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O teatro de Nelson Rodrigues e Ariano Suassuna

No documento Portugues (páginas 68-71)

Nelson Rodrigues é o fundador do teatro moderno no Brasil. Sua peça Vestido de noiva (1943)

provoca uma verdadeira revolução no teatro brasileiro, contando com três palcos simultâneos: a realidade, a memória e a alucinação da protagonista Alaíde. Assim fornece ao público acesso à subjetividade da personagem, como mostra o trecho:

(Apaga-se o plano da alucinação. Luz no plano da memória. Pai e mãe.)

Mãe – Cruz! Até pensei ter visto um vulto – ando tão nervosa. Também esses corredores! A alma de madame Clessi pode andar por aí... e...

Pai – Perca essa mania de alma! A mulher está morta, enterrada! Mãe – Pois é...

(Apaga-se o plano da memória. Luz no plano da alucinação.) Madame Clessi – Mas o que foi?

Alaíde – Nada. Coisa sem importância que eu me lembrei. (forte) Quero ser como a senhora. Usar espartilho. (doce) Acho espartilho elegante!

Madame Clessi – Mas seu marido, seu pai, sua mãe e... Lúcia? Homem (para Alaíde) – Assassina!

rodriGues, Nelson. In: Teatro completo I: peças psicológicas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p. 116-117.

O autor aborda a realidade da pequena burguesia urbana. Costuma-se dizer que suas peças oferecem ao espectador um olhar pelo “buraco da fechadura”. Através dele, divisa a tragédia e a corrupção moral: ciúme, sexo, adultério, crimes, suicídios, incesto, etc.

Dramaturgo como Rodrigues, Ariano Suassuna também inovou o teatro. Lidou principal- mente com temas regionais em suas obras, que combinam cultura popular e erudita. Devido a esse interesse, concebeu, na década de 1970, o Movimento Armorial, que funde os grandes clássicos da literatura com a tradição regional – sobretudo a nordestina – para criar uma esté-

tica nacional popular. Incorpora elementos clássicos para revalorizar a cultura nordestina, di- ferenciando-a da cultura de massa.

Sua obra mais célebre é o Auto da compadecida (1955), que foi representada no teatro várias ve-

zes e também chegou ao cinema, em 1969. Mistura a sátira, o fundo moral e religioso do teatro popular medieval (como o de Gil Vicente) e a literatura de cordel, dos cantadores nordestinos.

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Questões

Todas as questões f

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te.

1. (Ufla-MG) Leia o texto abaixo para responder à questão 1.

[...]

Mas Primo Argemiro anda sem se voltar. Agora atravessa o matinho. — I - v - v - v!... O primeiro calafrio... A maleita já chegou...

[...]

O começo do acesso é bom, é gostoso: é a única coisa boa que a vida ainda tem. Para, para tremer. E para pensar. Também.

Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos cau- les rosados de erva-de-sapo. A erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam, sacudindo as suas estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, de folhas pe- ludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde-azul. A pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita cavalos derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões.

— Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se acabar!...

É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.

Guimarães rosa, João. Sarapalha (fragmento).

Nesse trecho, verifica-se a utilização do seguinte recurso estético: a) Atribuir à natureza a condição de personagem principal.

b) Descrever minuciosamente a natureza local, com o objetivo de valorizá-la. c) Assumir a perspectiva de que somente a natureza tem papel relevante. d) Integrar as personagens aos ambientes em que vivem.

2. (PUC-RS) Para responder à questão, ler o trecho do conto “As margens da

alegria”, de Guimarães Rosa.

ESTA É A ESTÓRIA. Ia um menino, com os Tios, passar dias no lu- gar onde se construía a grande cidade. Era uma viagem inventada no feliz; para ele, produzia-se em caso de sonho. Saíam ainda com o escu- ro, o ar fino de cheiros desconhecidos. A Mãe e o Pai vinham trazê-lo ao aeroporto. (...) O voo ia ser pouco mais de duas horas. O menino fremia no acorçoo, alegre de se rir para si, confortavelzinho, com um jeito de folha a cair. A vida podia às vezes raiar numa verdade extraordinária. Mesmo o afivelarem-lhe o cinto de segurança via forte afago, de prote- ção, e logo novo senso de esperança: ao não sabido, ao mais. Assim um crescer e desconter-se – certo como o ato de respirar – o de fugir para o espaço em branco. O Menino.

De acordo com o texto, afirma-se:

I. O menino experimentava sensações até então inusitadas no enfrentamen- to do desconhecido, com sentimentos de entusiasmo e de descoberta. II. A viagem parecia encaminhar-se na direção do não sabido e da revelação

de algo extraordinário.

III. O viajante sentia medo e até dificuldade de respirar durante o percurso, e tinha vontade de fugir do seu destino.

IV. A viagem de avião daria ao menino o acesso a uma cidade ainda sem história. A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):

a) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV.

1. Resposta: d

No trecho de “Sarapalha”, conto de Guimarães Rosa, Primo Argemiro sofre com a maleita, que provoca a sezão, isto é, uma febre intermitente. O acesso que sofre é transferido para as plan- tas, que passam, em sua visão, a trepidar como ele. Natureza e homem, neste e nos demais contos de Guimarães Rosa, estão integrados.

2. Resposta: d

I - CERTA – Em “Era uma viagem inventada no feliz; para ele, produzia-se em caso de sonho” evidencia-se o “enfrentamento do desconheci- do” e o “sentimento de entusiasmo”. II – CERTA – O trecho “e logo novo senso de esperança: ao não sabido, ao mais” mostra que há expectativa de contato com algo radi- calmente novo.

III – ERRADA – O voo lhe dava sensação de se- gurança, como explicita o trecho “mesmo o afivelarem-lhe o cinto de segurança via forte afago, de proteção”. Além disso, mostra o de- sejo de “fugir para o espaço em branco”, sím- bolo do destino a que se dirige.

IV – CERTA – O local a que se dirige o menino é um “espaço em branco”, portanto, confirma-se a ideia de ser uma “cidade ainda sem história”.

69 Modernismo no Br asil - T er ceir a ger ação 3. (ESPM-SP) Questão de pontuação

Todo mundo aceita que ao homem cabe pontuar a própria vida: que viva em ponto de exclamação (dizem: tem alma dionisíaca) viva em ponto de interrogação (foi filosofia, ora é poesia)

viva equilibrando-se entre vírgulas e sem pontuação (na política) O homem só não aceita do homem que use a só pontuação fatal: que use, na frase que ele vive o inevitável ponto-final.

João Cabral de Melo Neto

Assinale a afirmação inaceitável sobre o poema:

a) A exclamação estaria relacionada a uma vida exuberante, prazerosa, arre- batada.

b) Há um questionamento existencial sob vários pontos de vista humanos. c) Numa suposta vida atribulada, o homem deve buscar equilíbrio nas pausas. d) Na política, sugere-se que não há normas, espécie de liberdade total para

mandos e desmandos.

e) O “inevitável ponto-final” é metáfora da morte, ideia com a qual o homem não se conforma.

4. (UEnP-PR – Adaptada) A partir do fragmento abaixo, retirado da obra Morte

e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, analise as afirmativas.

— Seu José, mestre carpina, e que interesse, me diga, há nessa vida a retalho que é cada dia adquirida? espera poder um dia

comprá-la em grandes partidas? — Severino, retirante,

não sei bem o que lhe diga: não é que espere comprar em grosso de tais partidas, mas o que compro a retalho é, de qualquer forma, vida. — Seu José, mestre carpina, que diferença faria

se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida?

meLo Neto, João Cabral. Morte e vida severina.

I. A passagem reflete o questionamento de Severino a respeito de sua con- dição, tendo, como fuga possível diante da falta de esperança, o suicídio. II. Morte e vida severina é um romance, narrado em terceira pessoa, que con- ta a saga do personagem Severino, retirante pernambucano, em busca de melhores condições de vida.

3. Resposta: b

A – CERTA – A exclamação representa a alegria de viver, como sugere o termo “dionisíacas”, que se refere ao prazer da ação.

B – ERRADA – O poema apresenta correlação entre pontuação e experiência de vida, e não um questionamento existencial, como aparece na alternativa.

C – CERTA – As vírgulas representam pequenas pausas na leitura, portanto, podem sugerir os momentos de interrupção do trabalho e da rotina. D – CERTA – A ausência de pontuação sugere a “liberdade total” e alude ao “vale tudo” da política.

E – CERTA – O ponto-final é relacionado à “pon- tuação fatal”, portanto, refere-se à morte.

4. Resposta: d

I – CERTA – Severino, na última fala, considera a possibilidade do suicídio, sugerida pela per- gunta “que diferença faria/se em vez de conti- nuar/tomasse a melhor saída:/a de saltar, nu- ma noite,/fora da ponte e da vida?” II – ERRADA – Morte e vida severina é um auto, portanto, um texto teatral.

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Linguag

em

 Linguagem

Nas diferentes práticas sociais, os grupos huma- nos produzem representações do mundo. Siste-

mas organizados de representações (música, culinária, moda, pintura, dança, etc.) constituem linguagens. Cada linguagem tem unidades de re- presentação próprias, chamadas de signos.

Tipos de signo

ƒ Ícone: representa um elemento com base em

uma semelhança física. Exemplo: A fotogra- fia de uma pessoa pode ser um ícone dela.

ƒ Índice: representa um elemento com base

em uma relação de causa e efeito apreen- dida na experiência humana. Exemplo: O grito pode ser um índice de dor.

ƒ Símbolo: representa um elemento com

base em uma convenção, um acordo entre membros de um grupo social. Exemplo: As cores verde, azul e amarelo são símbolos das belezas naturais do Brasil na bandeira nacional.

As palavras ou signos linguísticos são símbolos, pois a possibilidade de designar um elemento da realidade por determinada palavra é fruto de um acordo social.

Os signos linguísticos têm uma forma e um significado.

ƒ Significante: forma da palavra; sons e le-

tras que a constituem.

ƒ Significado: ideia ou conceito associado

ao significante.

A linguagem que usa palavras é chamada de verbal; a que usa outros signos é não verbal. Há textos que mesclam as linguagens.

Língua

A linguagem verbal manifesta-se de formas di- ferentes nos grupos humanos, constituindo as lín-

guas, que são marcadas por traços culturais que

refletem a relação de seus usuários com o mundo. Uma mesma língua apresenta muitas varieda-

des linguísticas, diferentes formas de falar e de escrever (palavras específicas utilizadas por um ou outro grupo, variações na pronúncia das palavras ou na construção dos enunciados, etc.).

Língua: aspectos semânticos,

No documento Portugues (páginas 68-71)