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CAPÍTULO V – ESGOTAMENTO DA MADEIRA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL:

5.1 ESGOTAMENTO DAS RESERVAS DA ARAUCÁRIA

O esgotamento das reservas naturais de madeira na década de 1970 determinou o fim do chamado ciclo da madeira, a partir do qual a região mergulhou em grave recessão econômica e, segundo alguns analistas, causada também pela fuga de capitais, resultado dos ganhos da venda da madeira terem sido investido em outras regiões.

Com o esgotamento dos pinheirais virgens e degradação das áreas florestais remanescentes, aumentava a percepção que novos cortes não ocorreriam tão cedo, surgindo a dúvida sobre a continuidade da oferta de madeira. Era possível partir para outra fronteira florestal ou mudar de atividade, permanecer na atividade florestal na região exigia cada vez mais o reflorestamento, pois as práticas de manejo florestal condenavam a reprodução do modelo extrativista adotado.

Antes que o reflorestamento se consolidasse como uma alternativa competitiva de uso do solo no final do século XX havia mais dúvidas do que certezas sobre a viabilidade do plantio de florestas. Em virtude dos fracassos de replantio da araucária não havia viabilidade do reflorestamento naquele contexto, e o plantio do pinus tornava-se mais atrativo, na medida que experiências bem sucedidas se difundiam, mas principalmente a tecnologia e o mercado permitiam a utilização da madeira de pinus.

Algumas empresas que passaram por Lages se estabeleceram na região Norte do país, a exemplo da Gethal, na década de 70, com a madeira novamente em falta na região de Lages,

vêem inscritas em uma mitologia implícita do mel e das abelhas não tão distante da que se pode encontrar entre os ameríndios (Lévi-Strauss 1982)” (Sáez, 2004).

116 expandia-se com imigrantes em buscavam a exploração da madeira, com grande influência das colônias

a empresa começou a comprar toras no Amazonas, levadas de navio para o porto de São Francisco e de lá transportadas de caminhão para Lages. A empresa ficou conhecida pela forma como realizava o transporte das toras, com grande conflito social. A exploração inconseqüente, por vezes intrépida e aventureira, em outras caracterizada pelo oportunismo e truculência, viriam a fazer parte do vocabulário utilizado para descrever grandes empresas florestais.

Ao longo da década de 1970, a empresa percebeu que seria mais interessante ao invés de mandar as toras para Lages, para então serem laminadas e remetidas para Caxias do Sul onde permanecia a fábrica de compensados, transferir os equipamentos de laminação que estavam em Lages para Itacoatiara, AM (AZEVEDO et al., 2000, MAY e VEIGA NETO, 2000)117.

A madeira era o combustível barato para toda a atividade florestal e outros negócios da região, e seu esgotamento limitou a manutenção das relações que mantinham a rede da madeira. A evasão das empresas foi precedida pela transferência dos recursos gerados com a madeira para outras regiões do Brasil. Estima-se que a maior parte dos lucros gerados foram aplicados em outras atividades, consolidando o caráter “aproveitador” e “usurpador” do empresário da madeira. Muito pouco foi investido por empresas que persistiam na atividade florestal, pois os reflorestamentos foram fortemente subsidiados e a modernização do parque fabril é um evento recente, característico da década de 1990, quando o pinus se consolida como fonte de matéria-prima. Por outro lado, os recursos investidos em fruticultura, também subsidiados, ou direcionados na ampliação e manutenção da tradicional pecuária, não reproduziriam o mesmo ritmo de crescimento econômico e abrangência alcançada pela madeira.

A escassez da madeira foi acompanhada por uma evolução técnica de exploração florestal, transporte em distâncias maiores e de pontos antes inacessíveis, bem como de melhoria nos processos industriais. Contudo, estes avanços aceleravam a exploração da madeira, aproximando o fim deste coletivo. Como se não bastasse, a falta de florestas ocorreu junto da crise de 1973 e 1979, culminando a carência mundial de capital que abalou a oferta

117 Os lucros obtidos e a necessidade de ampliação da escala levaram resultaram na concentração do setor “em

1987, após um processo de compras de fábricas de compensados realizado ao longo da década de 80 no Amazonas”. Depois a Gethal também transferiu-se de Caxias do Sul (Azevedo et al., 2000, May e Veiga Neto, 2000). Em 2005 possuia uma área de aproximadamente 200 mil hectares de terra firme no Amazonas, capaz de produzir 6.000 m3 entre compensados e madeiras serradas em ciclo de vinte e cinco anos. Mais do que

duplicando o faturamento mensal do primeiro semestre de 2000, de aproximadamente U$ 900 mil, com uma produção média mensal de 2.500 m3 de produtos acabados. Em 2000, o IMAFLORA/Smartwood recomendou

para a certificação na unidade florestal da Gethal do seu Projeto de Manejo Florestal “Democracia” como “Bom Manejo Florestal” (well managed forest) (Azevedo et alli, 2000)

P o siçã o e m r e l açã o a os de m ai s m u nic í p io s de SC.

mundial de derivados de petróleo e máquinas. A crise econômica que se abatia sobre o Brasil impulsionou um ataque fulminantemente nas últimas reservas florestais, com a exploração intensa de lenha (como substituto de petróleo nas caldeiras industriais), xaxim, erva-mate e outras espécies madeireiras (utilizadas na indústria de embalagens antes da adoção do pinus). Na tentativa de superar a crise econômica, os recursos florestais foram utilizados de forma ainda mais desesperada, ampliando a degradação ambiental e da sangria socioeconômica ainda mais difícil de ser estancada.

Embora se atribua ao fim da madeira à crise econômica, no início da década de 1980 Lages possuía uma posição de destaque no Estado, ocupando a terceira posição entre os municípios, revelando que a crise social era decorrente do processo de concentração de renda e não do esgotamento das reservas de araucária. Nos 10 anos de 1987 a 1997, Lages reduz sua participação econômica, repetindo uma depressão econômica e um “desnorteio” (MUNARIM, 1999), superado somente com o surgimento de novos ramos, tais como a instalação da cervejaria, responsável no final da década de 1990 em 37% da arrecadação do município (AGOSTINI, 2001) 14 12 10 8 6 4 3 3 3 3 3 2 0 13 12 12 12 10 9 9 12 11 11 6 6 Ano

Figura 15 - Posição econômica e o Município de Lages em relação aos demais municípios de Santa Catarina. Fonte: Agostini (2001).

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