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CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DE ESTUDO E

2.2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS: A FLORESTA E A FORMAÇÃO DA PAISAGEM

2.2.1 Início da ação humana

A ocupação do continente Americano deve ter iniciado no fim da última glaciação há 11 mil anos, mas os primeiros humanos em Santa Catarina foram caçadores e coletores que atingiram a região pelo Rio Uruguai perto de 5.500 AC (BECK, 1970 apud SANTOS, 1973). Vindos da América do Norte, da Ásia ou mesmo da África, os primeiros humanos provavelmente buscaram caça abundante em regiões campestres e, além das bordas das florestas, ecótonos com múltiplos recursos, a floresta deve ter sido completamente desinteressante (DEAN, 1996). As evidências arqueológicas de atividade humana coincidem com o desaparecimento da megafauna13. Caçadores eufóricos extinguiram animais não preparados para o novo predador, e que desapareceram há 8 mil anos. Sobrando apenas animais muito rápidos, como a ema, ou pequenos demais (DEAN, 1996).

É provável que o fogo fosse o principal meio de caça, ao eliminar a vegetação lenhosa e gerar brotos atrativos para animais herbívoros dispersos ou sobre as árvores (DEAN, 1996). No fim do Holoceno as queimadas poderiam impedir o avanço da floresta, e a seleção de plantas rasteiras adaptadas seria uma explicação para a existência de campo em uma ampla região14. O fim da caça em campo aberto, e o avanço da floresta no fim o Holoceno

12 Vide região chamada “Caneleira”, no Município de Bom Retiro, na entrada de Urubici, local conhecido agora

por “Santa Clara”.

13 Grandes mamíferos herbívoros, como o gliptodonte, um tatu do tamanho de um boi; o toxodonte, parecido

com o rinoceronte; esmilodonte, um tigre dente de sabre; elefantóide mastodonte e, cavalos gigantes (DEAN, 1996).

14 As florestas da América do Sul quando comparadas com as de outros continentes, habitadas há mais tempo,

também sofreram rápida alteração, evidenciando que a atividade humana prova que a principal causa da degradação florestal e formação de paisagens campestres (DEAN, 1996).

aumentaram o uso da floresta, como revela o grande conhecimento dos indígenas a respeito de plantas medicinais, tinturas e fontes alimentares de origem florestal (DEAN, 1996). A região de campos e florestas na Serra Geral era habitada por Xoklengs e Kaingangs, Tribos de 50 a 300 pessoas essencialmente nômades e dependentes da caça e da coleta, ocupavam campos embora se diga que habitavam florestas (SANTOS, 1973). Praticavam alguma agricultura e tinham no pinhão um alimento básico15.

“O Pinhão para eles sempre foi a maior dádiva da natureza. Essa dádiva deveria, entretanto, ter sido disputada por vários grupos tribais e não há dúvida que as lutas entre Xokleng e Kaingang ocorreram em função do domínio desse território, onde o

pinheiro era farto” (SANTOS, 1973).

Segundo Dom Alvár Núñes Cabeza de Vaca16, que cruzou a Serra Geral em Santa Catarina em 1541, foram recebidos por índios, que ofereciam muitos mantimentos que revelam as práticas agrícolas e o uso da floresta era muito diversificado:

“galinha, batata, pato, mel, farinha de milho e farinha de pinheiro, que produzem em grande quantidade, porque há pinheiros tão grandes por ali que quatro homens com os braços estendidos não conseguem abraçar um. São muito bons para a construção de barcas e mastros de navios. As pinhas deles são enormes e a casca semelhante à da castanha. Os índios as colhem e fazem grande quantidade de farinha para a sua manutenção.... há muitos porcos montanheses e macacos que comem aqueles pinhões. Os macacos costumam subir nos pinheiros e derrubar tantas pinhas quanto conseguem, para depois descerem e comê-las junto ao solo. Muitas vezes acontece que os porcos montanheses ficam aguardando os macacos derrubar as pinhas para então irem comê-las, afugentando os macacos. Assim, enquanto os porcos montanheses ficam comento, os gatos [macacos] ficavam dando gritos trepados nas árvores. Também há muitas frutas, de diversas qualidades que dão duas vezes ao ano.Em outra comunidade, “os índios semeiam mandioca, milho e batata, sendo que estas produzem de três tipos, branca, amarela e rosa. Criam patos e galinhas e extraem mel do oco das árvores.”

O gado teria sido introduzido no Brasil por Martin Afonso de Sousa17 em 1533 e em 1541 Alvar Nuñes Cabeza de Vaca deixou em São Vicente bovinos "Cuernos largos"18

15 Segundo Henry (1941 apud Santos, 1973): “The forest was not their original home, for they were driven into it

from their original home, for they were driven into it from their farms on the savannahs to west by their enemies. They speak with nostalgia of the time long ago when lived little fenced villages and planted corn, beans and pumpkins (…)”

16 Enviado pelo Rei espanhol para assumir o governo das terras Sul Americanas, Cabeza de Vaca tomou posse da

Ilha de Santa Catarina em 1541 e depois cruzou pela Serra do Mar até alcançar Assuncion, de onde governaria as terras espanholas, pois lá eram inúmeros os enfrentamentos com os indígenas. Já haviam perdido Buenos Aires, e sob todos os efeitos, o mito do “El Dorado” morava mais perto de Assuncion que da Ilha de Santa Catarina. Esta permaneceria um importante entreposto comercial, para o reabastecimento de embarcações, pois em Santa Catarina, além de índios para escravisar, ao que tudo indicava, mas não havia ouro, prata ou pedras preciosas. Em 1531, Pizzarro havia conquistado as Minas de Potosi, no Peru, e todo o esforço de colonização do litoral catarinense e do vale do prata feneceram, pois descobriu-se em 1549, que o sonho do El Dorado que se procurava nos Andes a partir do Sul do Brasil já havia sido conquistado. Ver: CABEZA DE VACA, Alvár Núñez. Naufrágios e Comentários. Porto Alegre: L&PM, 1999.

(OLIVEIRA, 1996). Mas foi no século XVI que Jesuítas da Companhia de Jesus fundaram as primeiras Missões espalhando gado pelo Rio Grande do Sul (OLIVEIRA, 1996)19. A forragem era mais abundante do que qualquer lugar que os portugueses conhecessem, e não havia competidores locais pelo nicho ecológico20 desde as grandes extinções de herbívoros (DEAN, 1996). No século XVII o gado bovino e eqüino semi-selvagem espalhou-se por toda a região campestre do Pampa Gaúcho e depois na “Vacaria dos Pinhais”21 (OLIVEIRA, 1996).

Souza e Faria22 relata que ao abrir o Caminho dos Conventos 1729, teria encontrado, “nos campos e pastagens admiráveis, uma imensidade de gado tirada das campanhas da Colônia e, lançada na região de Lages pelos índios Tapes vindos das aldeias dos Jesuítas no ano de 1712”. Chegando em cima da serra encontrou muitas cruzes, que podem ter sido de jesuítas da companhia, que por ali tinham catequisado indígenas, ou queriam demarcar que estendiam seus domínios até aquelas paragens (RAMOS JUNIOR, 1948).

“Destes Campos, segue mais sete léguas rumando sempre à Serra Geral, onde encontra uma grande cruz feita de um pinheiro, e este letreiro nela: "Maries 16 de dezembro ano de 1727 Pipe Capitolo Marcos Omopo". Descida e reverenciada a cruz, retirou o título e, num padrão de madeira pòs este: I.N.R.I., e junto do mesmo , viva El

Rei de Portugal Dom João V, ano 1729” (OLIVEIRA, 1996).