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Mário de Andrade

No documento Portugues (páginas 56-59)

Artista eclético de muitas ocupações, é uma das fontes da inquietação e da inventividade que marcaram o início do Modernismo brasileiro. Sua poesia múltipla e complexa exemplifica os caminhos que a literatura modernista percorreu. O “Prefácio interessantíssimo” de seu livro

Pauliceia desvairada (1921) explica a relação de sua obra poética com as tendências tradicionais

e vanguardistas. Entre essas últimas, defendia o uso da linguagem popular e nacional, do ver-

so livre e da escrita automática, recurso popular entre os surrealistas.

Macunaína: o herói sem nenhum caráter, de 1928, é o grande destaque de sua prosa. A me-

tamorfose do “herói de nossa gente” – que dá nome à obra – em negro, branco e indígena ao longo da narrativa torna-o uma representação do povo brasileiro. A obra evidencia traços do Modernismo no Brasil, como a ruptura com a tradição dos heróis e o retrato de nossa cultura nativa, além de se valer da linguagem inventiva, com recursos como a omissão de pontuação e o uso de termos coloquiais. Veja o trecho inicial da obra.

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Ura- ricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:

— Ai! que preguiça!...

e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a fa- mília ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaiamuns diz-que habitando a água-doce por lá.

AndrAde, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 13-14.

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Questões

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1. (Ufam) Sobre o Modernismo no Brasil, afirma-se corretamente que:

a) não obteve êxito em suas propostas, em nenhum aspecto. b) se deu apenas na poesia, principalmente da década de 1930.

c) o movimento nasceu gorado, pois copiou os princípios das vanguardas europeias.

d) revolucionou o modo de se fazer literatura e pensar criticamente o país. e) pretendia restabelecer a tradição romanesca no Brasil.

2. (PUC-RS) Para responder, ler o trecho de Memórias sentimentais de João Mira-

mar, de Oswald de Andrade.

A costa brasileira depois de um pulo de farol sumiu como um peixe. O mar era um oleado azul. O sol afogado queimava arranha-céus de nuvens.

Dois pontos sujaram o horizonte faiscando longínquos bons dias sem fio.

Os olhos hipócritas dos viajantes andavam longe dos livros – agora polichinelos sentados nas cadeiras vazias.

A aproximação do texto literário à prosa cinematográfica, caracterizada pela , permite afirmar que o fragmento acima, de autoria de Oswald de An-

drade, enquadra-se na estética .

a) simultaneidade de imagens – modernista b) exaltação de objetos – romântica c) presença da ironia – realista

d) idealização da paisagem – pós-moderna e) exploração do local – simbolista

(Udesc) De acordo com a leitura do excerto e da obra Macunaíma, de Mário de Andrade, responda à questão 3.

Vei, a Sol

[...]

Quando Vei com suas filhas chegaram do dia e era boca da noite as moças que vinham na frente e encontraram Macunaíma e a por- tuguesa brincando mais. Então as três filhas de luz se zangaram: — Então é assim que se faz, herói! Pois nossa mãe Vei não falou pra você não sair da jangada e não ir brincar com outras cunhãs por aí?!

— Estava muito tristinho! o herói fez.

— Não tem que tristinho nem mané tristinho, herói! Agora que você vai tomar um pito de nossa mãe Vei!

E viraram muito zangadas pra velha:

— Veja, nossa mãe Vei, o que vosso genro fez! Nem bem a gente foi no cerradão que ele escapuliu, deu em cima duma boa, trouxe ela na vossa jangada e brincaram até mais não! Agora estão se rindo um pro outro!

Então a Sol se queimou e ralhou assim:

— Ara ara, ara, meus cuidados! Pois não falei pra você não dar em cima de nenhuma cunhã não!... Falei sim! E inda por cima você brinca com ela na jangada minha e agora estão se rindo um pro outro!

— Estava muito tristinho! Macunaíma repetiu.

— Pois si você tivesse me obedecido casava com uma de minhas filhas e havia de ser sempre moço e bonitão. Agora você fica pouco tempo moço tal-qualmente os outros homens e depois vai fican- do mocetudo e sem graça nenhuma. Macunaíma sentiu vontade de chorar. Suspirou.

— Si eu soubesse...

AndrAde, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. p. 56-57.

1. Resposta: d

A – ERRADA – O Modernismo teve grande êxito em seu objetivo de propor uma nova literatura, capaz de associar as influências das vanguar- das europeias aos impulsos e conteúdos da ar- te nacional.

B – ERRADA – O Modernismo desenvolveu-se na poesia, prosa e teatro.

C – ERRADA – É notável a influência da arte europeia no desenvolvimento do Modernismo, contudo, ela não foi copiada; houve um apro- veitamento crítico dos princípios que nortea- ram a produção no continente europeu. D – CERTA – Com o Modernismo, a literatura brasileira deixa de transplantar para o Brasil as tendências europeias, buscando uma produ- ção que incorpore as sugestões externas a partir de uma avaliação crítica e do diálogo com a cultura nacional.

E – ERRADA – O Modernismo dialoga com algu- mas tendências romanescas do Brasil, princi- palmente com aquelas praticadas durante o Romantismo, como a tentativa de compreen- der a origem do povo brasileiro, por exemplo. Contudo, não há uma tentativa de restabelecer essa tradição, que aparece subordinada a no- vos princípios estéticos. Além disso, caracte- rísticas típicas do estilo romanesco, como a ênfase na imaginação, aparecem agora rela- cionadas a uma tentativa de compreensão da vida contemporânea.

2. Resposta: a

O modernista Oswald de Andrade propôs mar- cantes inovações da forma. Nesse trecho do romance Memórias sentimentais de João

Miramar, o autor vale-se da simultaneidade de

imagens, sugerida, principalmente, pelo uso de períodos curtos e justapostos, articulados sem a intermediação de conjunções ou de expres- sões que indiquem uma sequência temporal.

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Modernismo no Br

asil - Primeir

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ação

3. Assinale a alternativa correta:

a) Macunaíma trai o pacto que fizera com Vei e, por isso, perde a imortalidade bem como a oportunidade de iniciar uma nova família: casar-se com uma das filhas de Vei.

b) Quando as filhas da luz encontraram Macunaíma brincando com outras cunhãs, justificaram a atitude dele pela tristeza em que se encontrava. c) A mãe Vei, que era mensageira da luz, zangara-se com a portuguesa ao

encontrá-la brincando com Macunaíma, pois tencionava transformá-la em uma cunhã.

d) As expressões “E inda por cima...” e “Si eu soubesse...” constituem infra- ções ao padrão formal da língua escrita, em relação à ortografia, o que fere um dos objetivos da nova proposta da corrente modernista.

e) Da oração “Estava muito tristinho! o herói fez” infere-se que Macunaíma, ardiloso como era, tentava arranjar argumentos para convencer a cunhã a brincar com ele novamente.

4. (UFPR) Leia atentamente os trechos de poemas de Manuel Bandeira.

[...] Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A formas a forma. [...]

(Os Sapos)

[...] Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador Político

Raquítico Sifilítico

De todo o lirismo que capitula ao que quer que seja

[fora de si mesmo. [...]

(Poética)

Sobre esses trechos, assinale a alternativa incorreta:

a) Há a reflexão sobre o próprio fazer poético, que propunha uma estética bem diferente da proposta por Olavo Bilac em “Profissão de Fé”.

b) No contexto de “Os Sapos”, há cinquenta anos o autor já tinha proposto normas rígidas para o fazer poético, antecipando o Parnasianismo. c) Os Sapos são metáforas que se referem aos poetas parnasianos, que pri-

mavam por um rigor na métrica e na versificação.

d) Em forma de manifesto, Manuel Bandeira expressa boa parte da demanda dos modernistas quanto à forma de se fazer poesia.

e) O “lirismo raquítico e sifilítico”, que Bandeira combate, é próprio dos poetas ultrarromânticos do século XIX.

3. Resposta: a

A – CERTA – Vei havia proposto ao herói o ca- samento com uma de suas filhas, o que lhe ga- rantiria ficar sempre “moço e bonitão”. Contudo, Macunaíma mantém relações com uma cunhã, desrespeitando o combinado. B – ERRADA – As filhas de Vei não aceitam a justificativa de Macunaíma, que explica a trai- ção pela suposta tristeza que sentia. C – ERRADA – A fala de Vei não traz uma repri- menda à mulher que estava com o herói. O pacto não a envolvia.

D – ERRADA – O Modernismo procurou se apro- ximar da fala popular, de que “inda” e “si” são exemplos.

E – ERRADA – Macunaíma procurava argumen- tos para convencer Vei a perdoá-lo, e não para convencer a cunhã a estar com ele novamente.

4. Resposta: b

A – CERTA – Os dois textos refletem sobre a composição poética: o primeiro satiriza os princípios da composição parnasiana; o segun- do propõe a liberdade de composição e critica o excesso de subjetividade romântica, que não atribui o poético à matéria do dia a dia. B – ERRADA – A referência temporal “cinquen- ta anos” refere-se à distância entre o tempo de escrita do poema, já em período de intro- dução do Modernismo, e o período de vigência do Parnasianismo. Não se refere a período an- terior ao Parnasianismo.

C – CERTA – O trecho reproduzido mostra parte de uma suposta fala dos sapos. Nela, eviden- ciam-se princípios valorizados pelos parnasia- nos, como a preocupação excessiva com as ri- mas e a métrica, evidenciando que os sapos são metáforas dos poetas dessa escola literária. D – CERTA – Manuel Bandeira, nos dois tre- chos, critica algumas tradições da poesia bra- sileira e reivindica a liberdade de construção, expressando, assim, o desejo modernista de ruptura.

E – CERTA – Ao mencionar o “lirismo namora- dor”, “que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo”, Bandeira alude aos ultrarro- mânticos, cuja poesia foi marcada pelo exces- so de sentimentalismo e pela recusa em reco- nhecer o poético na matéria prosaica.

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Modernismo no Brasil -

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