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Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis

No documento Portugues (páginas 40-43)

Raul Pompeia

2. Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis

Com esta frase, o cronista afirma que:

a) a atividade política está sempre sujeita a acusações descabidas.

b) é altamente honroso, em certos casos, demitir-se para evitar males ao estado. c) a defesa de boas ideias frequentemente leva à renúncia.

d) os políticos honestos sofrem acusações e perseguições dos desonestos. e) todos os políticos se equivalem pelos desvios da ética.

3. ... cheios de fel e de tédio...

Nesta passagem do sexto parágrafo, o cronista se utiliza figuradamente da pa- lavra fel para significar:

a) rancor. b) eloquência.

c) esperança. d) medo.

e) saudade.

4. Considerando que o último parágrafo do fragmento representa uma ironia do

cronista, seu significado contextual é:

a) Portugal vai muito bem, apesar de seus maus governantes. b) A alternância dos grupos no poder faz bem ao país. c) O país experimenta um progresso vertiginoso. d) O país vai mal em todos os sentidos.

e) Portugal não se importa com seus políticos.

5. (Unifesp) Texto para a questão.

[...] Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verda- de, vejamos alguns lineamentos do menino.

Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e ver- dadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punha- do de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava- -o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um – “ai, nhonhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.

Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opi- niático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.

2. Resposta: e

A – ERRADA – O cronista afirma que as acusa- ções são “graves”, portanto, não são “desca- bidas”, como aparece na alternativa. B – ERRADA – Segundo a crônica, a demissão não resulta de opção motivada por consciência ou honra, mas por imposição diante de denúncias. C – ERRADA – A renúncia não resulta da defesa de boas ideias, mas sim de imposição motiva- da pelas atitudes incorretas dos governantes. D – ERRADA – O cronista generaliza os políti- cos, apontando a desonestidade de todos eles. E – CERTA – A crônica diz que todos os políti- cos que se revezavam em Portugal naquele período sofreram acusações graves, que os le- varam a ser demitidos ou a pedir demissão, portanto, independentemente de fazerem opo- sição uns aos outros, equivalem-se.

3. Resposta: a

O termo “fel” é usado para caracterizar o “rancor”, isto é, a raiva dos que perderam o poder e terão de se conformar com a posição de “verdadeiros liberais” até que recuperem a posição anterior. A identificação com os “ver- dadeiros liberais”, apresentada com ironia, é usada pelo cronista para indicar aqueles que não estão no poder e, por isso, fazem críticas aos “corruptos” e “esbanjadores” que lá es- tão, até que, conseguindo tal posição, passem a comportar-se do mesmo modo.

4. Resposta: d

A, B – As alternativas desconsideram a ironia presente no final do texto e as críticas feitas aos governantes portugueses.

C – A alternativa desconsidera a imagem do “chouto (trote) miúdo”, que ironicamente alude ao desenvolvimento excessivamente lento do país. D – CERTA – A imagem de um Portugal que segue em “chouto (trote) miúdo” sugere a ideia de es- tagnação ou desenvolvimento em ritmo lento, que revela uma crítica à má administração dos grupos que se revezam no poder, portanto, indica que “o país vai mal em todos os sentidos”. E – ERRADA – O penúltimo parágrafo evidencia que a Imprensa e a opinião pública apontam o mau comportamento dos políticos, invalidando a alternativa.

5. Resposta: b

A – ERRADA – Machado de Assis não é um es- critor naturalista, nem faz uso do

Determinismo. A formulação “O menino é pai do homem” deve ser lida em sentido metafóri- co: características do homem maduro já apa- recem na criança. Não há a noção de herança transmitida de pai para filho (hereditariedade), como preconiza o Determinismo.

B – CERTA – O texto apresenta uma crítica ao contexto escravista, evidenciada nas diabruras do menino Brás Cubas e na subordinação dos escravos, impedidos de reagir ou de se prote- ger. O narrador, ao recordar o passado, inclui algumas menções, como a de ser um dos “mais malignos de seu tempo”, e a indicação de uma mudança de atitude (“Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto de minha vi- da”) que pressupõem uma revisão dos atos da criança pelo adulto, ainda que a crítica esteja amenizada pela sugestão de que os atos co- metidos são inerentes à natureza das crianças.

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É correto afirmar que:

a) se trata basicamente de um texto naturalista, fundado no Determinismo. b) o texto revela um juízo crítico do contexto escravista da época.

c) o narrador se apresenta bastante sisudo e amargo, bem ao gosto machadiano. d) o texto apresenta papéis sociais ambíguos das personagens em foco. e) os comportamentos desumanos do narrador são sutilmente desnudados.

6. (UFRN) A passagem abaixo é extraída do capítulo “Das negativas”, de Memó-

rias Póstumas de Brás Cubas.

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebrida- de do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casa- mento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Machadode assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. 27. ed. São Paulo: Ática, 1999. p. 176.

Neste capítulo, Brás Cubas faz uma espécie de balanço de sua existência, em que: a) demonstra tristeza por não ter conseguido um saldo positivo em sua vida. b) lamenta suas dificuldades e o fato de não ter tido sucesso em sua vida. c) orgulha-se por não ter deixado filhos para herdarem a infelicidade humana. d) desculpa-se pelo fato de não ter suportado o sofrimento como seus amigos.

7. (Fuvest-SP) Texto para questão.

Assim se explicam a minha estada debaixo da janela de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy, como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me era desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros viriam atrás; to- dos iam às suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: “Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e uma na- morada”. Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias é destinada a contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um cavalo por três mil-réis...

Machadode assis. Dom Casmurro.

Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afir- mar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo reve- lam que, em Dom Casmurro, Machado de Assis:

a) expôs, embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua consequen- te recusa de leituras estrangeiras.

b) negou ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vis- ta o hábito romântico de tudo idealizar e exagerar.

c) recusou, finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições ro- mânticas que irá caracterizar seus últimos romances.

d) declarou que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os escritores de outras épocas não mais merecem ser lidos.

e) utilizou, como em outras obras suas, seus elementos do legado de seus predecessores locais, alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.

C – ERRADA – Embora sugira uma revisão de suas atitudes de criança, o narrador não assu- me tom amargo, parecendo divertir-se ao con- tar as traquinagens realizadas e justificar seu comportamento pela natureza infantil. D – ERRADA – Os papéis sociais estão bastante definidos. Os escravos subordinam-se aos do- nos, mesmo quando são crianças e cometem atos brutais.

E – ERRADA – Não há sutileza na referência aos “comportamentos desumanos” do narra- dor quando criança. Os detalhes evidenciam a brutalidade dos atos, ainda que a narrativa os coloque como inerentes a uma criança levada.

6. Resposta: c

A – ERRADA – Brás Cubas comenta que morre com um “pequeno saldo”, não ter tido filhos, o que seria positivo, segundo sua opinião. B – ERRADA – Embora não tenha alcançado al- guns objetivos, como fazer o emplasto ou ser ministro, Brás Cubas também não precisou vi- venciar situações difíceis, como a necessidade de empenhar-se em um trabalho ou acompa- nhar a morte de um amigo, por isso, em seu discurso, não predomina a lamentação. C – CERTA – Brás Cubas afirma que, indepen- dentemente de conquistas e de fracassos, con- sidera tem um saldo positivo na vida, o fato de não ter tido filhos, pois, assim, não precisou transmitir a eles “o legado da nossa miséria”, isto é, a infelicidade humana.

D – ERRADA – Brás Cubas considera-se sortudo (“boa fortuna”) por não ter tido de acompa- nhar a morte e a demência de amigos, nem vi- ver situação parecida.

7. Resposta: e

A – ERRADA – A obra de Machado de Assis, em todas as suas fases, é marcada por forte inter- textualidade, evidenciada em citações tanto de autores nacionais quanto estrangeiros. B – ERRADA – Os textos de José de Alencar e de Álvares de Azevedo, dois autores românti- cos, servem para a documentação da prática do namoro no período anterior, portanto, não há a afirmação de que o Romantismo é inca- paz de se referir à realidade.

C – ERRADA – A obra de Machado de Assis é di- vidida em duas fases – A primeira é romântica e a segunda, realista.

D – ERRADA – Ao resgatar os depoimentos de José de Alencar e Álvares de Azevedo, Machado sugere a importância da leitura de textos do passado, cuja validade se mantém. E – CERTA – Os textos dos autores românticos citados funcionaram como ilustrações da prá- tica do namoro em sua adolescência, contem- porânea à cultura romântica. Como aparece na alternativa, essa retomada ganha novo signifi- cado, já que o narrador Bento Santiago refere- -se a ela para ironizar a figura do rapaz que havia despertado o interesse de Capitu.

41 R ealismo e Nat ur alismo 8. (Ufam)

Daí a pouco, em volta das bicas era um zum-zum crescente, uma aglo- meração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio d’água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas das mãos.

azevedo, Aluísio de. O cortiço. São Paulo: Martins Fontes, 1968.

Este fragmento pertence a O Cortiço, obra emblemática do Naturalismo. São ca- racterísticas desse fragmento, típicas desse movimento literário, entre outras: a) o idealismo na descrição feminina.

b) a sensualidade idealizada.

c) a visão da realidade atrelada aos elementos naturais.

d) a fuga à realidade, a partir de um local idealizado, como o cortiço. e) a descrição visando aproximar homens de animais e destacar aspectos de-

sagradáveis do ambiente.

9. (Unifesp) Considere o trecho de O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara explicar e que até ali jaziam esquecidas nos meandros do seu passado, apresenta- vam-se agora nítidas e transparentes. Compreendeu como era que cer- tos velhos respeitáveis, cuja fotografia Léonie lhe mostrou no dia que passaram juntas, deixavam-se vilmente cavalgar pela loureira, cativos e submissos, pagando a escravidão com a honra, os bens, e até com a pró- pria vida, se a prostituta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o cor- po. E continuou a sorrir, desvanecida na sua superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava senhor e que, no entan- to, fora posto no mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo ridículo que, para gozar um pouco, precisava tirar da sua mesma ilusão a substância do seu gozo; ao passo que a mulher, a senhora, a dona dele, ia tranquilamente desfrutando o seu império, endeusada e querida, pro- digalizando martírios, que os miseráveis aceitavam contritos, a beijar os pés que os deprimiam e as implacáveis mãos que os estrangulavam.

— Ah! homens! homens! ... sussurrou ela de envolta com um suspiro.

No texto, os pensamentos da personagem:

a) recuperam o princípio da prosa naturalista, que condena os assuntos re- pulsivos e bestiais, sem amparo nas teorias científicas, ligados ao homem que põe em primeiro plano seus instintos animalescos.

b) elucidam o princípio do determinismo presente na prosa naturalista, reve- lando os homens e as mulheres conscientes dos seus instintos em função do meio em que vivem e, sobretudo, capazes de controlá-los.

c) trazem uma crítica aos aspectos animalescos próprios do homem, mas, por outro lado, revelam uma forma de Pombinha submeter a muitos deles para obter vantagens: eis aí um princípio do Realismo rechaçado no Naturalismo. d) constroem uma visão de mundo e do homem idealizada, o que, em certa me- dida, afronta o referencial em que se baseia a prosa naturalista, que define o homem como fruto do meio, marcado pelo apelo dos seus sentidos.

e) consubstanciam a concepção naturalista de que o homem é um animal, preso aos instintos e, no que dizem respeito à sexualidade, vê-se que Pom- binha considera a mulher superior ao homem, e esse conhecimento é uma forma de se obterem vantagens.

8. Resposta: e

A – ERRADA – O Naturalismo buscou aproxi- mar-se da realidade, eliminando traços de idealização. As personagens são reveladas em seus aspectos comuns, incluindo, muitas ve- zes, o sórdido.

B – ERRADA – A sensualidade apresentada no Naturalismo não contém idealização; pelo con- trário, é muitas vezes rebaixada, já que aspec- tos ligados aos instintos ganham destaque e as personagens recebem traços de animalização. C – ERRADA – O Naturalismo não privilegia ele- mentos naturais para a representação da reali- dade, cujo foco é o social.

D – ERRADA – A evasão é uma característica romântica, ligada à idealização. No Naturalismo, o autor busca ancorar-se firme- mente na realidade, mostrando-a de modo ob- jetivo e preciso. O cortiço, descrito no frag- mento, é um lugar sujo e miserável, não con- tando, portanto, com uma qualificação ideal. E – CERTA – O Naturalismo aborda a brutalidade das relações sociais, geralmente explicitando a exploração do homem por meio de sua animali- zação e submissão a ambientes hostis. A anima- lização também está relacionada à ênfase de comportamentos instintivos, não racionais.

9. Resposta: e

A – ERRADA – A prosa naturalista não condena os assuntos repulsivos e bestiais, pelo contrá- rio, explora-os amparada nas teorias científi- cas do período.

B – ERRADA – O Determinismo aponta o domí- nio dos instintos e a redução do papel da ra- zão, incapaz, muitas vezes, de controlá-los. No trecho, os “velhos respeitáveis” não conse- guem resistir à atração sexual exercida pela prostituta Léonie, submetendo-se a ela. C – ERRADA – O trecho não revela crítica aos aspectos animalescos; apenas evidencia a per- cepção deles por Pombinha e a possibilidade de utilizá-los para impor suas vontades aos homens. Esse reconhecimento é típico do Naturalismo, e não do Realismo.

D – ERRADA – O fragmento de O cortiço não mostra idealização do mundo e do homem, confrontando os pressupostos naturalistas, co- mo afirma a alternativa. Ele reforça a concep- ção de que o homem é fruto do meio e se sub- mete aos sentidos.

E – CERTA – As observações de Pombinha, com base naquilo que Léonie lhe mostrou, confir- mam os pressupostos naturalistas de que o homem submete-se aos seus instintos e abrem caminho para que a personagem, posterior- mente, utilize a força do sexo para se impor aos homens.

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