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Comentário

No documento Portugues (páginas 129-133)

A proposta define diversos aspectos que devem compor a carta argumentativa: o tema (as diferenças entre ge- rações no ambiente institucional do trabalho); o remetente (um gerente recém-contratado por uma empresa tradi- cional); os destinatários (os acionistas dessa empresa); e orienta o ponto de vista do autor, que deve mostrar sua intenção de modernizar a empresa. Há outros aspectos que podem ser pressupostos; por exemplo, o de que o ge- rente é de uma geração mais nova que a dos acionistas, que representariam as tradições corporativas – detalhes que o autor deve considerar em sua argumentação.

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A carta tem como objetivo tentar convencer os acionistas da necessidade de modernização da empresa, ex- plicitando as mudanças necessárias e suas implicações. A argumentação precisa, por exemplo, mostrar aos acionistas que essas mudanças acarretarão o aumento de lucro. Por ser uma carta, deve apresentar uma inter-

locução sólida. É interessante, inclusive, que o gerente pressuponha uma possível resistência dos acionistas e apresente, antecipadamente, soluções para problemas que provavelmente seriam levantados por eles.

O conjunto de textos presente na proposta de redação exige do candidato, além da capacidade de escrita, a capacidade de leitura. O uso da coletânea é obrigatório, sendo fundamental a compreensão e a análise dos textos. A coletânea suscita uma reflexão sobre o tema, e o candidato deve articular essa leitura com o seu co-

nhecimento prévio. O conjunto de textos enfatiza uma convivência respeitosa entre as gerações, o que sugere ao candidato que apresente propostas de uma modernização humanizadora, valorizando a contribuição de di- versas gerações.

Fonte das informações: Comvest/Vestibular Nacional Unicamp 2010. Disponível em: <http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2011/download/

comentadas/redacao.pdf>. Acesso em: 5 out. 2012.

Exemplo de redação bem avaliada Campinas, 15 de novembro de 2009. Prezados acionistas da Global Transportes.

Como é de conhecimento dos senhores, assumi o cargo de gerência do departamento de logística há 15 dias. Aceitei o desafio acreditando na solidez dessa empresa e nas possibilidades de realização profissional que um ambiente como este pode proporcionar. Já conhecia o perfil de negócios aqui realizados e, durante o período de ambientalização, pro- curei conhecer todos os departamentos visto acreditar que o conceito de gestão participativa poderá alavancar nossos negócios.

Sou formado em engenharia de transportes pela USP e fiz MBA em gestão empresarial na Universidade Harvard. Esta formação, caros acionistas, me possibilitou o contato com o que há de mais moderno na administração e, princi- palmente, no campo de ampliação de mercado.

Tendo analisado todo [o] fluxo de informações da Global, notei que o excesso de burocracia tem diminuído a agili- dade nas entregas e na captação de novos clientes. Outra necessidade que, [a] meu ver, é essencial refere-se ao conceito de sustentabilidade não aplicado em nenhum dos setores e que, se adotado nessa corporação, ampliará nossa carta de clientes.

Pode parecer ousadia propor tais mudanças a uma empresa com mais de 50 anos de existência. Entretanto, na era da globalização, aqueles que não se modernizam acabam perdendo seu lugar no mercado. Além disso, apesar do radi- calismo de muitos gestores da nova geração, minha proposta não é mudar, totalmente, o perfil da empresa, haja vista que o sistema de gestão de pessoas tem sido bastante elogiado e a maioria dos funcionários revela identificar-se com essa empresa e [sente-se] reconheci[da] por seu trabalho.

Dentro dessa perspectiva e considerando que a troca de saberes, entre as gerações atual e passada, possibilita uma trans- formação mais enriquecedora e produtiva, proponho que a Global Transportes entre na nova era da informação tendo seus antigos colaboradores como mola propulsora.

É fato, prezados senhores, que haverá embates entre as gerações, afinal, conforme o filósofo Karl Mannheim afir- mava, a história, as experiências vividas num certo momento são compartilhadas por indivíduos que coexistiram nesse espaço-tempo. Concordo com ele e reafirmo: na gestão empresarial isto é aplicável. Por isso, comprometo-me em mediar possíveis atritos e minimizar, com capacitações, o constrangimento daqueles que não dominam as novas tecnologias, entendendo que são elementos importantes na história dessa empresa.

Após essas considerações, proponho as seguintes mudanças: renovação de todo [o] sistema informacional, mudan- do do padrão manual/verbal para o informatizado, a fim de agilizar a transmissão dos dados; trocar o combustível utilizado para biodiesel, tendo em vista o menor impacto ambiental deste; trocar, gradualmente, a frota de caminhões, pensando em motores menos poluentes e mais econômicos.

Todas essas mudanças, os senhores pensarão, implicam gastos que, a curto prazo, não serão repostos, entretanto, o mercado está mais exigente e, com as mudanças propostas, atrairemos um nicho crescente do mercado – o das empre- sas com título de “sustentáveis”. Além disso, manteremos nossas velhas parcerias ao melhorar a agilidade das respostas e entregas.

Estou convencido de que esse é o caminho para a modernização da Global Transportes e espero ter convencido esse renomado corpo acionista – que a mantém de pé há mais de 50 anos – a embarcar nesse projeto. Mantenho-me à disposição para quaisquer esclarecimentos e aproveito para manifestar meu agradecimento pela confiança depositada em meu trabalho.

Atenciosamente, I. S. P.

Disponível em: <http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2011/download/comentadas/redacao.pdf>. Acesso em: 5 out. 2012.

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Questões

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te. 1. (UFSC) Paixão/Gaz et a do P ov o

Escreva uma carta (com no mínimo 20 linhas) para a Câmara dos Deputados com base no Projeto de Lei e no texto de Gra- ciliano Ramos, transcritos abaixo.

Inicie sua carta com “Senhores Deputados” e termine assinando apenas “Cidadã(o) Brasileira(o)”.

Projeto de lei

O COnGrESSO nACIOnAl decreta:

Art. 1o− – A Lei no− 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescida dos seguintes artigos:

Art. 17-A. A criança e o adolescente têm o direito de serem educados e cuidados pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar, sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, edu- cação, ou qualquer outro pretexto.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se:

I – castigo corporal: ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente.

II – tratamento cruel ou degradante: conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou o adolescente.

[...]

Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/790543.pdf>. Acesso em: 20 out. 2010.

[...] Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão. — Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.

Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sos- segou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.

[...]

Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. [...]

ramoS, Graciliano. Vidas secas. 58. ed. Rio/São Paulo: Record, 1986. p. 9-10.

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2. (UFPR) Em 3 de setembro de 2010, a revista ISTOÉ publicou uma síntese, assinada por Paulo Lima, do livro ainda inédito Fé

em Deus e pé na tábua – Como e por que você enlouquece dirigindo no Brasil, do antropólogo Roberto DaMatta:

Nosso comportamento terrível no trânsito é resultado da nossa incapacidade de sermos uma sociedade igua- litária; de instituirmos a igualdade como um guia para a nossa conduta. Nosso trânsito reproduz valores de uma sociedade que se quer republicana e moderna, mas ainda está atrelada a um passado aristocrático, no qual alguns podiam mais do que muitos, como ocorre até hoje. Em casa, nós somos ensinados que somos únicos, especiais. Aprendemos que nossas vontades sempre podem ser atendidas. É o espaço do acolhimento, do tudo é possível por meio da mamãe. Daí a pessoa chega na rua e não consegue entender aquele espaço onde todos são juridicamente iguais. Ir para a rua, no Brasil, ainda é um ato dramático, porque significa abandonar a teia de laços sociais onde to- dos se conhecem e ir para um espaço onde ninguém é de ninguém. E o trânsito é o lado mais negativo desse mundo da rua. É doentio, desumano e vergonhoso notar que 40 mil pessoas morrem por ano no trânsito de um país que se acredita cordial, hospitaleiro e carnavalesco. No Brasil, você se sente superior ao pedestre porque tem um carro. Ou superior a outro motorista porque tem um carro mais moderno ou mais caro. O motorista não consegue entender que ele não é diferente de outro motorista, do pedestre, do motorista de ônibus. Que ele não tem um salvo-conduto para transgredir as leis. No Brasil, obedecer à lei é uma babaquice, um sintoma de inferioridade. Quem obedece é subordinado porque a hierarquia que permeia nossas relações sociais jamais foi politizada. Isso é herança de uma sociedade aristocrática e patrimonialista, em que não houve investimento sério no transporte coletivo e onde ainda impera o “Você sabe com quem está falando?”.

lima, Paulo. Como estou dirigindo?, Istoé, ed. 2130.

Tomando como ponto de partida as opiniões de DaMatta, escreva uma carta dirigida ao Secretário de Educação do Estado do Pa- raná, solicitando a inclusão, no currículo do Ensino Médio, de conteúdos voltados à educação para o trânsito. Use as afirmações de DaMatta como argumentos para fundamentar sua solicitação.

∙ O texto deve ter de 10 a 12 linhas. ∙ A carta NÃO deverá ser assinada.

3. (Ufes – Adaptada) Um dos pontos comuns na crítica sobre o Auto da barca do inferno, do dramaturgo português Gil Vicente,

é a atualidade da representação dos problemas sociais e morais de sua época, 1517. Por meio de personagens de diversas ordens sociais, como o Fidalgo, o Frade ou a Alcoviteira, o autor tipifica e alegoriza, sobretudo, os vícios.

A partir da cena abaixo entre o Diabo e o Corregedor (“magistrado que tem jurisdição sobre todos os outros juízes de uma comarca, e que tem a função de fiscalizar a distribuição da justiça, o exercício da advocacia e o andamento dos serviços forenses” – Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa), elabore uma carta dirigida a Gil Vicente, em que seja ob- servada a permanência, na realidade brasileira contemporânea, de problemas que ele apontou satiricamente.

DIABO [ ...] Entrai, entrai, corregedor!

CORREGEDOR Hou! Videtis qui petatis!1

Super jure majestatis2

tem vosso mando vigor?

DIABO Quando éreis ouvidor

non ne accepistis rapina?3

Pois ireis pela bolina4

como havemos de dispor... Oh! Que isca esse papel para um fogo que eu sei!

CORREGEDOR Domine, memento mei!5

DIABO Non est tempus, Bacharel!

Imbarquemini in batel

quia judicastis malicia.6

viCente, Gil. Auto da barca do inferno. In: . O velho da horta, Auto da barca do inferno, Farsa de Inês Pereira. 32. ed. Pref. e notas Segismundo

Spina. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998. p. 155-156.

1 Videtis qui petatis!: Vede o que reclamais!

2 Super jure majestatis: Acima do direito de majestade 3 non ne accepistis rapina?: acaso não recebestes roubo? 4 bolina: cabo de sustentação da vela do barco 5 Domine, memento mei!: Senhor, lembra-te de mim! 6 quia judicastis malicia: porque sentenciastes com malícia

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