TACrimSP, RvCrim 183.030, RJDTACrimSP, 6:234;STJ, REsp 64.374, 6ª Turma, rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU, 6 maio 1996, p.14479.