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COLETA, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

No documento Download/Open (páginas 131-137)

A presente pesquisa recorreu a cinco fontes de evidências que geralmente são utilizadas em estudos de caso (YIN, 2005), a saber: documentação, registro em arquivo (papel e meio magnético), entrevistas, observação direta e observação do participante:

“Um ponto forte muito importante da coleta de dados para um estudo de caso é a oportunidade de utilizar muitas fontes diferentes para a obtenção de evidências” (YIN, 2005, p. 125).

Sobre a utilização de documentos como fonte de dados, estes foram utilizados para corroborar e valorizar evidências oriundas de outras fontes, além de verificar a grafia correta e os cargos mencionados nas entrevistas. No entanto, os documentos devem ser cuidadosamente utilizados não devendo ser considerados registros literais sobre os eventos que ocorreram (YIN, 2005).

No início da pesquisa, foi obtido o conjunto eletrônico completo dos documentos do Planejamento Estratégico BNDES 2000-2005, o que proporcionou irrestrito acesso a centenas de documentos das fases de formulação e implementação daquela estratégia com elevado grau de riqueza de detalhes. Além disso, foram obtidos documentos de todos os outros planos estratégicos da instituição e outros documentos afins.

A maioria das informações e dados foi obtida por fontes primárias, especialmente aquelas relacionadas ao cerne da tese, embora também tenha ocorrido acesso a fontes secundárias. Grande parte do material foi obtido nos arquivos gerais da gerência de documentação da instituição. Uma parte das informações, sobretudo as relacionadas aos ambientes interno e externo, foi obtida na literatura, em publicações diversas e na Internet.

Após cuidadosa leitura de todo o material, foi elaborado o questionário preliminar, que, embora tivesse foco no processo de realização da estratégia, também contemplava algumas perguntas iniciais sobre a fase de formulação e sobre a adequação do plano estratégico à instituição.

O objetivo principal do questionário foi coletar dados da percepção do corpo funcional sobre o processo de realização da estratégia planejada com relação às condições necessárias à implementação da estratégia vis-à-vis a percepção desses mesmos fatores sob a ótica da consultoria e da alta administração do BNDES.

Para realizar o primeiro teste de adequação do questionário aos objetivos da tese e validar a importância do tema, foram realizadas 18 entrevistas iniciais com funcionários de diversas áreas e de experiências distintas dentro da instituição. Dez desses funcionários tiveram participação efetiva em pelo menos mais um processo de formulação e implementação de estratégia no BNDES, além da participação no processo da Estratégia 2000-2005 ou em estratégias em outras empresas. Dois tiveram participação efetiva em outras estratégias do BNDES, sem participação efetiva na estratégia em análise. Três participaram efetivamente de estratégias em outras empresas, sem nenhuma participação no Banco e os outros três não tiveram participação efetiva em qualquer estratégia.

As entrevistas são consideradas importantes fontes de informações para o estudo de caso (YIN, 2005). Ao longo do processo de entrevista, cabe ao pesquisador seguir sua própria linha de investigação e fazer as questões reais de uma forma não tendenciosa (YIN, 2005, p. 116).

As entrevistas realizadas nesta fase preliminar tiveram cerca de duas horas de duração e trataram de dois assuntos: o primeiro contemplou o tema formulação versus implementação de estratégias de forma bastante genérica. Em seguida, foi abordado o Planejamento Estratégico 2000-2005. Os dois temas foram tratados de forma bastante geral, deixando os entrevistados discursarem livremente sobre os temas. Com base nessas entrevistas, foi realizado o primeiro ajuste no questionário.

Logo após esse ajuste inicial, foram escolhidos dois funcionários da amostra I e três da amostra II, para a aplicação do primeiro pré-teste. Tendo em vista essa experiência, o questionário recebeu novos ajustes necessários, e esses cinco respondentes foram excluídos das amostras. Um segundo teste foi realizado; dessa vez, com um membro da amostra I e dois membros da amostra II. Os pequenos refinamentos realizados com base nesse teste deram forma e conteúdo final ao questionário. Novamente os membros testados foram excluídos das amostras.

Ao término dos testes e ajustes, a amostra I era composta por 47 funcionários, e a amostra II por 95 funcionários.

A versão final do questionário (veja anexo 3) apresentou 16 páginas compostas por 78 perguntas estruturadas e semi-estruturadas divididas em 12 seções. A primeira seção buscava informações sobre a participação e o cargo ocupado pelo respondente durante o planejamento estratégico em análise. A segunda seção tratava do foco e conceito do plano para buscar informações do respondente sobre sua percepção em relação à adequação daquela estratégia à instituição.

As nove seções seguintes buscavam saber, pela perspectiva do corpo funcional, quais seriam as condições necessárias (que poderiam ou não ser suficientes) para a implementação da estratégia 2000-2005, com base nas questões centrais tratadas pelos Grupos de Trabalho (GTs) formados para superar os obstáculos e garantir a implementação da estratégia planejada e dadas como condições necessárias para a implementação da estratégia na visão da alta administração da instituição e da consultoria.

Apenas o tema crédito, tratado por um dos GTs, não foi pesquisado, pelo entendimento de que era muito mais uma questão de caráter restrito do que condição necessária para a implementação da estratégia.

As nove seções, ou temas, foram: Estrutura Organizacional; Processos de Negócios e Procedimentos de Trabalho; Sistema de Informações Gerenciais Integrado; Modelos de Gestão e Avaliação de Desempenho Individual; Remuneração; Renovação do Quadro Funcional; Gestão de Competências; Gestão de Conhecimento; e Comunicação.

A seção final tratava de Sugestões e Questões Gerais, com oportunidades para o respondente escrever sobre outras condições necessárias para a implementação daquela estratégia e de estratégias futuras.

Ao longo de todas as seções, o respondente teve espaço e oportunidade para escrever sobre questões relacionadas ao tema, abordadas ou não naquela seção do questionário. Na seção final, havia mais espaço para liberdade de opinião sobre questões não tratadas. Dessa vez, de forma ampla e de temas distintos dos tratados nas seções, mas ligados à estratégia de forma geral.

Os questionários foram enviados por correio eletrônico aos 142 funcionários das duas amostras entre agosto e outubro de 2008, e foi iniciada campanha para solicitação de colaboração, através de ligação telefônica e correio eletrônico. Foram recebidos 32 questionários respondidos provenientes de membros da amostra I e 61 questionários provenientes de membros da amostra II. Um questionário do grupo I foi descartado e todos os restantes foram validados.

Dessa forma, o índice de questionários respondidos e validados foi de 66% (31/47) na amostra I e 64% (61/95) na amostra II, indicando elevada participação dos funcionários e interesse no tema. As respostas estruturadas foram computadas estatisticamente, com a geração de tabelas e gráficos e a análise quantitativa foi concluída. A seguir, a análise qualitativa foi realizada com base na técnica de análise de conteúdo.

No que diz respeito ao tratamento qualitativo dos dados coletados, a parte semi- estruturada do questionário foi analisada através de procedimentos inspirados pela Análise de Conteúdo que, segundo Bardin (1979), pode ser definida como a seguir:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção destas mensagens (BARDIN, 1979, p. 49).

Minayo (1992) afirma que a Análise de Conteúdo é o método mais comumente utilizado para o tratamento de dados qualitativos de pesquisa. Em sua origem, no entanto, a Análise de Conteúdo corrobora uma ideologia positivista de ciência, buscando a sistematização rigorosa e objetiva dos dados coletados que, em última instância, revelariam uma realidade estável e que pode ser captada por meio de categorias interpretativas bem definidas. Ainda hoje, boa parte das análises clássicas de conteúdo resulta em descrições numéricas de algumas características de textos, discursos e entrevistas.

Seja qual for a abordagem utilizada para a realização de uma análise de conteúdos (mais ou menos quantitativa, mais ou menos sistematizada), o que todas essas abordagens têm em comum é o seu caráter interpretativo, atentas primordialmente às mensagens, mas também ao contexto no qual tais mensagens são produzidas.

Em outras palavras, embora parta de materiais textuais escritos (ou transcritos, no caso de entrevistas), essa modalidade de análise deve transcender o contexto imediato de análise,

remetendo-se à realidade específica de produção desses textos. A análise de conteúdo pretende, portanto, atingir um nível interpretativo além dos conteúdos manifestos, produzindo inferências e verificando hipóteses apontadas por esses conteúdos. Para tal, a análise de conteúdo tem como foco simultaneamente as estruturas semânticas (os significantes) e as estruturas sociológicas (os significados).

Nesta tese, a Análise de Conteúdo exclusivamente qualitativa teve como objetivo a derivação, por intermédio da parte semi-estruturada dos questionários, de núcleos de sentido ou de categorias interpretativas.

No que se refere especificamente ao Plano Estratégico BNDES 2000-2005, o objetivo da análise era agrupar as respostas em categorias que sintetizassem a percepção dos respondentes acerca dos fatores que foram (ou que deveriam ter sido) condições necessárias a sua implementação. De uma maneira geral, a análise demonstrou pouca diferença nas categorias derivadas com base nas respostas daqueles que participaram e que não participaram de grupos de trabalho (GTs).

Em termos dos procedimentos de análise, as respostas das duas amostras (de participantes e não participantes de GTs) foram lidas repetidas vezes, na tentativa de estabelecer pontos de interseção entre as diversas respostas, bem como entre as duas amostras investigadas. Essa fase refere-se ao que Bardin (1979) chama de “leitura flutuante”, fase em que deve haver um contato exaustivo do pesquisador com o material a ser analisado. Este é o primeiro momento de formulação de hipóteses e da organização do material em categorias pertinentes.

Os resultados obtidos nesta primeira fase foram confrontados com a literatura disponível e interpretados à luz do contexto institucional em que as respostas foram dadas pelos participantes. As inferências realizadas, portanto, são resultados de profundo conhecimento de ambos, da literatura especializada e da realidade específica do BNDES à época da implementação do Plano Estratégico.

Como exemplo da importância do conhecimento prévio acerca do contexto em que as respostas foram produzidas, pode-se apontar o fato de que muitos respondentes mencionaram a cultura e o histórico do banco em suas justificativas. As inferências realizadas sem o conhecimento deste histórico institucional teriam pouco a contribuir para o entendimento da organização e da dinâmica específica da instituição.

A contribuição da análise de conteúdo realizada foi o aprofundamento dos resultados estritamente quantitativos, fornecendo justificativas para as respostas fechadas obtidas no questionário. Para uma investigação que pretenda fornecer subsídios para a implementação de estratégias futuras, esse aprofundamento qualitativo é fundamental. Ou seja, não basta enumerar objetivamente as condições necessárias para a implementação de determinada estratégia, mas entender quais fatores funcionam dentro da dinâmica e da organização específica da instituição.

Tendo em vista a análise dos resultados e das conclusões iniciais obtidas, foram escolhidos cinco membros dos respondentes da amostra I e sete membros dos respondentes da amostra II para a realização de entrevistas de aprofundamento. A escolha desses participantes

levou em conta o conteúdo e o detalhamento de suas respostas com relação aos interesses de aprofundamentos desejados. As entrevistas estão sujeitas a diversos problemas, como: vieses, memória, articulação pobre ou imprecisa (YIN, 2005).

Segundo Richardson (1999), a abordagem qualitativa adquire proeminência principalmente quando se busca investigar fatos do passado que exercem algum tipo de influência sobre ações do momento presente e contribuir para formação de abordagem teórica das quais se dispõe de pouca informação para a realização de pesquisas futuras. De fato, esta abordagem auxiliou a compreensão do processo de realização da Estratégia em análise.

No documento Download/Open (páginas 131-137)