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Tipos de autoria especificados na Doutrina Nacional

Os doutrinadores penalistas descrevem vários tipos de autoria, nesta monografia, optou-se por detalhar os seguintes tipos de autoria: direta e indireta

116 BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito Penal, Parte

Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.382.

117 CAPEZ, Fernando. Teoria do domínio do fato no concurso de pessoas. São Paulo: Saraiva, 1999, p.27. apud CAPEZ, Fernando. Concurso de Pessoas, Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume 1

(arts. 1º a 120), por Fernando CAPEZ, p. 316. São Paulo: Saraiva, 2004.

(imediata e mediata), dolosa e culposa, autoria de escritório, autoria colateral, incerta, desconhecida ou ignorada, autoria de determinação, coletiva ou co-autoria.

1.8.1. Autoria direta e indireta (imediata e mediata)

ZAFFARONI e PIERANGELI classificam a autoria em direta e indireta ou mediata. Na autoria direta, o autor que realiza a conduta típica, tem em suas mãos o curso ou o desenrolar central do fato ainda que se utilize de outra pessoa, que não realiza a conduta, atuando apenas como instrumento físico do crime. Na autoria indireta ou mediata, o agente se vale de terceiro, que não comete o injusto porque age sem dolo, atipicamente ou justificadamente. 119

A autoria direta ou imediata para Juarez Cirino dos SANTOS define a realização pessoal do crime pelo autor, que por deter, com exclusividade o domínio do fato realiza a conduta de matar, lesar, furtar, etc. Geralmente os tipos penais descrevem ações e omissões individuais, nestes casos, a questão da autoria simplifica- se e resume-se a identificar o autor, questão resolvida pelo conceito restritivo do autor e absorvida pela teoria do domínio do fato.120

Para CAPEZ o terceiro utilizado pelo autor mediato (ou indireto) como instrumento do delito atua sem vontade ou consciência, por esta razão e que se considera que a conduta principal foi realizada pelo autor mediato e não pelo terceiro executor. Continua sua exposição o doutrinador, distinguindo autor mediato de autor intelectual, este concorre para o crime sem, no entanto, praticar a ação nuclear do tipo, pois o executor sabe o que está fazendo e não se pode afirmar que foi usado como instrumento do delito, fato que ocorre na conduta do autor mediato.121

A autoria mediata ou indireta ocorre quando o autor mediante determinação de outro pratica o delito, mas este outro não pode ser outro autor. Para estes juristas, o autor mediato deve reunir todos os caracteres que o tipo exige com relação ao autor,

119 ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. A Autoria. In: Manual de Direito

Penal Brasileiro, Parte Geral, 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.575-576.

120 SANTOS, op. cit., p.362.

121 CAPEZ, Fernando. Concurso de Pessoas, Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume

para esclarecerem tal afirmação citam o seguinte exemplo: se o intraneus (funcionário) se vale do extraneus (não funcionário) para praticar corrupção, será autor do crime de corrupção, mas se o extraneus se vale do intraneus, não será autor mediato, por não possuir as condições típicas.122

Bitencourt ao citar WELZEL alude que “o autor mediato realiza a ação típica através de outrem, que atua sem culpabilidade”.123

JESCHECK alude que autor mediato é o homem de trás que se serve de outra pessoa para cometer o fato e através de sua preponderância obtém um domínio do fato assimilável valorativamente a perpetração imediata do mesmo.124

Aníbal BRUNO ressalta que a autoria mediata foi criada para preencher lacunas que existiam na teoria da acessoriedade extremada da participação (a qual será estuda oportunamente). Posteriormente a teoria limitada da participação se consagrou e substituiu a anterior, mas não eliminou a importância desta classificação de autoria.125

WELZEL, conforme informa Fernando Capez, cita como exemplos clássicos da autoria mediata: 126

a) o médico que dolosamente entrega uma injeção de morfina, com dose extremamente elevada, para que uma enfermeira aplique em um paciente e o mate. O médico é o autor mediato, enquanto que a enfermeira é o instrumento do crime;

b) uma mulher obriga outra grávida a ingerir substância abortiva;

c) um sujeito leva a vítima a uma situação de desespero e esta se suicida e d) um agente desejando a morte de doente mental, incita-o a provocar terceiro, que mata, em legítima defesa, o doente mental.

122 ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. A Autoria. In: Manual de Direito

Penal Brasileiro, Parte Geral, 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.575-576.

123 WELZEL, Hans. Derecho Penal alemán (trad. Juan Bustos Ramirez e Sergio Yañez Pérez). Santiago: Ed. Jurídica do Chile, 1987. p.146 apud BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1,

em Manual de Direito Penal, Parte Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva,

2000. p.383.

124 JESCHECK, H. H. Tratado de Derecho Penal. Trad. Mir Puig e Muñoz Conde, Barcelona, Bosch, 1981, v.1 e 2, p.919 apud BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito

Penal, Parte Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.383.

125 BRUNO, Anibal. Direito Penal. 1 a 3 vols. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p.267.

126 WELZEL, Hans-Heinrich. Derecho penal alemán. 11.ed.4.ed.castellana. Trad. RAMIREZ, Juan Bastos; PÉREZ, Sergio Yañez. Ed. Jurídica do Chile, 1997. p.124-126 apud CAPEZ, Fernando. Concurso de

pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume 1 (arts. 1º a 120), por Fernando CAPEZ, p.

BITENCOURT apresenta como hipóteses mais comuns da autoria mediata os casos de erro, coação irresistível, uso de inimputáveis para a prática do delito e executor atuando em ações justificadas. Ademais, elucida junto com Soler, Mir Puig e Welzel, que o autor mediato (“homem de trás”) deve possuir todos os pressupostos da punibilidade, o que tem como conseqüência a admissibilidade da autoria mediata nos crimes especiais ou próprios. Uma corrente contrária é capitaneada por Jescheck.127

Como mencionado acima Zaffaroni e Pierangeli são adeptos da mesma corrente de Bitencourt.

CAPEZ observa que na autoria mediata há adequação típica direta, pois o ordenamento jurídico considera que quem realizou a conduta típica foi o autor mediato, ainda que pelas mãos de terceiro, que atua como seu instrumento ou longa manus e ainda discrimina que a autoria mediata pode resultar de quatro situações diferentes: 128

a) Ausência de capacidade penal do terceiro executor, como exemplo tem-se o induzimento de um inimputável a delinqüir;

b) Coação moral irresistível, entretanto se a coação for física, haverá autor imediato;

c) Provocação de erro de tipo escusável, o autor mediato induz o executor a matar alguém, fazendo-o crer que estava atuando em legítima defesa; d) Obediência hierárquica, o autor mediato e superior hierárquico sabe que a

ordem é ilegal, mas aproveita-se do desconhecimento do subordinado. Juarez Cirino dos SANTOS menciona as seguintes hipóteses de autoria mediata: a) o instrumento realiza ação típica por erro provocado pelo autor mediato; b) o instrumento realização ação típica sem dolo, por erro de tipo induzido ou mantido pelo autor mediato; c) o instrumento realiza ação justificada por situação de justificação criada artificialmente pelo autor mediato; d) o psiquismo defeituoso ou subdesenvolvido do instrumento incapaz de culpabilidade é utilizado pelo autor mediato; e) o instrumento atua em erro de proibição inevitável induzido ou mantido

127 BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito Penal, Parte

Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.384.

128 CAPEZ, Fernando. Concurso de pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume

pelo autor mediato; f) o instrumento atua sem liberdade em situações de coação irresistível ou obediência hierárquica e g) o instrumento atua sem a intenção especial exigida pelo tipo legal, por erro provocado pelo autor mediato.129

Nos casos de autoria mediata não há, segundo FRAGOSO, concurso de agentes, pois a ação criminosa pertence integralmente a quem usa o executor, que por atuar apenas como instrumento não é culpável, de outra forma, o domínio final do fato pertence a quem realiza a conduta ainda que indiretamente, este ator do cenário criminal não personificará o partícipe, mas o autor do crime. 130

1.8.2. Autoria dolosa e culposa

ZAFFARONI e PIERANGELI classificam ainda a autoria em dolosa (domínio do fato) e culposa (causação do resultado), sendo que esta classificação tem importantes conseqüências, pois segundo eles, a participação somente é concebível na autoria dolosa, não se admite participação culposa em delito doloso, nem participação dolosa em crime culposo e tampouco, participação culposa em crime culposo. 131

1.8.3. Autoria de escritório

Esta autoria, para ZAFFARONI e PIERANGELI, é um caso particular ou especial de autoria mediata, na qual, aquele que concorre para o crime é autor do delito e também o é o determinado por este. Segundo tais autores: 132

Esta forma de autoria mediata pressupõe uma “máquina de poder” que pode ocorrer tanto num Estado em que se rompeu com toda a legalidade, como numa organização paraestatal (um Estado dentro do Estado), ou como uma máquina de poder autônoma “mafiosa”, por exemplo. Não se trata de qualquer associação para delinqüir, e sim de uma organização caracterizada pelo aparato de seu poder hierarquizado, e pela fungibilidade de seus membros (se a pessoa determinada não cumpre a ordem, outro a cumprirá; o próprio determinador faz parte da organização). Serviria de exemplo a “SS” no nacional-socialismo alemão, ou um Estado totalitário que se vale de um agente, para cometer um crime no

129 SANTOS, op. cit., p.363-364. 130 FRAGOSO, op; cit., p.316.

131 ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. A Autoria. In: Manual de Direito

Penal Brasileiro, Parte Geral, 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.575-576.

132 ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. A Autoria. In: Manual de Direito

exterior. A particularidade que isto apresenta está em que aquele que dá a ordem está demasiado próximo do domínio do fato, para ser considerado um simples instigador, com a particularidade de que quando o determinador se encontra mais distante da vítima e da execução material do fato mais próximo ele está das suas fontes de decisão.

Tanto o determinador quanto o determinado são autores responsáveis, com pleno domínio do fato. 133

1.8.4. Autoria colateral

Esta autoria, segundo BITENCOURT, surge quando duas ou mais agentes, sem saber da contribuição do outro, realizam condutas convergentes com o mesmo objetivo delituoso. O que caracteriza este tipo de autoria é a ausência do vínculo subjetivo entre as pessoas, pois não haverá adesão à resolução criminosa comum. 134

Nas palavras do professor Damásio E. de JESUS:

...A inexistência do vínculo subjetivo entre os participantes pode levar à autoria colateral. Ocorre quando os agentes, desconhecendo cada um a conduta do outro, realizam atos convergentes à produção do evento a que todos visam, mas que ocorre em face do comportamento de um só deles.135

CAPEZ leciona no mesmo sentido, afirmando que neste tipo de autoria não há liame subjetivo entre os agentes e usa como o exemplo o caso de dois atiradores “A” e “B” que disparam simultaneamente contra a mesma vítima, sem que um saiba da conduta do outro. Cada qual responderá pelo delito que cometeu. 136

Faltando a consciência, que os agentes estão agindo em comum, para Heleno Cláudio FRAGOSO haverá autoria colateral, entretanto comenta que tal situação é rara nos crimes dolosos, mais freqüente nos crimes culposos. 137

133 ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. A Autoria. In: Manual de Direito

Penal Brasileiro, Parte Geral, 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.575-576.

134 BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito Penal, Parte

Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.394.

135 J

ESUS, Damásio E. de. Op. Cit., p. 418.

136 CAPEZ, Fernando. Concurso de pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume

1 (arts. 1º a 120), por Fernando CAPEZ, p. 330. São Paulo: Saraiva, 2004.

1.8.5. Autoria incerta

Para BITENCOURT, neste tipo de autoria não se desconhece quem praticou a ação. Sabe-se quem executou a ação típica, mas ignora-se quem produziu o resultado. Pode decorrer da autoria colateral que ficou sem solução.138

No exemplo acima dado por CAPEZ, se for impossível determinar quem efetuou o disparo que acarretou a morte da vítima, ou seja, não se sabe quem deu causa ao resultado, os réus responderão por homicídio tentado, valendo neste caso o princípio do in dubio pro reo.139

1.8.6. Autoria desconhecida ou ignorada

Para BITENCOURT, neste tipo de autoria se desconhece quem praticou a ação. 140

Difere da autoria incerta, segundo CAPEZ, porque nesta sabe-se quem são os autores da conduta, mas não se conhece quem produziu o resultado. Na autoria desconhecida ou ignorada não se sabe quem cometeu o ato.141

Segundo o professor Rogério GRECO: 142

...Quando não se conhece a autoria, ou seja, quando não se faz idéia de quem teria causado ou, ao menos, tentado praticar a infração penal, surge uma outra espécie de autoria, chamada agora de desconhecida. Esta forma de autoria difere da incerta, visto que nesta última sabe-se quem praticou as condutas, sendo que somente não se conhece, com precisão, o produtor do resultado. Na autoria desconhecida, os autores é que não são conhecidos, não se podendo imputar os fatos a qualquer pessoa.

138 BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito Penal, Parte

Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.394.

139 CAPEZ, Fernando. Concurso de pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume

1 (arts. 1º a 120), por Fernando CAPEZ, p. 330. São Paulo: Saraiva, 2004.

140 BITENCOURT, Cezar Roberto. Concurso de Pessoas. Vol. 1, em Manual de Direito Penal, Parte

Geral, por Cezar Roberto BITENCOURT, 372-400. São Paulo: Saraiva, 2000. p.394.

141 CAPEZ, Fernando. Concurso de pessoas. Vol. 1, em Curso de Direito Penal: parte geral, volume

1 (arts. 1º a 120), por Fernando CAPEZ, p. 330. São Paulo: Saraiva, 2004.

1.8.7. Autoria de determinação

Os professores Eugenio Raúl ZAFFARONI e José Henrique PIERANGELI fazem menção ao autor de determinação e comentam a seguinte hipótese: em um delito de mão própria, uma mulher ministra sonífero a outra e hipnotiza um homem para que ele estupre a outra que se encontra desacordada, a mulher não pode ser autora de estupro, porque é delito de mão própria e ele, tampouco, pois não realiza a conduta por não ter domínio do fato. Também não é partícipe, pois falta o injusto alheio em que cooperar ou a que determinar. Esses autores consideram que o estupro é delito de mão própria e que este tipo de delito não admite co-autoria. Também não seria o caso de participação, pois esta só ocorreria se o fato do autor fosse típico e ilícito, o que não ocorre no exemplo, pois o homem estava hipnotizado. A hipótese ficaria sem aparente solução. Não se trata, portanto para os doutrinadores, de autoria de delito, mas de um tipo especial de concorrência, na qual o autor é apenado como autor de determinação. A mulher não é autora de estupro, mas lhe será aplicada a pena deste crime por haver cometido o delito de determinar para o estupro.143