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CAPÍTULO VI – A SILVICULTURA E A REINVENÇÃO DA FLORESTA

6.3 A REDE DA SILVICULTURA NO FINAL DO SÉCULO XX

Desde o final dos incentivos fiscais161 em 1986, o setor florestal do país não contava com recursos de créditos em sistema de financiamento regulares para atender o crescimento e o desenvolvimento das fontes de suprimento de matéria-prima de forma sustentável, resultando na ocorrência de déficit crescente nos plantios de novas florestas. Em 1976 Santa Catarina tinha 300 milhões de árvores plantadas, cerca de 180 mil ha (REIS, 1976). Mas como observa-se no gráfico a seguir, tomando-se por exemplo as áreas anuais plantadas pela Klabin SC na região de Lages (IMAFLORA, 2005), no início da década de 1980 os plantios

se reduziam antes do término dos incentivos fiscais, sendo retomados os plantios no final da década de 90, contrariando as críticas originárias da própria empresa que o fim dos incentivos fiscais culminaram no baixo índice de plantios, e por consequência do “Apagão Florestal”.

Figura 24 - Histórico de plantio anual da Klabin SC entre 1962 a 2003. Fonte: IMAFLORA (2003).

A política econômica e industrial brasileira abandonou o modelo de substituição de importações no ano de 1990, quando o setor já estava estruturado e voltava-se para a exportação, num contexto marcado pela globalização (JUVENAL e MATTOS, 2003). Entre 1998 a 2001 o consumo de madeira para processamento aumentou 48%. A valorização da madeira para processamento reorientou a demanda da indústria de papel e celulose da região, detentora de grande parte da madeira de maior bitola disponível. Mesmo desfrutando de bom desempenho em papel e celulose, reduziu sua produção, entre 1998 a 2001, e como conseqüência o consumo de madeira para Papel na Região do Planalto Sul de Santa Catarina reduziu-se em 32% (ICEPA, 2003).

Este aumento do consumo de madeira em nível regional e Estadual teve reflexo na valorização da madeira para processamento. Entre 1998 e 2002, o preço da madeira de pinus para serraria teve um aumento de 131,3%, enquanto a madeira para celulose teve um aumento de 61,4% (ICEPA, 2003).

R$ 60 pinus serraria (R$/m3) R$ 50 pinus celulose (R$/t) R$ 40 R$ 30 R$ 20 R$ 10 R$ 0 1998 1999 2000 2001 2002

Figura 25 - Preços nominais de madeira de pinus para celulose e para serrarias, em Santa Catarina. Fonte: Toresan (2003)

Contudo, a capacidade de industrialização da madeira continuava a ser um obstáculo. A Região de Lages em 2001 possuia 174 empresas Madeireiras ou moveleiras, e 35 ligadas à produção de Papel, papelão e gráfica, ou respectivamente 4 e 3,5% do montante estadual nestas categorias (ICEPA, 2003). E a despeito do alto consumo de madeira em relação ao Estado (vide Quadro 13), o processamento da indústria regional ocupava menos empregos, cerca de 5,5% e 12,4% nas mesmas categorias citadas (ICEPA, 2003).

Processamento (m³) Papel e Celulose (m³)

1998 2001 1998 2001

Planalto Sul Catarinense 525.090 1.011.038 1.311.930 994.476 Santa Catarina 5.492.337 8.550.616 4.327.376 5.959.438

10% 12% 30% 17%

Quadro 13 - Consumo de madeira na região entre 1998 e 2001. Fonte: ICEPA (2003)

Apesar da escassez de incentivos financeiros ao manejo florestal sustentável de florestas nativas e plantadas, a obrigatoriedade de reposição florestal por parte dos consumidores de matéria-prima florestal e de recuperação de Reserva Legal (RL) e de Áreas de Preservação Permanente (APP), aliada à rentabilidade econômica de empreendimentos florestais, têm sido estímulos concretos ao plantio e manejo florestal sustentável no país. A

redução dos plantios florestais no Sul e Sudeste do Brasil reduziu a oferta de madeira utilizada pela indústria, abastecida principalmente por reflorestamentos feitos com espécies exóticas.

Quadro 14 - Áreas cultivada por espécie na Klabin em 2003. Fonte: IMAFLORA (2003).

A KLABIN SC (KLABIN S/A – Unidade Florestal Santa Catarina) iniciou o estabelecimento de suas plantações florestais no início dos anos 1960, tendo como marcos importantes a compra das Fazendas Paredão (23/12/65) e Fazenda Alves (08/07/66), Em 2003 a empresa possuía cerca de 62 mil ha de plantios em áreas próprias. Em fins da década de 1990 os plantios florestais feitos durante o período de incentivos fiscais estavam amadurecidos. A madeira barata possibilitou rápido crescimento da atividade industrial, mas o consumo de madeira não foi acompanhado por novos plantios. Pelo menos não no ritmo necessário segundo as empresas consumidoras de madeira. Em 2000 a madeira já sofria altas nos preços (TORESAN, 2003) e em 2001 anunciava-se no Brasil o início do Apagão Florestal (MMA, 2001). Segundo estimativas, o déficit de madeira na região Sul já ultrapassava em 2003 cerca de 80 mil ha/ano, provocando com que algumas empresas buscassem matéria- prima em outras regiões, inclusive em outros países do Mercosul.

“Esta crise já vem ocorrendo em algumas regiões, causando demanda reprimida e elevação no preço da madeira, principalmente madeira para processo, devendo ocorrer de maneira não linear, atingindo mais seriamente os pólos florestais com reduzida oferta de florestas plantadas e elevada demanda por produtos florestais”

(SILVICONSULT, 2003).

Entre 2002 e 2003 os preços de tora de Pinus continuaram a aumentar, entre 19% e 26%, significativamente acima da inflação acumulada no período de 8,4%. O dólar (comercial oficial), no mesmo período, acumulou redução de 18%. Considerando o aumento acumulado desde 2000 o preço de madeira de Pinus no Sul do país foram de 152% para madeira mais fina e de até 630% para toras acima de 35 cm de diâmetro. Estimou-se uma demanda

reprimida estimada em cerca de 30%, e o aumento dos preços não foi maior porque o déficit foi coberto pelo excedente nos estoques em pé existentes (SILVICONSULT, 2003).

De acordo com o PNF em 2003, o Brasil necessitava plantar 630 mil ha/ano na década seguinte para suprir suas necessidades de madeira. No entanto, nos últimos cinco anos, os plantios não teriam ultrapassaram 250 mil ha/ano, dos quais 90% foram realizados por grandes empresas (SBS Notícias, 2003). As principais conseqüências apontadas pelo setor florestal para o Apagão segundo o BNDES (2003) foram: a Limitação do crescimento dos setores que utilizam madeira como matéria-prima e como diferencial de competitividade; a importação de madeira de outros países, prejudicando a balança de pagamentos; o aumento no preço das toras de pinus e Eucalipto produzidos no Brasil e; pressão sobre as florestas nativas por setores menos organizados.

O “Apagão Florestal” marca um novo período de organização do setor de base florestal, que passou a defender de forma mais organizada e pública o incentivo ao reflorestamento e ao abrandamento da legislação ambientalista. Este esforço foi formalizado no Governo Federal através com a criação do Programa Nacional de Florestas. Em paralelo, as empresas previam estratégias corporativas que visavam a sensibilização da população nacional162, para a necessidade de implementação de uma política setorial de longo prazo, que, a partir das metas de crescimento dos diversos segmentos da cadeia produtiva, determine as necessidades de ampliação das florestas plantadas no país.

“Para a efetivação dessa política, essencial para balanço de madeira no mercado interno”, seriam necessários mecanismos de crédito e financiamentos a plantios florestais, voltados, sobretudo, a pequenos e médios produtores florestais (SBS, 2003). Alguns esforços setoriais dentro do setor florestal foram arregimentados, como em 2002, quando o governo federal através do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) criaram um Fórum Nacional para Aumento da Competitividade163. Em que pese o conjunto de esforços empreendidos pelo setor florestal (BRACELPA, 2006), em 2006 o Governo Federal

162 Ver estratégia da BRACELPA para publicidade e lobby corporativo.

163 Tinha como metas Aumentar as exportações da cadeia produtiva de Madeira e Móveis de US$2 bilhões em

2000 para US$ 3,39 bilhões em 2004, e ampliar a produção do setor moveleiro em 12% ao ano, alcançando R$15,26 bilhões em 2004. Para isto, estimava-se a necessidade de aumentar a área a ser reflorestada em 300 mil ha/ano de modo a superar o déficit. O aumento da oferta madeira dependia de uma reformução da política florestal e de financiamento da produção voltados para florestas plantadas, com o sentido de: (i) Apoiar o esforço de expansão; e (ii) Inserir as pequenas e médias propriedades rurais. Além de Políticas de Financiamento da Produção, também faziam parte do plano promover a Capacitação Tecnológica e de Recursos Humanos. Conscientização, mobilização, missões externas, mudança cultural, investimentos e capacitação gerencial.

anuncia que o “Brasil bate recorde de reflorestamento”, com o cultivo de 650 mil ha de novas florestas164.

Figura 26 - Consumo aparente e oferta de madeira no Brasil entre 1996 e 2010. Fonde: MMA (2001) apud Kengen (2002).

CAPÍTULO VII - ALINHANDO ÁRVORES E SOLOS NA REDE DA