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CAPÍTULO VII ALINHANDO ÁRVORES E SOLOS NA REDE DA

8.4 COMO A SILVICULTURA RESISTIU AOS ATAQUES DE UM AMBIENTE

Os estudos feitos com dados de 2000 e 2001 apontavam deficiências gerenciais e tecnológicas no setor em Lages (HOFF e SIMIONI, 2004), que implicavam em dificuldades para o desenvolvimento da rede da silvicultura. Em 2003, os investimentos previstos pelo setor de base florestal (madeira/móveis/papel) até 2005 somavam US$ 12 bilhões, ou cerca de 2,4% do total previsto para o Brasil. O setor se classificava entre os 12 maiores investidores, na frente dos de comunicação, bebidas e fumo, financeiro, mineração. No entanto, Santa Catarina não estava entre os Estados que registram os maiores volumes de previsão de investimentos: Bahia, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Maranhão (ABIMCI, 2003).

Contudo, a partir de 2003, uma nova política cambial beneficiou as exportações de madeira e aumentou o consumo interno, mascarando esta carência de capacidade empresarial e industrial. Os preços da madeira no mercado e a vantagem cambial, resultaram em acúmulo de capital que foi reinvestido no próprio setor ou em outros negócios, ampliando os reflorestamentos. Em 2005 uma nova mudança cambial, com a valorização do real em relação

à moeda norte-americana foi chamada de “crise do dolar” afetou “alguns segmentos, como o

de móveis de madeira e outros (incluindo o de compensados de pinus) apresentaram queda

significativa (superior a 60%) nas exportações, em 2005 em relação a 2004” (ABRAF,

196 O que é “viabilizar” sistemas agrosilvopastoris? Os sistemas silvipastoris incluem a criação bovina, entre o 3

e o 6 ano de idade do reflorestamento. Estes sistemas por isto, não representam nenhuma mudança na forma como os reflorestamentos são feitos.

2006). Contudo, a propalada “crise do dólar” não se abateu da mesma forma sobre todo a rede, pois a valorização do real resultou em

“aumento das exportações pelos segmentos de madeira serrada (140%), painéis de

madeira (44%) e celulose e papel (33%). O que fez com que as “exportações das

empresas associadas da ABRAF em 2005 atingiram US$ 2,5 bilhões para os segmentos de móveis de madeira, carvão vegetal, madeira serrada, painéis de madeira, celulose e papel, além de outros produtos de madeira sólida... um aumento

de 31,3% em relação ao registrado em 2004 (US$ 1,9 bilhão).” (ABRAF, 2006).

A despeito do discurso de crise, o setor cresceu:

“Contrariando muitas opiniões de economistas e empresários e considerando que o setor florestal alimenta um dos principais segmentos exportadores do país, a retração do câmbio, ao longo dos últimos anos, não foi capaz de diminuir o ritmo dos investimentos no setor. Muito pelo contrário, foi nos últimos anos que as decisões da implantação das expansões das plantas existentes e da construção de novas plantas

foram tomadas.” (SABETTA JUNIOR, 2007).

Embora a crise talvez residisse em diversos impasses de ordem comercial que permaneciam, pois o setor voltado ao mercado externo estava diante de um crescimento acelerado do mercado interno, para o qual não estava preparado e nem havia tradição em atender. A valorização do Real facilitou as importações, aumentando a mecanização florestal e automatização de processos industriais197. A automatização reduz o custo de operação de produtos já oferecidos. De forma que na crise haviam elementos que permitiam um desenvolvimento do setor, embora desigual entre os diferentes seguimentos, devido ao fracasso das empresas que não se modernizaram (HOFF e SIMIONI, 2004). Empresas como a Madepar, expandiram as áreas florestais e intensificaram a automatização do parque fabril, sem que o aumento de produção fosse acompanhado por aumento equivalente em novos postos de trabalho198. Indicando que a durante a crise do dólar, haviam automatizado o processo industrial.

Entre agricultores, reflorestadores e empreiteiros, observam-se diversas características das plantas que revelam a qualidade do reflorestamento com pinus, tais como o amarelecimento, conicidade do tronco, altura das plantas, crescimento, renovação da casca pela cor cinzenta, fissuras de coloração avermelhada ou a existência de liquens. O solo é

197 “ As importações no setor são predominantemente de máquinas e equipamentos para as florestas (colheita e

transporte) e para as ampliações e novas indústrias do parque industrial dos diversos segmentos integrados às florestas plantadas.” (ABRAF, 2006).

198 A Madepar Ind. e Com de Madeiras Ltda possuia 500 ha de pinus em 2001, suas áreas florestais passara para

6000 ha em 2005. Em 2006, novos investimentos da ordem de R$4 milhões visam dobrar a produção de portas, passando de 1800 portas/dia para 2500. www.madepardoors.com.br

avaliado pelo afloramento de raízes, alagamento, lajes de pedras, cor do solo, histórico de produtividade agrícola, tipo de vegetação original.

Técnicos por outro lado, se reportam a análises química de nutrientes (K<N<P), embora não realizem análises para a implantação florestal ou reforma de pinus, exceto para o plantio de eucalipto e plátano. Utilizam a experiência de outras empresas, onde o levantamento do incremento médio anual (m³/ha.ano), encontrando-se pouca clareza nos fatores que afetam a produtividade na segunta rotação, relacionados com origem do material genético, espaçamento e outras práticas de manejo, mas dificilmente associados ao levantamentos de solos. O impacto do solo é observado nas trilhas de trânsito de máquinas em carreadores e zonas de acúmulo de água escoada por estradas.

Ou seja, o pinus desenvolve-se em qualquer solo. Sua capacidade de crescer onde nenhum outra árvore nativa conseguiria é a principal razão de seu sucesso nos solos da região. Mas outras rasões sociais são mais determinantes na escolha pelo reflorestamentos. Ninguém planta pinus por que sua terra é boa para o pinus. O reflorestamento é bom quando a terra não é boa para outra coisa. Para os Agricultores, o reflorestamento é uma fonte de renda, trabalho, poupança, que viabiliza o uso do solo sem conflito com outras atividades agrícolas e valoriza a propriedade rural, a terra, como o principal e mais durável patrimônio familiar. Um pecuarista desapontado com a renda da produção de gado bovino afirmou em 2006 que as terras de Lages “não são boas para a pecuária, são boas para o pinus”.

A produção bovina é baixa por que as terras não proporcionam uma boa produtividade, principalmente quando compete com outros estados do Brasil. A terra resume fatores climáticos e sócio-técnicos que impedem que a pecuária alcance maior produtividade (PEREIRA, 2004). Da mesma forma, afirmar que “são boas para o pinus” põe fim a lenda centenária de que os solos da região eram bons apenas para as pastagens. No fim do século XX a vocação pecuária da região naturalmente campestre era contestada pelo avanço dos reflorestamentos. Por outro lado, muitos proprietários não dependem da terra para obter renda, gerindo a produção por indicadores genéricos, mas facilintando a percepção de mudanças realçadas pelos períodos de ausência de observação. Os produtores que moram ou trabalham continuamente no meio rural tem maior conhecimento de unidades locais, com menor fonte de comparação de observação, pois é prioritário ajustar as práticas aos solos disponíveis.

Esta percepção apresenta uma contradição: árvores melhoram os solos, mas em algumas condições, pioram. Mas também há receio de uso futuro por novas tecnologias ou oportunidades de negócio impedidas pelo reflorestamento (devido impacto controverso, quanto tempo ao de maturação), dúvidas sobre o efeito é utilizado como justificativa para

barganhar preço de arrendo, disputas familiares pelo uso da terra, e diferença de poder entre os membros da família. Neste sentido, os plantios florestais não são ajustados em função dos solos. Decisão do espaçamento e desbaste é imprevista e depende da necessidade de renda do momento, sendo orientada por práticas mais difundidas pelos reflorestadores, como o espaçamento inicial entre plantas e anos previstos para ocorrerem os desbastes.